Depois de sua crise existencial com a garrafa de Whiski, Albus Potter quebrou cara. Não no sentido literal, mas no real sentido da palavra. Algumas horas depois de ter se recuperado do porre, foi à cozinha a procura de algo para aliviar a dor de cabeça quando encontrou alguém que não via há muito tempo.

Scorpius Malfoy estava sentado em seu sofá com os olhos fixos no nada. Desde que Lily se casara, o amigo se afastou de Albus pois o este o fazia se lembrar demais da irmã – a qual ele tanto amara.

– O que está fazendo aqui? – Albus nem ao menos se deu ao trabalho de recepcionar o velho amigo calorosamente ao perceber a expressão dura deste.

– Luke me chamou. Algo sobre você ter uma filha com Rose Weasley e estar ferrando com a sua vida.

– O que ele disse? – O anfitrião fez menção de sentar, mas Scorpius se levantou e pôs-se a sua frente.

– O suficiente pra eu saber que a bebida afetou o seu cérebro. Qual o seu problema? – Não deu chances do amigo responder antes de continuar – Olhe para a sua vida, cara. Você não tem nada. E quando finalmente aparece algo pelo qual você deve viver, você o deixa escapar.

– E quem é você para me dizer sobre deixar escapar? A mulher da sua vida está casada com dois filhos e desconsidera totalmente a sua exis- Antes que pudesse terminar a frase, Scorpius o atingiu em cheio com o punho fechado, nocauteando o homem – MAS QUE MERDA É ESSA?

– Eu não tenho mais nenhuma chance – O loiro disse entredentes – Se você continuar assim, vai acabar como eu.

Enquanto Scorpius desaparatava, Luke entrou cauteloso na sala de estar com uma poção na mão – provavelmente para amenizar os efeitos da bebida.

– A gente vai ter uma conversa séria, pirralho – O homem grunhiu enquanto bebia a poção e fazia um feitiço para concertar seu nariz.

– Poupe a sua saliva para as duas ruivas e se arruma, vamos comprar meu material.

Albus resolveu não discutir com o garoto, sua cabeça não estava num estado muito bom. Em meia hora, estavam no movimentado Beco Diagonal, se espremendo entre as pessoas a procura das lojas.

Quando faltava apenas o uniforme do garoto, Albus a viu. Estava sentada numa cafeteria abraçada com um loiro que ele não precisou de dois tempos para reconhecer.

– Pirralho, vou gastar a minha saliva agora, chame meu Elfo para te levar para casa.

– Não faça besteira – Ele mordeu o lábio – Por favor.

Mas o mais velho já não o ouvia mais, seguiu com os olhos fixos em Rose Weasley até estar finalmente as suas costas. Era ele. O babaca que perseguia sua Rose desde sempre. Ele sempre estava lá. Sempre.

Bateu palmas para aquele espetáculo.

É claro. Como nunca pensara nisso antes? A razão pela qual Rose não queria que elas soubessem a verdade. Para dar um pai de verdade a elas. Um pai estupidamente perfeito como Lorcan Scamander poderia ser. E como ele nunca seria.

Quando eles se viraram para seu espectador, o ódio brilhou nos olhos azuis de Lorcan.

– Albus, eu... – Ela se levantou num salto.

– Não basta eu ficar sem as minhas filhas, tenho que ficar sem você também?

– Albus nós estamos num lugar público, por favor, vamos- Ele não quis uma resposta, segurou o braço da mulher e desaparatou com ela.

Aparataram no escritório da casa dela, ela induzira o caminho, pois sabia que as meninas não estavam. Albus não aguentou e esbravejou todo sentimento que pensara ter afogado no Whiski na mesma manhã. Ele já não prestava atenção no que dizia, as palavras fluíam tão fácil de sua boca que ele se perguntava por quanto tempo ele as trancafiara.

Só parou quando a porta foi aberta num estrondo.

E naquele momento, ele desejou ter engolido tudo o que disse.

Ao ver os pequenos olhos verdes de Lyanna cheios de lágrimas, Albus se arrependeu de tudo o que dissera a Rose. Simplesmente pelo fato da garota ter ouvido também.

E quando ela desatou a correr, seu coração a acompanhou. Não ouviu o que Rose dissera, nada, apenas saiu atrás de sua filha com o pensamento em mente de que, se ela corresse, algo ruim poderia acontecer.

Nem ao menos tentou segurar as lágrimas ao encontra-la caída na calçada.

Apenas a abraçou e tentou reconforta-la, por fim, a levou para sua casa.

Ainda com Lyanna no colo, ele a carregou para um quarto vago e a depositou com cuidado na cama de casal. Ela ainda soluçava encolhida, uma das mãos apertando o tornozelo direito com força.

– Por que... – Ela engoliu em seco – Por que não me contou?

– Eu acordo tendo em mente que nunca vou ter uma família e vou dormir sabendo que tenho uma menina de catorze anos. É assustador. Aterrorizante – Ele era sincero em cada palavra, já não podia mais mentir para aquela jovem.

– Eu posso ser uma boa filha, sabia? – Ela ainda chorava compulsivamente, mas ele sorriu cansado ao ouvir o comentário.

– Você é mais do que eu jamais poderia imaginar nos meus melhores sonhos pirralha – As lágrimas já não eram mais de dor ou de preocupação.

Ele estava com ela. Com a sua filha.

Conversando como um pai. Sentindo como um pai. Sendo um pai.

Deitou-se com ela e aninhou em seu peito, aproveitando cada segundo com Lyanna. Com a sua filha.