Um Sopro De Felicidade escrita por Mihara


Capítulo 37
Capitulo 37 - As Memórias


Notas iniciais do capítulo

O.O Peço desculpas a todos, aconteceram muitas coisas desde o ultimo capitulo - parece que sempre acontecem, acho que estou usando essa desculpa a muito tempo - mas realmente fui obrigada a estacionar um pouco o capitulo para poder sobreviver. Espero vocês continuem acompanhando. Em compensação, esse foi o maior capitulo de todos, espero que gostem. Obrigada pela paciência.

Boa Leitura



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Capitulo 37

As Memórias

Sakura dobrou a jaqueta em seus braços. Não conseguia esquecer aquela noite. Foi tudo tão rápido, tanto o medo que sentira, como a conversa prazerosa com o rapaz. Foi rápido demais. Havia passado alguns dias desde que ele sumira diante de sua porta. Tentou levar no dia seguinte, mas ficou nervosa. Porque esse medo todo? Era o que repetia na frente do espelho. Ela não conseguia entrar no próprio quarto sem parar de olhar para a jaqueta pendurada no cabide.

Por fim, nervosamente. Caminhou em direção ao Gato Preto, mas sem fones de ouvido dessa vez. Porque todo esse medo? Quanto mais perto chegava, mais medo ficava.

“Ele não deve querer me ver, porque teria ido embora? Deve ter uma namorada, por isso não queria ser visto com outra garota. Mas é meu dever devolver a jaqueta, ele deve querer ela de volta. Eu fui tão mal educada, ele me salvou e nem perguntei o nome dele.”

Os pensamentos rodavam e a todo momento Sakura parava ou caminhava mais devagar. Enfiou o rosto na jaqueta de frustração. Sentir seu aroma não ajudou na tarefa. Lembrou-se de como o agarrou com medo. Estava parecendo uma maniaca. Voltou a caminhada. Porque aquele homem era tão estranho para ela, mas familiar em algum sentido? Tinha certeza que nunca o tinha visto – saberia se tivesse. Balançou a cabeça, tentando deixar de lado seus pensamentos e concentrar-se em seguir em frente.

Como havia adivinhado. O restaurante era mais cheio a noite, mas durante o dia, ele era bem bonito também. Não encontrou ninguém atendendo no hall de entrada, olhou em volta e esperou que alguém viesse, uma atendente apareceu e a levou até os fundos do restaurante, onde seu salvador estava sentado em uma das mesas com uma mulher muito bonita.

Sentiu uma certa decepção, era muito burra mesmo por manter esperanças, somente em sua cabeça, culpava-se ela. Mas não deixaria se abater, talvez fosse melhor não interromper, pediria para a atendente entregar para ele mais tarde.

Aperto a jaqueta em seus braços. Ela não havia agradecido também, ela mesma tinha que entregar.

Disse a atendente que iria esperar. Sentou-se em uma mesa perto da janela e observou o menu. Sobre o cardápio, Sakura espiava fingindo escolher algum pedido, sabia que não era certo, mas estava curiosa. Eles conversavam animadamente, riam e depois voltavam a falar sobre coisas que não dava para escutar.

Sentiu-se envergonhada. Não era de sua pessoa fazer uma coisa dessas. Porque se sentia tão incomodada? Voltaria mais tarde. Antes que pudesse levantar do lugar, mudou de ideia. Os dois levantaram-se e abraçaram-se, ela iria embora?

—Posso anotar seu pedido, senhorita?

Um dos garçons do restaurante veio atende-la. Sakura se embolou nas palavras, tentou manter o cardápio em pé, mas sem sucesso. Primeiro ela disse que não queria nada, depois mudou a conversa, pois lembrou que não poderia ficar ali se não iria comprar. Ela falava rapidamente, perdendo-se nas palavras. Viu que seu salvador e a bela moça desviaram sua atenção para ela. Ai meu deus, eles a estavam observando. Ela olhou para a cara confusa do garçom, depois para o casal que a observava atentamente.

—Vou querer apenas um café. – disse ela enfiando o rosto vermelho no cardápio.

Não teve coragem de olhar agora que eles a tinham visto. Apoiou a mão sobre o queixo, cruzou as pernas, depois colocou as mãos novamente junto ao colo, simplesmente não sabia o que fazer. Sentia-se nua, com eles a observando. Não queria que seu salvador sem nome achasse que ela era uma stalker.

Eles pareciam conversar seriamente, olhando para ela e depois entre si, como se tentassem entrar em um acordo. Entrou em pânico quando a jovem moça veio andando em sua direção. Eles já a tinham visto, não podia fingir que estava ali apenas sem compromisso. Com coragem, levantou-se segurando a jaqueta e se curvou.

—Desculpe, não quis atrapalhar. Vim apenas entregar isto e agradecer.

Levantou o rosto e se impressionou com a beleza da jovem. Ela tinha um rosto muito bonito, cabelos negros compridos, olhos azuis como o oceano. Ela era linda. Encarava, estranhou Sakura, como se quisesse chorar. Meu Deus, a tinha magoado, pensou Sakura.

—Olha, Juro, me desculp...

Mas qual não foi sua surpresa quando de repente a jovem moça a abraçou? Sakura ficou estática. A garota bonita a abraçava fortemente, mas Sakura não conseguia entender. Olhou para o homem em sua frente, se perguntando o que estava acontecendo. Mas não a empurrou para afasta-la.

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Syaoran entrou em desespero quando viu Tomoyo abraçar Sakura. Ela veio lhe fazer uma visita, conversaram por um bom tempo até ver a cerejeira sentada em uma das mesas. A amiga sabia da falta de memória de Sakura, mas mesmo assim, não conseguiu conter a emoção. Discutiram sobre se Tomoyo deveria falar com ela ou não, mas mulheres sempre ganhavam em discussões.

Sakura olhava para ele sem entender, mas não fez alarde, esperou pacientemente até que Tomoyo a soltasse.

—Ora, me desculpe, fiquei muito feliz de ver que a garota que Syaoran salvou esta inteira. – disse ela com lagrimas nos olhos. – Realmente, você está muito bem.

