Summer Paradise escrita por CrisPossamai


Capítulo 3
I Can See Clearly Now


Notas iniciais do capítulo

Nada como um dia após o outro. Nada como acordar e ter o dia inteiro pela frente... Quinn estava começando a adorar a nova realidade e certo conhecido se torna cada vez mais próximo. Afinal, aquele deveria ser o verão de sua vida... E aos poucos, ela estava descobrindo o gosto disto.



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O domingo começou estranho. Depois de madrugar e cochilar no meio da tarde, Quinn acordou com uma sensação de ter passado do tempo de levantar. E o relógio apontava apenas nove e meia da manhã. Frannie estava na cozinha terminando de organizar o café e o semblante não era dos mais felizes. Aparentemente, o marido precisou correr para o escritório, o que gerou uma discussão épica entre o casal. Nada que a irmã mais nova pudesse dimensionar, afinal, seus relacionamentos mais sérios nunca foram muito equilibrados. Apesar do imprevisto, o sol brilhava e o calor exigia que as pessoas normais concentrassem suas energias em qualquer atividade a beira-mar.


Uma caminhada serve para que a caçula conte detalhadamente o reencontro com os antigos e as primeiras impressões sobre os novos amigos. Pela descrição dos rapazes, a irmã mais velha afirma reconhecer os atendentes da melhor sorveteria da região. Conversar despretensiosamente era algo novo para elas. A eterna briga para ser a filha perfeita de Russel Fabray ceifou sumariamente qualquer proximidade. Frannie nunca se importou muito com a torcida, a sua pratica predileta na escola era mesmo o voleibol. Ela não se chateou nenhum pouco quando a irmã se tornou a cheerio mais jovem a ganhar o título de capitã, quebrando o seu próprio recorde. Nada disso. Na época, ela precisava de alguma desculpa para evitar os telefonemas diários da mãe e aproveitar a liberdade nas incríveis festas na faculdade. Aborrecida com Quinn. A razão perfeita para ignorar as notícias de Lima. Logo evitar a irmã se transformara em argumento corriqueiro para não atender ao celular ou adiar seus retornos para a casa. Frannie não queria ser novamente controlada pelos pais e a culpa, aparentemente, jamais pesou nos ombros de Quinn. Pelo menos não até a descoberta da gravidez e a ação enlouquecida do pai em renegar a caçula. Pela ausência, a garota sequer cogitou pedir qualquer ajuda a irmã. Ela só soube da dramática situação ao receber um telefonema do professor de espanhol Will Schuester preocupado com a fragilidade emocional da menina de 16 anos. Frannie abriu as portas de casa e passou a ajudar nas despesas médicas da futura sobrinha. Ela nunca conheceu Beth e achou mais apropriado não mencionar o nome da garotinha. O último ano já tinha sido duro o suficiente para a caçula.


_ Você ficou três anos no time de vôlei? Uau, como eu nunca soube disso? – Quinn questiona a irmã durante uma caminhada pela praia.


_ Porque era importante para mim, não para nossos pais. – a explicação soa bem razoável – Nós nunca chegamos a ser astros nacionais como o seu famoso coral, mas, deu para criar boas memórias. E eu até joguei na equipe da faculdade por alguns meses.


_ Sério? Acho que sei aonde a gente pode ir agora, então.


A quadra de vôlei estava ocupada pela turma de sempre. Nellie e Lily desafiavam Tina e Mike com certa igualdade. Charlie e Aylin estavam abraçados cochichando qualquer coisa, enquanto Michael e Matt trocavam alguns passes. Frannie reconheceu os atendentes da lanchonete e se entusiasmou com a possibilidade de resgatar um pouco dos bons momentos no seu esporte predileto. As duplas se transformaram em quartetos e a disputa se prolongou por horas. Ao perceberem que passara do meio-dia, Nellie e Aylin saem em disparada sem sequer se despedirem. Regras são regras. Charlie revira os olhos. Pela enésima vez, o embaraço se repetia no verão. Ele dá de ombros, não havia nada que pudesse fazer e terminar com a namorada estava fora de cogitação. Relevando o inconveniente, Michael puxa o assunto mais comentado da semana anterior.


