Dias De Guerra escrita por Mereço Um Castelo, Luiza Holdford 2


Capítulo 6
Capítulo 6 - Se Arrependimento Matasse...




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O que eu poderia dizer sobre a Katherine? Que ela era perfeita? Não, isso era muito vago, porque isso é claro que ela era. Poderia enumerar suas várias qualidades físicas e psicologias.

Se bem que eu também não poderia falar demais. Não poderia sair por aí dando os melhores detalhes dessa deusa a qualquer um, ou seria só mais um a admirá-la com tantos a seus pés. E não era exatamente isso que eu queria.

- A Katherine... Ela é perfeita, e por mais vago que isso seja, só posso defini-la assim – não importa se era vago, oras. Nenhum adjetivo seria o suficiente para descrevê-la.

- Você está realmente apaixonado, hein? – Jasper comentou, sorrindo de minhas palavras.

Não inveje-me, não deseje-a. A culpa não é minha se seu pai espantou sua última noiva mocinho! Porque a Katherine é minha e ninguém tira! Ok, talvez Stefan consiga, mas eu não desistirei tão fácil... Ah, que vontade de beber algo para esquecer. Droga de lugar sem nada o que se beber!

Mas em uma coisa ele estava certo: eu realmente estava completo e irrevogavelmente apaixonado por ela.

 - Sim... – concordei, bufando depois em frustração por minha situação.



Quando dei por mim, eu já estava a explicando para Jasper, mesmo que aquilo fosse particular demais para se falar com qualquer um que se conheça por aí.

- Mas enquanto estou aqui, Stefan está a cortejando, mimando e lhe colocando em um pedestal de adoração, que é claro ela merece, mas... quisera ser eu a fazer isso. A cada minuto que passa, eu até posso vê-la escorregando pelos meus dedos.

Depois parei para refletir internamente e me assegurar que meu irmãozinho não era lá tanta coisa assim.

- Ou quase... Já que Stefan não é tanta coisa assim. Tudo bem que tenho que concordar que ele é sim estiloso, todo ajeitadinho e bom menino. Tem também o ponto de que aquela carinha de criança dele deve atrair as mulheres, porque é visível que algumas senhoritas lhe dão bola. Mas o fato é que ele não chega aos meus humildes pés.

Jasper riu de minha narração, certamente que via o quão modesto eu era, mas como um bom cavalheiro não quis comentar, certo? Eu queria acreditar que sim. Porque, de qualquer forma, logo ele seguiu com a conversa sob outro foco:

 - Deixe seu irmão de lado, pense nela e... – mas ele pareceu confuso. – Por acaso, ela não é sua noiva? Seria traição da parte dele se aproveitar de sua distância para cortejar a futura cunhada e... Bem, ela te ama, não?

Ele não devia estar acostumado com relações liberais assim. Acho que teria que explicar alguns pontos a esse garoto inocente.

- Bem, ela não é exatamente minha noiva. Tenho certeza de que sou o preferido, mas é... Como vou explicar? Hmm... Bem, é uma relação mais... Aberta... Sem compromissos futuros, entende? – Mas logo decidi me adiantar sobre minhas boas intenções para com ela. – Mesmo que eu almeje que ela aceite sim ao meu pedido o quanto antes. Porque eu não usaria ela, eu a amo. Ela apenas não se decidiu ainda...

Era como explicar “da onde vem os bebês” a uma criancinha, qualquer detalhe mais forte você a traumatiza completamente.

 - Resumindo, ela vive romanticamente com ambos – ele concluiu certo, mas até que com palavrinhas bonitas, sem nos chamar de depravados ou aproveitadores.

E não é que tínhamos um soldadinho inteligente aqui?! Deveríamos soltar fogos para comemorar! Se bem que isso ia acordar o enfeitado e era melhor não. Quanto mais tarde eu visse aquele maldito que ama me castigar, melhor.

 - Mas é claro que eu sou o favorito! – dei uma piscadinha, tentado soar convincente.

- Ah sim, claro. Ela apenas está confusa, eu imagino – ele comentou.

- É mais ou menos assim.

- Bem, eu acho que quando voltar para sua casa deveria contar a ela sobre seus reais sentimentos. Seu irmão tem que entender que é mais que simples atração carnal, que você a ama... Se bem que é mesmo uma situação complicada.

- Complicada é apelido, isso sim. Mas você tem razão: assim que voltar para lá irei contar para ela – comentei decidido, sorrindo verdadeiramente naquele ponto.

Jasper deu de ombros e como se o danadinho quisesse me provocar, virou o olhar para o nada e disse despreocupadamente:

- Só torça para não encontrá-la casada ou grávida de seu irmão na volta... – e o safado ainda deu de ombros! Ah, seu sacana!