Tomoyo chorava, olhando para Sakura. Como pudera acontecer uma desgraça dessas? Depois de trilhar um caminho tão difícil, tudo tinha que acabar daquele jeito? Pensava Tomoyo. Podia entender agora a amargura de Syaoran.

—Eu estou bem – disse Sakura confusa – vim agradecer devidamente agradecer ao... ao ….

—Syaoran.

—Eu realmente agradeço por ter salvado minha vida – disse ela se curvando – fiquei muito triste quando você foi embora aquele dia, e eu pedi tanto para esperar.

Syaoran passou a mão na cabeça desconcertado, aquela situação era muito estranha. Como poderia conhecer a menina a sua frente tão bem, mas ser um completo desconhecido a seus olhos?

—Eu estava apressado – mentiu ele – mas obrigada por devolver a jaqueta, não havia necessidade.

Ambos ficaram olhando para os próprios pês, sem coragem para encarar um ao outro. Tomoyo sentiu uma felicidade enorme ao analisar a situação. Parecia que nem tudo estava perdido.

Seu principal objetivo ao vir ao Japão era ver Syaoran e fazer amizade com Sakura novamente. Sua conversa com Sakura sempre fluía fácil, não seria uma missão impossível. Ela puxou a menina pra uma mesa e disse a Syaoran para trazer o pedido especial da casa. Ele apenas a olhou desconfiado.

—Me desculpe por Syaoran, ele sempre foi retraído. Mas é um bom rapaz.

Viu como a menina mantinha os olhos nas costas do chinês. Riu internamente, como queria uma câmera para filmar.

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Então o nome dele era Syaoran. Bem peculiar. Sentiu-se um pouco triste, parecia que ele tinha fugido da conversa para não se envolver. A mulher bonita em sua frente puxou assunto rapidamente, era uma moça divertida. Conversaram sobre o dia do assalto, o restaurante e finalmente o assunto que Sakura mais estava curiosa, Syaoran.

—É bem coisa dele mesmo. Incrível, não? – sugestionou Tomoyo – Sabe, ele é bem popular com garotas – disse ela olhando de canto – não achou ele bonito também?

Sakura começou a suar frio, ela talvez soubesse sobre seu interesse no garoto, como se estivesse sendo testada. No mesmo momento tentou trocar de assunto.

—Sim, você tem muita sorte por ter uma pessoa como ele. Por acaso você também é da China?

—Bom, moro la a muito tempo, mas minha descendência é japonesa. Passei muito tempo com Syaoran, ele era popular lá também. Ele é bem forte não é? Qualquer garota ficaria encantada, você não ficou?

Sakura apenas riu, sentindo o suor descer a testa. Ela estava sendo avaliada. Por sorte, o rapaz voltou trazendo dois pedaços de torta de limão. Viu o olhar que o jovem garçom mandou para a mulher a sua frente.

—O que você está aprontando, Tomoyo? – perguntou ele baixinho.

—Syaoran, sente-se com a gente.

Sakura sentiu o olhar do rapaz sobre si, sentiu as bochechas esquentarem.

—Eu estou trabalhando, desculpe.

Veio a decepção, quando ele se afastou, ela lembrou que estava segurando sua jaqueta. Levantou-se estabanada e correu atrás dele.

—Syaoran-san, espere. Sua jaqueta. – Ela estendeu a jaqueta em seus braços e curvou-se em agradecimento – obrigada por me salvar. Me senti mau por você ter ido embora e eu nem pude agradecer.

Ela riu olhando para ele. Esperou alguma reaçao, mas o rapaz apenas colocou as mãos no bolso e desviou o olhar.

—Não tem que agradecer. Salvei uma tonta de ser morta, só isso.

—Não diga uma coisa dessas, não é como se eu fosse assaltada todo dia.

—Todo mundo sabe que andar sozinho em uma rua escura é perigoso, e você ainda estava com fones de ouvido.

Ela começou a ficar irritada. Mas que garoto ingrato o seu salvador. Como não queria causar má impressão, apenas engoliu o que realmente queria dizer.

—De qualquer forma, obrigada!

Ele passou a mão pelos cabelos e pegou a jaqueta.

—Não precisava se dar ao trabalho.

Sakura se deu conta que havia um espectador os observando e se afastou rapidamente, a garota estava olhando para eles com um sorriso estranho no rosto.

—Bom, obrigada pela recepção. Eu já vou indo. O bolo, quanto ficou?

—Não se preocupe, fica por conta da casa – disse ele.

Tomoyo agarrou a mao de Sakura e a arrastou para fora.

—Sim, Syaoran. Obrigada pela recepção. Eu e Sakura vamos dar uma volta. Mais tarde a gente se vê.

—Tomoyo, espera!

Mas elas já tinham saído da loja. Elas andaram pelo calçadão até virarem a esquina, se afastando do restaurante. Sakura já não sabia mais o que estava acontecendo, mas tinha certeza que levaria uma dura da garota. Ela devia estar com ciúmes e agora queria repreende-la por estar dando em cima de seu namorado.

—Sabe, eu realmente só queria agradecer. Não quis...

—Vamos tomar um sorvete? – disse ela repentinamente.

Sentadas em um dos bancos de um parque infantil que tinha em seu bairro, o famoso parque do pinguim imperial, Sakura e a estranha menina a sua frente tomavam um grande sorvete que derretia em suas mãos, caindo na roupa.

—Eu sou toda descuidada pra esse tipo de coisa, pareço uma criança. – comentou Sakura, que tentava não derramar o sorvete com uma das mãos e com a outra limpar as gotas de chocolate que caíram em sua roupa.

—Mas isso é adorável – disse Tomoyo.

Sakura olhou para a menina sem entende-la. Ela não parecia brava, a pegava sempre lhe observando com um sorriso simpático.

—Eu espero que não tenha interpretado errado minhas ações – disse Sakura, tentando se explicar antes de qualquer coisa – eu não queria atrapalhar você e seu namorado.