_ Agora que tamos liberados. Vamos mesmo fazer a festa surpresa para a Nellie, né? – o grupo inteiro concorda – Ótimo! Alguém pode sugerir algum lugar?


_ Podia ser lá na sorveteria, mas, não daria para ficarmos totalmente a vontade. – Charlie solta a real para os amigos.


_ Essa festinha seria só para vocês? Tipo, só vocês mesmo? – Michael garante a exclusividade – Se prometerem não destruir tudo, acho que poderiam fazer no meu apartamento. Eu e o meu marido estaremos fora por alguns dias mesmo – a proposta de Frannie é comemorada pela maioria e intriga a loira.


_ Vocês vão viajar? Quando você pensava em me contar, Frannie? – a garota se enfurece.


_ Hoje? Olha, o Walden tem um congresso em Toronto e pensamos em aproveitar para passear um pouco... Iríamos nesta segunda-feira, mas, com a confusão dessa manhã nem confirmei nossas passagens... Vão ser só uns dias, Quinnie!


_ Yeah, relaxa Quinnie. – o apelido é dito com um tom de ironia por Matt – Nós podemos carregar alguns pratos e drinques da cafeteria, não é Charlie?


_ Pode ser... Acho que conseguimos até um desconto com o patrão. Só tem um problema...Vai parecer muito suspeito convidar a Nellie para dar uma volta no apartamento da Quinn justamente no dia do aniversário dela. – o raciocínio do grandalhão faz sentido.


_ Bom, eu já vou estar emprestando o local da festa... Não é problema meu, né?


_ O local da festa e o karaokê. – complementa a irmã mais velha – Tentem começar a festa mais cedo, ta bem? Som alto pode dar problema depois das onze horas.


_ Karaokê? Perfeito! Nós vamos levar o Xbox, não é Mike? – Tina assegura a diversão.


_ Isso mesmo. Ajudo a levar as coisas da soverteria e minha garota carrega o Xbox!


_ Eu posso descolar algumas coisas de decoração da loja da minha mãe. – a ideia de Lily é bem-vinda.


_ Que ótimo, caras! Essa festa vai ser demais... Eu só preciso terminar a edição do vídeo... – Michael acaba soltando a sua surpresa antecipadamente.


­_ Vai ter um vídeo? Por favor, diga que vai ter um vídeo! – a risada de Lily constrange o garoto mais tímido.


_ É o que eu to pensando, né? É o jeito nerd do Michael de tentar se declarar para a Nellie... – Matt debocha da ação do amigo, que rola os olhos.


_ Sinto muito, mas, ficou para a sua namorada dar o jeito de arrastar a Nellie para o apartamento, Charlie. – Lily encerra a conversa e as atenções se concentram em uma nova partida de voleibol.


O cunhado já aprontava o almoço, quando voltaram da praia. Mais do que se desculpar pela estúpida discussão, Walden queria ganhar pontos com a esposa. Por isso, as passagens estavam jogadas sobre a mesa. Com a data do embarque marcada para a manhã seguinte, Quinn preferiu gastar o restante do dia na companhia do casal. Afinal, estaria sozinha na residência pelos próximos cinco dias. Exatamente às 6h38min, Frannie e Walden anunciam a saída para o aeroporto. Ela não lembrava de ter pedido e nem se lembrava da irmã ter pedido para que acordasse para se despedir, entretanto, não poderia fazer mais nada, senão voltar para a cama e tentar pegar e no sono. O repouso dura pouco mais de duras horas até ser interrompido pelo soar irritante do interfone. Atordoada, a loira demora a notar a origem do ruído e esbraveja ao ouvir a voz debochada de Matt Rutherford.


_ O que você quer, Matt? Não são nem nove horas da manhã!


_ O dia ta incrível. Desce ai, Quinn. Ta todo mundo aqui! – o negro soa quase simpático.


_ Todo mundo? Todo mundo, tipo quem? – ela fica desconcertada com a empolgação dos novos amigos.


