I Can See Clearly Now escrita por Kaline Bogard


Capítulo 5
Capítulo 5




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I Can See Clearly Now

Cap. 05

— Tem certeza, Mione?

Harry questionou a amiga com um tom de voz muito esquisito. Hermione Granger olhou de Harry para Draco, parado mais atrás.

— Tenho sim, Harry. Ron e eu ficaremos por aqui mesmo.

Ron balançou a cabeça, concordado. Os olhos animados percorreram o Grande Salão, observando as pessoas ali de modo distraído.

— Mione e eu vamos comemorar do nosso jeito.

Mione corou e desviou os olhos. Harry deu de ombros e resolveu não insistir. Voltou-se para Draco e sorriu com os olhos fechados: - Parece que é só você e eu, Malfoy.

— Acham que compensa sair essas horas? Já passa das oito e os portões de Hogwarts fecham às 9:30. Não terão muito tempo.

Draco sorriu com ares de superior e esticou o próprio crachá, quase esfregando na cara de Ron:

— Vê isso, Weasel? Eu posso abrir o portão de Slytherin a qualquer hora com o meu crachá.

Ron corou e ficou quieto. Mas os olhos fumegavam, como se ele estivesse segurando para não grudar no pescoço do loiro. Mione tentou remediar a situação:

— Juízo vocês dois! Não bebam muito, amanhã começam as eliminatórias. As chaves ainda não foram definidas, mas é melhor não estarem de ressaca.

Harry concordou e Draco rolou os olhos. Logo os quatro se despediram, e enquanto Ron e a namorada seguiam na direção dos dormitórios, afastando-se do Grande Salão que se esvaziava, Draco voltou-se para Harry:

— Então, Potter? Qual o seu plano maravilhoso para essa noite?

Harry sorriu amplamente, e passou a mão pelos cabelos espetados: - Porque não me chama de Harry, Draco?

O Slytherin olhou de forma desaprovadora para a bagunça do cabelo do outro. Parecia indignado com a aparência desordenada dos fios.

— Você não penteia os cabelos não, Potter? Escova é uma invenção muito útil, e existe há séculos...

Harry deu de ombros.

— Não é como se fizesse diferença, pentear ou não os cabelos. Eles ficam do jeito que bem entendem, por mais que eu tente arrumá-los. - respondeu sem insistir para que o outro usasse seu primeiro nome, apesar de perceber que ele tentava disfarçar. - Podemos ir agora? Antes que fique muito tarde.

— Claro. Vamos no meu carro ou no seu?

Harry riu: - Não tenho carro. Terá que ser no seu.

Draco balançou a cabeça: - Acabei de ganhar. Minha mãe queria que eu tivesse uma imagem mais austera. - desdenhou.

Os rapazes seguiram em direção a portaria de Slytherin. Harry notou que o caminho ia declinando cada vez mais para baixo, como se seguissem para o subsolo. A um ponto, naquele em que encontraram Draco conversando com Pansy, o corredor aberto se bifurcava em duas passagens: uma continuava descendo e a outra virava para a direita.

— Slytherin fica nas ‘Masmorras’. - Draco explicou - Diferente de Gryffindor e Ravenclaw que ficam nas Torres e Hufflepuff que está em algum lugar perto da praça de alimentação. Nunca fui lá.

Desviaram para a direita. Logo Harry pode ver uma portaria decorada em tons de verde e prata, com um estandarte dominado por uma serpente estilizada. Era idêntica ao crachá de Draco.

— Isso tudo é muito interessante. Nunca imaginei que houvesse tantos detalhes por trás de um simples concurso de música.

— Não é um simples concurso. - Draco bufou pelo descaso - Seu amigo Weasel tem razão: Hogwarts abre todas as portas. Não existe nenhuma banda de sucesso que não tenha competido aqui e vencido. Essa é a diferença entre os talentosos e aqueles que surgem na mídia e logo desaparecem. Hogwarts é para sempre, Potter.

Harry ouviu o discurso com certa surpresa. Draco parecia defender aquele mundo com unhas e dentes, com seus pros e contras. Interessado pela paixão do loiro, Harry declarou de forma descuidada:

— Apesar de tudo estou deslumbrado. Quero saber mais sobre esse assunto.

