Summer Paradise escrita por CrisPossamai


Capítulo 10
Not Over You


Notas iniciais do capítulo

O verão acabou e é retornar ao mundo real. Yale é a parada para Quinn Fabray, enquanto Matt segue sua vida na ensolarada California. Rumos e planos completamente diferentes. O que fazer a partir de agora? Ainda mais, quando se percebe que namoro de verão pode durar muito mais que uma estação..



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Sonhos

É para lá que eu tenho que ir

Para ver seu lindo rosto ainda

Eu olho uma foto sua

E ouço o rádio

Ele corre, finta o adversário e arremessa da linha dos três. A bola caprichosamente bate no aro da cesta e volta as mãos do time rival. O treinador grita palavras nada gentis e o rapaz dispara para a defesa na intenção de marcar o contragolpe. O passe errado e consegue roubar a posse de bola. O campo ofensivo totalmente aberto e nenhuma vontade de arriscar de longe. Matt Rutherford aumenta a velocidade da corrida e enterra a bola. Os companheiros de equipe vibram pela cesta e o treinador, contrariado, apita o fim do treino. Exausto pela intensidade da prática esportiva, o negro se deixa cair no banco de reservas e apanha a garrafa de água. A estreia na Liga Universitária ocorreria na próxima semana e ele considera que seria sortudo se sobrevivesse até lá.

_ Eu to morto... – o companheiro de time, Bryce reclama do cansaço – Honestamente, nós merecemos relaxar depois desse massacre. Vamos tomar umas cervejas no bar da faculdade? – o estabelecimento comercial fervia todas as noites após o encerramento das aulas e era o ponto de encontro mais maneiro daqueles lados do balneário.

_ Tenho um compromisso, cara. Saímos para beber na sexta-feira, certo? – o negro se levanta e joga a mochila nas costas.

_ Beleza. Pelo menos, me diz se o seu compromisso é com alguma gostosa!

Matt balança a cabeça em descrédito, solta um palavrão para o amigo e começa a caminhada para fora do ginásio logo após checar o horário no celular. É, estava perigosamente atrasado e ainda teria que tomar um banho. Afinal, não falaria com ela naquele estado nem mesmo pela internet. A ação é imediata. No instante em que se conecta no skype, o pedido de conversa por vídeo de Quinn Fabray surge e é aceito prontamente. O rosto da loira invade o seu monitor, juntamente com aquele sorriso. O sorriso que poderia lhe quebrar facilmente por dentro.

_ Achei que você não iria mais entrar... Tava quase dormindo no meio de tantos livros! – é primeira frase que a garota lhe lança naquela quarta-feira.

_ Desculpa, o treino foi mais longo... Não esperava me atrasar tanto! – ele explica a situação já completamente largado na poltrona diante do computador.

_ Não tem problema... Eu precisava me distrair um pouco... Já tava cansada de estudar! – a loira joga dois livros sobre a cama e se espreguiça – Então, o mar tava bom? Ontem, você falou que estava apontando um vento terral. – a destreza dela em nomear os fatos da costa californiana quase assusta o negro.

_ Quando foi que você aprendeu tudo isso, Fabray? – o sorriso surge novamente do outro lado da tela. Aquela garota abalava seu mundo mesmo há distância.

_ Quando você dizia essas coisas, eu prestava a atenção! E eu tenho que fazer alguma coisa quando não to na aula, né? Não dá para passar o dia inteiro estudando, Matt!

_ Eu sei, só to impressionado... – ele arrisca um sorriso torto – Bom, as ondas tavam grandes, mas, bem irregulares... Não deu de aproveitar tanto. Acho que no fim de semana, o mar vai ta ótimo... – ela acena afirmativamente – Mas, me conta como foi a prova... Você quase me enlouqueceu com aquele questionário sobre a história da arte!

Ela balança a cabeça em negação, leva as mãos ao rosto e se confessa envergonhada por tamanho escândalo. O negro dá de ombros e compreende a ansiedade antes da primeira prova como aluna de Yale. Quinn gargalha alto, fala algo sem importância e se despede alegando sono. Era sempre assim. Todo dia, ela fazia tudo sempre igual. Levantava as seis horas da manhã, exibia um sorriso sem igual e lia a mensagem de bom dia mais pontual da Califórnia. Há quatro semanas, duas palavras garantiam um sorriso para a caloura do curso de Teatro. Quinn Fabray conhecia três ou quatro pessoas em New Haven, além de Hannah, sua tímida colega de quarto. Por isso, a preferência por ficar o máximo possível dentro do alojamento. A internet se tornara sua maior distração e as conversas com Matt Rutherford eram frequentes. As suas primeiras tradições como universitária e não poderia estar mais atrelada ao passado.

Matt Rutherford confessou ao seu melhor amigo que seria impossível resistir a Quinn Fabray. Por isso, lhe beijou em uma tarde ensolarada na beira-mar durante o verão californiano. Mike Chang concordou com um aceno de cabeça e sugeriu uma partida de videogame. O assunto foi encerrado e jamais voltou a ser discutido pelos rapazes. A questão era que Matt estava coberto de razão. Ninguém poderia resistir àquela jovem e bastaram mais três semanas para que Yale também caísse aos seus pés. Na verdade, Quinn se tornou popular entre os novatos do curso de Teatro e virou convidada de honra para as melhores festas do campus. Rapidamente, New Haven se transformou em seu lar e o namoro de verão sucumbiu a chegada da nova estação. Era noite de quinta-feira quando Matt percebeu isso e decidiu mudar seu status para offline. Era a quarta vez que a garota lhe deixava esperando no skype sem dar nenhuma satisfação. Definitivamente, a vida tinha seguido seu caminho natural e passara da hora do rapaz fazer o mesmo.

Espero que tenhamos uma conversa

Que a gente admita que foi bom

Mas até lá, eu só conheço a alienação

Disso eu entendo

E eu percebo

“Estamos indo para Ohio ajudar o Finn com o coral nas Seletivas. Por que não vem?”. Era a terceira vez que Mike Chang deixava a mesma mensagem em sua timeline no Facebook. O negro responde qualquer coisa e se desconecta. Às vezes, o melhor amigo não entendia que sua vida já não estava focada em Lima. Matt tinha se mudado e enxergava a Califórnia como sua casa. E não, não iria gastar um dinheiro que não tinha apenas para visitar os antigos colegas de Clube Glee no feriado de Ação de Graças. O negro sentia saudades da época em que aprontava pelos corredores da Escola Secundária do interior e gastava suas tardes dançando e rindo com os adolescentes mais bizarros da cidade. Contudo, tinha outras obrigações. As suas manhãs ainda eram exclusivas para o surfe, a correria se decretava após o meio-dia. Trabalho na lanchonete, corrida para as aulas e mais horas resistindo aos treinos de basquete. O convívio com os amigos californianos ainda era diário e as arruaças estavam a salvo nos finais de semana. Os nomes de Quinn, Mike e Tina eram citados com regularidade. As amizades resistiram mais a distância do que o seu suposto relacionamento com a garota de Ohio.