_ Tipo, todo mundo? Vai demorar? Estamos te esperando, baby!


Ela encerra a conversa ao reconhecer o tom irônico no timbre dele. Matt sabia ser um completo idiota, às vezes. Ela troca de roupa, pega uma fruta para comer no caminho e desce as escadarias com pressa. Definitivamente, o destino não seria a praia. Pelo menos, não no primeiro momento. Os primos Lily e Charlie não estavam por algum motivo familiar, Aylin e Nellie se equilibravam em patins, Mike sustentava a bicicleta e Tina aproveitava a carona, Michael se mantinha sentado sobre o skate e Matt ajustava algo na mochila, enquanto a sua BMX permanecia escorada na parede da recepção do prédio. A loira ri da visão e acena para os amigos antes de colocar os óculos escuros.


_ Nós decidimos radicalizar um pouco hoje, o que acha? – Mike justifica todos os aparatos - Decidimos dar uma volta na pista de skate daqui.


_ Pode ser legal, mas, vocês estão todos preparados... E eu vou correndo atrás? – ela dispara com certo bom humor.


_ Não seria má ideia, a pista fica a três quadras daqui. – ela revira os olhos e o negro ri alto – Mas, sobe ai. Acho que eu consigo te carregar por três quadras, né? – a loira aceita a sugestão e estapeia as costas do rapaz, logo que se acomoda na bike adaptada.


Matt ordena que a caroneira se segure firme e dispara sem aviso prévio. A garota solta um palavrão pelo susto e teria espancado novamente o amigo, senão fosse o medo constante de cair. Michael aparece à direita, desviando da multidão e tentando ultrapassar o negro. Aylin grita para não ser deixada para trás e Nellie precisa ser rápida para não se chocar com um pedestre distraído. Tina gritava a plenos pulmões para que o namorado fosse mais veloz e tomasse a dianteira. Quando ela tinha entrado nessa corrida maluca? Ela fecha os olhos, sente a brisa marinha bater em seu rosto e a vontade de rir de tamanha loucura lhe faz gritar algo incompreensível. Matt faz uma curva particularmente fechada e diz que a pista estava bem perto. Michael encaixa uma manobra e quase se estatela no chão, Mike emparelha com o melhor amigo e os dois aceleram nos últimos metros. A asiática vibra com a disputa e a loira só gargalha pela forma com que sua segunda-feira estava iniciando. O garoto chinês alcança a pista segundos antes e comemora com vontade. Tina pula nos braços do namorado e corneteia o segundo lugar. Matt deixa a bicicleta cair no chão e se joga no banco em busca de oxigênio. Nellie é a próxima a aparecer no campo de visão dos adolescentes, Michael chega apenas carregando o skate e reclamando das pessoas “paradas no meio da rua”. Aylin se apresenta segundos depois sem demonstrar qualquer urgência. Quinn percebeu que a ideia de Michael em editar um vídeo para o aniversário de Nellie não se devia a apenas sua assumida paixão pela amiga. O rapaz era o fotografo da turma. Logo que recuperou o fôlego, o menino pegou a câmera e passou a registrar cada manobra efetuada pelos amigos. Mike pega emprestado o skate do fotografo e tenta ensinar o básico para a namorada. Matt arrisca algumas voltas, criando um percurso e superando os obstáculos mais evidentes. Nellie aprova a invenção do amigo e repete a ação. Aylin se contenta na pista mais simples e reconhece que estava aprendendo a se manter equilibrada nos novos patins. Quinn palpitava nos ângulos captados e se impressiona com a criatividade de Michael. Matt se intromete na conversa, alcança a mochila e puxa uma garrafa de água. O dia estava incrível, incrivelmente quente.


_ Então, quer tentar ficar em pé no skate? Acho que agora não tem problema, né? – o negro sorri, toma um gole de água e espera pela resposta.


_ Não, acho que não tem problema... Se você concordar em me passar as instruções mais básicas. Puck pode ser bom skatista, mas, é um péssimo professor! – ela ri de volta, tira os óculos e pega o skate.


