Sombras De Um Dia escrita por Gabrielle Reis


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Trilha sonora do capítulo 2: Paramore - Decode.
http://www.youtube.com/watch?v=RvnkAtWcKYg



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Minha aparência estava terrível. A claridade incomodava meus olhos depois de ficar o dia inteiro dormindo, já que a noite não concedera este privilégio. Demorando mais que o necessário em um banho, a água cálida do chuveiro relaxou toda rigidez de meus músculos, vestindo uma roupa qualquer decidira sair um pouco de minha jaula.

– Ora, ora, ora... - Disse Robert, baixando o jornal que escondia seu rosto. - Vejam quem saiu das trevas para luz, pessoal.

– Mais uns dias por aqui e esqueço como usar o sarcasmo. - Retruquei, revirando os olhos e caminhando em direção a porta de entrada.

– O que vai fazer? - Perguntou Susana, surpresa.

– Respirar. - Não sabia ao certo o que estava fazendo ou para onde iria quando montei em minha bicicleta, apesar de não conhecer as ruas da vizinhança era impossível se perder em meio aos quarteirões pequenos. Apenas uma ilusão de fuga, ocupada em meus pensamentos monótonos. Dias antes, ao cruzar a fronteira de Danbury podia notar uma parte de minha vida sendo deixada para trás, lembranças de uma velha infância perdida, de um objetivo alcançado. Lutando para reprimir a onda de emoção que as rajadas de vento frio me provocavam, quando ouvi um som estranho.

Precisei de toda minha concentração para não atropelar o cachorro - sabe-se lá, de onde ele veio - à minha frente.

Vi várias coisas ao mesmo tempo. Nada estava se movendo em câmera lenta, como acontece nos filmes. Em vez disso, o jato de adrenalina parecia fazer com que meu cérebro trabalhasse muito mais rápido, e eu pude absorver simultaneamente várias coisas em detalhes nítidos.

Sobressaltada pela aparição repentina do cachorro, virei bruscamente a direção* da bicicleta para o lado contrário, me impactando com um portão de madeira. Estando ciente apenas quando debruçada no jardim - que aos céus, amortecera minha queda - de uma casa qualquer. Algo úmido encharcava meu rosto, vislumbrando um cachorro acima.

– Ah, só pode ser brincadeira. - Resmunguei, verificando o nome em sua coleira. - Scott. - Ignorando a dor em minhas costas ao sentar, acariciei sua cabeça. - Tudo bem amigão, me sinto melhor. Desculpas aceitas.

– Deus, você está bem? - Um homem corria em minha direção, ofegante, gargalhando em seguida.

– O que você acha? - Respondi, irritada por sua risada descarada.

– Acho que arrumou um machucado bem feio no joelho. - Meus olhos percorreram ao ferimento, não havia percebido desde então, reprimindo o gemido que quase denunciou minha indiferença.

– Dane-se. - Cambaleei um pouco ao levantar, sentindo seus olhos sobre mim. - Que foi?

– Nada. Estou apenas me perguntando se é sempre tão adorável.

– Pois é. Na maioria das vezes, quando quase atropelo cachorros de pessoas irresponsáveis. - Sorri ironicamente, afetando um pouco sua guarda.

– O Scott agradece. Veja pelo lado bom, estamos quites... Seu tombo, pelo meu portão. - Ele apontou o portão atrás de mim completamente destruído. Droga! Não era exatamente com isso que eu planejava gastar minhas economias.

– Vou pagar. - Claro, por que dei a sorte de justamente bater no portão do infeliz.

– Não precisa, estamos quites. - Pigarreei desconfortável, não iria me desculpar.

– Então essa é a minha deixa. - Dei alguns passos a frente, me afastando.

– Espere! - Me virei, estreitando os olhos. Ele estava parado com as mãos enfiadas nos bolsos da frente de sua calça, sua expressão relaxada. - Não sei seu nome. - Considerei por um instante realmente me apresentar, desistindo rapidamente.

– É por que eu não disse. - Pela visão periférica podia jurar que estava sorrindo. Minha casa não estava longe, empurrava a bicicleta com dificuldade graças ao meu joelho.

Entrei cuidadosamente tendo a cautela de não ser percebida, a não ser por Jess, que assistia Once Upon A Time. Seu grande par de olhos azuis me analisavam em uma espécie de julgamento, enquanto buscava um saco de gelo e me sentava ao seu lado.

– Onde estão eles? - Perguntei, sem encará-la.

– Foram jantar na casa de um vizinho solidário e me pediram para ficar de olho em você. - Sorri, com a ideia de minha irmã de doze anos cuidar de mim quando ao menos consegue fazer seus afazeres sozinha. - Sarah... - Seu rosto estava aflito, parecendo tentar encontrar uma forma de iniciar o assunto. - Vou sentir sua falta. - Jess pousou sua cabeça em meu colo, não sabia como retribuir o carinho. As férias de outono chegavam ao fim e em breve estaria na nova universidade. Talvez estivesse preocupada somente com minha dor, sendo egoísta ao observá-la desse jeito...

– Também vou sentir a sua.



Como eu posso decidir o que é certo?



Quando você está confundindo minha mente.



Não consigo ganhar sua luta perdida todo tempo,

Eu nunca vou possuir o que é meu.

Quando você sempre está tomando partido.

Você não tomará meu orgulho,

Não, não desta vez.















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Notas finais do capítulo

Scott ->
https://www.google.com.br/search?q=fotos+de+labradores+preto&hl=pt-BR&tbo=u&tbm=isch&source=univ&sa=X&ei=AJUVUfmmDYOm8gS3z4GYCg&ved=0CC4QsAQ&biw=1366&bih=667#imgrc=mbBtvTv2YaivUM%3A%3BHySAbABsUZ7PuM%3Bhttp%253A%252F%252F4.bp.blogspot.com%252F-ZrNLRXUKmRg%252FTkQ_ErpZKQI%252FAAAAAAAAAK8%252F1RtK64Pcaes%252Fs1600%252Ffoto-labrador-preto-03.jpg%3Bhttp%253A%252F%252Fxlabrador.blogspot.com%252F2011%252F08%252Flabrador-preto.html%3B400%3B332