E se curvou mais uma vez. Quantas vezes tinha feito isso esse dia? Tinha levantado da cama com o pé esquerdo.

—Meu namorado? – disse Tomoyo, parando para pensar em quem ela estava falando, até se dar conta – Quem, Syaoran?

A menina teve um surto de risadas e até deixou seu sorvete cair no chão. Sakura sentiu-se como uma pamonha, como se ela tivesse contado a piada, mas sem saber a graça.

—Ai meu deus – ria Tomoyo – Por isso você se escondeu quando chegou. Somente você mesmo, Sakura.

—E não é?

—Eu sou casada.

Disse ela mostrando um anel brilhante em seu dedo. Era o tipo de anel que uma nobre dama ganhava, ela era rica? Mas então, a mente de Sakura ficou embaçada, ela estava dizendo que era casada com Syaoran ou com outra pessoa? Pensando bem, não queria ouvir a resposta.

—Syaoran e eu somos amigos de infância. Aconteceram muitas coisas desde então. Não podíamos abandonar certa pessoa, ele não tem tanta coragem como pensa, então vim ajuda-lo.

—Então, você e ele...

—Somos bons amigos! – Tomoyo olhou sorrindo de canto para Sakura – Você ficou feliz?

Ela não sabia dizer. Como poderia ficar feliz por um rapaz que ela nem sequer conhecia ser apenas amigo de uma garota que ela nunca tinha visto? Não poderia dizer. Mas não podia admitir que uma grande pedra tinha sido tirada de cima de sua cabeça.

—Claro...claro que não. Não o faz diferença para mim!

—Não quer saber mais sobre ele, Sakura?

Era uma pergunta tentadora, mas ela não poderia simplesmente concordar. Apenas olhou para o outro lado.

—Ele é bonito, não é? E está solteiro, esperando por uma garota como você, não ficou nem um pouco interessada? – tentava Tomoyo – não se preocupe, são sentimentos normais para uma garota.

Sakura ficava cada vez mais vermelha as palavras de Tomoyo, pensava nele constantemente. Porque essa quedinha tão repentina? Estava prestes a dizer algo quando seu sorvete caiu no chão, despertando-a de seus pensamentos.

—Tomoyo-san – disse Sakura – porque não damos uma volta? Quero saber mais sobre seu casamento.

A jovem menina não impediu Sakura de mudar de assunto, sentia que estava forçando a barra. Queria ir devagar com ela. Voltaram a fazer uma caminhada por entre as ruas da cidade, entrando em shoppings e lojas de roupas. Como se fossem velhas amigas.

—Como você se casou, Tomoyo-san?

—Foi bem complicado, eu não esperava que algo assim acontecesse. Não faz muito tempo que nos casamos. Acabei me aproximando dele por conta de problemas, e ele me ajudou muito. – ela olhou para Sakura – assim como meus amigos.

—Parece ser um ótimo rapaz. Como ele se chama?

—Eriol

—Que lindo nome. Deve ser ótimo ter alguém a seu lado. Poder ajudar quando precisar, serem companheiros. Mas é tão difícil de achar alguém assim.

—Mas você não está noiva?

—Oi?

—Você não vai casar? Syaoran me disse que você estava noiva, que tinha escutado sem querer uma conversa com seus amigos.

—Meu Deus, não – disse Sakura – é uma amiga minha que vai casar, eu vou ser madrinha.

Tomoyo agarrou as mãos e Sakura mais uma vez aquele dia, sorriu largamente e disse.

—Isso é ótimo! Porque não dá uma chance para Syaoran? Ele pode ser cabeça dura, mas é maravilhoso.

—Mas eu nem o conheço!

—Confia em mim Sakura. Você não vai se arrepender. Está dando apenas um pouco de felicidade a uma pessoa que realmente precisa.

Sakura olhou para a menina a sua frente, incrivelmente feliz, e muitas dúvidas surgiram em sua cabeça.

—Porque você fala tão informalmente comigo como se nos conhecêssemos? Sem querer ser rude, claro.

—Porque somos amigas!

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Ela fizera justamente o que Tomoyo mandara. Até mesmo a roupa que usava a garota tinha escolhido.

“Praça de alimentação do shopping, espere lá e não se preocupe. Terá uma grande surpresa.”

Foi o que dissera ela. Estava bem arrumada, olhou-se no espelho e pensou se aquela era ela mesmo, mas porque tanta preparação? Sakura usava uma blusa marrom de gola preta por dentro de uma saia preta cintura alta, com uma boina para enfeitar sua cabeça. Sim, ela estava bonita.

Trinta minutos depois do horário marcado, sentiu seu coração parar ao ver seu salvador andando em sua direção. Mas o que ele fazia ali? E estava bem arrumado, muito bonito. Meu deus, teria um ataque cardíaco se aquele homem chegasse mais perto, pensava Sakura. Sim, Tomoyo não mentira sobre a surpresa. As garotas perto dele torciam o pescoço quando ele passava. Não era mentira sobre ele ser popular.

—Sakura.

—Syaoran-san, mas o que...o que está fazendo aqui

—Tomoyo acha que fui mal educado no último dia, peço desculpas por isso. Não quero que pense mal de mim, então combinei com ela que te levaria para sair. Por acaso te incomodo?

—Não, seria um prazer...quero dizer, passar o dia com você...

Sakura se perdia mais uma vez com as palavras na frente dele, ele a olhou da cabeça aos pês, ela sentiu. Corou por isso, mas não se afastou. Tinha que ser corajosa.

—Também preciso me desculpar por ouvir conversas erradas. Me desculpe, não queria me envolver no assunto.

—Não se preocupe com isso.

—Então é verdade? - disse ele olhando de canto – você não vai se casar?

—Não, é apenas uma amiga.

—Entendi – disse ele envergonhado, ambos estavam – que tal um filme?

Cinemas sempre foi um lugar comprometedor para casais, ele estava tudo bem com aquilo? Ela concordou e eles saíram para comprar os ingressos.

