Capitulo 9

Guardiões

O grande cachorro, mesmo com seu tamanho e força, não conseguiu espantar todos, que pegaram uma barra de ferro espanca-lo. Agora ele estava morto a seus pés. Ele, talvez, fosse o único ser que queria ajuda-lo.

A raiva do garotinho subiu, e com fúria, partiu para cima dos grandalhões. Eles riam da tentativa do menino, que em tamanho não poderia com todos. Porem, a raiva do menino era verdadeira, isso eles perceberam. O jogaram no chão novamente, caindo na lama. Ele se levantou devagar, pronto para partir para cima.

O menino já não parecia mais tão inofensivo, ele rosnava para os que estavam a sua frente, e seu olhar era feroz e amedrontador, mesmo para um garoto de pouca idade. Ele sentiu o peito queimar, todo o seu corpo formigava, mas era uma sensação boa. Sentiu que poderia fazer qualquer coisa. Na sua palma da mão, chamas vivas se ergueram, sentiu que a água ao seu redor estava evaporando. Se estivesse em outra ocasião, teria se assustado, mas sentiu que queria mais, fazendo as chamas arderam maiores e mais fortes. Os garotos a sua frente, apavorados, somente se lembraram de correr quando o pequeno menino lançou a bola de fogo de sua mão, muitos deles caíram e tropeçaram em latas e sacos de lixo todos gritando ao mesmo tempo.

O pequenino sentiu as chamas de seu corpo de apagarem, o corpo pesou e ele caiu sentado. Tinha tido uma sensação de leveza tão grande que sentia que poderia pular de um prédio e cair em pé, mas agora estava pesava como chumbo. Sentia que desmaiaria a qualquer momento, mas antes que o fizesse, uma bela mulher apareceu em sua frente.

Ela era elegante, refinada. Seu aspecto não combinava com o ambiente ao redor. Ela estendeu um guarda chuva para o garoto.

_Qual é o seu nome criança?

Será que deveria dizer seu nome para uma desconhecida? Porem estava cansado demais para reclamar. Ela riu e disse:

_Tão cauteloso para uma criança de sua idade.

_Syaoran!

Ela o ajudou a se levantar, mas assim que ela segurou seu peso, seu corpo caiu novamente, sem consciência. A mulher pegou o garoto no colo.

_Bem vindo à família, Syaoran!

Sem se preocupar com a garoa, ela caminhou para fora daquele beco, carregando o garoto desmaiado em seu colo.

Sakura acordou sobressaltada, toda suada e ainda com a peça de vestido da noite anterior. Não havia percebido que todo esse tempo tinha sonhado com Syaoran quando criança. Mas o que foi aquilo? E o que aquela mulher significava? Provavelmente, somente mais um sonho estranho desde que chegara ali, mas parando para pensar direito, há quanto tempo estava na China mesmo?

Tentou levantar, mas sentiu que estava presa. Syaoran, deitado ao seu lado, agarrava-lhe sua mão. Ela sentiu o coração dançar dentro de si, num compasse fora de ritmo.

Sakura deitou-se de frente a Syaoran. Não sentia mais vontade de levantar. Era a primeira vez que via o garoto dormir tranquilamente, e a primeira vez que acordava primeiro. Lembrou-se de momentos antes do garoto desmaiar, eles dançavam uma valsa. Ela aproximou-se um pouco mais, sentia a respiração dele em seu rosto, e ficou feliz por ver que o lobo selvagem estava manso, sabia que não tinha mais jeito, estava apaixonada por Syaoran.

Ouviu a porta se abriu, e com um impulso se jogou para traz caindo da cama.

Mas qual não foi a sua surpresa de Tomoyo quando viu Sakura caída da cama? A menina estava de um jeito todo desengonçado, com a cabeça no chão e os pés na cama. Ela começou a rir com gosto.

_Que isso Sakura? Teve pesadelos é – ambas riram, mas Tomoyo percebeu a vermelhidão no rosto da moça – Ou foi outro motivo?

