Olhei no relógio. Peguei a foto no chão e subi de volta. Florence e Daniel poderiam chegar logo, e eu já tinha passado muito tempo lá dentro. Subi as escadas ainda sem acreditar no que havia acontecido. Fechei as portas e coloquei o sofá de volta em seu lugar. Sentei e olhei na foto novamente. 

Era ele. O rapaz que eu tinha visto no meu sonho. Na foto, ele sorria e parecia realmente muito feliz. Seus cabelos negros estavam bagunçados e seus olhos verdes pareciam brilhar. No fundo, consegui ver uma casa antiga bem parecida com a nossa.

- Mas por que ele aparece nos meus sonhos? - minhas mãos suavam e eu não acreditava na foto que segurava. 

Precisava investigar sobre ele, mas não sabia como iria fazer isso. Teria que descer no porão de novo, mas não poderia ser naquele dia, não queria que ninguém descobrisse que eu achei aquele lugar. 

Quase morri de susto quando ouvi a campainha tocar. Guardei a foto dentro de um livro que eu estava lendo e havia deixado em cima da mesinha e fui abri-la. 

- Oi. - era meu "vizinho" Rafael.  

- Oi, como vai? - respondi tentando ser simpática. Ele era loiro e um pouco mais velho que eu. Lembro-me de ter uma queda por ele, mas na verdade era meu melhor amigo quando éramos pequenos. 

- Bem e você? - ele era tímido e tinha a voz calma. 

- Bem também. - dei uma pausa esperando que ele fosse dizer algo. - Quer entrar? - enfim disse saindo da porta. 

- Ah, claro. - Rafael entrou e ficou me olhando. - Você deve estar se perguntando o que eu estou fazendo aqui, certo? - sorriu. 

- Acho que sim. - ri. Fazia tempo que não o via.

- Só vim dizer oi. - ele estava nervoso e eu olhava em seus olhos azuis. - A gente não tem conversado muito, e resolvi te chamar pra fazer algo. 

Sorri. . 

- Pode ser. O que vamos fazer? - perguntei. 

- Qualquer coisa. - ele sorria. 

- Vamos dar uma volta por aí. 

Saímos de casa e começamos a andar pela neve. Rafael olhava pra baixo, desde pequeno não era muito bom em puxar assunto.

- As vezes eu sinto a sua falta. - fiquei surpresa com o que escutei. 

Olhei para ele e sorri. 

- Eu também sinto. Você anda sumido desde que arrumou uma namorada. Qual é o nome dela mesmo? 

- Rebeca. - disse olhando para mim. - Nós brigamos hoje e ela diz que eu não a amo. 

- E você ama? - perguntei. 

Sem resposta.

Continuamos andando. Passávamos por entre pinheiros cobertos de neve. 

- Acho que tenho que ir. - Rafael disse. 

- Apareça qualquer hora para a gente sair e conversar um pouco, se Rebeca não se importar, é claro. - disse.

- Claro, vá você lá em casa também. - me abraçou e foi andando de volta para a casa.

Rafael era meu melhor amigo, mas nos distanciamos depois que entrei para a faculdade. Ele foi passar alguns anos na França e depois que voltou, mal nos falamos. 

Voltei para a casa e sentei no sofá. Lembrei da foto, peguei-a e comecei a observá-la. Sorri ao ver o sorriso daquele rapaz, mas eu mesmo tempo fiquei assustada. O que queria comigo? 

Desejei pela primeira vez que ele aparecesse e falasse tudo o que tinha que dizer. Se é que tinha que dizer algo.