_ Não acredito que aquela menina desmaiou no palco... Eu estava torcendo para encontrarmos a Tina e o Sam na competição nacional! – Nellie se mostra surpresa ao narrar a desclassificação do Novas Direções ainda na primeira etapa das Seletivas.

_ E eu não acredito que vocês acham que vão tão longe neste ano! – o negro provoca ao entregar a porção de batatas-fritas pedida pelos jovens.

_ Não enche o saco, Matt! Você só ta com inveja porque nunca tentou participar do Clube Glee por aqui... Fala sério! Por que você nunca fez um teste? – rebate Lily.

_ O coral daqui era cheio de integrantes... Gente bem melhor do que eu! Mas, nunca tive vontade de arriscar, sabem? Acho que era uma coisa mais de Ohio! – ele dá de ombros.

_ Tanto faz, só sei que esse ano estamos preparados... Vocês viram como a Aylin arrasou no solo de Rolling in the Deep? Minha garota é incrível! – Charlie rasga elogios a namorada, que se derrete e lhe beija demoradamente.

_ Eu tenho o namorado mais fofo do mundo, não é? – os jovens reviram os olhos e Michael protesta sendo confortado por Nellie – Mas, está tudo confirmado para sexta-feira? Por favor, me digam que ta tudo certo... Passei a semana incomodando meus pais para me deixarem ir nesse bendito barzinho na sexta-feira! – Matt confirma o combinado para a data e a garota turca comemora sua ida ao badalado point.

Se você me perguntasse como eu estou

Eu diria que estou bem

Eu iria mentir e dizer que não estou pensando em você

Retornar para Ohio foi cheio de reviravoltas. Reencontrar os amigos, caminhar pelos corredores do Mckinley Hill, cantar na sala do coral e conhecer os novatos, tudo isso fora sensacional. O problema fora não dar ouvidos a Santana e praticamente causar a eliminação do Novas Direções. Se tivesse, ao menos, considerado os argumentos da amiga, a situação poderia ser bem diferente. E não estaria se sentindo tão enfurecida apenas porque sua irmã quis saber sobre o garoto do verão. Frannie e Walden voaram para Ohio durante o feriado e foram uma excelente companhia como sempre. O único desentendimento ocorreu pela curiosidade da filha mais velha de Judy Fabray.

Lembrar de Matt Rutherford era lembrar da escolha em deixar a Califórnia para trás. Namoro de verão não deveria significar nada, relacionamentos no verão duram tão pouco... Mas, bastaram as palavras de Frannie para lhe recordar como era simples sorrir na companhia dele. A mulher de meia idade recolhe a louça da mesa, o genro se oferece para lavar os pratos e a caçula se retira para a segurança do próprio quarto. Ela se joga na cama revoltada pela mania em recapitular cada memória do verão mais incrível de seus 18 anos.

Entediada, resolve se distrair revirando o facebook dos conhecidos. Postagens de Rachel e Kurt mostravam uma festa inacreditavelmente maluca em Nova Iorque, a colega de quarto Hannah publicou fotos com a família reunida a mesa e não havia como não curtir a atualização de Matt, pousando para o registro com a pequena Maddison nos braços. Contudo, ela não esperava pelo convite de conversa por vídeo de Lily. Os rostos de Lily, Nellie e Aylis surgem na sua tela. As três gargalhavam de algo sem importância e custaram a ter fôlego para poder explicar o motivo do riso. Nada demais.

_ Acabamos de chegar de um banquete na casa do Charlie! Melhor Ação de Graças! – relata com estranho bom humor, a dona do outro computador.

_ É, foi a primeira vez que eu comemorei com a família do Charlie... Então, eu achei incrível! – Aylin continuava a mesma simpatia, de forma que Nellie economizava nas palavras como sempre.

_ Que bom! As coisas estão meio confusas por aqui... – rebate Quinn.

_ Ah, é... A gente soube da eliminação do coral. A menina está bem? – questiona Nellie.

_ Nós esperávamos enfrentar a Tina e o Sam nas Nacionais em Washington! É que... Vencemos as Seccionais daqui, não é demais? Matt nos ajudou com a coreografia... – a insinuação no timbre de Aylin arranca uma risada da loira. A provocação era tão obvia.

_ Na verdade, nós não temos nenhum treinador... Então, alguns ex-alunos se voluntariam para nos ajudar... E o Matt é quase um dançarino profissional, né? Todo mundo gostou bastante dos passos de Give Up The Funk. Charlie e Michael arrasam nos vocais e nos beatbox! – Nellie reconhece o bom desempenho dos garotos.

_ É uma música bem contagiante mesmo... Parabéns pela classificação, garotas! Depois me mandem o vídeo da apresentação, ta bem? – as meninas detalham a performance.

_ Ah! Você não vai acreditar no grau de loucura desses caras, Quinn. Sabia que o Matt e o Michael começaram aquele bendito curso de mergulho? E o inverno ta chegando! – a reação da menina turca era completamente compreensível.

Todavia, ninguém poderia impedi-los de fazer o tão falado curso de mergulho. Durante o verão, a dupla citou diversas vezes a vontade em se especializar na prática aquática. O mais tímido dos rapazes era apaixonado pela fotografia e a experiência em registrar as ações do campeonato de surfe só serviam para incendiar o seu entusiasmo... E o surfista... Bom, Matt era fascinado pelo oceano e a possibilidade de vislumbrar um futuro em que se sustentasse com mergulhos ou passeios turísticos seria a realização de um sonho. Ela sorri pela excelente novidade e apesar de narrar detalhes de sua rotina em Yale, nada conta parece tão interessante. Quinn pega o celular, digita “Feliz Feriado” e envia a mensagem sem expectativa. A resposta demora poucos minutos e lhe quebra por dentro. “Desejo o mesmo”. Nada demais. Nada a mais... É, ela sabia que namoro de verão não significaria nada. Só era difícil colocar em pratica mesmo em outra estação.

