Só eu me sentia entediada. Mas como gostar de estudar algo que eu não entendia? Só mesmo a Ako-chan conseguia fazer isso de uma forma tão eficaz. Sentia inveja do Keita. A Ako-chan se esforçou tanto para dar aulas para ele entrar no mesmo colégio que nós... Enquanto que ela nunca sequer fez isso por mim.

Estávamos sozinhas em casa. Estudávamos na sala. Ela ali do meu lado, super concentrada, e eu aqui. Por que eu não consigo chamar a atenção dela?

Acho que ela nunca vai perceber o óbvio, mas toda aquela fixação dela pelo Keita e eu disputando a atenção dele para mim, não era para tê-lo comigo, era para estar perto dela... Aaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh... por que eu não consigo me concentrar nessas equações?

– Riko-chan, por que você não para de estudar um pouco?

Fiquei surpresa com a pergunta. A Ako-chan estava mesmo falando comigo? Ela estava mesmo perdendo a sua preciosa concentração nos estudos para falar comigo? Confesso que fiquei um pouco emocionada, mesmo sabendo que ela tentava me atingir com aquela pergunta irônica, e não consegui responder de imediato.

– Estou entediada... – foi a única coisa que consegui balbuciar.

– E por que você está tão entediada assim?

Fiquei surpresa. Ela estava interessada em saber . Mas eu sou muito idiota. Não soube bem o que responder.

– Está quente, não acha? Quer chá gelado, Ako-chan?

– Sim.

Se disser que não fiquei nervosa com aquilo estaria me enganando. A Ako-chan estava sendo tão legal comigo, que eu não estava conseguindo me concentrar. Minha vontade era de poder abraçá-la, mas o que ela pensaria de mim se eu fizesse isso? Será que ela me detestaria?

– Trouxe chá de ginseng... seu preferido. – disse tentando parecer normal.

– Arigatou.

Fiquei tão emocionada por ela ter agradecido, que senti uma vontade louca de beijá-la. Mas não poderia me atrever a fazer isso. Então, eu só poderia admirá-la e mais nada.

Mas então, por que ela estava tão estranha comigo? Eu estava evitando constrangê-la, magoá-la, ou deixá-la desconfortável e mesmo assim ela fingia que não me via. Por que voltara a me ignorar? Senti uma tristeza tão profunda, que não pude me conter e perguntei:

– O que você está fazendo de tão interessante que está me ignorando, Ako-chan?

– Estou estudando... O que você também deveria estar fazendo, sabia? Temos exames semana que vem.

– Não me interesso por essas coisas...

– Então, pelo que você se interessa?

Meu coração ficou apertado ao ouvir a Ako-chan pronunciar aquelas palavras... Senti que estava tudo perdido.

– Um dia você vai perceber, não é? Você jura pra mim, Ako-chan?

– Perceber o que, Riko?

– O óbvio...

Eu sabia que não adiantaria de nada. Acho que ele realmente gosta do Keita-kun de verdade. Então, que chance eu teria contra ele? Mesmo assim, eu não conseguia evitar e nem conter a minha tristeza.

– Você vai perceber, não é Ako-chan?

Não entendi imediatamente no que eu estava vendo. A Ako-chan estava chorando? Não, não chore... não chore Ako-chan, eu vou querer te consolar, não chore, por favor...

– Não... não chora, Ako...

Fiquei tão preocupada que saí correndo a abraçá-la, derrubei tudo o que estava no meu caminho, eu não poderia deixá-la chorar assim e não fazer nada. Eu te amo, Ako-chan... eu só pensava em poder sanar a dor dela, apenas pensava em sanar a sua dor.

Abracei-a com todas as minhas forças. Como eu queria poder beijá-la naquele abraço, como eu a queria comigo. Se ela soubesse que eu não tinha medo, será que ela confiaria em mim? Será que eu consigo fazê-la gostar de mim? Meus pensamentos me traíam, acabei soltando sem querer que não tinha medo.

Fiquei ainda mais desnorteada quando ela começou a falar coisas sem sentido. Apertei-a ainda mais forte contra o peito. Eu não tenho medo, Ako-chan... eu te amo.

– Por que você? Por quê? – ela balbuciava coisas sem nexo para mim.

Mas nem eu mesma conseguia lidar com aquilo tudo sozinha. E se eu a assustasse com aquele gesto? Precisava pensar em algo para sair dali. Percebi que ela estava mais calma e soluçava menos. Então pensei em dizer que ia tomar banho e tentei parecer a mais amigável e despretensiosa possível a fim de deixá-la mais tranquila sem a minha presença. Mas ela me olhava com um olhar tão intenso. Eu não resistiria mais, pensei num milésimo de segundo, eu não poderia ignorar a possibilidade de não ter mais uma oportunidade como aquela. Eu a tinha em meus braços, seus olhos me encaravam pedindo de mim uma atitude.

Eu a beijei.

Minhas mãos não me obedeciam... eu a acariciava loucamente. Seu corpo exalava um perfume doce, seu corpo era tão lindo e magnetizante... eu queria tanto desabotoar seu vestido, beijar-lhe por inteiro e fazer-lhe ser apenas minha... Mas ainda não era a hora... Ficamos ali deitadas no chão, abraçadas e em meu pensamento... eu só queria lhe dizer uma coisa, mas não podia: “Você ainda não sabe, mas eu te farei muito feliz...”