Um Sopro De Felicidade escrita por Mihara


Capítulo 36
Capitulo 36 - Gato Preto


Notas iniciais do capítulo

Oie pessoal, espero nao ter demorado muito com esse capitulo, estou sempre procurando meus meios para escrever kkk. De qualquer forma, me desculpem se ele ficou meio longo, mas esta emocionante. Tentei corrigir todos os erros de ortografia, me desculpem por isso, e espero que a historia esteja vingando, não ficando mais confusa. Por favor, mandem comentários com suas verdadeiras opiniões para me ajudar a escrever, não importa se é boa ou ruim. Quero melhorar bastante.

Espero que gostem!!!

PS: Vi que estava escrevendo o nome do Touya errado, desculpem por isso! Tenho poucas horas de almoço e pouco tempo para a correção.



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Capitulo 36

 

Gato Preto

 

A vida as vezes era tão corriqueira, que ela não conseguia acompanhar. Não sabia o que fazer ou que decisões tomar, não tinha se preparado para essa vida. Queria apenas ficar ali, sentada de cabeça para baixo na poltrona encarando as nuvens pela janela aberta, ouvindo os grilos do lado de fora. Era verão e estava muito quente, emburrada do jeito que estava, se recusava a levantar. Como ela queria ser uma nuvem, ou uma arvore, sendo balançada e conduzida pelo vento, sempre devagar, sem ter que fazer escolhas ou ter problemas. Sakura queria ser uma nuvem.

Seu irmão entrou pela porta dos fundos e deparou-se com a menina de cabeça para baixo na poltrona, com a nuca encostada no chão.

—O que você está fazendo?

—Touya, eu quero ser uma nuvem. – disse a menina.

—Hã? – perguntou ele sem entender – o que?

Ela apenas respirou e se ajeitou, sentando no chão. Touya não morava mais naquela casa, ele e a esposa haviam conseguido comprar um belo apartamento, agora tinham dois filhos muito lindos que Sakura amava brincar.

— O que você está fazendo aqui hoje? – Disse Sakura.

— Vim pegar umas ferramentas, cadê o pai?

—Dando aula na faculdade.

—Ele não está velho para essas coisas? – Touya foi até a cozinha procurar as ferramentas, ouvindo Sakura suspirar novamente – o que diriam de uma mulher adulta sentada no chão desse jeito?

—É que...eu andei investigando umas coisas.

Touya parou no mesmo momento, congelado. Por acaso ela teria recuperado as memórias?

—Eu...não tenho talento nenhum.

Ele soltou o ar que tinha prendido, “não me assuste assim”, pensou. Resmungou para Sakura:

 – Você só descobriu isso agora?

—Sabe, estou procurando um emprego para ajudar o pai em casa, já mandei inúmeros currículos e andei por vários lugares, mas ainda assim, não apareceu nenhuma oportunidade.

—Ora ora, que senso de responsabilidade.

—Tenho que tentar ganhar meu próprio dinheiro – disse ela decidida.

—Bom, não é no chão que você vai encontrar.

Sakura levantou-se e se sentou emburrada na beira da janela, tinha que dar um jeito de arrumar um trabalho. Já era uma mulher feita, como seu irmão havia dito. Terminara seus estudos e agora precisava de um trabalho, não podia mais depender das mãos de seu pai, tinha que tentar ganhar uma renda para se sustentar.

Touya achou um pouco engraçado, Sakura estava passando por tanta dificuldade dizendo que tinha tornado-se uma adulta, mas nem imaginava que já tinha sido casada, apesar de ter sido sobre circunstancias especiais, como um contrato forçado. Por algum motivo, lembrou-se de algo desagradável, da época em que Sakura ainda estava na China, ela havia mandado uma carta escondida, dizendo o quanto estava feliz e como seu marido era bom com ela, acabou se perguntando se ela não estaria mais feliz com ele. Mas ela não voltaria para a China, tratou se livrar desse pensamento.

