Eu ainda estava ofegante por cauda da corrida até em casa. Provavelmente, estava soada. Minha mãe não parecia nervosa, e pelo jeito não devia estar me achando maluca. Respirei fundo e voltei a minha respiração normal, mamãe fez o mesmo e disse com calma:

— Landon, por favor, podemos nos ver depois?

Landon segurou uma risada, cerrei os punhos esperando ele se aproximar, para que eu pudesse socar aquela sua cara de plástica, mas mamãe me repreendeu.

— Eu volto amanhã, é melhor- ele disse saindo, já do lado de fora o ouvi falar- essa menina está maluca.

Fechei a porta e me sentei no sofá.

— Mãe... Não acredite nele! Não estou maluca!

— Eu sei que não está.

— Sabe?- fiquei incrédula.

— Clarisse, eu te escondi tantas coisas todo esse tempo, esperando que isso não acontecesse, mas eu sabia que uma hora eu ia ter que te deixar... E essa hora chegou.

— Como assim me deixar?- perguntei incrédula.

— Você só ficara lá durante o verão, caso queira você pode ficar durante o ano... – ela falava enquanto observava a janela, parecia não estar ali.

— Mãe, que história é essa?- perguntei nervosa.

Dona Stella abriu a boca para falar alguma coisa, mas foi interrompida por uma nervosa batida na porta, ela se levantou pra atender rapidamente, e um garoto, devia ter uns 15 anos, moreno, com cabelos cacheados e armados estava a porta.

— Stella, ela tem que ir! Já ficamos sabendo da Manticora- ele disse nervoso, mamãe me olhou nervosa e depois olhou pra ele.

— Ela já tem que ir?

— Agora!- ele estava decidido, eu não conseguia entender nada dali, e eu odiava isso.

— Alguém pode me explicar alguma coisa?- gritei.

— No avião Clarisse, no avião- o sátiro disse.

— Ei, como sabe meu nome?

Ele me olhou e fez um sinal de "te explico depois". Sempre assim, "eu te explico depois..." Ah, como eu odeio essa frase!

***

Nós estávamos no aeroporto esperando pelo nosso voo, Stella disse que ia pra Nova York, mais especificamente Long Island, eu nunca tinha saído do Arizona, o que estava me deixando um pouco nervosa. Oh, pare com isso Clarisse, você não pode ficar nervosa só porque vai entrar num avião.

Sentei-me nervosa numa das cadeiras, ao lado do garoto esquisito, ele andava como se tivesse cascos, era engraçado, mas eu preferi não rir.

— Pode me explicar alguma coisa?- perguntei a ele, o garoto levantou o olhar.

— Vamos te explicar tudo quando você chegar lá, se você chegar claro.

— Se eu chegar? Está dizendo que eu vou morrer?- ele ficou em silencio e preferi não insistir- então, qual o seu nome?

— Stan.

— Certo Stan. Da onde minha mãe te conhece?

— Primeira chamada para o voo 394.

Levantei-me abruptamente da cadeira e caminhei até minha mãe, Stan logo atrás de mim.

***

Durante o voo, ninguém me disse exatamente nada, e eu me segurava pra não extravasar ali. Uma das coisas que eu mais odiava nas pessoas, é quando elas não me contam as coisas, ainda mais quando são relacionadas a mim. E esse era o caso. Se eu estava em perigo porque não podia saber o por quê?

Estava com meus fones de ouvido e observava a janela lá fora, a música estava no ultimo volume, então só prestei atenção em Stan quando ele cutucou com força o meu braço.

— Ai!

— Desculpa, mas você não prestava atenção. – ele se levantou e pegou nossas malas no compartimento, retirei meus fones e os guardei em minha mochila. Caminhamos para fora do aeroporto em silencio, o céu escuro de Nova York não tinha nem sinal do sol.

— Já pode me contar o porquê de eu estar aqui?- me virei pra ele, ele hesitou.

— Ainda não Clarisse...

— Porque minha mãe não pode vir?- perguntei- eu quero que ela me conte a verdade.

— É mais seguro que sua mãe fique em Phoenix- ele estendeu o braço chamando um táxi, entramos rapidamente. Quando saímos do taxi encontramos com uma colina, eu podia jurar que não tinha visto ela da estrada. Stan começou a subi e eu o segui.

— Que lugar é esse?- perguntei nervosa e ele se virou.

— Este é o acampamento meio sangue.

— Meio o que?

— Meio sangue. Você já vai saber o que significa- ele falou e continuou a andar. Quando estávamos perto do topo, algo passou voando por cima de nós, me derrubando no chão, eu me sentei e olhei para o céu.

— O que era aquilo?- perguntei para Stan, ele cochichou algo:

— Harpia...

O animal voltou e tentou me atacar, mas eu consegui desviar, podia jurar que era uma ave com cabeça de mulher, mas era impossível. Bem, tão impossível quanto um leão com asas de morcego e cauda de escorpião.

— Clarisse pega!- Stan gritou. Eu me virei pra ele, que jogava um palitinho, daqueles de prender cabelo na minha direção, hesitei um pouco, mas peguei, assim que toquei se transformou numa lança.

— Santo Deus!- exclamei incrédula.

A harpia voltou apunhalando Stan pelas costas e o jogando no chão, não dava pra saber se ele estava morto, ou machucado, mas pelas presas dela se presumia que sim. Afastei o pensamento e preparei minha lança, mirei no monstro quando ele estava se aproximando e o matei, o transformando em pó.

Eu olhei para o lugar onde antes ela estava incrédula, admirei a lança na minha mão, sua ponta era brilhante e afiada. Balancei a cabeça, aquilo não podia ser real, só então me lembrei de Stan, corri até ele, suas costas sangravam, e ele respirava com dificuldade.

— Stan?- o chamei e ele tossiu. – vou buscar ajuda.

— Não adianta mais Clarisse, minha missão foi cumprida, ti trouxe segura para o acampamento...

Ele não falou mais, sua respiração parou. Eu não chorei. Não tinha sentimentos por Stan, mas me senti culpada, ele tinha morrido para me ajudar.

Ouvi galopes se aproximando, e quando levantei o olhar, me deparei com algo que talvez pudesse ser ainda mais esquisito que todos os monstros que encontrara até agora, um centauro.

— Stan foi um bom sátiro- ele murmurou para si mesmo, então levantou seu olhar para mim- Clarisse, seja bem-vinda ao acampamento meio-sangue.