“Bom feriado”. O alarme de mensagem soou pelo quarto e quase acordou a irmã caçula. Anne Rutherford mira o filho com severidade e ele abre o costumeiro sorriso torto. A mulher balança a cabeça em negação e reafirma que a louça do jantar era responsabilidade dele e nenhum risinho lhe livraria da tarefa. Nem por isso, a expressão dela se modificou. Não, Matt reconhecia que tinha muitas coisas boas em sua vida para ser grato no Dia de Ação de Graças. E o SMS direto de Ohio serviu apenas para reforçar a sua opinião. Era ótimo estar rodeado pela família, contudo, sentia-se ainda melhor por ser lembrado por quem estava tão longe.

Mas eu vou sair e vou sentar

À mesa posta para dois

E finalmente serei forçado a encontrar a verdade

Não importa o que eu diga, eu não esqueci você

Eu não esqueci você

Viver um dia de cada vez serviu como lema para até as palavras mais elaboradas e poderosas de um respeitado professor roubar a sua atenção. Das grandes idiotices particulares, ter um caso com um professor casado alcançava o topo da lista de Quinn Fabray. O tapa na cara dado por Santana não lhe bastou, os conselhos da colega de quarto Hannah pouco adiantaram. A desculpa do divorcio, as tramas malucas sobre o comportamento humano e as festas com gente tão sofisticada praticamente deslumbraram a garota do interior de Lima. Afinal, o que ela sabia do mundo? Ao menos, deveria compreender a enrascada em que estava se colocando.

Ele foi apanhado de surpresa. Depois, a boa sensação de ser lembrado lhe preencheu por completo. Receber o convite de casamento numa quinta-feira qualquer fez muito bem a Matt Rutherford. O impulso era de reservar a passagem e partir para Ohio. Entretanto, ele não poderia se dar a liberdade tão inconsequentemente. Teria um importante jogo na véspera e por contrato, não poderia faltar. O curso de mergulho chegara às aulas praticas e nem cogitara se ausentar das explicações. E o argumento mais realista logo lhe veio a cabeça...Não teria como juntar o dinheiro a tempo e estava fora de questão pedir emprestado aos pais. O rapaz acessou o Facebook no dia seguinte e bufou de raiva ao ter que responder não na Fan Page do coral. Não, ele não iria. De imediato, as janelas de Mike Chang, Tina, Puck e Mercedes surgiram em sua tela. As explicações desarmam os amigos, que dão todo o tipo de sugestão para viabilizar a viagem. O melhor amigo chega a se prestar a pagar a passagem... Mas, os gestos de amizade foram prontamente recusados. Não se tratava somente da grana. Não Matt tinha seus compromissos e precisaria cumpri-los. Enfim, sua vida já não era em Lima, não é?

_ O seu amigo não vai mais sair da Califórnia? – Quinn solta ao rever Mike Chang antes da cerimônia de casamento de Will e Emma. O asiático sorri e lhe abraça.

_ É, e quem poderia culpá-lo? – ela concorda – Na verdade, o Matt me contou que está cheio de compromissos em Neptune. Não teria como sair da cidade nesta semana.

_ É eu imagino... Faculdade, basquete, curso de mergulho... São várias coisas. Não sei como ele dá conta de tudo! – a loira fala sem o mesmo entusiasmo.

_ É a correria da vida de adulto, certo? Quem diria que sairíamos de Lima para conquistar o mundo!? – Mike solta brincando e se distrai com a chegada da namorada. Tina cumprimenta a loira e corre para os braços do dançarino.


_ Então, é verdade mesmo? Você se acertaram? Fico feliz por isso! - ela demonstra alegria genuína pela reconciliação do casal Tike.

_ Vale a pena se você faz funcionar pelos motivos certos... Ou pela pessoa certa. – confessa Tina, arrancando um sorriso satisfeito do asiático.

_ A gente percebeu que nem é tão longe assim! – reconhece o dançarino.

Quinn achava que a parte mais esquisita de seu fim de semana seria ver Sue Silvester entrando de noiva na Igreja. Não bastasse a loucura da antiga treinadora, a notícia da fuga de Emma Pillsbury chocou todos os convidados. Apesar de tudo, a festa é realizada e os jovens aproveitam o acesso fácil as bebidas alcoólicas. A situação perfeita para mandar o bom senso para o espaço e extravasar com incontáveis drinques. Ninguém acabaria a noite sóbrio, e provavelmente, poucos terminariam a data dedicada aos namorados, amargando a solidão. Por isso, a situação mais esquisita do fim de semana de Quinn Fabray fora acordar na mesma cama de Santana Lopez.

Matt tinha motivos para estar feliz com sua nova rotina. O curso de mergulho se aproximava do encerramento e seu desempenho chamava a atenção dos instrutores. O objetivo ao se inscrever era poder se aperfeiçoar e, quem sabe, viver disso algum dia. Afinal, mostrar as belezas naturais daquele paraíso para turistas como profissão era sua carreira dos sonhos. Enquanto não realizava suas aspiração, ajudava o pai na pintura da casa, quando o celular tocou pela terceira vez em poucos minutos. O homem lhe encara impaciente diante da interrupção e o recado é compreendido. Três ligações perdidas do melhor amigo. Ao refazer o telefonema, Mike Chang lhe dispara mais informações do que é capaz de absorver numa manhã preguiçosa de domingo. A expressão confusa intriga George Rutherford ao ponto de paralisar os trabalhos.

_ O que houve, garoto? Não escutou boas noticias?

_ Ah... Era o Mike para contar sobre o casamento do professor Schuester. – o pai incentiva o resto do relato – Não teve casamento, acredita? A noiva fugiu... – homem alterna do quase riso para o susto completo – Loucura, né? E ele ainda falou da Quinn...

_ Pela sua cara, ela não estava sozinha, certo?

_ Ela foi sozinha... Mas, acabou a noite acompanhada. – o rapaz digeria a novidade.

_ Sinto muito, filho. Mas, vocês não se viam desde o fim das férias de férias, não é?

O jovem confirma com um gesto de cabeça e se apressa em seguir as instruções do pai. Ele tinha muita, muita coisa para fazer e muito, muito mais para compreender. Era informação demais para uma manhã preguiçosa de domingo. Quinn Fabray era especialista em deixar confusões por onde passava. E não poderia ser diferente em seu retorno para Lima. Por isso, sentiu-se segura ao fechar a porte de seu dormitório no Campus de Yale e cair em sua cama. Enfim, estava a salvo de si mesma. Pelo menos, esperava que seus furacões não lhe seguissem até New Haven. Tudo estava estreitando tão depressa em sua rotina e não havia dignidade nenhuma naquilo.