Sakura viu o sorriso que Tomoyo sempre dava quando se tratava do chinês.

_NA...NAO É ISSO! – Ela se endireitou e tomou a bandeja de comida das mãos de Tomoyo – Não precisava trazer o café da manha, e Syaoran ainda esta dormindo.

_Parece que a noite entre vocês foi bem agitada, veja só, Syaoran esta vermelho.

Sakura olhou para Syaoran, o rosto do garoto estava rosado. Imaginou se ele estava sonhando com algo pervertido, e seu rosto corou fortemente. Batendo os pés no chão, ela arrancou o cobertor do garoto, e ficou de frente a ele com as mãos na cintura. Viu o rosto do chinês se contorcer um pouco, e colocou a mão sobre a testa dele. Estava queimando.

Virou para Tomoyo e disse:

_Tomoyo, chame um medico!

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Depois que o medico da família examinou Syaoran, ele e Yeilan deixaram o quarto e encaminharam-se para a sala, onde Sakura e Tomoyo os aguardavam. Yeilan acompanhou o medico até a saída e agradeceu, depois olhou para Sakura e Tomoyo que esperavam receosas.

_Ele esta bem, apenas cansado. Mas parece que pegou uma gripe, então não poderá fazer esforços hoje. – Yeilan olhou para Sakura seria – Sakura, eu irei dar inicio ao seu treinamento até que Syaoran melhore.

Sakura ficou pasma, Yeilan ensinando-lhe?

_Começaremos hoje à tarde! No mesmo lugar de sempre, depois do almoço.

Ela saiu andando tranquilamente, deixando uma Sakura perplexa no local. Yeilan não mentiu quanto à gripe de Syaoran, mas não contou que seu estado físico não era um dos melhores, o garoto tinha hematomas e cortes em todos os lados e seu olho direito estava ficando sego. O poder em seu olho era muito para o menino, ele era como um recipiente tentando conter uma grande maré, de tanta agua que se debatia de um lado para outro, logo o recipiente quebraria. Teria que resolver logo o assunto, caso contrario, teriam sérios problemas.

Quando o sol estava em seu auge, todos da casa já haviam almoçado e voltado para suas obrigações. Tomoyo tinha trabalho a fazer, então não poderia acompanhar Sakura, que estava um pouco nervosa. Quando chegou ao campo, as arvores ao redor estavam florescendo, todas de sakuras, as arvores de cerejeira. Estranhou a mudança das arvores, poderia jurar que não eram daquele jeito.

_É magia! – ela se assustou com Yeilan, que apareceu atrás de si – São arvores magicas, elas mudam de acordo com seus sentimentos e com os sentimentos das pessoas que estão em volta, que as influenciam.

_Arvores magicas? – desse Sakura – Arvores também criam magia?

_No fundo, todos os seres vivos criam magia. Ela esta ligada com a natureza, por isso muitos dos magos e feiticeiros têm seus poderes baseados nos elementos. – Yeilan observava as arvores que pareciam brilhantes, sempre mudando suas cores para um rosa mais profundo ou mais claro – Os seres da natureza criados por deus são os que carregam a parte mais pura da magia.

Sakura olhou para Yeilan sem entender.

_Mas como eles podem criar magia?

_A magia deles é diferente, varia de acordo com os sentimentos das pessoas ao redor – Yeilan apontou para as arvores – por exemplo, elas sentiram os seus sentimentos, Sakura. Mesmo que você estivesse longe, era forte o suficiente para que elas sentissem e entrassem em harmonia com você, é por isso que estão dançando.

_Dançando?

Sakura prestou atenção, não viu as arvores dançarem, mas quando ia perguntar para Yeilan, sentiu o vento soprando forte. As arvores se remexeram, suas folhas agitavam-se e balançavam em harmoniosamente. Era majestoso, o vento espalhava pétalas de cerejeira por todos os lados e se misturava com o som das arvores, formando quase uma sinfonia. Sakura as sentiu cantarem junto com o vento, seu parceiro de dança. Poderia jurar que ouvira risadas de crianças, mas o som era tão distante que parecia que estava vindo de sua cabeça, como uma lembrança.

