Estava andando pela neve completamente furiosa. Florence me alertara para não sair, Lucas poderia aparecer a qualquer momento, mas não ligava com isso. 

Hora ou outra, percebia Florence me observando pela janela de seu quarto. Talvez ela me protegeria. 

Continuei andando, até que resolvi ir na casa de Rafael. Eu o evitei durante muito tempo, e agora era hora de conversarmos como duas pessoas normais. Precisava vê-lo, até porque talvez aquilo seria uma despedida. 

*

- Lexie? - Rafael estava parado na porta com uma expressão curiosa. 

- Oi, Rafael. - disse tentando parecer o mais normal possível. - Quer andar por aí? 

- Claro. - disse saindo e andando ao meu lado. Não pude deixar de reparar quanto ele era bonito. 

Começamos a conversar sobre coisas idiotas de quando éramos pequenos. 

- Ainda tenho guardada dentro de um livro aquela flor que você me deu no meu aniversário. - disse sorrindo. Foi o suficiente para deixá-lo tímido. 

Levou a mão no bolso e pegou sua carteira. Abriu-a e tirou um pequeno papel. 

- Ainda guardo essa foto. - disse me mostrando a fotografia de um pouco antes dele ter ido viajar. Nós dois estávamos sentado no sofá com uma imensa tigela de pipoca. Ríamos como duas crianças vendo o filme "O Exorcista". 

- O exorcista. - disse rindo. - Como a gente conseguia rir daquele filme? 

- Era engraçado. E você nunca tinha medo, já tinha cansado de tentar te assustar com aquilo. - Rafael estava rindo e acabei vendo que sentia muito a falta dele. 

- Eu não entendo como nós distanciamos. - disse abaixando a cabeça. - Éramos bons amigos. - sorri. 

Rafael permaneceu calado olhando para o meu rosto. Quando percebi, nossos lábios estavam selados e envolvidos em um beijo calmo. 

- Me desculpe, Lexie. - ele disse agitado. 

Eu e o olhava espantada. Não esperava por aquilo. 

- Eu preciso ir. - disse abraçando-o rapidamente e virando as costas. 

- Tudo bem. - ele disse não entendendo minha reação. 

- Nos vemos depois. - gritei um pouco longe. 

Eu estava confusa. Amava Steve, mesmo morrendo de raiva dele agora. 

*

Entrei no casarão e me deparei com Rosie. 

- Lexie, por favor, vamos conversar. - ela implorava. 

Percebi o quanto tinha sido ignorante e idiota mais cedo. 

- Ok, Rosie. - disse sentando no sofá.

- Lexie... entenda que foi tudo pra te proteger. Daniel sabia da maldição, mas não conseguia fazer nada. Nunca esperávamos que você iria achar o porão, porque de um jeito ou outro iria acabar descobrindo, lá dentro sobre Steve, o cara que te perseguia em seus sonhos. O porão era quase um portal para libertar os espíritos...

- Eles estavam lá dentro? - eu não entendia mais nada. 

- Não, mas assim que você abrisse, descobrisse sobre a maldição, eles iriam estar livres pra matá-la. 

- É tudo culpa minha? - eu quase gritava.

- Não! - Rosie disse me acalmando. - Iria acontecer de qualquer jeito. 

- Eu não me conformo. - encostei a cabeça no sofá. - Rosie! - gritei. - Onde está Steve? Precisamos salvá-lo. 

- Minha mãe está tentando achá-lo. Vai ficar tudo bem. 

*

Ficamos deitadas no sofá por algum tempo. Se não fosse minha preocupação com Steve, iria acabar adormecendo. Estava muito confusa. 

- Já sei onde ele está. - Florence disse descendo as escadas.

- Onde? - me levantei correndo.

- No mesmo lugar que você foi quando ele te prendeu. 

Fiquei olhando-a. 

- É um casarão aqui perto, onde ele foi assassinado. 

- Então, vamos. - disse me dirigindo a porta.

- Lexie, precisamos de você pra outra coisa.

- O que? 

- Os restos mortais. 

Coloquei a mão na cabeça. Deveríamos ter procurado em outros cemitérios. 

- Não faço ideia de onde ele foi enterrado. 

- Aqui. 

- Aqui? 

- Sim, aqui. Nos fundos do casarão. 

- Por que? 

- Lembra que os pais de Steve foram assassinados porque ele sabia sobre a maldição? - concordei com a cabeça, era claro que me lembrava. - O pai de Steve tentou ajudar Steve a procurar o corpo e queimá-lo, achou-o em cemitério não muito longe, o pegou e colocou em seu quintal para que pudessem salgar e queimá-lo e assim evitar a morte de muitas pessoas, inclusive Daniel. - ela tinha o olhar triste. - Mas o espírito vingador de Lucas, chegou antes deles e acabou mantando-os. Lucas enterrou o corpo no nosso quintal. 

- Por que vocês não salgaram e queimaram ele logo? - perguntei. 

- Porque ficamos sabendo disso agora. 

- Como? 

Florence ficou em silêncio. 

- Steve... - disse. 

- Ele conseguiu transmitir isso pra mim, mesmo estando preso. É o único poder que não ficou bloqueado. 

- Como ele está? 

- Ele vai ficar bem. 

Eu estava preocupa, mas deixei-as ir salvar Steve enquanto eu procurava os restos mortais de Lucas. Fui andando em direção ao fundo do casarão enquanto lágrimas escorriam pelos meus rostos. Eu amava Steve e não poderia deixá-lo ir de maneira alguma, e tinha medo de que isso acontece. 

- O que vai ser de nós dois? - perguntei aos céus.