Droga, droga menina, você é boa nisso

E eu achava que você fosse inocente

Você pegou esse coração e o faz passar por um inferno

Mas ainda assim eu te acho magnífica

_ Quinn Fabray? Alguma de vocês é Quinn Fabray? – a mulher chega berrando na sala de estudos do curso de teatro – Estou procurando por Quinn Fabray. Ela está aqui?

_ Eu sou a Quinn, quem é você? – a mulher sequer raciocina e Quinn sente o rosto queimar com o tapa certeiro – O que diabos há de errado com você? – a loira grita em resposta e é contida por Hannah para não revidar a altura.

_ Sou Alisson. Derek é meu marido, sabia? – a mulher continua histérica e gritando a plenos pulmões. Todos os estudantes já prestavam atenção no tumulto.

_ Não me importa, vocês precisam resolver seus problemas! – a loira rebate e começa a entender a confusão diante de seus olhos.

_ Não, não! Você não é especial...Nem sequer é a primeira, sabia disso? Você só é uma vagabunda que caiu na lábia dele...Fique longe do meu marido! – a invasora é empurrada por outros alunos do curso de teatro e não contem sua ira.

_ Cale a boca... E você é tem que ficar longe de mim, sua maluca!

_ Vocês ouviram isso? Quinn Fabray é uma vagabunda! Ela está dormindo com Derek Bishop, professor de história da arte... E MEU MARIDO! Quinn Fabray é uma vadia! – o bibliotecário aparece e conduz a mulher histérica para a fora do local de estudos.

Os comentários pelos corredores, os dedos apontados, as acusações pelas redes sociais e a vergonha de ser ridicularizada pelas costas. Quinn se viu novamente com 16 anos e a época de sua inesperada gravidez. Por dois dias, ela resistiu ao falatório alheio e compareceu normalmente as aulas. Porém, não foi capaz de enfrentar o causador de todo o problema. O professor lhe ignorou depois do escândalo e decidiu fazer o mesmo com a sua matéria. Desde então, a loira se manteve isolada do mundo em seu dormitório. Nada que aplacasse os rumores no campus. Pela terceira tarde consecutiva, Quinn bufava diante do monitor de seu notebook por não ter absolutamente nada para fazer. Ninguém disponível para desabar on-line, contudo, ao atualizar pela milésima vez a sua página no Facebook, uma publicação em sua timeline lhe fez sorrir. Nellie acabara de postar um vídeo novo na Fanpage do The Glee Project, o coral dos jovens californianos. Ao clicar no link, a primeira imagem que surgiu foi de um Matt descontraído e bastante a vontade no palco. O jovem ensinava os passos de Give Up The Funk e se divertia com as falhas dos participantes do grupo. Na seqüência, a apresentação oficial dos moradores de Neptune...E a impressão de que havia algo diferente naquelas crianças. Realmente, Michael e Charlie deram conta do recado nos vocais, no entanto, algo era evidente. A simples alegria de estar no palco... Nenhuma preocupação, nada a provar para ninguém.

Quando fora a última vez que se sentiu simplesmente feliz? Quinn revira o computador e encontra milhares de fotos do verão e se demora ao contemplar uma em especial. Estava deitada no colo de Matt na arquibancada da quadra de voleibol. Entrara no campeonato meramente por diversão, a pedido de Nellie e Lily para completar o mínimo de duplas exigido. A expressão relaxada, fugindo do sol escaldante a espera do próximo jogo sem nenhuma inquietação. Nada a provar para ninguém.

Quinn Fabray atualizou a sua foto de Capa de sua linha do tempo.

Matt Rutherford, Mercedes Jones, Tina Cohen-Chang e outras 32 pessoas curtiram isso.


_ Ei, eu gostei desse seu fundo de tela! É a mesma foto de sua capa no Facebook, né? – dispara Hannah ao entrar sem qualquer cerimônia no quarto de sua colega – Essa fotografia é incrível! Eu tive que curtir isso imediatamente!

_ É, eu vi que você deu um like na hora que deveria estar na aula, certo? E Hannah, você poderia tentar bater na porta antes de entrar no quarto dos outros, o que acha? – a loira solta a brincadeira com um inesperado bom humor.

_ Isso mesmo. E eu poderia jogar a mesma coisa na sua cara, Fabray! – a jovem de Ohio se vê sem resposta – Agora, me conta... A fotografia é do seu verão na Califórnia?

_ É, é de uma tarde na praia... Um dia que me meti em um campeonato de vôlei. Eu ri muito mais do que joguei! – a lembrança traz o sorriso ao seu rosto.

_ Deve ter sido engraçado... Você é tão ruim assim? – a colega de quarto ri da revirada de olhos da loira – E esse carinha? Eu lembro dele... É aquele gatinho que você conversava pela webcam, não é? O que aconteceu... Vocês brigaram ou algo assim?

_ Você é bem curiosa, sabia? – a ruiva apenas dá de ombros – Não aconteceu nada demais... Nós falamos, às vezes... Falta tempo... A vida aconteceu, entende?

_ A vida aconteceu... Isso é tão idiota! Sério... Você convive anos com as mesmas pessoas e se forma... E todos se separaram... A vida aconteceu... A vida é uma droga!

_ Faz sentido, sabe? Às vezes, parece que foi ontem a formatura do ensino médio... Aquela sensação que a gente nunca riu, se divertiu ou se importou tanto... Às vezes, eu acho que foi ontem... E às vezes, parece que são as lembranças de outra pessoa.

_ Isso é o grande problema. Você sente fala disso? – Quinn encara a colega – Fala sério, você passou uma semana cabisbaixa por um causa de um professor... E gargalhou só ao lembrar desde dia, deste garoto... Você sabe que sente falta, Fabray!  

Eu sou como um bumerangue

Não importa como você me lance

Eu dou meia volta e volto pro jogo

E sou até melhor do que o velho eu

Mas não estou nem um pouco perto sem você

Frannie não sabia exatamente porque estava encontrando a sua irmãzinha no aeroporto de Neptune naquela manhã. Entretanto, tinha que cumprir a promessa de três anos atrás: sempre estaria ali. Independentemente de seus desvairados pais, desde o drama da gravidez inesperada, seriam as duas contra o mundo. Por isso, estava ali no meio da área de desembarque pronto para hospedar de novo, Quinn, e sem a menor pretensão de colher ou exigir explicações. Tudo ao seu tempo.