Eu iria retrucar com ele, mas a visão me assolou. Eu me imaginava voltando para casa, sujo, cansado e com as roupas levemente rasgada por conta dos dias em fuga. Aquela era a mesma fazenda Veritas, lugar onde nasci e me criei.

A cada passo meu sorriso aumentava e a distância da porta diminuía. Quando ia tocar a maçaneta, porém, ouvi risos do lado de dentro e aquilo me animou, pois ela a doce voz de Katherine. Imaginei que ela tivesse me visto chegar e aguardava do outro lado da porta, tentando me surpreender.

Abri devagar a porta, inebriando-me com seu doce sorriso a instantes antes de contemplar sua beleza. Como se eu consumisse em doses pequenas cada momento de felicidade ao reencontrá-la. Como que para não morrer de tanta emoção junta.

Porém, ao abrir a porta e entrar, me deparo com duas crianças correndo na sala derrubando tudo o que encontravam pelo caminho. Ao canto estava meu pai, incrivelmente feliz por ter sua mobília destruída. Mas não acaba aí, aos pés da escada estavam Katherine e Stefan, ele a apoiava docemente e Katherine estava diferente... E, Deus, notando seu corpo, vi que estava grávida!

O pior foi que me peguei olhando os pequenos destruidores de lares com mais afinco e me deparo com as exatas junções de Katherine e Stefan em cada um deles.

Voltei de meus pensamentos assustado. Com falta de ar e vontade de matar meu irmão, antes que ele fizesse filhos dentro da minha mulher! Aquele cachorro!

Levantei exaltado, e até Jasper notou.

- O que foi? Viu algo? Alguém chegando?

- Alguém chegando? – fiquei confuso, ai lembrei da porcaria da vigília. – Ah, não, não vi não... É outra coisa.

- Que seria? – curioso dos carambas.

- Ah cara, você acabou de ferrar com meus pensamentos! Eu quase pude visualizar, na verdade, pude, minha bela Katherine grávida do cachorro de meu irmão. E o pior: com dois filhos grandes dele também!! – ele pareceu pasmo, mas eu continuei. – E não parou aí...

- Tem mais?

- Tem, e é ainda pior! Eu estava chegando em casa com as roupas daqui. Cara, se eu vou ficar aqui até duas crianças crescerem e meu irmão fazer uma terceira em Katherine, então eu estou ferrado!

Diferente do que eu esperaria de um amigo, Jasper desatou a rir compulsivamente de meus medos. Que cachorro, não?

- É, ri de mim, seu idiota. Quero só ver se a sua querida terceira esposa também não está nos braços de outro, enquanto você está aqui olhando para o nada e lutando numa guerra que não nos importa.

Jasper fechou a cara, com certeza ele gostava mesmo daquela senhorita. Mas era bom mostrar a ele que não deveria brincar comigo. Poxa, isso dói.

- Você tem razão, não é engraçado... – ele cruzou os braços feito uma criança que perdeu o brinquedo para o inimigo da rua.

Dei de ombros à birrinha dele e disse o óbvio: ele era sortudo por nunca ter que passar pela mesma situação que eu, isso sim!

- Pelo menos você não tem um irmão para roubá-la de você... – falei sem pensar, e opa, assunto errado!

Me arrependi do que havia dito no exato minuto em que meu cérebro parou para processar a besteira que eu havia feito ali. Claro que não foi intencional, mas soou ofensivo até mesmo para mim.

Eu tinha que fazer algo para mudar os rumos da conversa ou talvez perdesse a única pessoa com a qual consegui falar nessa porcaria de lugar. Mas, o que falar, como corrigir?

- Espera, esqueça! Quer dizer, eu tenho algo mais importante que isso para lhe falar. Afinal, hmm... Você sabe por que o som de um pato fazendo quac quac é a única coisa que não produz eco? Porque – tentei soar pensativo ao estreitar meus olhos e tocar em meu queixo, – eu sempre tive essa curiosidade...

Admito que falei a primeira coisa que me veio em mente, eu nunca tinha parado para pensar sobre patos e a falta de eco dos sons deles. Foi no desespero mesmo, tudo para mudar de assunto. Afinal, eu tinha tocado num assunto delicado e nosso soldadinho antes tinha lutado bravamente contras lágrimas, não sei se iria aguentar a crise de choro agora...

Jasper me olhou pasmo e algo me dizia que minhas palavras pudessem mesmo ter surtido algum efeito ali. Ele pareceu pensativo, e sua testa estava vincada, mas não via nenhum sinal de lágrimas a caminho em seu rosto.