]Sakura olhando para o céu, notou que o sol já estava se pondo. Assustou-se e correu para o quarto gritando.

—Prometi para Rika que encontraria ela no parque!

—O que? Já vai sair? – perguntou Touya – Tem certeza que tem dinheiro para sair tantas vezes assim?

Como se tivesse voltado alguns anos, ou melhor, nunca saído deles, sua irmã continuava afobada como sempre, se atrasando e fazendo a maior bagunça. Pensou em falar “Desse jeito você nunca vai se casar”, ou “Nunca vai arranjar um marido”, mas mudou de ideia, lembrando-se do moleque.

—Não é bem assim, esse dinheiro eu ganhei justamente tá, enquanto não trabalho, papai prometeu que se eu fizesse todos os trabalhos domésticos ele me daria uma mesada. – disse ela descendo as escadas.

—Com essa idade e ganhando mesada? – riu Touya.

—Me deixa. Vamos em um restaurante que abriu há algum tempo aqui na cidade. Você tem a chave não tem?

—Sim, Claro! – ele olhou mais uma vez para ela, tinha crescido desde que voltou, os cabelos continuavam a mesma coisa, curtos, mas pareciam um pouco mais loiros, já não se vestia como uma menininha também, notou que seu rosto estava com um pouco de maquiagem – É bom não ter ninguém envolvido nesse encontro hein.

Sakura parou na porta olhando para o irmão até entender o que ele queria dizer.

— Deixa disso Touya, eu já sou grande. – Ele apenas bufou e ela saiu.

Sakura correu pelo caminho das cerejeiras, que naquele ano estavam desabrochando, as arvores estavam lindas, não conseguia evitar de parar para olhar a chuva de pétalas caindo naquele cenário alaranjado. Depois passou correndo em frente ao templo, acenando para o dono que estava varrendo a entrada, tinha muitas lembranças de sua infância ali. Como seu primeiro beijo a uns dois anos atrás, namorara com o garoto por um tempo, mas durou pouco tempo.

Entrou na zona comercial, as ruas estavam movimentadas, andou observando as lojas de roupas, comidas, e bijuterias. Em algumas lojas haviam mães com seus filhos, pedindo para comprar brinquedos, reclamando que estavam com fome ou cansados. As mães o tempo todo segurando suas mãos ou pegando no colo. Uma delas, que segurava uma linda menina no colo, chamou o marido de dentro da loja, ele estava cheio de sacolas. Sakura achou graça daquela sena. Por algum motivo seu coração se apertava quando via casais ou famílias felizes. Era uma felicidade que ela não tinha.

Não muito longe, Rika acenava para Sakura. Ambas se abraçaram e riram como velhas amigas que não se encontravam a muito tempo. Durante o percurso, compartilharam um pouco de suas vidas desde que terminaram a faculdade. Romances e amores, amizades novas e velhas, feitas e desfeitas, empregos, trabalhos etc. Sakura admirou Rika, ela tinha se tornado professora, e estava trabalhando na velha escola de Tomoeda, estava noiva e feliz. Sentiu muita inveja, mas feliz pela amiga.

—E aquele seu namorado Sakura? Vocês ainda estão juntos? – Perguntou Rika.

—Não – sorriu tristemente – a culpa foi minha, não me sentia feliz com ele. Não durou tanto tempo como você imagina.

—Mas ainda com isso? Na escola era do mesmo jeito, não é? Você dispensou um monte de gente.

—Um monte? Não foram tantos assim. Mas você também, afinal, desde aquela época você e o professor Terada...

—Não diga isso assim – riu ela – eu estava apaixonada. Olha, chegamos.

Rika conferiu com o endereço no celular. O restaurante era muito bonito, apesar dos outros que estavam próximos, ele se destacava entre todos. Possuía muitas mesas do lado de fora com cobertura, mas sem que atrapalhassem a movimentação da calçada. As vitrines eram grandes para chamar atenção para o lado de dentro, mas tinham cortinas escuras para não deixar muita iluminação entrar. Na entrada, um pequeno gato de madeira com olhos amarelos estava pendurado. Gato Preto era o nome do lugar.