Syaoran era realmente diferente dos outros garotos. Ela não sentia vergonha em conversar com ele, assim como Tomoyo, a conversa fluía naturalmente, como se já fossem íntimos. Os momentos de silencio entre eles não eram constrangedores como nos encontros que Sakura teve que aturar por conta das amigas. Mas ainda assim, era um pouco torturante, olhar para ele fazia o coração dela bater rápido.

As opções para os filmes eram variadas, é claro que ele preferia um filme de terror e ela um filme de romance. Os dois eram cabeças duras, então nenhum arredava o pé atrás.

—Filmes de terror são mais divertidos.

—Eu odeio qualquer coisa com fantasmas e monstros, não podia ser pelo menos um de desenho então?

—Você é criança?

Algumas pessoas da fila estavam rindo da conversa deles, e Sakura se sentiu envergonhada, então ela acabou cedendo. Syaoran chegou até a atendente e pediu dois ingressos para “Mortos Vivos”. Para ele, um filme bom era engraçado ou muito assustador e as opções de comedia não eram boas. Mas Sakura o puxava pelo braço pedindo para trocar. Não aguentava filmes de terror.Ela, que tentava ter a postura de uma mulher para o rapaz, em um minuto, virou uma criança.

—Syaoran-san! Você é muito malvado. Como pode comprar ingressos para esse tipo de filme? Não vou aguentar. É capaz de eu desmaiar na metade.

Syaoran sorriu internamente, não sabia onde estava com a cabeça quando aceitou sair com Sakura – talvez ter descoberto que a história de casamento era engano – mas Tomoyo sabia encher a paciência de alguém quando queria. Ele estava fazendo justamente o que queria evitar, não cansava de repetir a si mesmo para não ter esperança, mas como poderia evitar Sakura com ela fazendo o bico que estava fazendo agora? Segurou o riso para não sair de seu papel.

—Eu realmente odeio filmes de terror.

—Está tudo bem, você pode me abraçar durante o filme.

Sakura parou de andar no mesmo instante, sentindo o rosto esquentar. Colocou a mão no peito como se uma flecha a tivesse lhe atingido. De repente, a ideia do filme pareceu mais interessante.

Syaoran ignorou que a menina parou atrás de si e continuou andando com a mão sobre o rosto. Ele estava vermelho. Como teve coragem de falar uma coisa dessas? Mas a frase simplesmente saiu. Era como se eles estivessem tendo o primeiro encontro, prometeu a si mesmo que manteria distancia, porque estava falando uma coisa daquelas? Ele realmente tinha flertado, um feitio que nunca fez.

Dirigiram-se para a praça de alimentação novamente. Comeriam algo até o horário estipulado para o filme. Syaoran foi fazer os pedidos enquanto Sakura esperava a mesa. Ela começou a pensar claramente depois que ele se afastou, esse menino realmente era perigoso. Ficou a observar, ele estava parado com as mãos no bolso esperando a fila andar. Duas garotas que estavam atrás pulavam e riam, olhando para ele. Sentiu uma pontada de ciúmes. Decidiu jogar também.

—Pensei que ia me esperar lá na mesa.

—Tudo bem, você precisa de braços fortes pra te ajudar a carregar a bandeja, né? – riu ela.

—Ora, é assim? Você não sabe o que eu poço fazer com eles – sussurrou ele perto de seu ouvido, fazendo-a ficar vermelha.

Meu Deus, ele tinha feito de novo. Seus costumes de casado não haviam sumido com os anos? Virou-se para frente e concentrou-se na placa eletrônica com os pedidos. Ele estava flertando, e não conseguia se segurar. Foi uma péssima ideia esse encontro.

Syaoran fez os dois pedidos, por ele e Sakura. Ela apenas ficou observando, nem dissera o que queria comer. Ou o rapaz era muito arrogante, ou Sakura era um livro aberto. Mas os pedidos não eram ruins, na verdade, ela gostava bastante, então não reclamou. Não demorou muito para que se sentassem a mesa e começassem a comer.

—Como sabia o que eu queria pedir?

Ele parou estático. Tinha feito sem pensar. Sabia de todos os hábitos de Sakura por conta da convivência. Não é como se pudesse falar “como já fomos casados eu sei absolutamente tudo sobre você”.

—Tudo bem, eu gosto desse também. Mas vai ter que me pagar um milk shake. – sorriu ela.

—Quanta comida cabe ai dentro. – ela sorriu e voltou a comer – eu pago, sem problema. Mas depois do filme. Gulosa.

—Convencido.

Riram os dois. Era como se já se conhecessem, se sentia tão bem com ele, pensava Sakura. Era tão natural e empolgante estar em sua presença. Ele irritava as vezes, mas a alegrava.

No momento de entrar na sala de cinema, Sakura sentiu toda essa magia morrer. Não queria entrar em uma sala escura para assistir mortos devorando pessoas. Mas ele parecia empolgado. Quando viu que ela hesitou, pegou sua mao e a puxou. Sakura não sabia se as palpitadas sufocantes era por conta do filme ou da presença dele.

Como de preferência, foram para as ultimas poltronas. Havia bastante pessoas, mas suas cadeiras já estavam reservadas.

—Sakura, está tudo bem, já pode largar minha mão.

—Se não se importar, quero ficar assim. O filme nem começou ainda – choramingou ela.

Ouviu sua risada, ele estava rindo dela, mas escondia o rosto. Que mal caráter.

—Não ria, estou com medo de verdade.

—Está bem, não se preocupe, são só alguns cérebros e vísceras. Não é como se eles fossem puxar seu pé quando for dormir – brincou ele – a não ser que você deixe ele pra fora da cama.

—Você não está facilitando as coisas.

Ele riu da cara dela, tinha quase certeza que ela tinha mudado de cor, mas a sala já estava escurecendo. Durante os trailers, Sakura agarrou sua jaqueta e puxou para enfiar o rosto, ele riu, mas sentiu o coração acelerar. Como queria abraça-la, como normalmente faria. Agiria como um marido? Como um namorado? Um amigo? Ou colegas que ainda nem se conheceram? Porque ele já foi todos eles.