 - Por quê? Ah, eu não sei! Aliás, até onde sei, nem a ciência explica isso! – Isso! Ponto para mim!

Ele havia aceitado minha mudança de assunto, e eu agradeci silenciosamente por isso, já que eu não tenho perfil de consolador. Mas ele ainda me encarava e eu estava percebendo que quando me olhava assim, lá vinha algo de sua parte e dito e feito. Ele abriu a boca algumas vezes, até que finalmente veio o veredito.

- Sabe, pensando aqui comigo... Essa pergunta foi totalmente sem sentido no momento, de onde tirou isso? Quem pensa em som de patos e ecos em um campo de batalha?

Dei de ombros e sorri, queria dizer que ninguém, que era uma medida cautelar de emergência. Mas é claro que eu não poderia dar essa informação de bandeja e deixá-lo lembrar do que falávamos antes.

Afinal, Katherine mãe de três filhos do Stefan assolaria meus maiores pesadelos daqui para frente e eu realmente não queria tocar mais neste assunto. Fora o fato do irmão dele ser um falecido e eu ter quase o mandado dar graças a Deus por isso.

- Se eu estivesse bebendo neste exato momento, seria mais fácil te explicar esse tipo de curiosidade súbita, sabe? Agora, como não estou, você terá que se contentar com a resposta de que não faço a mínima ideia de onde eu tirei isso, apenas me deu vontade de perguntar mesmo. Talvez ainda haja um pouquinho de whisky no meu sangue...

 - Não sabia que você fazia o estilo bêbado... – Esse cara está querendo morrer jovem assim, é?

Acho que ele tirou o dia para variar de humor, uma hora me xinga e na outra é a simpatia em pessoa. Só tenho uma palavra pra isso: louco! Mas, tudo bem, eu suporto tudo, menos que falem meu do meu líquido preciso!

 - Não é “estilo bêbado”! – quase rosnei para o abusado, fazendo aspas imaginárias com o dedo para as últimas palavras. – A verdade é que todo bom homem sabe apreciar uma bebida de qualidade, sabia? – depois liguei meu modo irônico para contra atacar. O espertinho quer guerra, né? Aguente agora as consequências. – Oh, mas me desculpe, talvez você não seja tão bom homem assim... Ou, no fundo, não passe de um meninão crescido.

 - O que você está insinuando? Que não tenho valor? Que sou um pirralho? – ele levantou-se da cadeira bamba e cheia de cupins, apontando o dedo magrelo para mim em desafio.

 - Se a carapuça serve, use-a! – levantei também, peitando-o.

Quem ele pensa que é para me desafiar assim? Eu poderia vencê-lo em uma briga com uma das mãos amarradas! Ok, admito que talvez não pudesse. Mas eu tinha alguma chance com ambas as mãos livres... E talvez uma das dele amarrada... A chance existia, porém.

 - A propósito, e só para constar, não sou eu que estou querendo fugir do exército feito um menininho mijão! Me alistei porque quis e não temo a guerra... Já certo alguém... – ele deixou no ar e esse jeitinho dele fazer isso já está me irritando.

Eu posso ter falado que só me sinto ofendido quando falam do meu whisky, mas era brincadeirinha, porque isso sim doeu lá no fundo. Eu já não tinha explicado toda a situação para aquele moleque?

Estava parecendo o Stefan mesmo, cheio de julgamentos e opiniões que sinceramente não me interessam! E geralmente são baseados na moral exagerada deles, na enorme necessidade de ser sempre o queridinho do papai, o certinho da família, do exército, do mundo, de tudo! Aff, eles me cansam...

Inclusive, algo que nunca entendi é que: se Stefan é todo cheio de moral e bons costumes, por que mesmo ele está nessa “relação aberta” com a Katherine? A Igreja não aceita esse tipo de coisa não! Desde dividir a mulher com irmão a vampirismo, passando por outras coisinhas.

Eu já estava de saco cheio desse carinha! Era melhor passarmos a noite sem nos falar então, bem quietinhos, quase que mudos! Ou a coisa não ia dar certo. Só assim eu não teria que ficar ouvindo bobagens e pré-julgamentos... Porque aquele “Sr. Perfeição” versão exército só me tinha uma função: não me deixar dormir.

Virei minha cadeira para outro lado e, como uma boa criança emburrada, sentei de novo dela, mas cruzando os braços. Minha boca agora seria um túmulo! Eu teria que dar um jeitinho nisso, mas era melhor lutar contras as pálpebras do que contra Jasper com as duas mãos livres! E bem, talvez o silêncio o fizesse se arrepender da grosseria... Ou não.


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