Sakura e Rika entraram no restaurante impressionadas. O ambiente interno era bem diferente. O restaurante tinha um clima noturno por conta da baixa iluminação, as cortinas estavam todas fechadas e a iluminação era feita com lamparinas que estavam penduradas no teto. Uma música baixinha e suave tocava de algum lugar, dando um clima calmo e sereno. Havia um palco, mas estava vazio no momento.

—Esse restaurante ficou muito conhecido por conta do funcionamento noturno. Ele é muito popular entre mulheres e homens mais velhos. – Comentou Rika – gosto muito de vir aqui com Terada-san. Ainda mais quando tem apresentações, parece que hoje não é dia de espetáculo.

Um homem elegante e bonito aproximou-se, levando-as até uma mesa no centro. Sakura observou que haviam poucas pessoas no local, alguns casais ou pessoas desacompanhadas.

—Olha a hora, logo os outros vão chegar. – comentou Rika olhando para o relógio no pulso.

Sakura combinou com Rika de sair para se encontrar com os velhos colegas de classe do ginasial. Nunca haviam perdido o contato, mas foram se afastando aos poucos, resolveram então marcar um encontro coletivo para matarem a saudade dos velhos tempos.

Elas resolveram fazer logo o pedido e chamaram pelo garçom.

—Desculpem pela demora, estamos com falta de pessoal hoje. O que gostariam de pedir?

Sakura sentiu o rosto corar ao olhar para o garçom, não sabia bem o porquê. Começou a transpirar e seu estomago a revirar, esquecera completamente do que ia pedir. O garçom era muito bonito, com cabelos castanhos rebeldes e olhos ambares. Ele a encarava surpreso, deixou a caneta cair, estático. Aquele segundo pareceu que durou uma eternidade.

—Vamos pedir e especial número dois com bolo de chocolate de chocolate e chantili, juntamente com um café meio amargo, por favor – Disse Rika.

Rika ficou olhando para Sakura, esperando que ela fizesse seu pedido, mas da boca da menina nada saiu, parecia hipnotizada, ela e o garçom se olhavam fixamente. Até que ela abaixou os olhos quebrando o contato e ele pegou a caneta do chão.

—Ah, Claro…claro. Especial número dois e bolo de café, digo, chocolate com café amargo.

De repente aquele garçom bonito havia virado um rapaz desajeitado, e sua amiga havia virado uma muda tímida. Deu um sorriso de canto e apoiou o rosto nas mãos.

—O mesmo para ela, por favor. Mas troca o café por suco de laranja.

Sakura ficou vermelha e pulou.

—Claro que não... – virou-se para o garçom rapidamente – um cappuccino está de bom tamanho, por favor.

 _Claro...claro.

O garçom saiu rapidamente. Sakura colocou as mãos sobre a bochecha e olhou para Rika.

—Rika, porque você fez isso? Suco de laranja é pra crianças.

—Sakura – riu ela – o que foi isso? Nunca vi você agir assim. Gamou é? – perguntou Rika, Sakura ficou vermelha – acho que ele gostou de você.

—Eu não sei, de repente comecei a ficar nervosa.

—Mas ele era muito bonito mesmo, pena que já sou noiva. – Disse Rika rindo da cara da amiga.

—Olha, é o pessoal.

Mais alguns amigos se juntaram a mesa de Sakura. Eles se abraçaram e sentaram-se para fazer o pedido, no entanto, para decepção de Sakura, veio um garçom diferente.

                                        -----****------

Syaoran saiu pelas portas dos fundos, precisava de ar pois seu coração não acalmava. Retirou o avental e encostou-se na parede. Não conseguia acreditar. Tinha evitado tanto esse momento, mas ela estava lá dentro, sentada em uma das mesas. Foi muitas emoções ao mesmo tempo, primeiro o choque e o desespero, a necessidade de se esconder, sentindo remorso. Depois, a respiração travou ao ver como ela estava bonita, mais velha, uma mulher madura. Os olhos brilhantes que antes. Colocou a mão sobre o peito, sentindo o coração bater fortemente, tinha que entrar, encara-la, mas precisava se acalmar primeiro.

