Segunda-Feira 15/02 – Cecília

Sinceramente, essa história do Justino possuir um jornal na universidade era muito legal, já que todos os dias eu podia conferir notícias sobre o Luke ter ficado com a namorada de alguém, ou até mesmo, sobre as briguinhas bizarras de sempre, que tinha por lá. Mas como ele poderia ser capaz de escrever algo daquele tipo sobre a própria irmã? Não querendo ser hipócrita, já que se a Walesca fosse a vítima daquela história toda, mesmo que  ela tivesse o sangue do Justino, eu estaria rindo da situação. Mas Alice não era exatamente o gênero de pessoa que merecia uma humilhação daquelas. E minha cunhada, sim, fazia completamente o tipo “eu estou precisando virar motivo de chacota da faculdade para ver se eu percebo como sou idiota”.                                                        

Enfim, sei que quando eu estava saindo do refeitório, já que eu tinha perdido minha amiga de vista depois de uma quase briga que ela teve com a Yoko, percebi uma cena nada comum. Estava o Peu e o Luke conversando, calmamente até então, para o meu completo espanto. Mas como estava muito estranho para ser verdade, logo meu ex namorado gritou algo que pareceu ameaçador e deixou seu “companheiro sozinho”, já que seguiu em minha direção.                                                                                                                                      

Tenho que admitir que fiquei completamente gelada quando eu vi que o Peu estava vindo para perto de mim, mas ,também preciso acrescentar que, quando ele parou ao meu lado e me lançou um olhar de ódio, eu quase me petrifiquei ali mesmo.  Meu ex namorado era completamente profissional em deixar as pessoas com medo, e quando o assunto sou eu, tomara que ele não saiba que ele não precisa fazer muito para conseguir seu objetivo de amedrontar. Basta um olhar, sem dar nenhuma palavra, assim como ele fez, que eu já fico em meio de pesadelos. Mas, o que mais me incomodou era que eu não sabia o porquê dele ter feito aquilo. Foi aí, então, que fui juntando os fatos.                                                                                                                                             

Por que diabos ele estava conversando com o Luke?! E o porquê daquele berro no final do assunto? Eu tinha que falar com a reencarnação do narciso naquele momento, para saber se o motivo pelo qual o Peu me olhou daquela forma estava relacionado à conversa que eles tinham tido, mas, eu me distraí toda com a história do meu medo de olhares frios que o perdi completamente de vista. Então decidi procurar minha única amiga, para ver se ela podia me ajudar, apesar de que ela estava com mais problemas do que eu. Preciso dizer que minha idéia não foi uma das melhores?!                                   Quando cheguei à porta do quarto da Alice, só precisei bater uma vez para que uma garota ruiva bem familiar voasse diretamente em meu pescoço. Isso mesmo, a Angelina com os olhos completamente cheios de lágrimas e ruborizados estava tentando me matar. E eu não havia nem idéia do por que.                                                                                                                                

Minha amiga não demorou muito para agir naquela situação, tanto que em menos de segundos depois da louca tentar bater em mim, ela estava lá, segurando a ruiva descontrolada com uma cara de quem queria se desculpar.            

- O que está acontecendo? - perguntou Alice, na hora em que finalmente a Angelina resolveu parar de tentar me estrangular.                                    

- Essa idiota veio aqui esfregar na minha cara que conseguiu fisgar ele, – respondeu Angelina tomada pelo ódio. – fala que foi isso, assume garota!         

- Como é? – perguntei – Fisgar quem? Do que você está falando sua louca?  

- Vai se fazer de santa agora, é? – ela estava realmente tentando me atacar outra vez.                                                                                                                   

- Calma Angelina.  – disse Alice – Você não está sabendo de nada mesmo, Cecília? Todo mundo está comentando por aí. - me perguntou                    

- Comentando o que?! – eu sinceramente não sabia de nada.                       

- Que você e o Luke estão namorando e foram com a intenção de ter um programinha a dois ao Rockabilly.                                                                                    

Não podia acreditar. Só era o que estava me faltando. Quando a Alice terminou a sua frase, eu decidi olhar para Angelina. Seus olhos brilhavam claramente de ódio e foi aí que eu entendi o porquê do Peu está falando com o Luke, algum tempo antes de tudo aquilo. Ele também estava tomado pela raiva e por isso foi tirar satisfação.                                                              Aquela, sim, tinha sido a história mais louca que haviam inventado na nossa faculdade. Tudo bem, ele era realmente lindo e às vezes, tenho que admitir, que eu passava algum tempo imaginando como seria seu abdômen por baixo de suas camisas que eu tanto gostava. Mas eu e o Luke? Namorando? Eu nunca tinha pensado nisso, não fazia parte nem dos meus desejos mais insanos. Até então.                                                                                                                     

- Nós não estamos juntos.                                                                                  

- Ouviu? Eu te falei Angelina, não precisava ter feito esse escândalo todo. – falou Alice, fazendo-me perceber que já tinha perdido sua total paciência com sua companheira de quarto. Mas, era impossível não perder.                     