Quinn sorriu mais na hora seguinte do que na última semana inteira. Sorriu ao avistar a irmã na hora marcada. Sorriu ao rever a deslumbrante passagem do apartamento. Sorriu ao respirar aliviada por estar léguas da confusão de Yale. E sorriu ainda mais ao sentir a brisa marinha que tanto aprendera a adorar. Ela estava de volta ao seu pequeno paraíso de verão. O próximo ato seria reencontrar o carinha que fizera das férias o melhor momento de seus recém-completados 18 anos.

Matt pisca duas ou três vezes para se acostumar novamente com a fisionomia de Quinn Fabray ao alcance de suas vistas. A boca dele se abre sem nenhuma palavra a ser dita e a mão esquerda repousa na parte de trás da cabeça. Sinal típico de estranheza. Sinceramente, ela precisava admitir que aparecer depois de quatro meses na lanchonete mais bacana do balneário sem aviso prévio poderia causar estranheza. Só não esperava que o espanto resultasse no sumiço quase que imediato do jovem de sua frente.

_ Não sei como dizer isso... – é a primeira frase que o negro consegue formular superado o susto inicial – Mas, vou ter que chamar outra pessoa para te atender... – a garota se surpreende e arregala os olhos – Ta tudo bem! É só que eu to de saída... Tenho que me apresentar daqui a pouco para o jogo desta noite... Posso chamar o Charlie, você se lembra dele, né? – a loira confirma com um gesto de cabeça. Muita informação para ser assimilada de repente – Me desculpa por isso, eu tenho que ir mesmo! – ela dá de ombros e o rapaz deposita um beijo em seu rosto. Muito, muito esquisito.

_ O que eu posso fazer por você, senhorita Fabray? – o conhecido bom humor do gigantesco Charlie.

_ Você poderia me dar um abraço e me explicar o que ta acontecendo em Neptune! – a jovem sorri e abre os braços para ser saudada pelo bom amigo.


_ É bom te ver, Quinn! É que tem esse grande jogo e o Matt pode ser titular pela primeira vez... Você vai, certo? Meu pai liberou o carro e combinei de apanhar as garotas... Posso te dar uma carona também! – ele se dispõe prontamente.

_ UAU! Não sabia que o basquete tinha virado a sensação dessa cidade... – ela brinca enquanto escolhe o pedido.

_ Os caras do time universitário tão mandando bem e eu não poderia perder os jogos decisivos da minha futura equipe, né? – o rapaz emenda com a maior novidade – Ainda é extraoficial, mas, a Universidade de Neptune me oferece uma bolsa integral!

_ Parabéns, Charlie! Aylin deve ter adorado isso! – a loira abraça o jovem garçom.

_ É, ela ainda tem dois anos no colégio e não vamos precisar lidar com a distância!

_ Fico feliz por isso... Mas, tem gente que consegue, sabe? Mike e Tina, por exemplo! Eu mesma testemunhei que Tike continua funcionando muito bem!

_ È, eu sei... Converso bastante com os dois! Só que eu nunca quis sair daqui. Neptune tem seus problemas, mas, é a minha casa. Não dá para virar as costas para esse lugar!

_ É, eu concordo com isso... Esta praia é muito especial! Tava ansiosa para voltar!

O atendente emenda duas ou três novidades sobre o grupo de adolescentes nativos do balneário, anota o pedido dela e promete regressar em breve. Definitivamente, Quinn Fabray estava morrendo de saudade da boa sensação de pisar na Califórnia. Era muito, muito bom se sentir feliz novamente. Walden elogia a temporada invicta da equipe universitária de basquete. O cunhado ainda relata que há uma década, o time não era tão competitivo e ainda cita com certa admiração o desempenho eficiente do único calouro a entrar com freqüência nos jogos.

“Matt Rutherford tem potencial”. A observação do homem, seguido de alguma menção a sua pontuação gera uma onda de gargalhadas na esposa e uma vermelhidão súbita no rosto da visitante. O que diabos estaria acontecendo? Frannie não dá tempo para que o marido verbalize a dúvida e lhe chama a atenção para o horário, afinal, tinham combinado um jantar com um casal de amigos. A loira termina de se arrumar e apanha o celular pela quarta vez no último minuto. Charlie estava ligeiramente atrasado e a partida começaria em uma hora. Nada para se preocupar... Um toque e a mensagem surge no visor do aparelho. “Estamos aqui”.

Abraços, beijos e saudações são trocados antes de partirem para o ginásio. E Quinn se sente rodeada por velhos amigos. O local do jogo se resume a uma modesta quadra, com a arquibancada já tomada pela torcida. Matt acena rapidamente para os amigos recém-chegados e volta aos seus exercícios. A família Rutherford se apresentava completa e a pequena Maddison centraliza as atenções antes do juiz autorizar o começo da disputa. O negro sai como titular e corresponde a confiança do treinador com bons passes e arremessos certeiros. Mais uma vitória e a torcida explode em aplausos aos comprometidos jogadores. Alguns estudantes gritam o nome da fraternidade que abrigaria a festa da noite e os passos se encaminham à direção apontada. O negro é ovacionado pelos amigos após retornar do vestiário já pronto para a comemoração. Calmamente, o atleta se rende aos carinhos da irmã e escuta as recomendações da mãe para não se exceder no horário. O pai se limita a dar-lhe um abraço pela boa atuação e colocar o carro a sua disposição. O primogênito balança a cabeça negativa e afirma que a noite estava agradável para caminhar. Recado muito bem compreendido. A galerinha nativa da cidade do sol se apressa, enquanto concede privacidade para os dois mais que amigos e menos que um casal. Afinal, Matt e Quinn tinham muito que conversar.

_ Fui para a faculdade porque achei que seria a minha grande mudança, e tudo que sempre quis na vida... Sair de Ohio... Desaparecer daquela cidadezinha! E quando eu chego lá, eu não me encaixo... E quando chego aqui, tudo é fantástico... E tão incrível! E é como se a minha vida voltasse para os eixos, entende? – ela confessa desanimada.

_ E isso é frustrante? – ele fala simplesmente com as mãos nos bolsos da calça jeans.

_ É frustrante porque eu sinto a sua falta...E sinto falta do que fomos no verão...E hoje, vendo vocês com essas pessoas, arrasando no jogo... Dá para perceber que você seguiu em frente, e eu entendo isso... Mas, é uma droga...Eu não sei, parece que eu não faço mais parte da sua vida, sabe? – ele a silencia com um beijo – Uau! Você ainda tem gosto de sal, não é? Água salgada! – ela sorri já nos braços dele.