Watanuki veio correndo. Olhou para o amigo no chão, achando que estava passando mal.

—Syaoran, o que foi? Um dos atendentes disse que viu você correr aqui pra fora. Está tudo bem? – falou ele colocando a mão no ombro do amigo.

—Ela está lá dentro.

No mesmo momento, Wataniki compreendeu a situação. Abaixou-se junto com Syaoran e sentou-se do seu lado. Sempre soube que um dia teriam essa conversa. Esperou uns minutos, para ver a atitude do amigo, mas ele apenas ficou sentado, sem saber o que fazer.

No dia que tinha ido com Lieng atrás de Syaoran, queria dar-lhe uma oportunidade. Sem ninguém saber, Yeilan havia entrado em contato com ele, avisando da situação do filho, afinal, uma mãe era uma mãe, dissera ela. Precisava retira-lo das ruas novamente. Depois daquele dia no ringue de lutas, é claro que vieram procurar Syaoran, mas ele já havia saído do país. Fez ele compreender que chegaria esse dia, de encarar as consequências de suas escolhas. E esse momento era hoje.

—Bom, eu já te disse que isso podia acontecer, certo? Afinal, estamos muito populares, e ela ainda é uma moça jovem. – ele olhou para o amigo, estudando-o – Não está curioso para ver o quanto ela cresceu? Se está feliz?

—Sim, com certeza. Muito – riu ele – mas não quero descobrir que está com outro cara. Eu não sabia que ela estava aqui por perto, quero dizer, a cidade é grande. Meu Deus, eu tive que me controlar para não ir atrás dela.

—Bem que você poderia ter ficado com ela, não é? – resmungou baixinho Watanuki.

—Que amigo você, hein. Eu não tive escolha. Só parei de ser caçado pelo clã graças a Lieng mas sempre aparece alguém tentando me matar, contratados por aqueles velhos desgraçados do Clã. Iria colocar ela no meio disso? Além do mais, se alguém conseguir quebrar o selo sobre os poderes de Sakura, ela se meteria em uma grande encrenca. É melhor ela continuar sem saber da existência de magia.

Watanuki olhou para cima, aquilo era verdade. Desde que abrira seu negócio, o restaurante havia sido quase destruído duas vezes e entrado em reforma três. Foi graças a Yuko que recuperaram tudo. Ele e Syaoran estavam devendo muitas horas de trabalho.

—Mas ainda não está curioso? Para ter certeza que ela esta mesmo feliz? Não faz mal.

—A curiosidade matou o gato, sabia? – disse baixinho. – E estou em um lugar chamado Gato Preto. Tenho tudo para dar sorte.

Watanuki deu um peteleco na orelha de Syaoran.

—Você nunca foi supersticioso! Ainda tem mesas para atender – puxou Syaoran pela gola do uniforme para dentro – Vai trabalhar vagabundo.

—E você nunca foi um chefe. – Watanuki colocou as mãos na cintura e começou a bater o pé – Ok, Ok. Mas eu quero um aumento.

Syaoran e Watanuki entraram no restaurante. Sentiam um grande apreço um pelo outro, como se fossem irmãos. Os dois construíram o restaurante juntos e o iniciaram pouco menos de dois anos atrás assim que eles voltaram da América. Watanuki queria que eles fossem sócios, mas Syaoran não quis, não queria chamar a atenção no mercado de trabalho. Ele nem tinha uma folha de ponto, mas cuidava do restaurante como se também fosse o dono. Quando Watanuki não estava por perto, todos corriam para Syaoran, que era como um verdadeiro líder para tomar decisões, e quando Syaoran não estava, Watanuki assumia a frente. O nome do restaurante tinha sido ideia de Yuko, “para dar sorte”, dizia ela.