Michael passa a registrar as primeiras tentativas da loira em se manter sobre o skate e precisa fazer um grande esforço para não gargalhar das diversas escorregadas. Matt precisa amparar a amiga em quatro ou cinco oportunidades para evitar um tombo. Tina já conseguia alguns metros de controle antes de abandonar o skate e gritar para que o namorado recuperasse a prancha com rodinhas. Nellie assume a câmera fotográfica e Michael arrepia em belas manobras na pista de skate. O asiático se arrisca na BMX do melhor amigo e as garotas seguem no treinamento. Aylin se cansa e acaba deitada no banco mais próximo dando cabo do restante da água trazida por Matt. Ao flagrar o consumo, o negro grita com a garota, que dá de ombros e reclama da sede. Quinn desiste do skate e pede os patins emprestados para uma tentativa. Muito, muito melhor. O desempenho da turista com o roller é bem mais satisfatório. Nada de quedas e confiança o bastante para arriscar dois ou três pulos nas rampas menores. Tina também decide mudar de veículo e se sente mais a vontade também nos patins. Abandonado pelas alunas, Matt volta a se exibir com o skate e se torna o alvo dos cliques de Nellie.


_ Quase meio-dia... O que vocês acham de um mergulho? Lily e o Charlie falaram que vão correr para a praia daqui a pouco... – sugere Aylin.


_ Eu acho ótimo! Não sei como pode estar nublado e tão abafado assim... – reclama o fotografo da turma. Matt estapeia o amigo pelo absurdo dito e o grupo junta as coisas para alcançar a orla rapidamente.


O caminho para o mar é feito com urgência e o primeiro mergulho é mais do que refrescante. É um alivio. A água gelada arranca reclamações, porém, nada que o tempo não resolva. Lily e Charlie não tardam em aparecer e o grupo está completo para mais um tanto de loucuras. Matt e Mike se aventuram nas ondas maiores, Michael e Charlie tratam de correr das garotas após importuná-las com espirros de água e Tina e Quinn sofrem para superar o primeiro banco de areia e alcançar os garotos. O negro fura uma onda, ri ao ver o melhor amigo ser surpreendido pela correnteza e grita que estava de saída. Ele se deixa cair na areia e as mãos servem como escoro para a cabeça. Matt estava destruído e ainda teria pela frente um turno de quatro horas atendendo os clientes na sorveteria. Segundas-feiras eram terríveis. Apesar da sensação de abafado, a ventania e a baixa temperatura da água diminuíam sensivelmente o calor latente. Quinn abandona o mar e caminha em direção ao garotado estirado na areia. A visão lhe traz um sorriso ao rosto. A loira se acomoda ao lado dele e suspira profundamente. Tinha contas para acertar após as últimas conversas com os amigos do Clube Glee.


_ É o segundo verão que o Mike passa aqui, né? – o timbre sério faz o rapaz se sentar, acenar com um gesto de cabeça e ao tentar se justificar é interrompido – Mercedes e Puck nem estranharam por eu ter te encontrado... A Santana contou que vocês se falaram depois das Nacionais. Você deveria ter me ligado também, sabia?


_ Eu tentei, é sério... Na primeira vez que eu falei com o Mike depois da mudança, perguntei por você... Eu peguei o telefone na mão, disquei o seu número... Mas, pra que? O que deveria dizer? Que eu sentia saudade? – ele leva as mãos ao cabelo raspado e encara o horizonte. Os amigos continuam se divertindo na água, alheios ao embate.


_ Você poderia ter começado por ai, Matt. – ela desvia o olhar dele e bufa nervosa.


_ Sinto muito, mas, nós mal nos falávamos mesmo no coral... Eu só não sabia... Não fazia ideia... Só... Você também poderia ter me ligado, sabe? Era bem simples... – ele torna a fita-la e leva a mão para trás da cabeça em sinal de desconforto.


_ Eu tava uma bagunça depois de tudo aquilo... Minha vida inteira ta uma bagunça... – ela tenta formular um sorriso.


_ E como ouvir que eu sentia saudades poderia te ajudar, Quinn? – ele joga a cabeça para trás e ri pela contraditória discussão.


