Não tinha mais ninguém em casa.

Nossos pais estavam trabalhando e o Keita tinha saído.

Era engraçado como eu e a Riko disputávamos pelo amor e pela atenção dele. Mas creio que tudo isso passou.

Enquanto ela finge fazer a lição, observo que não somos tão gêmeas assim... Não consigo encontrar semelhanças entre nós... Somos tão diferentes... Isso é um fato.

– Riko-chan, por que você não para de estudar um pouco? - não que eu quisesse ser cruel, mas senti uma necessidade repentina de chamar a atenção dela para mim e deixar claro que eu sabia que ela não estava estudando nada.
Ela não me respondeu de imediato, fingiu até que não tinha me ouvido.

Tentei ignorar meu desconforto.

Por que eu iria querer a atenção dela?

Mas mesmo assim, olhava-a sentada quase ao meu lado. Ela poderia ser meu reflexo... mas não conseguia enxergar nela a minha irmã.

– Estou entediada...

Por um instante não achei que fosse realmente comigo que ela falava.

Às vezes, não entendia a Riko-chan... ela vivia num mundo todo seu... Paralelo ao meu e ao de todos ao nosso redor, mas mesmo assim, lhe dei atenção.

– E por que você está tão entediada assim?

– Está quente, não acha? Quer chá gelado, Ako-chan?

– Sim. respondi mecanicamente.

O que eu realmente queria que ela dissesse? Parei e pensei em seus lábios ao pronunciarem "Está quente, não acha?" Parecia ter um pouco de malícia em seu tom de voz. Mas era da Riko-chan que eu ouvira aquilo, não haveria nada demais... Ou haveria?

Afinal, por que eu estava tão estranha?

Sempre passara as tardes sozinha com a Riko em casa, por que essa sensação desconhecida?

– Trouxe chá de ginseng... seu preferido.

– Arigatou.

Eu estava sendo formal demais.

O que estava acontecendo comigo? Eu estava suando frio. A Riko estava usando uma roupa tão habitual, então por que eu não parava de olhar para as suas pernas?

Senti uma sensação esquisita. Senti como se a Riko se divertisse com a minha cara. Eu estava sendo ridícula.

– O que você está fazendo de tão interessante que está me ignorando, Ako-chan?

– Estou estudando... O que você também deveria estar fazendo, sabia? Temos exames semana que vem.

– Não me interesso por essas coisas...

– Então, pelo que você se interessa? soltei aquela pergunta pensando que estaria triunfando, mas ela me surpreendeu. Seus olhos olharam fixamente para mim. O que aqueles olhos tão enigmáticos queriam me dizer?

– Um dia você vai perceber, não é? Você jura pra mim, Ako-chan?

– Perceber o que, Riko?

– O óbvio...

Do que ela estava falando?

– Você vai perceber, não é Ako-chan?

De repente, senti um aperto no peito, um nó na garganta... Os olhos começaram a lacrimejar... do que ela estava falando para eu me sentir assim, tão estranha? Será que eu estava assustada porque já sabia o que era?

– Não... não chora, Ako...

A Riko ficou tão preocupada ao me ver daquele jeito... que se aproximou de mim numa rapidez que foi derrubando tudo pelo caminho. Ela me abraçara. Ela me apertava contra o seio com tanto furor que não sabia o que pensar... Eu não queria que aquele abraço acabasse... Eu a abracei tão mais forte poderia conseguir abraçá-la... Queria que pudéssemos ser uma alma em um só corpo. Que desejo mais egoísta! Eu a queria.

Aquela revelação, de súbito, me fez recuar um pouco. Então, não éramos irmãs? O medo percorreu-me a espinha. Eu a desejava ter só para mim. A minha irmã... eu a queria mais do que tudo.

– Eu não tenho medo, Ako...

Por que ela conseguia ler através de mim? Isso não era justo.

– Por que você? Por quê? - balbuciava frases desconexas... A Riko parecia bem mais madura e sabia lidar com a situação melhor do que eu. Por quê? Eu que achava que ela era uma baka, eu que achava que ela nunca sairia daquele mundinho sinistro dela...

Eu tinha sido pega de surpresa.

– Vou deixar você sozinha.. Irei tomar um banho.

Riko me dizia aquilo como uma sugestão, senti nojo daquele convite... Mas antes que eu pudesse retrucar... ela me beijou. Eu não conseguia mais recuar. Ela me beijava mais e mais. Seus lábios doces roçavam os meus ora com calma, ora com ardor... Eu estava fora de mim... e quando percebi... estávamos no chão... aos beijos e carícias.

Eu desejava a minha irmã como se ela fosse a pessoa da minha vida... mas eu não queria ser realista naquele momento.

Os beijos dela eram tão maravilhosos que eu queria me perder mais um pouco nesse mundinho que ela preparou apenas para nós duas.