Syaoran finalmente lembrou-se do pedido de Sakura e Rika, preparou tudo na bandeja e foi ele mesmo entregar. Sim, ele estava curioso. Não podia simplesmente ignorar o fato de que aquela que ele amou – e ainda amava – estava sentada na frente dele. Havia mais amigos na mesa dessa vez, mas todos eles já estavam comendo, alguém conversava animadamente com Sakura sobre um grande evento.

—Me desculpem pela demora. Se precisar é só chamar.

E novamente, ele e Sakura trocaram olhares. Sentiu a pele do corpo todo se arrepiar e rapidamente foi atender outra mesa.

                                         ------****------

—E foi assim que a torre de Tokyo ficou conhecida. Até hoje, dizem que as luzes ainda piscam toda vez que um cometa passa.

—Isso é completamente impossível, Yamazaki. – Disse Naoko.

—Impossibilidade foi inventada pelos gregos, sabiam?

— Mas será que você não aprendeu ainda? Quando é que vai parar com essas manias, não somos mais crianças. – Disse Chiharu, amiga de infância de Sakura.

Sakura estava impressionada com todo o conhecimento de Yamazaki, como sempre, ele ainda continuava muito esperto, comentou.

—Ou muito mentiroso – dissera Rika.

Mas era muito bom ver todos mais uma vez. Chiharu e Yamazaki haviam casado a dois anos. Ela estava muito bonita, trocou o penteado de chiquinhas para um rabo de cabalo no alto da cabeça, quanto a Yamazaki, estava mais maduro, mas parecia que as mentiras era um habito difícil de mudar. Naoko também estava muito bonita, não usava mais óculos e estava namorando. Tinha virado escritora.

O garçom de antes apareceu com os pedidos de Sakura e Rika. E novamente, ela se encolheu e colocou as mãos por baixo da mesa, sentindo o estomago ficar estranho.

—Me desculpem pela demora. Se precisar é só chamar.

Quando ele saiu, todos os presentes na mesa suspiraram, com olhos sonhadores.

—Quem é ele? – Perguntou Chiharu.

—A nova e recente paixonite da Sakura. – Respondeu Rika.

—Rika, para com isso. – Disse ela ficando vermelha.

—O Yamazaki, porque você suspirou também? – Perguntou Naoko.

—Não queria ser exceção, sou o único homem aqui, mas não quero ficar fora do assunto.

—Mas diz Sakura, ele é muito bonito, porque você não dá uma esperança para o rapaz? – Falou Rika.

—Gente, parem com isso, ele apenas veio atender a mesa. Vai ficar constrangido, aliás, vocês estão me envergonhando. Tem gente olhando para cá.

— Sim, com certeza. Vocês não viram o espanto do rapaz quando viu Sakura, primeiro achei que ele tinha visto um fantasma, mas depois começou a ficar todo vermelho. – Contou Rika.

—Sim, tem gente olhando para cá sim, e ele é um deles. Ele está de olho em você Sakura.

—Eu, eu não quero saber dessa história. – Disse ela engasgando com o bolo e bebendo o cappuchinno, que estava um pouco quente.

Para alivio de Sakura, eles mudaram de assunto. Ficaram no restaurante a noite toda, altas risadas para seu capricho. Mas a todo momento, seus olhos acompanhavam os movimentos do garçom, não conseguia evitar, e logo em seguida desviava o olhar.

Viu que ele se dirigiu para uma mesa com uma moça sozinha, ela apoiou o rosto na mão direita e ficou enrolando mechas de cabelo nos dedos, empinando os seios fartos. Realmente bonita. Sakura sentiu uma pontada de ciúmes no coração, olhou para dentro de sua própria blusa, ficando decepcionada. Ela era uma vareta. Mesmo ela se jogando em cima, ele foi cortes com a moça, anotou o pedido sem puxar conversa, com respostas curtas.