— Leia Hogwarts uma história. - recomendou o loiro de forma automática, da mesma forma que havia feito com Hermione.

Porém Harry sorriu ainda mais antes de afirmar: - Preferia que você me ensinasse... Acho que entenderia melhor.

Draco foi pego de surpresa pela insinuação, mas não teve tempo de responder. Um rapaz meio grandalhão, com uma cara de poucos amigos aproximou-se de ambos. Vestia uniforme verde e prata e tinha a palavra staff bordada na frente da veste.

— Está quase na hora de fechar. Não demorem lá fora.

Draco fuzilou o outro com um olhar hostil:

— Ora, Nott, de onde tirou coragem pra falar assim comigo?

— Malfoy... Eu ouvi dizer que você não era mais tão Slytherin... Já corre por aí que venceu por Gryffindor. É um feito que vai deixar o senhor Malfoy muito feliz... - Nott sorriu mostrando os dentes tortos e continuou provocando: - E soube que tem andado com Sangues-Ruins...

Draco não perdeu a pose. Pegou o crachá e passou pelo visor de leitura óptica. Imediatamente a porta se abriu.

— Independente do que acha, Nott. Eu tenho o controle. E a menos que queira orgulhar seu pai, indo lavar os banheiros, não volte a falar comigo nesse tom.

Nott ficou pálido e pareceu diminuir, perdendo a pose arrogante.

— Desculpe, Malfoy... - resmungou - Não voltará a acontecer.

— Tenho certeza disso. Vamos logo, Potter.

Harry, que apenas observara a troca de palavras agressiva, obedeceu mais do que depressa. Estava espantado pelo tom de ameaça que o tal de Nott usara, e também fora pego de surpresa pela facilidade que Draco tinha de usar sua superioridade para virar o jogo a seu favor. Era impressionante.

E, evidentemente, Draco não era o único que levava tudo aquilo a sério demais...

— Não está indo muito longe? Não consigo entender tanta... Tanta... Sei lá. Obsessão? Parece coisa de fanático... - Harry estava confuso.

— Isso é algo que um amigo de Muggle nunca vai entender.

— Amigo de Muggle? O que é isso? - Harry não se conformava com a riqueza de detalhes que envolviam aquele evento.

— Muggle. Você sabe, pessoas que não tem relação com o mundo da música e tentam a sorte em Hogwarts. Minha família tem estado envolvida com a música por gerações. Sabia que um dos meus antepassados foi professor de Bach?

Harry arregalou os olhos: - Sério?

— Sim. Os Malfoy são uma das poucas famílias de Puro Sangue que existem, cujos membros se dedicam exclusivamente a música. Os Potter também tiveram contato com esse mundo há muito tempo. Até os Weasley trabalham com instrumentos musicais. Não são de destaque, mas pelo menos não são Muggle. Já a sua amiguinha, a Granger, não pertence a esse universo. Ela é Sangue-Ruim.

Franzindo as sobrancelhas, Harry gracejou: - Que coisa, boba. Classificar as pessoas por sua ancestralidade com a música. Só porque os antepassados eram bons em alguma coisa, não significa que os herdeiros serão também...

— É algo que está no sangue, Potty. E você esteve longe por muito tempo. Não espero que entenda.

Nesse ponto Harry franziu as sobrancelhas ficando muito sério.

— Como sabe tanto sobre a gente, Malfoy?

Draco enfiou a mão no bolso e tirou as chaves do carro. Estavam chegando ao estacionamento de Slytherin. O loiro aproximou-se de um automóvel que estava na vaga reservada para usuários especiais.

Harry não conseguiu evitar uma exclamação de surpresa. O carro de Draco era a nada mais nada menos do que a ultima versão do Omega, prateado. O moreno sabia que só faziam aquele tipo de carro sob encomenda.

— Pare de babar, Potty. Estamos perdendo tempo.

Draco entrou, e Harry o imitou, acomodando-se no veiculo confortável.

— Belo carro, Draco.

— Eu sei. Coloque o cinto.

Assim que saíram do estacionamento, Harry resolveu insistir em sua pergunta:

— Você não me disse como é que sabe tanto sobre Ron, Hermione e eu...

Draco fingiu concentrar-se na rua, franzindo as sobrancelhas e ganhando um ar que ele julgou pensativo.