Sakura pulou de susto e agarrou seu braço. Ela apertava sua mão sem dó e piedade. Ela não queria causar uma impressão de ser assanhada, mas não podia evitar soltar a mão do rapaz.

As cenas, realmente, Syaoran tinha que concordar, eram fortes pra Sakura. Mas ela parecia muito bem agarrada em seu pescoço. Sentiu um arrepio subir com a respiração dela em seu cangote.

Como uma cena típica de filmes de zumbi, uma horda de mortos vivos corria atrás da mocinha indefesa. Ela caiu no chão enquanto pedia socorro, até que fosse dilacerada completamente. Sakura assistia a cena de olhos arregalados, a curiosidade dela falava mais alto que o medo.

Syaoran começou a refletir sobre quando perdeu Sakura, o que ele sentiu foi algo bem parecido com a morte da mocinha indefesa. Não esperava, depois de muitos anos, estar sentado com ela agarrada em seu peito novamente. Inalou o cheiro de seus cabelos, era o mesmo de sempre.

Sakura sentiu Syaoran suspirar, o peito subindo e descendo devagar. Olhou para ele verificando se estava tudo bem. Mas seu rosto estava muito perto, até demais. Sem que ele próprio percebesse, passou o braço por trás de Sakura e a puxou para mais perto. Suas bocas estavam quase se inconstando. Ela sentiu que explodiria. Ele olhava para a boca da menina, quase encostando. Mas, sem saber porque, todos do cinema gritaram, assustando-os. O personagem principal do filme estava cortando o próprio braço – que legal, beijar alguém durante um massacre, pensou Syaoran – Mas ele agradecia por sua sanidade ter voltado.

Ambos se afastaram um do outro, envergonhados. Syaoran olhando outro lado e Sakura para as próprias mãos. O restante do filme, ela ficou agonizando consigo própria vendo as cenas horripilantes de morte e decapitação.

O filme terminou e o dia já estava escuro. Eles passaram tanto tempo juntos assim? Sakura nem percebeu. Andavam devagar, pelas ruas movimentadas.

—Aquela cena do motoqueiro cortando a cabeça de zumbi com um facão em cima de uma moto ficou realmente legal.

—Foi nojento.

—Quer comer alguma coisa?

—Não acho que tenho estomago pra isso agora.

Ela não sabia como puxar assunto, a cena do rosto dele se aproximando não era tão fácil de esquecer. Por um momento, ela saiu do filme sangrento para entrar em um filme de romance. Mas, percebeu que logo depois do cinema, ele mantinha-se um pouco afastado, como se ela fosse pular para ataca-lo – era bem possível, desde quando começou a pensar de modo obsceno?

Ele, sempre andando com as mãos no bolso, estava alguns passos a sua frente. Por algum motivo começou a ficar irritada. Era realmente muito metido mesmo, pensava. Começou a andar mais rápido para acompanhar os passos, até que estivesse um pouco mais a frente, as pernas dele eram compridas, forçando ela a correr um pouco. Olhou para ele convencida,

—Sakur...

Antes que pudesse ver o poste em sua frente, Sakura bateu a testa em cheio. Mais um acontecimento memorável para seu livro de piores humilhações. Syoaran, ao contrário do que ela imaginava, começou a rir loucamente. Ela inflou as bochechas, bateu o pé e saiu andando.

—Espera...Espera - dizia ele rindo e tentando acompanha-la - realmente, você é sempre assim. Estabanada como sempre.

Sakura sentiu-se ofendida. Como ele podia se sentir tão próximo a ela ao ponto de dizer aquelas palavras? A verdade era que queria mostrar-se uma linda garota atraente a seus olhos, mas estava fazendo tudo ao contrário. Estava irritada consigo mesma.

—Você nem me conhece!

—Vamos lá, Sakura. Foi engraçado!

—Não foi não! Você é muito espertinho não é? Como pode agir como se já fossemos tão próximos? Me chama pelo primeiro nome e ainda faz aquilo – ela se referia ao quase beijo – e mais isso.

Syaoran se esqueceu completamente da distância que estava mantendo. Ela tinha motivos para ficar chateada. Ele a estava deixando confusa. Continuou andando em frente, com as mãos no bolso novamente. Sua guarda estava fechada de novo.

—Vamos, vou te levar para casa!

—Eu não quero ir!

Disse Sakura, que jogou sua pequena bolsa de colo na cabeça de Syaoran. Sua postura não mudara, avaliou ele, sempre que ela ficava irritada, birrava como uma criança. Mal sabia ela que ele a conhecia como a palma da mão.

Ela foi andando pela calçada, seguindo na frente. Ele não disse nada e apenas a seguiu. Já estava escurecendo, então decidiu que era hora de acabar com a brincadeira.

—É melhor voltarmos para casa – disse Syaoran, mas ela não respondeu, será que a tinha irritado de verdade? – Se continuar andando assim vai bater a testa de novo.

Ela apenas olhou para ele emburrada e mostrou a língua. Ia correr, mas ele não deixou, segurou em seu braço firmemente e disse:

—Agora já deu! Vamos, vou te levar para casa.

—Eu vou sozinha!

—Não vai não – ela tentava se soltar – é mais provável que você seja assaltada novamente.

Para quem via, parecia uma briga de casal. Ainda não tinha escurecido completamente, mas o céu estava carregado de nuvens escuras. Não demorou muito para que começasse a cair agua. Syaoran arrastou Sakura sem soltar seu braço. Ela teimava, mas logo viu que estariam completamente molhados se não colaborasse, então apenas se deixou levar. Belo primeiro encontro aquele, pensava ela. Estava emburrada apenas porque ele não a beijou? Ele não tinha feito nada demais, porque estava nervosa? Eles nem se conheciam direito.

A chuva engrossou e foram obrigados a correr. Sakura viu que estavam indo para o restaurante. Syaoran abriu a porta da frente e correu para pegar duas toalhas. Ele e Watanuki sempre carregavam uma chave reserva.