Por um pequeno momento, teve a impressão de que ele desviou os olhos para ela, mas voltou sua concentração em seu prato vazio.

—Que dia vai ser o casamento mesmo? – Perguntou o Yamazaki.

—Em breve. Estou muito feliz, não vejo a hora – disse Sakura alegremente.

—Mas é claro, ela vai ser minha madrinha – disse Rika.

—Só espero que ela possa pegar o buque. – Disse Chiharu, fazendo Sakura ficar vermelha.

—Sabiam que esse habito de pegar buques é um código secrete criado entre as mulheres para escolherem os homens com quem vão se casar? Antigamente, vinha uma corda e mordaças dentro para que os homens não percebessem.

—Eu vou mesmo te amordaçar Yamazaki. – ameaçou Chiharu.

Sakura ria da cena quando sentiu olhos sobre ela, por um breve momento, ela sustentou o olhar, mas ele estava longe demais para Sakura ver o que queriam dizer. Então ele virou de costas.

A noite chegou rapidamente e as horas passaram voando para Sakura, já era quase 23h da noite. A mesa estava cheia de garrafas de cerveja e vinho, seus amigos estavam bêbados, já falando coisa com coisa. Yamazaki manteve-se sóbrio pois estava de carro. Encarregou-se de pagar a conta e ofereceu carona para Sakura e Naoko, mas Sakura recusou, sem querer dar trabalho. Ele carregou Chiharu até o carro e se despediu, prometendo de se encontrarem novamente.

Rika e Sakura ficaram ao lado de fora do restaurante, que já estava fechando. Estavam esperando o antigo professor que tinha prometido buscar Rika. Sakura se comprometeu de esperar junto até que ele chegasse.

—Não precisa Sakura, sério. Esta tarde, se quiser podemos te dar carona.

—Você vai pra casa do professor hoje, não é. E ela fica para o outro lado. Não precisa, estou bem. Chegarei em casa em menos de 15 minutos.

—Mas está escuro.

—Não se preocupe com isso.

—Você continua teimosa como sempre.

As últimas pessoas que estavam no restaurante passaram por elas. Uma atendente veio trancar a porta da frente e fechar todas as cortinas, não demorou muito para que as luzes se apagassem. Olharam preocupadas entre si imaginando que ficariam no escuro da rua, mas levaram um susto quando luzes automáticas instaladas se acenderam, elas tinham sensores, bastava passar perto que se acendiam. Realmente era um restaurante que pensava no bem de seus clientes.

—Sakura, retirando toda a brincadeira que fizemos hoje, quando você vai levar a serio a ideia de se relacionar com alguém?

Sakura odiava quando tinha essas conversas serias com seus amigos, ainda mais quando o assunto era sobre amor. Olhou para cima procurando estrelas no céu, mas aquele não era um dia bom, encontrar o amor, refletiu ela, suspirou e disse:

—Eu realmente não sei, não é algo quem a gente escolhe.

—Seu último namoro durou pouco tempo, queria que encontrasse alguém que gostasse de verdade. Deveria dar mais oportunidades.

—Não é como se eu pudesse ir ali na esquina e encontrar um namorado. Só não tenho interesse.

—Mas hoje você agiu um pouco diferente, normalmente você só ignora olhares ou não leva as brincadeiras a sério. Mas vi como você ficou sem ar com aquele rapaz, ele mexeu com você?

—Não...Não é isso. Apenas levei um susto e fiquei curiosa com o espanto dele.

—Sei. Você deveria vir mais frequentemente aqui.

Um carro buzinou na frente de Riko, o professor Terada acenou para Sakura e ofereceu carona, mais uma vez ela recusou. Começou seu caminho de volta para casa, colocou fones de ouvido e ligou o celular na PlayList.