_ Eu não sei... Tudo tava tão complicado, eu só... Só acho que teria gostado de ouvir isso... E provavelmente, teria dito que também senti a sua falta.


_ É bom saber disso... Não sei se significa alguma coisa, mas, eu to aqui agora, certo? – o rapaz fixa sua atenção na loira e se aproxima mais um pouco. Ela nota a mudança na postura dele. Um outro tipo de tensão acontecia entre os dois naquele momento.


_ O que? Você vai me beijar? – ela dispara a queima-roupa e o garoto mantém a semblante relaxado e joga o braço nos ombros dela.


_ Eu estava pensando nisso. – a última visão que ela captura antes de fechar os olhos é o sorriso dele. Os lábios se tocam e as mãos dele acabam em seu rosto.


_ Você tem gosto de água salgada. – ela ri antes de voltar a encará-lo.


_ Ah? E isso é ruim? – ele solta antes de cair na gargalhada e puxa-la para um abraço. Ela gesticula negativamente e torna a beijá-lo sem que os amigos se dêem conta do acontecimento. Matt volta a se deitar na areia com a cabeça apoiada nas próprias mãos e Quinn acha a ideia bem apropriada, especialmente, se o peitoral dele lhe servisse de travesseiro.


Os dois tocam em todo tipo de assunto completamente inútil. A formação das nuvens. As mudanças da maré. O interesse súbito dele pelo surfe, a escolha dela por cursar teatro em Yale. Os melhores restaurantes da praia. Os pratos mais saborosos da lanchonete, onde ele trabalhava para custear um curso de mergulho. Então, ela descobre sobre os planos de Matt Rutherford para o futuro na Califórnia. Ele tinha conquistado uma bolsa de estudos por causa do basquete em uma escola técnica e estava pensando em formar em turismo. Matt era completamente fascinado pela praia e não pretendia abandonar o seu estilo de vida. Um guia turístico. Instrutor de mergulho. Bombeiro. O rapaz ainda não tinha definido que carreira seguir, entretanto, jamais cogitaria algo que lhe tirasse a liberdade de correr para a praia todos os dias. Ele só precisava de uma prancha e boas ondas para viver. A ideologia dele soava tão bem.


Mike surge carregando a namorada nas costas, Aylin reclama do frio agarrada à Charlie, Nellie, Michael e Lily apostam uma corrida até o local com suas coisas a fim de se aquecer um pouco. O sol continuava encoberto pelas nuvens e o vento não cessava. Tempestade a vista. Os pingos começam a cair de mansinho, contudo, a chuvarada despenca e o grupo se dispersa rapidamente. Mike, Tina, Matt e Quinn pulam nas bicicletas e se dirigem para o apartamento de Frannie Fabray, a residência mais próxima dali. Encharcados, o quarteto deixa um rastro até se fixar a cozinha para preparar algo decente para o almoço. Passava das duas da tarde quando se sentaram a mesa para devorar uma refeição feita pelas garotas.


– Isso ta muito bom! A gente tem que repetir isso, não acham? – Matt aprova a refeição improvisada.


– Cala a boca, Rutherford! A gente sabe que você só quer alguém que cozinhe para você mais vezes. – dispara a asiática.


– Ei, podem relaxar? – Mike tenta apaziguar a cômica discussão – Da próxima vez, podem deixar que eu assumo o fogão, beleza? Garanto a melhor refeição chinesa!


– Vocês tem algo planejado para essa noite? Podíamos conferir se Mike Chang é realmente um bom cozinheiro!


– Sinceramente, a única coisa que eu tenho que fazer nessa noite é dormir. Mas, acho que pode esperar para você ver se virando com as panelas, Mike! – o negro estapeia as costas do amigo e gargalha alto.


