A casa de James Potter era linda. Nem um pouco parecida com o apartamento luxuoso e frio de seu irmão, a casa era de fato uma casa e mesmo estando ali pela primeira vez, Lyanna sabia que podia chama-la de ‘lar’.

Era uma casa de dois andares, lembrava um pouco sua casa do México, com janelas vermelhas e cortinas de tecido. Até mesmo o cheiro do lugar era convidativo, algo parecido com ervas, mas ela não conseguia identificar qual. Caso ela fechasse os olhos, quase poderia se sentir em casa novamente.

Sua verdadeira casa, não aquele lugar estranho que ela morava há aproximadamente um mês.

O sol de fim de tarde batia em um lindo sofá, o qual ela não conseguiu sair desde o momento que chegara, tamanho o conforto que ele lhe proporcionara. Brandon a comparou com uma velha quando viu seu estado, mas Lyanna não se importou, estava cansada demais para responder acidamente seu primo.

Sua irmã, como se por um milagre, também estava cansada – finalmente. James arrumou um canto para ela cochilar enquanto ele preparava um lanche para os outros dois.

– Então – Brandon começou, puxando assunto – Ansiosa?

– Não consigo dormir, comer, respirar já é um milagre – Lyanna respondeu em meio uma careta – Quero voltar pra minha casa, minha escola, meus amigos – Bufou – Ainda não entendi o porquê de a minha mãe insistir tanto em voltar.

– Saudades da família, talvez?

– Ta, mas por que agora? Não faz sentido, ela foi embora antes mesmo de engravidar de mim e nunca mais voltou. Por que agora?

– O que você disse? – James perguntou com uma expressão confusa enquanto entrava na sala com guloseimas numa bandeja – Sua mãe foi embora assim que descobriu que estava grávida, o que ela disse pra você?

– Disse que assim que saiu do avião começou a passar mal e foi levada às pressas para um hospital quando descobriu... – Lyanna percebeu que o mais velho se arrependera do comentário, mas por que fazia tanta diferença a ordem dos acontecimentos? A menos que... – Ela foi embora porque estava grávida – Constatou sozinha.

James não respondeu, deixando a entender que ela estava correta.

Sua cabeça fervia em milhares de perguntas para as quais ela não conseguia pensar em nenhuma resposta plausível. Se sua mãe partira assim que descobrira a gravidez, então era algo com seu pai. Talvez ele fosse um mafioso, talvez um ricaço que a acusava de um golpe, talvez um inimigo de família. Por mais que Lyanna negasse a si mesma que precisava de um pai, sabia que não era verdade. Querendo ou não, o pai era uma parte da pessoa. E ela não conhecia essa sua parte.

– Lyanna, eu acho melhor – A jovem cortou James com um simples aceno de cabeça antes que ele pudesse terminar sua frase.

– Será que eu posso usar a sua lareira? Acho que melhor voltar para casa...

Ele suspirou derrotado, sentindo sua angustia e assentiu.

– Eu levo sua irmã assim que ela acordar, não se preocupe.

A ruiva sorriu em despedida para os dois Potters antes de sumir na lareira entre chamas esverdeadas. Reapareceu em sua própria sala de estar, mas esta estava vazia, ainda assim, o barulho indicava que não estava sozinha.

– Agora tudo faz sentido! – Uma voz masculina um tanto alterada exclamou.

Ela saiu cautelosamente da lareira em direção à voz, que seguia para o escritório.

– Albus, por favor! Catorze anos se passaram e você continua com a mesma paranoia boba! E se eu estivesse com ele, qual o problema? Eu e você nunca tivemos nada sério, nada concreto. Eu não te devo nada!

O assunto passou a interessar Lyanna cada vez mais. Em toda sua vida, ela mal vira a mãe com um namorado e agora tinha dois homens na vida dela?

– Não me deve nada? – Albus Potter foi irônico – Você é a mãe da minha filha e você a manteve afastada de mim por catorze anos! Você roubou de mim a única chance que eu tinha de ser feliz. Você, Rose Weasley, me deve bem mais que pode imaginar.

O estomago de Lyanna se contorceu e ela se sentiu aliviada por não ter provados do lanche de James, caso contrário, este seria regurgitado agora. Sem pensar duas vezes, escancarou a porta, chamando atenção de sua mãe e de seu... Pai.

Rose aparentava estar abalada, mas ainda mantinha a pose de mulher inquebrável que levara tantos anos para construir. Já Albus, bem... Ele estava pior do que mal. Seus olhos estavam vermelhos e molhados e cada veia de seu corpo estava ressaltada, seu conflito interno era mais do que claro: ele lutava para não explodir.

Lyanna também tinha os olhos úmidos, mas ela ainda não decidira se era raiva ou magoa de ter sido enganada. Afinal, ele não era nenhuma das opções horríveis que ela imaginara, pelo contrario: ele era tudo o que Lyanna sempre imaginara como pai.

– Filha, eu... – Rose começou se aproximando, mas Lyanna se desvencilhou dos braços da mãe e desatou a correr.

Ela não conhecia muito bem a rua e sem dúvidas correr não era lá uma boa ideia depois do acidente, mas ela precisava fugir. Talvez seus pensamentos não aguentassem o ritmo e ficassem para trás, talvez se ela corresse, poderia voltar para sua casa – sua casa verdadeira – e seus amigos.

Entretanto, ela não pode continuar pensando nisso, pois mal terminara o segundo quarteirão, sua perna direita falhou e a ruiva caiu no asfalto. As lágrimas escorriam descontroladamente, agora misturadas com a dor do tombo e da sua queda há quase – Merlin, já passara tanto tempo assim? – um ano.

Por um momento, esqueceu-se do mundo ao redor. Pensou que choraria até se afogar nas águas de suas magoas. Todavia, um par de braços fortes a enlaçou num abraço tão apertado quanto seu coração estava.

Lyanna não teve que olhar para saber quem era.

Mesmo nunca tendo sido abraçada por ele, ela o reconhecia.

– Sh... – Sussurrou em seu ouvido – Vai ficar tudo bem – Mesmo a voz dele estando embargada, o homem transmitia confiança – Vou te levar pra casa, vou cuidar de você.

Ele a pegou no colo como um bebe e a levou para um beco próximo. Abraçou-a ainda mais forte antes de desaparatar.