— Pra onde vamos, Potter?

— Vire a direita. E não pense que vou desistir de saber a verdade. Você não me engana. Sabe muito sobre nós...

Draco fez um bico e resmungou: - Você não achou que eu ia me juntar a três completos desconhecidos, não é, Potter? Contratei um detetive para saber mais sobre vocês.

— O que? - Harry não acreditou no que acabara de ouvir.

— E se vocês fossem psicopatas? Ou assassinos? Eu não sou otário.

— E até onde foi essa investigação?

Draco deu de ombros, desconsiderando a importância da pergunta: - Três gerações foi o suficiente. Assim que descobri que Granger é Sangue-Ruim e os Weasley tem lá suas tradições. São Puro sangue, apesar de ralé.

— Não fale assim!

— Seu pai vem de uma família Puro Sangue também. Descobri que um dos seus antepassados era famoso por produzir Operas de qualidade. Mas sua mãe... Sua mãe era uma Sangue...

— Termine essa frase e juro que vai se arrepender.

Draco olhou para Harry de canto de olho: - Sua mãe não tem tinha tanta tradição assim. Ela, na verdade, não tinha nenhuma tradição.

— Malfoy, isso é ridículo!

— Também descobri que a sua namoradinha largou vocês na mão no último segundo. Por isso estavam tão desesperados no Caldeirão Furado. Mas não sei se ela é Puro Sangue ou não. Essa criatura veio de intercâmbio do Oriente. E de qualquer forma, não me interessa.

— Chang competirá em Hogwarts. Será que conseguiu se classificar?

Rolando os olhos, Draco resmungou algo parecido com ‘é um inútil mesmo’, e enquanto diminuía a velocidade do Omega, perguntou:

— Tem carta?

— Tenho.

— Então dirija.

Harry arregalou os olhos e sorriu. Não ia deixar passar aquela chance. Logo Draco estacionou e eles trocaram de lugar. Enquanto Harry ligava o motor e acelerava, Draco deu uma de contorcionista e pegou um laptop que estava no banco de trás.

— O que vai fazer?

— Ajudar você, Potty. Porque meu cérebro não serve apenas de enfeite.

Harry não reclamou. Dirigir aquele carro era um sonho! Malfoy podia ofendê-lo o quanto quisesse que não diminuiria seu bom humor.

Depois de digitar por alguns segundos, Draco soltou um palavrão e ficou emburrado.

— Não tem nenhuma Cheng! Acho que foi desclassificada.

— É Chang. - Harry esclareceu sem tirar os olhos da rua.

— Ah. - Draco digitou mais alguns segundos e sorriu vitorioso - Achei! Ela foi classificada por Hufflepuff. Hum... Está competindo como vocalista da Seekers, junto com Cedric Diggory e Vitor Krum. Sua namoradinha é esperta, hein, Potty?

— Ela não é minha namoradinha. - Harry rebateu ressentido - Porque diz isso?

— Krum venceu um campeonato infantil. O Durmstrang Palace Hall. Ele é alguém proeminente... E esse Diggory... Ah, claro... O pai dele faz parte da comissão julgadora do Ministério.

— Ministério?

— É uma organização internacional que avalia os concursos musicais.

— Como é que a gente não houve falar essas coisas? Sério, você me surpreende a cada segundo.

Draco desviou os olhos da tela do laptop e observou Potter por alguns segundos.

— Não é como se fosse um segredo. Apenas as pessoas não querem saber. Os Muggle vêm e assistem as competições, depois voltam para suas casas e esperam que os artistas vencedores produzam seus cd’s. Muggle retornam para suas vidinhas normais, e não se importam com os bastidores. Mas pras pessoas envolvidas, tudo é muito importante.

— Não tenho mais dúvidas disso.

— Essa é a nossa vida, Potter. Hogwarts é muito mais do que um simples concurso. Mas quem está de fora nunca vai entender. Você vem de uma família que até certo ponto entende do assunto, mas ficou longe daqui por tempo demais.

— Agora eu voltei. Meus pais e meu padrinho venceram Hogwarts uma vez. Eu posso fazer o mesmo. Eu vou fazer o mesmo.

— Passamos pela parte mais difícil. - Draco sorriu esnobe - Agora o que vier é fichinha.