Sakura se manteve perto da porta para não molhar o piso, esperou até que o garoto voltasse. Ficou repetindo a mesma pergunta em sua cabeça, porque ele mexia tanto com ela?

—Se seque, para não pegar um resfriado – disse ele oferecendo uma das toalhas.

Mas Sakura estava tão imersa em pensamentos que não escutou. Syaoran jogou a toalha sobre sua cabeça e esfregou delicadamente seus cabelos, como há muito tempo atrás.

—Me desculpe. Nao queria te irritar.

A jovem garota não ousava encarar os olhos castanhos do rapaz. Sentiu o coração enlouquecer mais uma vez com ele tão perto dela. Massageava sua cabeça sob a toalha com tanto cuidado e delicadeza. Não entendia.

—Como pode ser tão mareento e gentil ao mesmo tempo? Estou confusa com você! Me trata bem, depois se afasta friamente, ai volta com tanto carinho para se arrepender mais tarde. O que você realmente quer? – disse ela finalmente olhando para o rapaz – Você gosta de mim?

O ar de Syaoran travou. Ela deu um passo a frente.

—Porque, sinceramente... Eu me sinto estranha perto de você. Quero ficar com você. Te entender. Quero que me toque, mesmo que não tenhamos nos conhecido o suficiente. Eu não consigo entender! – disse ela chorado. – porque eu quero ficar tão perto de você? E porque dói tanto?

Ele a tinha bem em sua frente. Assim como antes, ela apareceu sem que ele pedisse. Não podia voltar com o pé atrás, depois de todo o esforço que fez para se manter longe. Mas sentia seu peito tão cheio de angustia e necessidade que não podia se controlar.

—Se é o que você quer...

Suas mãos seguraram os pulsos pequenos da mulher a sua frente. Empurrou o corpo dela para traz até que batessem em uma das mesas. Reclinou-se sobre ela, prendendo suas mãos no alto da cabeça. Ele já não estava pensando mais mesmo, que de dane.

Sakura se assustou quando sentiu sua boca ser esmagada pelos lábios do rapaz, apertava tão forte que doía. Ele forçou passagem entre seus lábios, causando um arrepio por todo o corpo quando suas línguas se encostaram. Sentiu-se tonta, como se seus pés não estivessem ao chão – e não estavam mesmo, Sakura já estava deitada de corpo inteiro sobre a mesa – foi um beijo muito selvagem, ela não conseguia acompanhar, mas deixou-se entregar. Ele por fim soltou suas mãos, abraçando-lhe a cintura, apertando ainda mais seus corpos, ela envolveu seus braços em seu pescoço, agarrando seus cabelos.

Teve que buscar ar, ele enfiou o rosto em seu pescoço, fazendo Sakura morder os lábios. Nunca tinha passado por isso antes – já tinha sim. Não conseguia pensar muito. Suas pernas estavam enroladas a cintura dele, e suas mãos agarravam sua camisa. Seu cheiro era delicioso – o mesmo cheiro.

—Syaoran...

Sem razão nenhuma, seus olhos estavam cheios d'água. Não conseguia evitar, as lagrimas desciam sem razão. Não queria se desgrudar dele. Ele mordia seu pescoço e lambia sua clavícula.

—Syaoran...- resmungava baixinho, passando a mão por seus cabelos – Syaoran..esse nome...Syaoran...meu Syaoran.

Ele parou o que estava fazendo ao ouvir essas palavras, mas ao olhar para o rosto de Sakura ficou chocado, ela chorava compulsivamente. Tinha a machucado. Perdera o controle.

—Me perdoe Sakura eu...

—Eu realmente te odeio... Te odeio... Te odeio mesmo...como pode ser tão egoísta....como pode ser tão idiota...

—Sakura eu...

Ela envolveu Syaoran pelo pescoço, abraçando-o fortemente. Ele ficou sem entender, levantou o corpo da menina para que se sentasse. Ela chorava. Dizendo como o odiava, mas o abraçava cada vez mais forte.

—Syaoran idiota, como pode ter me abandonado... Se eu te amei tanto... - disse ela baixinho.

O garoto ficou paralisado. Ela estava lembrando dele? Como isso era possível? Não sabia como reagir. Isso era bom ou ruim? Sua cabeça estava em alerta vermelho, mas seu coração estava rapido, mantendo aquela velha esperança.

—Sakura... Me desculpe Sakura... Me desculpe... Eu...

Syaoran sentiu os joelhos bambearem e deixou o corpo escorregar até que ficasse com o rosto no colo da menina.  E assim ficaram por um bom tempo, ambos chorando até que secassem todas as lagrimas.

                                   -------****-------

Acenderam as luzes dos fundos, para que ninguém confundisse que o restaurante estivesse aberto. Havia apenas eles dois, sentados um de frente para o outro em uma mesa, com copos de água que nenhum deles tinha bebido ainda. Syaoran apenas esperava que Sakura fizesse algo, como gritar, chorar mais ou bater nele, mas ela apenas tamborilava os dedos, olhando para o copo, a janela ou apenas aérea, menos para ele.

Podia ser a pior situação possível, mas sentia-se como uma criança prestes a receber bronca da mãe. Seus ombros estavam tensos quando ela suspirou, atento a cada gesto da menina. Syaoran já não estava aguentando mais.

—O que você quer que eu diga?

Sakura continuou olhando para o copo de água como se fosse mais interessante do que ele. Isso o irritou.

—Eu já pedi desculpas! O que eu podia fazer Sakura? Foi o preço que eu tive que pagar para te salvar.

Ela apenas mudou a mão de apoio e suspirou mais uma vez.

—O que você quer que eu faça?

—Eu não sei! Que tal eu mexer com suas memorias e apagar todo esse desconforto que você esta sentindo? Seria melhor para você? Que tal esquecer de mim dessa vez?

Ele encostou na cadeira cansado, essa pressão estava lhe fazendo mal. Mas que direito ele tinha de reclamar?

—É muito complicado o que fazer agora – disse ela – não é como se pudéssemos voltar ao que éramos.

