Levantei da mesa e a arrumei. Não queria mais um motivo para minha mãe ficar estressada. Voltei para o meu quarto. No caminho até lá me encontrei com minha mãe. Nossos olhares se encontraram, mas eu continuei andando. Não queria passar o dia sem falar com ela, mas ao mesmo tempo eu não queria falar com ela.

Entrei no meu quarto e fui até uma prateleira. Como em toda manhã eu iria estudar um pouco para depois, à tarde, eu ver algum filme. Era isso que eu fazia sempre, afinal, eu não tinha escola, não tinha amigos, não tinha nada. Peguei meu livro de História e olhei para ele. Não acho que eu iria estudar História em Hogwarts.

Coloquei ele de volta na prateleira e fui até minha mesa. Nela estava meu notebook, onde eu fazia pesquisas. Eu não tinha nenhuma conta em redes sociais. Eu já pensei em fazer escondido de minha mãe, mas eu não queria. Amigos virtuais? Não sei se isso daria certo.

Liguei ele e me sentei. Eu iria estudar através da internet. Mas o que você estuda em uma escola de magia? Isso não ia ser fácil. Entrei no Google e pesquisei coisas ridículas como "Aulas de Magia" , "Aulas de Hogwarts", e as coisas que apareciam eram piores do que as coisas que eu imaginava.

Alguém bateu na porta do quarto, com certeza minha mãe. Eu fechei o google.

–Entra. - Falei, e minha mãe abriu a porta.

Ela entrou, com um sorriso forçado e se sentou em minha cama. Eu girei a cadeira em direção à ela. Se ela se sentou com certeza era para conversar.

–O que foi? - Perguntei.

–Vim avisar que o almoço está pronto. - Ela respondeu, evitando olhar nos meus olhos.

–Mãe, não é só isso. Eu te conheço, ta bom? Fala, o que foi?

–Olha... Eu acho que fui meio grossa com você no café da manhã, então vim me desculpar. - Ela agora olhava em meus olhos.

–Tudo bem, você está desculpada. - Sorri e virei para o computador.

–Sophia, você vai mesmo para essa escola... Hogwarts né? - Ela perguntou, fingindo não saber o nome da escola.

–Mãe - Me virei para ela novamente -, eu sei que você conhece essa escola. Eu só não sei como. E é isso que eu quero saber.

–Filha... Seu pai, ele... Ele era assim, como você. - Ela disse, abaixando a cabeça.

–Como eu? - Perguntei, confusa.

–Um bruxo. Ele era assim, mas... Mas ele acabou morrendo, e você acabou nascendo igual a ele. - Ela disse. Eu me levantei e me sentei ao seu lado.

–Como ele morreu mãe?

–Ele... - Ela virou o rosto, como se fosse chorar mas não quisesse que eu visse - Eu não quero falar disso Sophia.

–Mãe por favor! Depois de tudo o que você me impediu de fazer acho que eu tenho pelo menos o direito de saber de tudo antes de ir. - Eu disse.

Ela ficou em silêncio por um tempo. Talvez ela estivesse pensando em me contar ou não. Ou talvez esperasse que eu mudasse de ideia. Mas não, eu fiquei ali, olhando para ela, esperando uma explicação.

–Filha, sim eu sabia disso tudo. Eu sabia o que você era. Eu te prendi em casa pois não queria que você fosse como todos os bruxos. Foi isso! - Ela disse, deixando lágrimas escorrerem em seu rosto.

–Por que? - Perguntei, me levantando da cama.

–Porque todo bruxo acaba machucado. Sempre lutam uma batalha, e eu não quero isso para você. - Ela disse, limpando as lágrimas.

–Mãe, você não decidi o que quer para mim! Eu decido o que eu quero para mim! - Eu disse, dando voltas no quarto. - Desculpa gritar... Eu to nervosa. Poxa, custava você me contar?

–Custava! - Ela se levantou - Custava pois eu ia ter que me afastar de você! Além dos perigos que você iria ter se soubesse.

–Sinceramente mãe. Eu não estou brava com você. Eu não quero estar brava com você. Esse é o último momento que eu tenho com você, porque você vai trabalhar e a noite eu vou embora. Eu não vou ficar. Então... Ta eu te desculpo. - Eu disse e me sentei na cadeira no computador novamente.

–O almoço está pronto, desça quando quiser. - Ela andou até a porta e saiu, como se aquela conversa não tivesse acontecido.

Tudo bem eu sabia que um dia ela teria que me explicar tudo. Mas eu nunca imaginaria que esse "tudo" teria algo à ver com magia. Levantei da mesa do computador e me taquei na cama. Coloquei a cara no travesseiro e gritei. Gritei o máximo que pude, pois ninguém me ouviria.

Levantei, joguei o cabelo, para fingir que nada havia mudado e desci. Eu iria almoçar sim com a minha mãe, como se nada tivesse acontecido.

Desci as escadas e lá estava ela na mesa, comendo. Quando me viu olhou para mim, surpresa. Ela deve ter achado que eu não ia querer comer com ela depois daquela conversa. Ela com certeza estava enganada. Ia ser diferente das nossas outras refeições juntas, mas não importa. Aquela ia ser nossa última refeição juntas por um tempo, e eu não ia desperdiçar.

Sentei na cadeira e me servi. O almoço foi inteiro em silêncio. Nós nos olhávamos às vezes e eu sorria. Eu amava a minha mãe, não importava o que ela havia feito, o que ela havia dito, não importava nada, ela era a minha mãe, e eu a amava.

Acabei de comer e lavei a minha louça. Minha mãe tirou a mesa e foi pegar as suas coisas. Eu fui até a sala, como sempre eu assistiria um filme. Eu vi minha mãe passando por mim e indo até a porta. Levantei correndo do sofá e fui até ela.

–Até logo mãe. - Eu disse, assim que a abracei.

Levantei a cabeça para olhar para ela, que sorria.

–Até. - Soltei minha mãe e ela saiu.

Eu voltei para a sala. Fui até a estante. Nela tinha dois pequenos armários, onde ficavam os DVDs. Encontrei o que eu queria, Nárnia. Eu sempre fui uma garota "sonhadora". Sempre quis acreditar que coisas que as pessoas dizem que não existem podem sim existir. Peguei o filme e o coloquei no DVD. Voltei para o sofá e dei Play pelo controle.

O filme começou e eu ficava atenta a cada parte, até que um barulho interrompe minha atenção. Alguém havia batido na porta. Peguei o controle e dei pausa no filme. Fui até a porta e olhei através do olho mágico. Era o Hagrid. O que ele fazia aqui tão cedo? Abri a porta.

–Hagrid... O que você faz aqui? Combinamos de nos ver à noite. - Falei, abrindo espaço caso ele quisesse entrar.

–Vai demorar muito para escurecer. Vamos agora. - Ele disse, entrando na casa.

–Mas eu nem arrumei as minhas malas. - Eu disse, fechando a porta.

–Não vai precisar delas. Vamos logo! - Ele disse, me puxando pelo braço.

Hagrid me puxou até o lado de fora da minha casa. Eu olhava em volta, como se fosse uma garotinha dentro de um mundo desconhecido. Ele entrou dentro de uma moto. Sabe aquelas motos que tem algo como um lugar para passageiros do lado? Essa mesma.

Ele bateu duas vezes no lugar de passageiro, pedindo para que eu entrasse. Eu entrei rapidamente. Antes que ele pudesse ligar a moto, ele apertou um botão. Eu não entendi direito, mas decidi não perguntar.

Hagrid começou a dirigir a moto, até que algo me assusta. Nós estávamos voando.