Com o almoço providenciado pela ala feminina, a louça acabou como responsabilidade dos garotos. Era o mínimo que podiam fazer, segundo a concepção de gentileza de Mike Chang. Matt correu para casa, afinal, estava em cima da hora de começar seu expediente na sorveteria. O casal aproveitou as mordomias do apartamento por mais algumas horas e aproveitaram para saber como o restante do pessoal estava se virando nas férias. Blaine e Kurt pretendiam visitar Rachel em Nova Iorque no fim de semana, Artie e Sugar estavam passando um tempo suspeito juntos ultimamente e o palpite era que assumissem um namoro antes do início das aulas. Em Los Angeles, Puck e Mercedes estavam sobrevivendo aos primeiros dias da estranha convivência como colegas de apartamento e Sam resolveu prolongar sua estadia e ajudar o bad boy a descolar alguns clientes para a empresa de limpeza de piscinas. Ainda sem notícias de Finn desde a entrada no exercito e Santana e Brittany continuavam atravessando o país com os pais da loira. A próxima parada deveria ser Washington. Encerrar a conversa com Mercedes foi o passo mais fácil. O difícil foi compreender quando foi que o mundo tinha virado de cabeça para baixo.


– Uau! Isso aconteceu mesmo... Todo mundo ta seguindo em frente. – o asiático é o primeiro a conseguir verbalizar o seu raciocínio.


– Eu só queria que esse verão durasse para sempre... – fala Tina agarrada ao namorado.


– Só achei que ninguém precisava acelerar tanto as coisas, sabe? – o pensamento de Quinn faz todo o sentido para Mike. Ele nem queria pensar no momento que precisaria dizer adeus para a sua cidade, seus pais e, principalmente, a garota nos seus braços.


– Bom, nós também temos que nos apressar, porque eu tenho um tradicional jantar chinês para preparar... E a coisa primeira a fazer é ir ao mercado. Vocês vem?


As garotas acompanham o cozinheiro da noite ao supermercado mais próximo e riem horrores com a demora dele em escolher os benditos ingredientes. A paciência de Mike Chang não tinha limites. Quinn gostava da forma de levar o seu último verão antes da faculdade, antes de crescer. Era algo bem peculiar dos seus novos queridos amigos. A vontade dilacerante em aproveitar cada segundo do presente sem grandes preocupações, sem perder o sono a toa ou por problemas pequenos. Por isso, ela não esperava nada de Matt após os beijos na praia. E neste ponto, a loira se sentia bem consigo mesma. Bem o bastante para não fantasiar sobre uma história épica de amor ou nada semelhante. Apenas aproveitar o momento... E no momento, estava rindo de uma briguinha estúpida do casal asiático mais bacana de Lima. Quinn tinha certeza que distancia alguma poderia abalar a sintonia de Tike. Matt avisa que estava de saída do serviço e o casal se coloca a caminho da sorveteria. A loira ajeita os últimos detalhes, seleciona algumas músicas, liga o som na sala e corre para se arrumar. O trio costumava ser bastante pontual. O interfone anuncia a chegada deles exatamente às 21h04min e o estranho é contemplar os garotos com duas mochilas nas costas.


– Nós achamos melhor trazer algumas coisas para a festa da Nellie. Amanhã, vamos ter que trazer toda a comida e a bebida. Poderia ficar complicado. Tem problema, Quinn? – o negro pede licença para adentrar ao apartamento. A loira nega o incomodo.


– Ótimo. Eu e a Tina vamos começar com os preparativos do jantar e vocês estão proibidos de chegar perto daquela cozinha, ouviram? – Mike é bem imperativo. A asiática revira os olhos e segue o namorado até o recinto.


_ Só espero que esse mistério todo sirva para alguma coisa. – o comentário do negro faz a loira sorrir – Eu acho que vou aproveitar para instalar o videogame... Quer me ajudar?


_ Não tenho muita escolha, né? Mas, se você quiser a minha ajuda... Vai ter que me fazer um favor: montar o karaokê. Eu até tentei ler as instruções e não entendi nada... – a garota reconhece a dificuldade técnica. O rapaz dá de ombros e apanha a outra caixa.