_ Yeah? Queria fazer isso desde que você chegou. - o negro entrelaça a sua mão a dela e ruma para a confraternização.

Afinal, a música rolava salta e ainda nem tinham pisado na improvisado pista de dança. O contrapeso era que nada se complicava quando se tratava dos dois como casal. Tudo era elevado a última instancia, desta forma, não foi nada surpreendente quando toda a agitação acabou lhes direcionando para o quarto dele.

Mas eu vou sair e vou sentar

À mesa posta para dois

E finalmente serei forçado a encontrar a verdade

Não importa o que eu diga, eu não esqueci você

O ato é involuntário. O sorriso é sua primeira reação no segundo dia em Neptune. Ela sorri por ter a respiração serena dele logo ali, ao seu lado. Quinn se vira e encera a fisionomia do rapaz ainda refém do sono. E o sorriso se intensifica, transformando-se rapidamente em uma contagiante risada por motivo nenhum. Simplesmente, por flagrá-lo roncando. Matt bufa irritado e não se dá ao trabalho de abrir os olhos, apenas rola para o outro lado. Menos de um minuto depois e lá está o motivo de todo o constrangimento. Outro ronco. Novamente, a gargalhada sai sem qualquer planejamento. Derrotado, o jovem solta um muxoxo e desiste de dormir. Matt coça os olhos, mira o teto e fórmula um “bom dia” quase incompreensível. A loira responde entre risos e se aninha nos braços dele. O primeiro beijo do dia. O primeiro beijo no novo dia. O sorriso some repentinamente de seu rosto e causa estranheza ao menino da Califórnia. Quinn respira fundo e busca coragem para contar o motivo verdadeira para sua pequena fuga do mundo real. Não havia mais motivo algum para rir.

_ Então, sentiu minha falta? – ela dispara a queima-roupa. O rapaz arqueja a sobrancelha. Não esperava novamente por isso. E sabia que não nada daquilo.

_ Sim, eu, já falei isso, garota maluca! – o rapaz esboça um sorriso sincero e traz algum conforto a expressão inquieta dela.

_ É, mas eu quero escutar de novo! – a loira quase consegue sorrir de novo e acha fofa a careta de confusão que se forma na face do dono do quarto.

_ Eu senti a sua falta, garota maluca. – não havia mais escapatória. Aquelas duas palavras seriam eternizadas pelo rapaz. Garota maluca. Bom, fazia sentido.

_ Eu também senti a sua, sabe? – ele apenas lhe sorri como resposta – Preciso te dizer uma coisa e espero que não fique irritado, Matt. – a calma dele chegava a ser irritante.

_ O que? Algo mais louco do que o lance com a Santana? – ele gargalha e a loira lhe encara furiosa. Deveria ser algo muito complicado se fez com que a garota cruzasse metade do país em busca de alguma paz na ensolarada Califórnia.

_ Isso é sério, Matt. – o negro para com a brincadeira - Eu andei me encontrando com um professor da faculdade, que era casado...E a esposa dele é uma louca! Ela me deu um tapa na cara, e agora, está tudo essa bagunça... E eu não posso voltar lá e nem sei mais o que fazer... – o rapaz sente o peso das revelações e desvia o olhar. Quinn sente o rosto corar pelo desabafo. O silêncio dele era ainda pior – Você não vai dizer nada?

_ Dizer o que? – o rapaz diz com a tradicional calma e um dar de ombros.

_ Não sei! Você está chateado? Você ficou desapontado?

_ Sim, sim... Eu to muito irritado! Bem decepcionado, sabe? – o deboche é notável na fala dele, fato que tranqüiliza a garota deitada ao seu lado. –  Está tudo bem, Quinn.

_ É que minha irmã ficou completamente indignada e gritou horrores.

_ É, eu posso entender... Ela é sua irmã. Eu não sou da sua família, não é? E não é como se estivéssemos juntos... Você não me traiu... Está tudo bem, sério. – ele franze o cenho antes de continuar a conversa – Espero que você não surte, mas acho que nós deveríamos... Sabe...Preparar o café da manhã! To morrendo de fome! – ela lhe estapeia pela pequena brincadeira e aceita prontamente a oferta de paz. Estava tudo bem, então.

Vê-lo surfar era a mais singular volta no tempo. Era seu passaporte direto para os meses mais quentes e divertidos do seu ano, com exceção dos graus a menos. Definitivamente, Matt Rutherford era doido por se jogar ao mar com aquele tempo nublado e o vento constante. A sensação de frio na beira-mar era o único ponto negativo do seu passatempo naquela manhã de quarta-feira. Poucas pessoas se arriscavam a praticar algum esporte na praia e sempre deixavam escapar algum comentário ao notar a prancha solitária no meio das ondas. Um rapaz alto, cabelo afro, sorriso fácil e jeito descolado para em sua frente. O desconhecido retira os fones de ouvido e estica os braços, gargalhando alto ao mirar o horizonte.

_ O seu namorado é um retardado, Quinn Fabray! Ninguém certo da cabeça encararia o mar com esse frio todo!

A loira presta mais atenção ao rapaz e se recorda da fisionomia. Um colega de time de Matt. Desta forma, Bryce se tornou alguém bastante comum nas andanças por Neptune. Afinal, ser colega de Matt não era seu único ponto de ligação com a turma local. Não, a loira também se lembrava de tê-lo visto de mãos dadas com a nem tão revoltada Lily Mae. Exatamente. Bryce confirma que era mesmo o namorado de Lily ai passo que Quinn Fabray não sente vontade alguma de corrigi-lo a respeito de seu relacionamento com Matt. Namorados...A palavra até que soava bem aos seus ouvidos.

O rapaz saia do banho, ajeitando a camisa e trazendo a toalha encharcada, quando avistou a loira aparentemente colocando a mesa para o almoço com ajuda da pequena Maddison. Ele joga a roupa de surfe no lugar certo e surge na cozinha. A menininha corre pedindo colo e o negro não tem alternativa senão se render ao pedido.

_ Uau! Isso ta com um cheio incrível! – elogia o preparo ainda desconhecido.

_ Mano, a Quinn fez o meu prato favorito, sabia? – a pequenina se anima com a possibilidade de almoçar do jeito que mais adorava.

_ Sério? Tenho certeza que ficou ótimo! – a loira agradece com um sorriso e o rapaz trata de colocar a caçula no chão e beijar demoradamente o rosto da loira.

