Estava correndo e ofegante. Não sabia pra que lado ia e não conseguia ver onde estava. Talvez fosse na floresta por causa do barulho que fazia quando eu andava. Ele continuava correndo atrás de mim e desta vez não parava e nem sumia. 

- Pare! Eu não vou te machucar. - gritava. Era a mesma voz dos outros sonhos. 

De repente parei de correr e virei para trás como se tivesse criado coragem. 

Não tinha nada ali. 

- Apareça. - gritei furiosa. - Não quer falar comigo e vive me perseguindo? Estou aqui, - levantei os braços. - pode vim. 

Sem resposta, como de costume. 

- Ok. Como quiser. - abaixei os braços e me deixei cair no chão fazendo meu vestido branco se sujar todo. 

Um rapaz alto parou na minha frente e estendeu a mão como se quisesse me levantar. Estendi minha mão e deixei que me levantasse.

Olhei em seu rosto. O luar agora me deixava ver seus traços. Ele era lindo e seus olhos verdes me deixava completamente enfeitiçada. 

- O que quer? - disse desconcertada. 

Ele abriu a boca para falar.

*

- Acorda, Lexie. - Rosie estava quase gritando. 

Abri os olhos rápidos e me deparei com ela toda arrumada parada na minha frente. Havia dormido outra noite em seu quarto. 

- O que foi? - respondi brava.

- Acho que tava tendo outro daqueles sonhos. Fiquei preocupada. 

Suspirei. Não tinha motivos pra ficar brava com Rosie, ela havia se preocupado com isso durante muito tempo. 

- Rosie, pela primeira vez eu consegui ver o rosto dele. 

Rosie me olhou confusa. 

- Dele quem? 

- O rapaz do meu sonho. Ele queria me dizer algo e eu parei pra ouvi-lo, mas você me acordou bem na hora.

- É só um pesadelo, Lexie. - disse sorrindo. Isso a assustava, mas ela não demonstrava. 

- Vai sair com Brian, certo? - queria mudar de assunto. 

- Sim. - sorriu como uma boba apaixonada. 

- Você está linda. - e de fato estava. Os cabelos loiros de Rosie estavam soltos. Ela usava uma calça jeans apertada, e um casaco vermelho. 

- Obrigada. - respondeu com um sorriso enorme. - Você deveria sair um pouco hoje. É a folga de Doris e a casa vai ficar vazia, ou seja, não vai ter ninguém para conversar.

- Vou ver o que faço. - respondi.

Rosie se despediu e desceu as escadas, entrando em seu carro. Consegui ouvir até que seu carro ficasse longe. 

Levantei da cama e parei em frente ao espelho da nossa antiga penteadeira. Meus cabelos castanhos estavam completamente bagunçados. Peguei uma escova e comecei a penteá-los. Passei lápis preto nos olhos, batom vinho na boca e fui em busca de alguma roupa. Abri meu guarda roupa e me deparei com um sobretudo preto. Coloquei jeans e ele por cima. Calcei tênis e desci as escadas. 

Me certifiquei de que não tinha ninguém em casa e me dirigi para perto do sofá. O arredei e logo abri a porta, desci por uma escada suja, cheia de poeira e bastante antiga. Cheguei no chão e me deparei com um porão abandonado. Havia caixas por todos os lados e o teto estava cheio de pequenas lâmpadas. Tentei acendê-las e me surpreendi quando todas ficaram acesas. Andei pelo local. Parei em frente a uma mesa que parecia de escritório e comecei a mexer em alguns papeis ali. 

Eram cartas trocadas entre namorados. Comecei a lê-las. 

"...eu sinto sua falta a cada dia que passa, mas acho que não posso fazer nada para mudar isso. Meus pais pediram para que eu me afastasse, mas você sabe que vamos dar um jeito. Não se esqueça que em cada pedaço de mim, há um pedaço seu. Eu te amo."

A carta datava de 1980. Larguei-a de lado e peguei uma foto que estava virada em cima da mesa. "Eu amos vocês.", era tudo o que estava escrito. Curiosa, virei a foto e deixei-a cair no mesmo instante. 

- Não pode ser. - disse espantada.