Rose ignorava as reclamações da filha mais velha como se ela estivesse falando outro idioma. Coisas sobre como o uniforme da escola nova não a valorizava em nada ou sobre a costureira que a espetara várias vezes. Sabia que ela estava ansiosa, nervosa pelo inicio do ano letivo em uma escola onde todos de sua turma já se conhecem há quatro anos. Em parte, sentia-se culpada por tirar a filha de seu habitat natural, mas sabia o que era melhor para ela.

Conferiu novamente a lista de materiais para o quarto ano, faltava apenas alguns livros e elas poderiam ir para casa.

– Lyanna, por favor – Pediu com a maior calma possível – Já estamos acabando, vou pegar os livros na Floreiros e Borrões. Enquanto isso, leve a sua irmã para comer alguma coisa, sim?

A jovem respirou fundo e aceitou o dinheiro que a mãe lhe entregara, desaparecendo pela multidão segurando a mão da mais nova.

– Então é verdade o que dizem? Rose Wasley está de volta!

Mesmo após tantos anos, a ruiva logo reconheceu a voz e sem pestanejar, abraçou o homem que a saudava como os bons e velhos amigos que eram.

– Lorcan Scamander! Não mudou nada!

– Ah, eu acho que fiquei um pouco mais bonito – Ele deu os ombros.

Rose revirou os olhos, Lorcan jamais perderia seu jeito Lorcan de ser e isso o fazia uma das pessoas que mais sentira falta durante esses anos. Abraçou-o com toda força e foram juntos para a livraria.

Por alguns instantes, enquanto ouvia sobre a vida de seu amigo e ria de suas piadas, a mulher se esqueceu de todos os problemas que a assombravam cada vez mais, todos eles envolvendo Albus Potter.

Até que se viu falando de suas filhas.

Sobre o temperamento explosivo de Lyanna e o jeito dócil e amigável de Dany, em como elas fizeram toda a sua vida um conto de fadas e uma história de terror às vezes também. Contou sobre todas as maravilhas latinas pelas quais se apaixonou e em como sentia falta delas, mesmo estando feliz em estar novamente em casa.

Apesar de ter passado um tempo com sua família, era a primeira vez que se via falando tão abertamente sobre sua vida fora de Londres, não percebera a necessidade que tinha de fazê-lo até o momento, quando as palavras pareciam fluir por vontade própria de sua boca.

– Rose? – Ele chamou enquanto voltavam às ruas movimentadas do Beco Diagonal – Não me contou uma coisa... Onde está o pai delas?

Ela sentiu o temor na voz do amigo, mas resolveu ignorar, como se ele estivesse perguntando apenas sobre o clima e deu os ombros.

– Você verá quando as conhecer.

Lorcan estreitou os olhos e continuou seguindo Rose enquanto desviavam de mulheres com sacolas e crianças travessas com suas vassouras. Não demoraram a achar as meninas dentre a multidão, com os cabelos ruivos sobressalentes de Lyanna. Apenas se assustaram a perceber que as duas tinham companhia. Brandon Potter também se deleitava com as varinhas de alcaçuz com Lya e Dany, ele parecia estar contando uma piada, pois havia lágrimas nos olhos das meninas de tanto rir.

– Olá Brandon – Ela cumprimentou com um sorriso enquanto afagava os cabelos loiros do rapaz – Este é um velho amigo, Lorcan Scamander. E estas são as minhas meninas: Lyanna e Daenerys.

O homem não respondeu. Ficou boquiaberto enquanto olhava a mais nova. Sabia o quão parecida ela era com o pai, pois ao olhar naqueles olhinhos verdes, pode ver o reflexo do homem que mais odiou em sua ainda curta vida.

– É um prazer, senhor Scamander – Lyanna foi a primeira a saudar – Aceita? – Perguntou oferecendo de sua comida.

– Obrigada, não estou com fome – Dispensou, enquanto se sentava.

A mulher notou que após notar a semelhança de Dany com Albus Potter, seu amigo evitava olhar para Lyanna, ainda não havia percebido os olhos dela. Sentiu-se culpada. Não por ter tido suas filhas, jamais. Mas por ter se envolvido Albus Potter, por ter se apaixonado por ele. Lorcan, seu melhor amigo de infância sempre tivera uma relação perturbado com o moreno. Começou quando Albus descobriu que o primeiro beijo de Rose fora com Scamander.

Claro que a amizade deles nunca passara disso, fora apenas uma brincadeira de crianças que resultou num beijo. Entretanto, Albus Potter jamais se convencera disso. Nem mesmo quando ele tomou sua prima como amante, viu-se livre do fantasma de Lorcan Scamander. E é claro que usou sua influencia nos corredores de Hogwarts para transformar o colegial do pobre garoto num inferno.

Por esses e outros motivos que Rose sempre escondera seus encontros com Albus Potter. Ele poderia ser um homem incrível, mas raramente davam-no a chance de se mostrar como tal. (E mais uma vez entram Harry e Gina Potter e mais o resto de sua família como os culpados pelo temperamento explosivo do jovem).

Rose não se importou quando James apareceu e se ofereceu para levar suas filhas para um passeio, estava ocupada demais tentando entender o que se passava na cabeça de Lorcan.

– Ele sabe? – O homem perguntou, quando se viram sozinhos.

A ruiva assentiu, sem coragem alguma de olhar para seu melhor amigo.

– Pedi a ele que mantivesse segredo, tem tanta coisa acontecendo... Essas crianças não precisam de um pai agora.

– Você ouviu o que você disse? – Gargalhou com escarnio – Rose, Rose... Você pode até enganar seu priminho, mas ele tem macarrão regado a Whiski no lugar de cérebro. O que você está escondendo?

– Lorcan, eu... – Ela ia repetir o que acabara de dizer, mas, droga, era o seu melhor amigo e ele estava lhe dando aquele olhar “continue mentindo, veremos até onde você chega” – Eu neguei duas crianças incríveis ao homem que eu mais amei – Sua garganta se enrolou num nó, mas ela não podia para de falar – Mas o pior de tudo: eu neguei um homem incrível aos dois seres que eu mais amo, amei, vou amar. Durante estes catorze anos, eu acordei tentando me convencer de que tudo estava bem, tendo a maior certeza de que não estava. Cada risada, cada dente, cada tombo, cada palavra, eu o privei de tudo isso. Foram momentos tão especiais, tão únicos, e eu sempre pensei no que ele diria a elas, os comentários, tudo. E graças a mim, essas três pessoas perderam tanto tempo, tanta coisa... – Lágrimas escorriam descontroladamente do rosto de Rose, Lorcan já não a olhava daquela forma, mas a olhava com pesar. Aproximou-se e limpou seu rosto, abraçando-a em seguida.

– Conte a verdade, Rose... Antes que você se perca. – Ele sussurrou no ouvido da mulher.

Lorcan diria mais coisas reconfortantes para Rose e provavelmente a convenceria do que era o certo a fazer, mas foram atrapalhados por um som que se parecia com... Palmas?