_Elas estão em sintonia com seu coração, Sakura – Yeilan riu – parece que você esta apaixonada.

_O que? – Sakura olhou para Yeilan encabulada – de jeito nenhum, não estou apaixonada por Syaoran!

_Eu não disse que era por Syaoran!

Sakura não conseguiu falar nada a não ser ficar mais vermelha do que já estava e baixar a cabeça, já devia ter imaginado que não conseguiria mentir para a mulher em sua frente.

_Acho que esta na hora de alguém limpar este jardim – disse Yeilan, tirando uma das pétalas de sua cabeça e olhando o mar de folhas que cobria o chão – Bem, vamos começa! Preste atenção Sakura.

Yeilan caminhou até o meio do campo, o vento soprava forte e Sakura teve a impressão de que as pétalas estavam dançando entre ela. De repente, um grande símbolo apareceu sob seus pés, uma grande insígnia como a do mago Clow, com um sol desenhado no centro. Yeilan levantou uma das mãos para o céu e Sakura ouviu um som vindo de cima das copas das arvores. Uma ventania fazia com que os cabelos da menina a atrapalhassem de ver a gigantesca águia branca voando em ziguezague pelo céu, até pousar nas mãos de Yeilan.

Sakura sentiu os olhos do pássaro gigante sobre si, vermelhos como duas pedras de rubi. Suas plumas eram tão brancas como a neve, e suas unhas davam a impressão de ser bem afiadas, mas não parecia incomodar Yeilan.

_Este é Falcos, meu guardião.

O vento parecia mover-se em favor do animal, que sempre que abria um pouco as asas Sakura sentia uma leve brisa.

_Guardiões são criaturas da natureza que nos protegem e auxilia, lembra que falei sobre eles serem os mais puros de magia? – ela acariciou o animal que passou para seu ombro, ele parecia ter duas vezes o tamanho normal de uma águia – Eles dividem nosso poder em duas partes, uma é usada por nossas próprias mãos.

Sakura se lembrou do cara que enfrentaram na taverna, que quando levantava a palma da mão ele explodia coisas, e olhando para a própria mão, perguntou-se se poderia fazer o mesmo.

_A outra é usada por nossos guardiões, que amplificam o poder com suas próprias magias usando-as a nosso favor. – Yeilan olhou serio para Sakura – Porem você tem que aprender a controlar seus guardiões, eles têm mentes próprias e vontades próprias, mas seus corações estão conectados. Portanto, é de fundamental importância que você os compreenda e conheça seus limites.

_Há que tipos de guardiões? – perguntou Sakura.

_Depende do seu poder, eles são combinados. Então, não fique mostrando seu guardião para todas as pessoas.

Falcos, a grande águia branca de Yeilan, voou para uma das arvores acomodando-se em um dos galhos, não parecia estar tão interessada em Sakura, simplesmente ficou quieto e adormeceu. Yeilan se aproximou de Sakura e disse:

_Muito bem, vamos tentar invocar seu guardião – ela deu um sorriso – mas se não conseguir não se incomode. Não são muitas pessoas que conseguem dividir seu poder em dois, e muito poucas que conseguem seus guardiões.

Sakura assentiu com a cabeça.

_Se prepare e concentre-se.

Sakura seguiu as instruções de Yeilan, e assim como Syaoran havia lhe ensinado, ela se concentrou e tentou puxar a força de dentro de seu peito, era como puxar uma rede da maré. Sentiu vindo aos poucos, até olhar para baixo e ver sua insígnia com uma estrela no centro.

_Agora, imagine sua fonte de poder se dividindo em dois e depois sinta seu guardião em seu coração.

Assim como Yeilan disse, tentou dividir seu poder em duas partes, porem parecia que estavam grudadas.