— O que mais pode descobrir com seu crachá vip?

Draco resmungou ofendido:

— Não seja idiota. Eu não usei meus privilégios para acessar as informações da Seekers. Está no site oficial. Qualquer pessoa pode ver. Ele é atualizado constantemente.

— Ah... Pensei que...

— Não faça coisas que estão acima da capacidade. Deixa que eu penso.

— Malfoy...

Draco riu e continuou navegando pelo site.

— Ainda não tem as chaves definidas. Mas pelo ranking duvido que enfrentemos Seekers até as quartas de final. Eu não me preocuparia com eles. Estudei sua namor... Amiguinha, ela não tem uma voz muito surpreendente. Será milagre se chegar tão longe.

— Cho é boa.

— Eu me preocuparia com essa aqui... Ambição. Eles vão competir por Ravenclaw. Conheço os integrantes, todos Puro Sangue. Foram criados justamente para competir e vencer Hogwarts. Assim como Death Eaters. Pansy sozinha não é perigo, mas Blaise domina a guitarra como poucos e Goyle pode ser burro feito uma porta, mas na bateria... Será um páreo duro...

Harry começou a diminuir a velocidade do Omega. Estavam chegando a um Pub que conhecia. O Três Vassouras. Não que o freqüentasse muito, mas o tio o levara ali duas vezes.

— Malfoy... Você...

Adivinhando a pergunta de Harry, Draco respondeu de forma seca:

— Fazia parte do Death Eaters. Eu cantava com Pansy. Agora não canto mais.

Harry não se surpreendeu com o tom de voz irritado. Havia alguma coisa naquela história que Draco estava omitindo. Ele era fanático demais por todo aquele universo. Então porque deixara tudo pra trás e se apresentava em lugares como o Caldeirão Furado?

Em silêncio saíram do carro. Um manobrista correu para atendê-los, impressionado pelo Omega. Draco observou a fachada do Pub com ares de quem não acha grande coisa. Harry relevou. Com certeza o outro estava acostumado a coisas muito melhores.

— Vem. Servem um whisky ótimo aqui.

Draco não respondeu.

Os rapazes observaram o ambiente. Havia mais gente do que esperava. Uma banda cantava canções da moda, num palco à esquerda da entrada.

Harry fez um gesto para que seguissem em direção a uma mesa mais ao canto. Minutos depois tinham doses de whisky na mesa.

Draco deu um gole na bebida, parecendo sem saber o que fazer com as mãos. Harry começou a se sentir meio estranho. Agora que estavam ali, não parecia ter nada interessante pra dizer ao outro. No caminho havia cometido gafe atrás de gafe, no entanto aprendera muito sobre um universo que nem sonhava existir.

Hogwarts era um mundo de mistérios.

Com esse pensamento, o moreno ergueu seu copo e sorriu:

— Ao concurso, e a Wiz.

Draco pegou o espírito da coisa e brindou também, sorrindo meio convencido:

— A vitória.

Enchendo-se de coragem, Harry se arriscou:

— Posso te pedir uma coisa?

Draco nem vacilou: - Depende.

— Do que?

— Se eu vou ganhar alguma coisa em troca.

— Meu profundo respeito.

— Tsc. Isso, eu já tenho.

— Você sempre pensa em levar vantagem em tudo?

— Claro. É aí que está a graça.

— Esquece.

Mas Draco ficou curioso em saber o que Harry queria.

— No seu caso talvez eu abra uma exceção.

— Estou lisonjeado.

— Evidentemente. Lisonjeado e honrado. O que você quer?

— Canta pra mim. - os olhos verdes de Harry brilharam.

— O que? Porque? - Draco nem tentou disfarçar a surpresa.

— Canta qualquer coisa, me mostra do que você é capaz. Só estamos nós dois aqui... Acho que pode fazer isso, não?

O loiro ficou meio sem jeito. Olhou para os lados e limpou a garganta.

— Qualquer música?

Harry sorriu satisfeito. - Qualquer uma que você escolher. Depois peça qualquer coisa em troca, se quiser.

Draco ficou pensativo. Nunca acontecera tanta coisa estranha em sua vida quanto como nas ultimas 24 horas. Em tão pouco tempo juntara-se a uma banda desconhecida, quebrara praticamente todas as leis mais antigas de Hogwarts ao dar as costas a casa em que nascera e competir por Gryffindor. Estava andando com Sangues Ruins e pessoas que não tinham o menor apego as tradições.