Em poucos minutos, o rapaz consegue finalizar as instalações pretendidas e comemora o fato do videogame ligar perfeitamente. A jovem protesta e exige também testar o karaokê com uma canção em dueto. Ele tenta se safar até ouvir que não poderia jogar absolutamente nada sem antes acompanha-la em uma música. A única saída é aceitar a condição e não desafiar tanto no seu primeiro dueto. Afinal, Matt freqüentou os ensaios do Clube Glee por um ano inteiro sem jamais arriscar algo além de passos de dança.


Posso ver claramente agora que a chuva se foi

Consigo ver todos os obstáculos em meu caminho

As nuvens negras que me cegavam foram embora

Será um brilhante dia de sol

Brilhante dia de sol


_ Sério? Você escolheu essa mesmo? Eu adoro essa música! É tipo o toque do meu celular... É Jimmy Cliff! Lembra demais essa época do ano, né? – ele confessa a sua preferência pelo estilo musical e arranca um sorriso genuíno da garota.


_ É, verdade. Lembra o verão, praia, mar... – ela enlaça o pescoço dele com as mãos.


_ Mar? Tipo surfe, ondas... Água salgada? – o rapaz devolve o sorriso e reforça o abraço.


_ Exatamente isso. – ela diz antes de fechar os olhos e sentir o mesmo gosto no terceiro beijo de Matt Rutherford – Quantos litros você tomou antes de aprender a surfar? – ele lhe encara abismado – Sério, o seu beijo tem gosto de sal, de água salgada.


_ Eu levei uns caldos antes de conseguir ficar de pé na prancha... Mas, se você continuando querendo me beijar, isso não deve ser ruim, não é? – ele deposita um beijo casto nos lábios dele e faz careta ao ser estapeado de leve no ombro. Ele finge estar zangado e a loira joga o microfone para iniciar o bendito dueto _ Se eu desafinar muito, você não tem permissão para rir da minha cara, entendeu?


Agora sim...a dor foi embora

Todos os sentimentos ruins desapareceram

Aqui está o arco-iris pelo qual tenho rezado

Será um brilhante dia de sol

Brilhante dia de sol


Tina ouve o barulho estranho oriundo da sala e para seus afazeres para bisbilhotar no que os amigos poderiam estar aprontando. O timbre de Matt destoa levemente em alguns trechos mais complicados, entretanto, não era nada simples cantar I Can See Clearly Now, do excelente Jimmy Cliff, de repente, sem qualquer preparação. A dinâmica dos dois quase compensava a desafinação do garoto. Quase...Porque a asiática não fazia ideia de quando os dois se tornaram tão íntimos, tão em sintonia. O namorado pede sua ajuda para algo que ela jamais capta.


_ Você acha que pode ta acontecendo algo entre o Matt e a Quinn? – a garota solta do nada e o rapaz quase erra no tempero – Os dois estão cantando no karaokê e estão muito, muito bem entrosados. Tem que estar acontecendo algo.


_ Eu sei que ta acontecendo alguma coisa, só não sei o que é exatamente... – a menina lhe lança um olhar mortífero – Eu vi os dois se beijam na praia hoje de manhã.


_ O QUE? – o grito sai mais alto que o esperado – Por que você não me contou antes?


_ Porque eu não sei o que ta acontecendo... Não consegui falar direito com o Matt! O que você queria que eu te dissesse, Tina?