_Faça um esforço Sakura, separe-as!

Sakura tentava separa-las, mas o peito doía quanto mais distante ficavam, fez uma força maior, sua visão ficou embaçada e a imagem de Yeilan tremulou em sua frente. Seus joelhos fraquejaram, tentou força-las a se separarem, mas parecia mais que estava separando a própria alma. Ela sentiu as partes mais distantes uma da outra, estava com calor, muito calor, mas algo correu dentro de si, como se estivesse escapando de seu peito e continuou a trajetória por todo o corpo de Sakura como se estivesse procurando uma saída.

Ela fraquejou, não aguentava mais. As partes se juntaram novamente e ela caiu de joelhos. Era mais difícil do que parecia.

_Bem, eu esperava por isso! Não se preocu... – Yeilan foi interrompida de surpresa.

Ela viu a menina perder a consciência, mas quando tentou ampara-la, seu corpo de levantou erguendo-se no ar. A insígnia de Sakura cresceu sob seus pés, e as pétalas de cerejeira dançaram ao seu redor. A menina estava de olhos abertos, porem, eles tinham um brilho esverdeado. As flores envolveram Sakura por completo, tirando-a de vista de Yeilan por um momento, mas quando se dispersaram Sakura encontrava-se deitada no chão, com uma bola peluda sobre sua barriga. Yeilan segurou a garota e ouviu um leve ronco, a mulher começou a rir ao ver que ela dormia profundamente.

_Quem diria? – disse Yeilan olhando a bolinha de pelo sobre Sakura – Ela conseguiu!

Yeilan, com ajuda de alguns empregados, colocou Sakura na cama em seu quarto. Syaoran, que já estava acordado, tentou levantar para ver se a menina estava bem, mas foi impedido pela que disse:

_Não se preocupe, ela esta bem. – Yeilan colocou Sakura na cama e agradeceu ao homem que a havia ajudado, saindo logo depois para deixa-los a sós – Apenas esta dormindo.

Syaoran somente se tranquilizou quando ouviu o leve ronco da menina e seu peito subir e descer tranquilamente. Ela estava bem.

_ Eu senti daqui, não me diga que você tentou... – ele foi interrompido por Yeilan – Sim, eu tentei!

_ Foi muito perigoso, ela poderia ter morrido! – disse o garoto exaltado.

Yeilan sentou-se no sofá perto da cama.

_Mas ela conseguiu.

Syaoran, surpreso, olhou para a pequena bola de pelos que Yeilan segurava.

_Porem, Sakura não conseguiu separar seu poder em duas partes, mas ela criou seu guardião. Essa menina é uma caixinha de surpresas.

_Você – disse Syaoran receoso – vai tentar novamente?

_Estou pensando nisso.

Syaoran lembrou-se quando tivera que passar pelo mesmo processo, a bela criatura de fogo apareceu em sua frente, completamente indomada, mas o garoto podia ver seu reflexo nos olhos do lobo, como se seus sentimentos estivessem dentro dele.

_Não foi uma experiência muito boa para mim, principalmente quando tive que fazer aquela troca – disse ele emburrado – mago idiota!

_Mas ele decidiu te ajudar sem cobrar muito, estou muito grata a ele.

O chinês ficou em silencio por um tempo, olhando para as próprias mãos.

_Você sentiu, não é? – disse Yeilan, como se adivinhasse os pensamentos do garoto.

Ele apenas assentiu com a cabeça.

_Mas não foi apenas a presença, o poder se descontrolou como se tentasse voltar para o dono, ficou inquietante como um animal.

_Sentir a presença do mago Clow, por mais fraca que estivesse, não é algo que possamos ignorar – Yeilan levantou-se e entregou o guardião de Sakura em suas mãos adormecidas – mas por enquanto, apenas descanse Syaoran. Você ainda não esta recuperado.

Ele não achou que pudesse descansar e ficar tranquilo naquele momento, ele pôs a mão sobre o olho direito e tentou adormecer.