_ Então, que horas eu vou ter que dividir você com o resto mundo? – ela ri ao abraçá-lo.

_ Eu tenho o turno das 14 horas na sorveteria. Depois preciso que correr para o treino e a aula. Tenho que apresentar um trabalho hoje! Acho que só nos vemos à noite, baby.

_ Sério? O que eu vou fazer o resto do dia? – ela se lamenta e desliga o fogão.

_ Eu poderia dizer a Aylin que você concordou em participar do ensaio do coral desta tarde, o que acha? – ele sugere, ao mesmo tempo em que coloca os pratos na mesa.

_ Seria incrível! Quando que ela te pediu isso? – ela comemora a nova atividade.

_ Há uns cinco minutos... Acabei de ver a mensagem dela no meu celular! – Matt encerra o assunto tranquilamente e começa a servir a irmã. Estava tudo bem mesmo.

The Glee Project era um novo excelente o grupo de estudantes aspirantes a artistas. O coral lembrava o início da caminhada do Novas Direções. Por isso, Quinn gostou tanto de recordar a simplicidade de subir no palco e somente cantar. Sem reparar em coreografia ou discutir sobre os donos dos solos. Apenas cantar. Ser mentora por algumas horas lhe um bem gigantesco, que se converteu em algo inesquecível. A dupla de jogadores universitários, Bryce e Matt, dominaram os passos de dança e fizeram todos arriscar alguns movimentos. Sorrir era simples demais na companhia dele.

Nada lhe dizia respeito, por mais que tudo lhe fizesse bem. Quinn se divertia como nunca em Neptune, contudo, sua rotina continuava estagnada. Duas semanas fora seu tempo limite, o máximo que pode suportar sendo apenas espectadora do progresso na vida de Matt Rutherford. E se ela temia em dizer isso em voz alto, o rapaz dava de ombros para seus medos e desta maneira, falou o que queria e ouviria não merecia.

_ O que você ta fazendo? – ele dispara ao encontrá-la na lanchonete ao meio-dia.

_ Te contando sobre o meu dia? – a loira estranha o jeito ríspido dele.

_ Eu sei, mas, o que ta fazendo aqui na Califórnia? Não precisa voltar para a casa?

_ Você ta dizendo para a casa da minha irmã? O que ta acontecendo aqui? Achei tínhamos combinado de almoçarmos juntos antes do seu turno! – ela ainda não compreende a gravidade da situação.

_ É, nós combinamos. Mas, o que acontece agora? Por acaso, a sua sabe que você ta na Califórnia? O que a sua irmã pensa de largar o semestre em Yale? Olha, isso tudo ta sento ótimo...A semana foi incrível, ter você por perto de novo é incrível...Eu só não quero ser a sua última opção, entende? – ele entrelaça a sua mão a da garota.

_ O que você quer dizer? – ela recusa o gesto de carinho.

_ Eu to começando a achar que você só continua aqui porque não quer enfrentar os problemas que estão acontecendo na sua vida real, Quinn.

_ O que? Eu não acredito que você esteja pensando isso sobre a gente! – a garota não contém a indignação e bufa após escutar o veredicto que tanto temia.

_ Não fique irritada comigo, ta bem? Só to dizendo que você tem uma vida em outro lugar e deveria estar se ocupando em vivê-la. E até onde sei essa vida é em New Haven!

_ Então, essa semana toda e você e eu... Simplesmente, não significou nada? – a loira cabeça em negação e não esconde a decepção momentânea. Ele respira fundo outra vez.

_ Eu já disse, baby. Tudo isso tem sido incrível... Queria que ficasse mais, queria que você morasse aqui. Mas, você sabe que não tão simples assim, Quinn. – a garota se levanta e afirma que necessitava retornar ao apartamento da irmã. O rapaz ainda protesta inutilmente e sente uma pontada de arrependimento ao vê-la sair do local.  

E se eu tivesse chance de renovar

Você sabe que isso não é uma coisa que eu não faria

Eu iria voltar para o caminho

Mas só se você se convencesse

Então, até lá

A porta é fechada com força e Frannie não se dá ao trabalho de levantar para descobrir o motivo de tamanha ira. Afina, ela sofria do mesmo gênio tempestivo. Independentemente do que houvesse acontecido, sequer seria comparável ao insano caso com o professor de Yale. Desta forma, a mulher prosseguiu com seu serviço calmamente na cozinha. Mais cedo ou mais tarde, a irmã acabaria precisando de alguém para exorcizar os próprios fantasmas. E estaria ali. Afinal, manteria permanentemente a sua palavra e seriam as duas contra o mundo. Sempre.

_ Você quer me contar o que acabou, Quinnie? – ela despeja tão logo a jovem aparece esbravejando no cômodo.

_ Matt Rutherford! Isso aconteceu! Aquele garoto sabe ser um completo idiota às vezes. Ele disse que eu tenho uma vida em outro lugar e deveria estar me ocupando em vive-la em New Haven! – ela despeja tudo e se deixa cair na cadeira ao lado da irmã.

_ E ele está certo, não está? Por isso, você ficou tão chateada?! – a garota continua calada – Eu sei que estive longe nos últimos anos e me arrependo disto... Mas, há muita diferença entre o verão e o que ta acontecendo agora, Quinn. – Frannie fecha o notebook e concentra sua atenção na caçula.

_ O que você quer dizer? – as conversas estavam se tornando extremamente complicadas naquela tarde de sexta-feira. E a loira começava a se cansar disso.

_ No verão, tudo era sobre você se divertir com seus amigos e esse menino... E gosto mesmo do Matt, adoraria que ele fosse meu cunhado... – a loira ri da possibilidade – Só que agora tudo que você faz é girar em torno dele. Acho incrível que ele consiga fazer tantas coisas. O problema é que não são seus sonhos. Essa não é a sua vida, Quinnie! E eu preciso concordar com ele... Você deveria estar se ocupando em vivê-la em New Haven, sim! – o conselho da irmã faz o sentido. Exatamente como as palavras dele.

_ E como que eu posso fazer para deixar todos esses problemas para trás? Parece que eu sempre acabo nessas situações! – a mulher ri com vontade da impaciência da caçula.

_ Não se preocupe! Você tem 18 anos, Quinn! A sua vida deve estar mesmo bagunçada! E eu sinto que você teve mais altos e baixos em 18 anos de vida que eu desejaria para qualquer um...Você é definitivamente uma sobrevivente. Talvez, esteja na hora de se concentrar mais na parte de simplesmente viver, irmãzinha.