- Quem espalhou isso? – eu tive que perguntar. Minha vontade era de exterminar a criatura que tinha inventado aquela história, principalmente se ela já tivesse chegado aos ouvidos do meu irmão.                                                                                 

- O Peu contou a Aléssia, que contou às meninas, que me contaram. – respondeu Angelina, parecendo visivelmente mais tranqüila.                                            

Não contive a minha raiva em relação a tudo aquilo e fui rapidamente à procura do Peu. Tudo bem que ele estava com raiva de mim por n motivos, mas espalhar aquela história, não havia necessidade.                                                      

Quando finalmente eu o encontrei, ele estava sozinho, na biblioteca, concentrado com alguma lição. Não demorou muito para ele perceber minha presença segura ao seu lado e lançou-me estrategicamente uma expressão horrível. Engoli seco; eu sabia muito bem que não seria uma boa idéia conversar sobre o assunto que eu queria, mas eu não tinha escolha.                            

- Por que você fica inventando histórias sobre a minha pessoa?                          

- Eu não inventei nada, só resolvi passar a informação que me contaram. – ele parecia que não estava com um bom humor, já que quando ele terminou a frase, por um momento achei que ia me bater.                                                             

- Então foi isso?!  Um amigo secreto seu, que você não pode revelar o nome, me viu no Rockabilly, e veio correndo te contar da maneira mais exagerada possível?                                                                                                           

- Não, na verdade, foi um amigo seu, que não é nada secreto, que me falou.                                                                                                                                                       

- Um amigo? Quem?! – eu estava começando a ficar nervosa. Que tipo de amigo faria uma coisa dessas?                                                                                             

- O Guilherme. Ele estava lá, não tava? – foi aí que eu entrei em choque. Senti que queria matar aquele idiota traíra – Eu não queria acreditar, mas, depois que percebi que você está cada vez mais próxima daquele imbecil do Luke, não vejo um porque para não fazer o contrário.                                                                   

Realmente não dava para acreditar. O Guilherme estava cheio de problemas, mas não vi nenhuma razão para ele me incluir no seu ódio. . Uma pena não ter dado para pensar muito sobre a questão do nerdzinho ter algum motivo ter me feito aquilo, já que meu irmão,  enfurecido, apareceu na minha frente exigindo explicações sobre o boato.                                                                                                   

- Que tal você exigir essas tais explicações ao seu querido amigo Guilherme?! Que aliais, que também está me devendo um relatório sobre a sua brilhante idéia de inventar toda essa história!                                                                           

Sei que falando aquilo, o Paulinho me arrastou, aparentando está bastante irritado, à procura do autor daquela bizarra fofoca.   Quem diria que o Guilherme Godoy, um dos melhores alunos de toda a universidade, estaria se igualando ao Justino Mattos! Se eu não estivesse tão zangada, talvez eu risse litros com esse comentário!                                                                                                         

Quando finalmente o encontramos, ele estava lá, deitado na grama do grande pátio principal, lendo um livro chamado “a cabana”, que o meu irmão fez questão de resmungar que já era a vigésima vez que ele lia. Acho que esse comentário funcionou de estímulo para que ele pudesse interromper a leitura do amigo sem piedade, mesmo ele parecendo bastante concentrado.               

- Por que motivo, razão ou circunstância você disse ao Peu que Cecília estava namorando o Luke? – Paulinho estava realmente enfurecido.           

- Ah! Eu te devo desculpas por isso, Cecília. – respondeu ele, me olhando com uma cara não tão preocupada – Eu estava com tanta raiva que acabei falando uma coisa nada haver só pra prejudicar o Luke, já que o seu ex-namorado o odeia, mas acabei te afetando também.                                                             

- Até agora, nada ruim, tirando o fato de todo mundo está me xingando porque acham que eu estou tendo algo com o Luke, aconteceu comigo, mas eu tenho certeza que vai haver algo, já que você teve a brilhante idéia de contar essa babaquice ao Peu...                                                                                                          

Uma pena eu não poder ter terminado minha frase dizendo-lhe umas boas verdades, pois o sinal que anunciava o começo das aulas do período da tarde tocou e o Guilherme escapou com um “depois a gente conversa, vocês precisam ir”. Apenas tive que me conformar com a idéia de que eu teria outras oportunidades para chamá-lo de idiota, fofoqueiro e mentiroso .