E... Estava tendo um encontro com outro rapaz. Um rapaz que acabara de conhecer e que olhava pra ele com olhos verdes brilhantes de expectativa. Um rapaz com uma cicatriz em forma de raio na testa e cabelos que pareciam apontar em todas as direções... Um rapaz, que percebeu, a quem queria agradar de forma surpreendente...

Quanta loucura.

Enfim, loucura por loucura...

Sem hesitar mais, e sem desviar os olhos das íris verdes, Draco começou a cantar, baixinho a principio, como se testasse as notas, sondando se Harry gostaria da melodia...

I could stay awake just to hear you breathing

(Eu poderia ficar acordado só para ouvir você respirar)

Watch you smile while you are sleeping

(Ver você sorrindo enquanto dorme)

While you're far away dreaming

(Enquanto você está longe e sonhando)

I could spend my life in this sweet surrender

(Eu poderia passar minha vida inteira nessa entrega doce)

I could stay lost in this moment forever

(Eu poderia me perder neste momento para sempre)

Every moment spent with you is a moment I treasure

(Todo momento que eu passo com você é um momento que eu prezo)

Harry pareceu agradavelmente surpreso, a medida que ouvia as palavras quase sussurradas. De todas as músicas que imaginara, aquela passara longe. E valera a pena, porque ele adorava aquela canção.

Empolgado pelo sorriso que aumentava nos lábios de Harry, Draco soltou a voz, sem sequer notar que a conversa nas mesas vizinhas cessara, e as pessoas começavam a prestar atenção naquele show inusitado.

I Don't wanna close my eyes

(Não quero fechar meus olhos)

I Don't wanna fall asleep

(Não quero pegar no sono)

'Cause I'd miss you baby

(Porque eu perderia você, baby)

And I don't wanna miss a thing

(E eu não quero perder nenhum detalhe)

'Cause even when I dream of you

(Porque mesmo quando eu sonho com você)

The sweetest dream would never do

(O sonho mais doce nunca vai ser suficiente)

I'd still miss you baby

(E eu ainda perderia você, baby)

And I don't want to miss a thing

(E eu não quero perder nenhum detalhe)

A voz macia, de tons altos causou arrepios em Harry. De repente ele estava muito tenso na cadeira, com os braços cruzados sobre a mesa, acompanhando Draco cantar, preocupado em ouvir cada letra docemente entoada.

A essa altura alguém já mandara um recado ao gerente, solicitando que a banda parasse de tocar por alguns minutos. Não eram apenas as mesas vizinhas que compartilhavam aquele espetáculo.

Praticamente todo o pub parara, apenas pra ouvir o rapaz loiro cantando.

Lying close to you feeling your heart beating

(Deitado perto de você, sentindo o seu coração bater)

And I'm wondering what you're dreaming

(E imaginando o que você está sonhando)

Wondering if it's me you're seeing

(Imaginando se sou eu quem você está vendo)

Then I kiss your eyes

(Então eu beijo seus olhos)

And thank God we're together

(E agradeço a Deus por estarmos juntos)

I just wanna stay with you in this moment forever

(Eu só quero ficar com você neste momento para sempre)

Forever and ever

(Para sempre e sempre)

Pessoas que estavam ao fundo do pub se colocaram em pé e foram se aproximando devagar, querendo chegar o mais próximo possível.

Harry percebeu a movimentação e respirou fundo. Meneou a cabeça ao perceber que Draco também tomava consciência de que era o centro das atenções. E o loiro estava adorando.

Como se quisesse provocar ainda mais, fechou os olhos e deixou que sua paixão pela música o dominasse por completo. Sua voz ganhou tons inacreditáveis quando repetiu o refrão cheio de emoção.

I Don't wanna close my eyes

(Não quero fechar meus olhos)

I Don't wanna fall asleep

(Não quero pegar no sono)

'Cause I'd miss you baby

(Porque eu perderia você, baby)

And I don't wanna miss a thing

(E eu não quero perder nenhum detalhe)

'Cause even when I dream of you

(Porque mesmo quando eu sonho com você)

The sweetest dream would never do

(O sonho mais doce nunca vai ser suficiente)

I'd still miss you baby

(E eu ainda perderia você, baby)

And I don't want to miss a thing

(E eu não quero perder nenhum detalhe)

Pouco a pouco a voz foi diminuindo, e ele não continuou o resto da canção. Ainda era Draco Malfoy, e ele achava que já havia feito o bastante por aquela inusitada platéia. Mesmo por Harry.

