Albus já não sabia mais o que fazer. Com Daenerys, tudo era uma maravilha, afinal, ela era apenas uma criança, ele podia segurá-la em seus braços e brincar com ela o tempo que quisesse, mas Lyanna tinha catorze anos.

Não havia maneira possível – ou conhecida por ele – de um homem de trinta e poucos anos se aproximar de uma garota de catorze, mas ainda assim ele tentava e sentia que pouco a pouco, ia ganhando a confiança da filha.

Não tanto quanto Luke, este sim ganhara toda a atenção desejada da jovem – fato que o deixara um tanto desconfortável e, pelo que percebera, a Brandon também. Não demorou muito para todos perceberem a clara aversão que a jovem tinha a altura, e também ficou muito claro para os dois jovens que era muito engraçado zombá-la por isso.

Já fazia quase um mês que elas estavam em Londres, mais um mês e as crianças partiriam para Hogwarts. O tempo que ele tinha para se aproximar da filha mais velha se esvaía com facilidade.

Quando levantou para tomar café, Luke já tinha sua carta de Hogwarts com a lista de material para o quinto ano, o que o fez pensar que Lyanna também já tinha recebido sua carta. Ficou tentado em telefonar para Rose, entretanto achou melhor esperar que a mulher o fizesse.

– Bom dia pirralho – Cumprimentou enquanto preparava sua comida – O que tem de interessante nesse ano?

– Livros – Respondeu de boca cheia – E mais livros. Eles não se cansam de pedir livros?

–“Eles” são uma escola, é o dever deles te fazer ler.

Luke revirou os olhos e continuou comendo em silêncio, o qual só foi quebrado após ambos terem terminado o desjejum. O rapaz fitava o mais velho com os dedos entrelaçados na frente do rosto.

– Quando vai contar a ela? – Perguntou sem rodeios.

Por uma fração de segundo, Albus não entendeu do que se tratava, mas logo percebeu em qual assunto haviam chegado.

– Por mim, teria contado no momento em que descobri – Murmurou.

Evitava pensar no assunto. Era doloroso demais saber de suas chances de constituir uma família e em todas as coisas que o impediam de fazê-lo. Afinal, o que ele tinha feito de tão errado para não merecer chamar suas próprias filhas de filhas? Tentava acreditar que Rose tinha uma razão para tudo, já que ela sempre fora a “razão” de tudo, enquanto ele era apenas mais uma emoção impulsiva e sem jeito.

Catorze anos foram-lhe tomados à força por ela, e por mais que ele quisesse reconquistar o tempo perdido com as meninas, cada segundo se parecia com mais catorze anos imposto entre eles.

Várias vezes, pegava-se devaneando sobre como seria o dia em que ele seria apresentado como pai para suas filhas. Não sabia ao certo a história que Rose as contava. Quando estavam juntos, ele tentava não tocar no assunto, isso apenas abriria as feridas não cicatrizadas devidamente no seu peito.

Um nó se formou em sua garganta ao ver novamente aquele pedaço de papel em sua mesa. Ele ainda tinha uma semana antes que outro abismo se abrisse entre ele e Lyanna.

– Lya não merece isso – Luke suspirou, se levantando – O senhor também não – O jovem parou ao lado de Albus, que encarava as migalhas de seu prato, pensando nas migalhas de sua alma que havia abandonado de esquina em esquina nos últimos anos – Vou voar um pouco, mas se quiser conversar...

Ele negou sem dizer uma palavra e abaixou ainda mais a cabeça.

– Vai se divertir pirralho, tenho meus próprios jeitos de esvaziar a cabeça.

Luke mordeu o lábio, sabia exatamente do que Albus falava e isso o incomodava mais do que deveria. Entretanto, sabia que quando Albus Potter decidia desligar seus pensamentos, não havia nada melhor do que suas garrafas de Whiski.

– Tente não perdê-las outra vez – Disse, antes de sumir na escada.

Mesmo após ficar sozinho, Albus ainda sentiu um pouco de dificuldade de ir ao seu quarto. Parte de sua consciência tentava convencê-lo de que esta não era a saída, mas a outra parte se fortalecera por catorze anos e não cederia tão fácil. No fim, após dez minutos de conflito interno, o homem levantou-se, trancou-se em seu quarto e serviu-se um copo de bebida. Entretanto, não o bebeu de imediato: pegou a garrafa e virou-a em sua boca.

Brindou consigo mesmo ao perceber o que tinha feito de errado para não merecer suas filhas.

Era apenas um bêbado que não conseguia lidas com as feridas no coração.

Se ele fosse Rose Weasley, sem dúvidas não iria querer que suas filhas soubessem que tem um pai como ele.