O silencio se instalou mais uma vez. Ambos parados sem dizer nada, presos em suas lembranças. Sakura relembrando tudo o que havia passado, desde o momento em que chegara a casa do chinês, odiando-o a primeira vista, ao momento em que se apaixonara por ele. Dos amigos que fez e das boas sensações que passou lá. E ele havia apagado tudo aquilo.

Syaoran sabia que ela não o perdoaria.  Sabia Iria ver a mulher de sua vida dar as costas a ele e sair pela porta daquele restaurante. Ela arranjaria uma pessoa que cuidaria dela. Mas sabia que a culpa era sua, ele abriu mão dessa vida por conta própria.

—No começo, foi tudo arranjado. Eu realmente te odiei, que direito vocês tinham de me proibir de não ver minha própria família? Mas nem todos eram como eu havia imaginado. Principalmente você...e me apaixonei...Não era mais somente um contrato para mim, era um casamento de verdade.

—Pra mim também, Sakura...eu fiquei com medo...aquele nunca foi meu lugar ...Não tinha como ser um casamento de verdade. Eu não era de verdade. No fundo, eu já sabia o que aconteceria, cedo ou tarde, e me preparei para as consequências, mas quando você apareceu, eu fiquei temeroso....Você era tão poderosa, qualquer um iria querer colocar as mãos no seu poder...você estava no meio de leões. O que queria que eu fizesse?

—Fugir. Poderíamos ter fugido!

—Iriamos para onde? Eu não tenho um nome Sakura. Como iria manter você? Iria separar você da sua família de novo?

Ele se remoeu por dentro ao ver mais lagrima descer dos olhos da garota.

—Parece que eu sou a única que ficou triste com isso... ah, é mesmo, você apagou minhas memorias.

Ele se levantou batendo as mãos na mesa. Andou até Sakura e se ajoelhou em sua frente.

—Não diga isso, você não sebe o que passei durante todos esses anos, imaginando você em uma vida sem ao menos se lembrar de mim, arrumando outro homem que não fosse eu, beijando outra boca que não fosse a minha. – disse Syaoran se aproximando, olhando para os lábios da mulher.

—Sim, eu beijei! Também abracei outro homem! Esse é o seu preço pelo que pediu. – mesmo que Sakura dissesse daquela forma, só ela sabia o quanto as outras experiências haviam sido ruins. Nem se comparava com os beijos e abraços de Syaoran, até mesmo tinha se afastado de outros homens pela falta de interesse. Mesmo naquele momento ela ainda se sentia tentada pelo chines , mas não ia admitir.

Syaoran afastou-se passando as mãos nos cabelos rebeldes. Ela tinha razão, aquele parecia ser o verdadeiro pagamento que fez quando pediu para a bruxa que apagasse as memorias de Sakura. Mas aquilo ainda o deixava com raiva.

—Eu sei que muitas coisas aconteceram, sei que esta com raiva de mim. Me desculpe Sakura – ele se ajoelhou diante dela – Fiz escolhas acreditando que era para seu bem.

Ele ficou parado, esperando alguma reação dela. Não era como se ele pudesse ser perdoado tão facilmente.

— Sei que não mereço Sakura, na verdade. Imagino que você vai embora e não vai voltar mais. Mas quero pelo menos deixar meu coração mais leve, porque senti sua falta a cada minuto do dia durante todo esse tempo, não conseguia viver sentindo saudades. Cometi um pecado muito grande. Minha situação não mudou, não tenho um nome, não tenho família e possuo poucos amigos. Não tenho nada para oferecer, a não ser aceitar sua punição. Sakura eu...

Antes que pudesse terminar sua fala, Syaoran piscou perplexo quando Sakura jogou seu copo de água nele. Como antigamente ele se perguntava, porque sempre que estava com essa menina ele terminava molhado daquela forma?

—Eu sei que você não quer me ouvir, mas...

Assim como o primeiro copo, ela também jogou o segundo. O copo dele.

—Poderia deixar eu terminar?

Ela estendeu a palma e a devolveu com toda a força que pode no rosto do jovem garoto. Sua respiração estava descontrolada, as lagrimas desciam novamente, ainda estava com muita raiva.

—Eu sei... - disse ele sem discutir.

Ele apenas ficou parado ali na frente dela, com uma cara triste como se tivesse certeza de que ela iria embora. Deveria? Poderia dizer que ali, em sua frente, estava o garoto de rua que sonhara há muito tempo atras, brigando com o mundo, sozinho, sem família e amor.

—Isso é por ter me abandonado. Você não tinha o direito de decidir por mim. Seu egoísta. - ele apenas baixou a cabeça – juro que se fizer isso de novo...

Ele olhou surpreso para ela. Como não poderia perdoar? A felicidade dela estava ali, mesmo que ele tivesse sido um idiota egoísta completo. Eles se aproximaram um do outro, encostando testa com testa, sentindo as respirações alteradas, olhando-se nos olhos.

—Então...

—Eu te amo Syaoran, mesmo que tenha que chutar você para essa cabeça voltar para o lugar. Mas se fizer isso de novo...

—Não largo de você nunca mais!

Era como poder respirar depois de muito tempo, subido para superfície e encontrado ar. Ele a abraçou fortemente, ela passou os braços por seu pescoço e se beijaram sem pressa. O pedaço que faltava de sua vida estava completo agora.

                            -----------****-----------

 —Tem certeza que não quer ir pra casa? - disse ele preocupado.

—Geralmente fico sozinha em casa, não tem problema...

—Mas ainda assim...

—Syaoran, eu não mordo...

Ele sorriu torto.

—Não estou preocupado com você!

Ambos haviam decidido ir para o apartamento do rapaz, que era o mais perto. Eles não tinham percebido o tempo passar e já estava tarde. No inicio, não havia clima nenhum entre os dois, mas depois Syaoran começou a ficar preocupado. Quantas vezes já não havia imaginado Sakura em sua cama?

— Pode tomar banho se quiser – disse ele olhando para as roupas úmidas da garota – para não pegar um resfriado. Vou pegar algo confortável para você vestir.