Assim que a música acabou o pub explodiu em sonoras palmas, gritos e pedidos de bis.

Draco sorriu convencido e fez um gesto de pouco caso com as mãos, como se dispensasse as pessoas.

Alguns se encheram de coragem e vieram cumprimentá-lo pela performance, fazendo questão de apertar sua mão. Uma garota ruiva, mais ousada, pediu um autografo, que Draco gentilmente recusou.

Enquanto a comoção diminuía, a banda contratava voltava a cantar, mas ninguém dava mais atenção. Mesmo sem instrumentos, Draco mostrara que eles não passavam de iniciantes.

Demorou quase meia hora para que tudo voltasse ao que era antes de Draco cantar. Harry apenas observava o Slytherin se livrar com graça e tato das pessoas que se mostravam encantadas com seu talento.

Quando queria, Draco Malfoy era a encarnação da gentileza.

Tantas facetas faziam Harry achá-lo muito interessante.

— E então - perguntou Draco, quando finalmente foram deixados em paz - gostou?

— Incríveis. - Harry sussurrou fazendo Draco franzir as sobrancelhas. Então o moreno explicou - Seus olhos. Brilhavam.

Draco sorriu e balançou a cabeça.

Um garçom aproximou-se deles e pediu licença. Trazia dois drinks elaborados na bandeja.

— Cavalheiros. Aquelas damas enviam seus cumprimentos.

Apontou na direção de onde três garotas observavam divertidas. Draco sorriu de lado e aceitou a oferta. Harry deu de ombros e imitou.

— Diga-lhes que agradecemos a oferta. - Draco dispensou o garçom e voltou sua atenção para Harry - Acostume-se, Potty. Esse é apenas o começo.

Harry riu do jeito arrogante e entornou sua bebida de um gole só.

HPDM

Só muitas horas depois que resolveram voltar para casa. Draco olhou para Harry, reprovando-lhe a fraqueza para beber. O moreno trançava as pernas e desequilibrava-se como se ventasse muito.

Draco estava mais firme. Ele pouco bebera, pois aprendera desde jovem que álcool e direção não combinavam. Seus pais sempre lhe deram lições valiosas, e ele não precisava sofrer um acidente pra aceitar esses ensinamentos. Não era bobo.

Rapidamente o manobrista trouxe o carro de Draco. Assim que ele acomodou-se atrás do volante, Harry praticamente desmontou ao seu lado, demorando o triplo do tempo para prender o cinto.

— Francamente, Potter. Você é um fiasco! Vai ter um belo porre amanhã.

Harry apenas riu. Moveu as mãos como se tocasse uma bateria imaginaria. Pouco se importava se amanhã tivesse uma forte dor de cabeça. O importante é que estava feliz naquele momento. Muito feliz.

Meneando a cabeça, Draco concentrou-se na estrada. Fizeram todo o caminho de volta em silêncio, apenas com Harry batendo em pratos invisíveis. Draco jurou a si mesmo que ia tirar muito sarro do moreno no dia seguinte.

No estacionamento de Slytherin o loiro teve um trabalho dos diabos pra tirar Harry do carro. O moreno reclamou que não queria sair, que ali no banco macio estava quentinho e agradável e pediu que o deixasse dormir em paz.

Draco quase cedeu a tentação. Quase. Foi a imagem mental de Harry vomitando no banco de seu carro que evitou deixar o moreno por ali.

Praticamente arrastou o baterista pra fora. Depois passou um dos braços dele por seus ombros, para dar apoio. Como Harry era mais alto, e tinha mais corpo, foi trabalhoso apoiá-lo.

— Juro, Potter, vai me pagar por isso! Da próxima vez que sairmos não vá beber tanto!

Harry riu daquele jeito bobo que apenas os bêbados conseguem e apertou os ombros magros de Draco antes de insinuar:

— Próxima... Vez? - as palavras saíram enroladas - Isso foi... Um convite?