A passagem comprada para New Haven lhe garantia mais 16 horas na Califórnia. E, estranhamente, Quinn Fabray respirou aliviada ao confirmar o seu vôo para a próxima manhã. Contudo, ela era uma especialista em deixar um rastro de destruição por onde passava e se recusava a partir antes de solucionar o seu mais inquietante dilema. Mais do que amigos e menos que um casal. Matt havia lhe convidado para mais uma noite de boa música no ponto descolado da praia. E nada lhe faria dizer adeus ao seu pequeno paraíso de verão sem agradecer ao carinha mais querido da Califórnia por lhe confortar em todos aqueles dias.   

_ Você veio mesmo! – Matt abraça a loira.

_ Nunca recusei um convite seu mesmo quando isso envolveu um mergulho antes do sol nascer, não é? – ela exibe aquele sorriso que poderia lhe tirar do sério.

_ Você ta certa... Então, o que achou do maior point de Neptune? – ele joga o braço sobre os ombros dela sem dar a mínima para a última discussão.

_ Nada mal! Mas, nós precisamos conversar, Matt. – o jovem concorda e lhe acompanha fora do recinto – Eu vou voltar para Yale amanhã de manhã!

_ Sério? Que ótimo! Fico feliz por você, Quinn! – a alegria dele é genuína.

_ Você ficou feliz porque eu vou embora? – ela arqueja a sobrancelha sem entender plenamente o raciocínio dele.

_ Não, porque você voltou! – ele a abraça novamente – E eu sempre soube que devemos deixar livre o que amamos. Porque se voltar, é que conquistamos... Senão, é sinal que nunca nos pertenceu. – a declaração sai tão espontânea que a garota se perde nos próprios pensamentos. O que diabos acabara de acontecer ali?

_ O que? Você me ama? – ela precisa de alguns segundos para se recuperar do espanto.

_ Foi o que eu disse, não é? Eu só senti vontade de dizer... É só isso!

_ Você é bem estranho, sabia? – ela ri antes de se aproximar para beijá-lo.

_ Yeah, eu sei! Agora, vamos lá... Ainda temos essa noite, não é? – Quinn apenas acena com um gesto de cabeça e entrelaça a sua mão a dele.

Se você me perguntasse como eu estou

Eu diria que estou bem

Eu iria mentir e dizer que não estou pensando em você

Mas eu vou sair e vou sentar

À mesa posta para dois

E finalmente serei forçado a encontrar a verdade

Matt Rutherford tinha a insuportável mania de quebrar todas as suas resistências. A sua realidade estava uma tremenda bagunça e tudo que ele fazia era um dar de ombros e jogar aquilo para fora. Como é que ela poderia se manter imune aquela declaração? O casal volta a se juntar ao grupo de adolescentes e a nova música é comemorada com uma onda de animação. O fenômeno Gentleman do coreano Psy lota a pequena pista de dança e os passos do negro são impossíveis de serem copiados.

Quinn Fabray adorava dançar. Achava que só aguentara os desmandos de Sue Silvester nos anos de torcida pela oportunidade de aprender novos passos diariamente e manter o status de garota popular. Por isso, tinha duas convicções. Dali surgira sua afeição ao Clube Glee e a certeza que seus bailes escolares foram desastrosos. Nem poderia culpar o desastrado Finn Hudson por seu azar. Não, não mesmo. A responsabilidade era inteiramente sua. Sendo assim não poderia estar mais satisfeita ao ter engatado aquele estranho relacionamento com Matt Rutherford. Ela era o melhor parceiro de dança que já tivera. A loira sorri ao lembrar da primeira vez que dançaram juntos e não escuta absolutamente nada que o rapaz lhe fala a respeito da festa. Ela sorri e não sente vontade em abandonar aquela boa sensação de felicidade. Então, a garota de Ohio compreendeu e de repente tudo fez sentido. Não, não havia mal nenhum em sentir-se feliz. Afinal, já não parecia certo estar de volta aos braços de Matt Rutherford...Aquilo já se transformara em algo real.

_ Essa música é demais! O que? Por que você ta rindo, baby? – ele pergunta praticamente rende ao seu ouvido no meio da pista de dança.


_ Eu acho que eu também te amo! – a frase desconcerta o negro, que passa a mão pelo cabelo raspado e custa a formular seu próximo raciocínio. Quinn acha tudo adorável nele e leva suas mãos ao pescoço dele antes beija-lo mais uma vez.

_ Deus do céu! Garota maluca, o que você fazendo para o meu coração? – o único impulso aceitável é rir. Rir da tremenda besteira dita após uma declaração de amor. Rir da enorme sensação de felicidade estampada em ambas as faces. E sorrir porque nada mais seria como antes. – Nós deveríamos tentar isso! – Matt dispara a queima-roupa.

_ Deveríamos tentar o que? – Quinn começava a desconfiar que todas as suas conversas naquela sexta-feira seriam fora do normal. Era a única explicação.

_ Deveríamos tentar isso entre você e eu, sabe? Nós. Como casal.

_ Por que? – ela se afasta dele e lhe encara incrédula. A simplicidade dele costumava lhe causar estranheza em momentos assim.

_ Porque eu acordei e te quis por perto! – o sorriso torto e o argumento mais inusitado do mundo. Onde é que ela havia se metido? Bom, nada mais poderia ser feito. Ela amava mesmo o carinha do surfe. O menino mais querido da Califórnia.

_ Uau! Quando isso aconteceu? Hoje? – ela ainda tenta adiar a decisão. Em vão.

_ É, hoje... E ontem... E anteontem! E eu tenho certeza que vai acontecer amanhã e depois de amanhã, baby. – a cintura dela é rapidamente envolvida pelos braços dele.

_ Você sabe ser um idiota, às vezes. O meu problema é que na maior parte do tempo, você é completamente fofo, Rutherford!

Ela soltou aquela risada contagiante, que era o som predileto dele no mundo ultimamente. E Matt não poderia fazer nada mais do que rir também. Afinal, aquele nem era um problema de verdade. Não. Nada disso. O problema dos dois se transformarem em um casal eram as milhas de distancia entre a Califórnia e New Haven. Mas, nada disso importava agora... Não era nada demais. Porque naquele instante, os dois decidiram tentar e era só o que importava.  

Não importa o que eu diga, eu não esqueci você

Eu não esqueci você

Eu não esqueci você

Eu não esqueci você


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Notas finais do capítulo

Semana que vem... Tem o capítulo epílogo... Obrigada para quem tem acompanhado essa história. Fico grata pela atenção! ;)



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