Sakura estava um pouco nervosa, fazia muito tempo desde que tinha ficado sozinha com Syaoran, ainda seria a mesma coisa? Enquanto ela esperava na sala, percebeu que o apartamento não era muito grande, mas organizado. Havia algumas fotos em uma comoda. Uma  com todos os funcionários do restaurante, ela olhou atras da moldura e estava escrito “abertura do Gato Preto, Primeiro dia de trabalho”. Uma outra foi uma agradável surpresa, era uma foto de Eriol, Lieng, Syaoran e um outro rapaz que Sakura se lembrava vagamente, atras também tinha algo escrito, “Casamento de Lieng e Meiling, parabéns ao casal, de Syaoran, Eriol e Watanuki”. Parecia que eles tinham se tornado muito amigos.

Olhando mais algumas fotos, ela percebeu o quanto perdeu da vida dele. Sentiu-se triste por estar fora de tudo isso. Em uma estante que havia ali, achou uma foto de Tomoyo e Eriol, “Lua de mel” estava escrito atras. Sakura colocou a mão na boca, Tomoyo havia dito a ela sobre o casamento, quem diria, não havia se dado conta já que não lembrava, riu internamente. Em um porta-retratos pequeno, havia uma foto antiga, meio rasgada e velha. Era uma foto de Sakura, Syaoran e Yeilan, de muito tempo atras, quando ela tinha voltado no tempo. “Família”, estava escrito.

—Syaoran...

—O que? - disse Syaoran assustando Sakura. - ah, essa foto. Ajudei a bruxa das dimensões por um tempo, a que nos ajudou a te salvar, e em troca ela me deu essa foto antiga. É a única foto que eu tenho de você e minha mãe.

Eles deram as mãos em simpatia.

—E Yeilan?

—Lieng e Watanuki me ajudaram a encontra-la. Mas não tenho coragem para visita-la pessoalmente. Acho que esta com raiva de mim, já que ela não responde minhas cartas. Tuche. Ainda não entendo porque ela largou o clã, era o que o pai dela havia deixado para ela. - disse ele pensativo – Mas sei que esta vivendo bem, parece que casou novamente.

—Sei que ela não esta com raiva de você, só deve estar ocupada. Mas o que esta acontecendo com esse povo, todo mundo esta casando agora?

—Parece que sim... - disse Syaoran encarando Sakura. Ele pegou em sua mão e beijou sua palma. Ela sentiu seu coração endoidar.

—Eu...Eu vou ir trocar de roupa.

Syaoran entendia que ele e Sakura estavam tendo um novo recomeço, mas não soube o que fazer quando preparou a cama para dormir. Talvez ela se sentisse um pouco desconfortada em dividir a cama como faziam antigamente.

Sakura saiu do banheiro usando uma camisa muito grande para si mesma e uma bermuda maior do que deveria. Roupas de Syaoran. Nada sensual para uma mulher, pensou. Viu Syaoran deitado no sofá, e a pergunta que assolava a cabeça do rapaz veio a mente da menina também. Lembrou-se dos beijos e caricias dele no restaurante e mordeu o lábio inferior. Já não tinha esperado tempo demais?

—Sakura, se você não se sentir confortável juntos, depois de tudo o que aconteceu, pode dormir na cama – disse ele envergonhado – eu durmo no sofá. Não quero pressiona-la.

Caminhou até o rapaz deitado no sofa e sentou-se a seu lado. Segurou seu rosto com as duas maos e o beijou. Nao mais um beijo de garota, mas um beijo de mulher. Nao queria esperar mais, queria quebrar logo esse gelo. Ele sentou-se e segurou sua cintura, fazendo-a montar em seu colo, apertando-a contra o peito. Aprofundaram o beijo, enroscando os dedos nos cabelos um do outro, ficando sem ar. As maos de Syaoran passeavam pelas costas de Sakura, subindo por dentro da blusa, acariciando sua cintura até que chegasse ao pé do pescoço. Ele perdeu o ar quando ela traçou uma trilha de beijos de sua orelha até a clavicula do pescoço. Estavam perdendo a noçao do que estavam fazendo

—Sakura... - disse ele gemendo – espera!

—Esperar porque? Ja não esperamos demais.

—Você sabe mesmo o que quer? - disse ele a encarando – Porque eu não vou parar mais.

Ela o encarou sorrindo, o beijou e mordeu seus lábios. Estava dando sinal verde. Ele sorriu, jurava que acordaria a qualquer momento. Sakura estava em seus braços, ela sabia quem ele era. Ela sabia...

Syaoran, que nesse momento estava em cima dela agora, parou de repente.

—O que foi agora?

—Porque você lembrou?

Não fazia sentido, os pedidos para  bruxa não tinham validade. Porque as memorias de Sakura haviam voltado? Porque ela lembrara dele?

—Eu não sei. Apenas sentia que você era familiar.

—Eu paguei meu preço, porque você lembrou então?

—Eu não deveria ter lembrado então? - perguntou Sakura receosa. Ela estava com medo de que Syaoran pudesse ter mudado.

—Não – disse ele – você não sabe como estou feliz. Sinto que recebi um presente que não merecia, mas não vou abrir mão dele.

Raciocinando um pouco, ele tinha uma leve suspeita do porque, mas olhando para Sakura grudada em seu corpo, com seus lindos olhos verdes, sua cabeça não tinha lógica nenhuma.

—Eu também estou feliz – ela riu – mas nesse momento, quer mesmo descobrir o motivo do meu súbito retorno de memorias?

—Acho que não – disse sorrindo.

Ele a beijou como se fosse a primeira vez. Syaoran ergueu Sakura do sofá sem interromper o trabalho em seu pescoço. E assim, eles foram caminhando em direção ao quarto.

 

   


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Notas finais do capítulo

Obrigada por tudo, estou muito feliz, finalmente esta acabando... digo isso quase toda vez né? Mas enfim, espero que gostem do próximo capitulo, ele não vai demorar tanto quanto esse, juro!!!!



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