Draco ficou amuado. Quase abandonou o outro por ali mesmo, mas então se lembrou de que ele era uma parte importante da banda...

Não sem sacrifício passaram pela portaria Slytherin, vazia àquela hora da noite. Poucas luzes foram mantidas acesas, o que dificultava o avanço. Conformado, Draco percebeu que teria de levar o moreno até o dormitório Gryffindor. Santa paciência.

Foi então que Harry tropeçou em vai Deus saber o que, e perdeu o equilíbrio. Draco enroscou as pernas também e caiu, sem que pudesse evitar arrastar Harry consigo. Bateu as costas com tudo contra o chão frio, onde ficou respirando rápido pelo susto. Os olhos estavam enormes no rosto pálido. Fazia tanto tempo que não caia! Esquecera-se da sensação...

Harry, que caíra por cima dele, ficou observando os olhos muito abertos, a boca entreaberta por onde escapava a respiração desordenada... Era uma tentação muito grande para que pudesse resistir.

Draco não teve tempo de pensar no que acontecia. Quando deu por si, notou Harry encerrando a pouca distancia entre seus rostos e colando os lábios de ambos num beijo inusitado. O loiro nem ao menos tentou afastá-lo. Estaria mentindo se dissesse que não desejara aquilo. Não planejara, mas já que estava acontecendo...

Harry fechou os olhos segundos depois de Draco. Ambos se entregaram ao momento, beijando-se animada e profundamente.

Ao fim do beijo, eles se encararam, e pra quebrar o clima estranho, Harry sorriu e deixou escapar:

— Você beija bem, Malfoy.

— Claro. Eu... Ei! Potter, você não estava bêbado?

O Gryffindor ficou sem graça: - Ah... É... Acho que estava...

— Você planejou isso!

Harry cruzou os braços sobre o tórax de Draco e olhou ao redor, parecendo achar a escuridão da noite muito interessante. - Talvez...

O loiro ia explodir, quando uma tosse seca chamou a atenção de ambos. Eles olharam para o lado quase ao mesmo tempo, flagrando um homem de estatura mediana, expressão fechada e olhar sério observando-os com censura no olhar. Harry achou que o nariz adunco, o cabelo que parecia ensebado e as vestes negras sóbrias, eram uma combinação estranha demais! Quase começou a rir, pois o homem meio que se camuflava com as sombras da noite.

— Padrinho!

— Draco. O que significa isso?

Draco fez força para empurrar Harry de cima de si. Ambos ficaram em pé.

— Nós caímos...

— Claro. Estou impressionado em ver como a queda encaixou as bocas de vocês perfeitamente...

Draco amuou com a ironia, e Harry ficou sem jeito. Então o homem estranho estava observando-os a algum tempo? - Quem é, Draco? - perguntou de mau modo.

Snape avaliou-o de cima a baixo e pareceu reprovar todo o conjunto.

— Vá para seu dormitório, Draco. Já tem problemas demais, não acha? Não quero ser obrigado a dar-lhe uma detenção e descontar pontos de Slytherin por isso.

— Então não o faça. - Draco rebateu. - E deixe que cuido dos meus problemas, padrinho. Boa noite.

Draco deu as costas e voltou o caminho, em direção a Slytherin. Snape olhou para Harry de cima a baixo novamente, parecendo infeliz com o que via. Antes que Harry pudesse lhe dizer uns desaforos, o mais velho avançou, indo embora pela mesma direção que Draco seguia. Um crachá vip de Slytherin brilhava contra as vestes negras.

— Pelo visto só tem gente estranha nessa portaria.

Dando de ombros seguiu em sentido contrário. Passara boa parte da noite planejando um jeito de se aproximar do loiro, e os resultados mostraram-se melhores do que o esperado. Conseguira um beijo. E que beijo!

No outro dia conversaria melhor com Draco e explicaria tudo. Queria saber se o loiro também sentia aquela atração quando estava ao seu lado.

E aproveitaria também pra perguntar uma coisa que o deixara intrigado. O que seria aquela história de ‘detenção’ e ‘tirar pontos’?


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Notas finais do capítulo

Música do capítulo: I dont want to miss a thing (Aerosmith – pra quem não sabe, é a música tema do filme Armagedon)