Olhe à sua volta.... Não há nada além do céu azul

Olhe em frente, não há nada além do céu azul


Os primeiros versos foram cantados ainda sentado no sofá. A animação da loira lhe contamina e a mão estendida em sua direção termina por convencê-lo. O rapaz segura a mão dela e arrisca um passo de dança de salão trazendo-a para mais perto. A mão dele repousa na cintura dela, que acha graça na improvisada coreografia. Ele a força a girar em um rodopio e a garota acaba rindo e perdendo o tempo para retomar sua parte no dueto. Mike e Tina surgem no corredor meia-hora depois com algo que cheirava muito, muito bem mesmo. O jantar é servido e o cozinheiro da vez faz questão de escolher a origem de cada prato tradicional da culinária asiática. A refeição é devorada pelo quarteto rapidamente e os garotos tomam a dianteira para iniciar uma partida de videogame. As meninas, sem alternativa, se ocupam em organizar a cozinha. As horas se arrastam em partidas de XBOX, disputas no karaokê, discussões idiotas sobre o melhor estilo musical, duetos e intermináveis risadas. Com o avançar da madrugada, Quinn sugere que os amigos lhe fizessem companhia para o restante da madrugada e em rápido telefonema, Matt resolve a situação e alerta aos pais que dormiriam fora. Dormir é que o menos conseguem fazer. Mike e Tina se ajeitam em um colchão no quarto dos donos do apartamento, Matt afirma que se acomodaria no sofá da sala e Quinn perde mais uma vez para a insônia. Algo que ela já havia se habituado. Repentinamente, o som da televisão é ouvido e a loira decide se levantar. Afinal, poderia ter companhia para passar outra noite em claro.


_ Você ta sem sono? – Quinn aparece de supetão na sala e quase mata o rapaz de susto.


_ NUNCA MAIS FAÇA ISSO! – ele leva a mão ao coração disparado – E é... Eu sou meio chato para dormir em um lugar que eu não to acostumado. E você?


_ Bom, meu sono nunca mais foi o mesmo desde a gravidez... Então, tenho noites boas e outras, nem tanto... O que você ta assistindo? – ela se aproxima do sofá.


_ Ah, eu achei uma reprise de Friends... Desculpa por ter ligado a televisão sem permissão, eu só tava entediado...E bom, não queria ouvir nada constrangedor do quarto ao lado. – ele brinca ao citar que Mike e Tina dormiam juntos no quarto.


_ Não se preocupa. Posso te fazer companhia? Já contei que adoro essa série? Friends é a melhor coisa que já inventaram na televisão! – ela se empolga com o seriado.


_ O voto iria para The Walking Dead ou Two And a Half Man, mas, a televisão é sua, né? – ela dá uma cotovela no rapaz, que contém a gargalhada – Honestamente, você seria uma ótima Phoebe.


_ Phoebe? Sério, eu nunca imaginei... Você acha que eu sou esquisita ou o que? – ela ri e se joga no sofá ao lado dele.


_ A história de vida é parecida... Phoebe teve essa infância toda errada e poderia ser a pessoa mais rancorosa do mundo, mas, é estranhamente alegre...E você... Eu vejo que você superou seus próprios fantasmas e deu a volta por cima, não é garota de Yale? E eu sei que você vai mudar o mundo algum dia...Só não sei se você sabe disto, Quinn. – as palavras soam incrivelmente honestas e a loira se limitar a sorrir em resposta.


_ Eu realmente senti a sua falta, sabia? – ele passa o braço pelos ombros dela e se acomoda no sofá – Eu to mesmo tentando acreditar nisso... Às vezes, quando as coisas parecem estar se encaixando, algo do nada surge e acaba arruinando os meus planos.


_ Então, não faça planos ou não faça planos tão longos...A gente acaba sempre tomando uns caldos antes de surfar a onda perfeita, entende? Nada como um dia após o outro.


­_ Nada como um dia depois do outro... Eu gostei disso! – ela acaba se ajeitando no colo dele e ocupa boa parte do sofá – Agora, silêncio! Esse episodio é sensacional!


O garoto revira os olhos e volta a prestar a atenção no seriado mais incrível da história da televisão. O som das risadas da dupla ecoa pelo apartamento vazio no meio da madrugada, mas, não é alto o suficiente para perturbar o sono do casal mais sólido de Lima. Mike e Tina suspeitavam da cumplicidade crescente entre os amigos, só não tinham interesse algum em definir o que os próprios envolvidos ignoravam. Por alguma razão, não fazer sentido fazia todo o sentido para Quinn Fabray naquele estágio de sua jornada. Para alguém que considerou ter perdido toda a vontade em seguir adiante, o plano de viver um dia depois do outro soava incrivelmente perfeito.


Posso ver claramente agora que a chuva se foi

Consigo ver todos os obstáculos em meu caminho

As nuvens negras que me cegavam foram embora

Será um brilhante dia de sol


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