A noite o centro comercial era totalmente diferente, não tinha uma alma viva naquelas ruas, as lojas estavam fechadas e poucos bares abertos. Sakura estava feliz por ter reencontrado seus velhos amigos e triste porque tinha acabado o dia. Um rosto veio a sua mente, e sentiu as bochechas esquentarem e um pequeno sorriso abrir. Aquele garçom era bonito mesmo. Por algum motivo, eles lhe eram familiares, não se sentia estranha como com outros garotos, e ao mesmo tempo, deixava mais nervosa ainda. 

Ficou muito feliz ao ver como seus amigos tinham resolvido suas vidas, Mas em muitos momentos da conversa, Sakura ficou perdida, eles contavam memorias que ela não se lembrava, não contrariou para não ficar de fora, talvez estivesse perdendo a memória, pensou rindo.

Uma pessoa estranha, que vinha andando na direção contraria barrou seu caminho, trombando nela.

—Me desculpe, estava distraída.

O estranho chegou muito perto, Sakura sentiu algo afiado encostar em sua barriga de um jeito bruto que doeu. Olhou para baixo e viu uma faca.

—Passa a bolsa mossa, se não quiser se machucar.

Sakura olhou para o rosto do assaltante, mas ele baixava a cabeça e forçava a fada em seu estomago. Apenas visualizou olhos e um rosto um pouco barbudo, mas não se atreveu a continuar olhando, pegou a alça da bolça e entregou para ele.

—O que uma boneca como você está fazendo na rua tão tarde?

Ele sorriu e Sakura começou a sentir desespero e arrependimento. Deveria ter aceitado a carona com seus amigos quando ofereceram. Ele passou a mão em seu cabeço e desceu para sua cintura, a faca passeava pela blusa, entrando no decote. Ia correr e gritar com todas as forças quando sentiu seu corpo ser puxado para trás pelos ombros.

Levou um susto achando que algum parceiro do assaltante, mas sentiu um alivio muito grande quando viu o jovem garçom do restaurante.

—Ei, sai fora, larga o pé dela. 

Sakura não tirava os olhos de seu salvador, o braço dele estava ao redor de sesu ombro, seus olhos estavam tão penetrantes e furiosos, que emanavam uma força incrível. Virou se ele e disse:

—Vamos embora, rápido. Ele tem uma faca.

Tentou empurrar o rapaz, mas ele manteve o pé firme.

—Você não está perdido não cara? O assunto entre eu e a menina. – disse o estranho levantando a faca. – Se dar uma de heroizinho vai se machucar.

O garçom do restaurante empurrou Sakura para trás dele. Ela puxava ele pela jaqueta, tentando convence-lo a irem embora, mas ele não dava ouvidos. Ficou ainda mais desesperada quando ele deu alguns passos à frente. O estranho atacou com a faca e Sakura gritou.

O rapaz esquivou das duas primeiras tentativas de perfura-lo, na terceira, parou o movimento com o braço. Ele aparou a mão que segurava a arma, socou a barriga do assaltante para que ficasse sem ar e deu um chute giratório para tira-lo de cena. Foi o suficiente para nocauteá-lo.

Sakura estava com as mãos na boca, à beira de lagrimas, o garçom olhou para ela e caminhou em sua direção. Suas mãos tremiam com o susto, tentou falar algo quando ele chegou perto, mas apenas chorou e sua voz saiu embargada. Ele a abraçou. Sakura passou os braços ao redor de sua cintura, enfiando o rosto em seu casaco.

Quando se acalmou, começou a respirar fundo, o cheiro dele era inebriante, perdeu a noção do tempo. Depois se deu conta que estava abraçando um garoto bonito que mal conhecia, seu rosto ficou vermelho, ficando com vergonha de encarar o rapaz.

Olhando para seus pés, separou e se afastou a uma distância que ela julgava segura.

—Me desculpe, eu estava nervosa... e com medo.

Ele ficou quieto olhando para seu rosto. Sakura não conseguia erguer o olhar, mas o rapaz chegou mais perto, ela deu alguns passos para trás mas travou no lugar. Porque estava tão nervosa? Nunca tinha ficado assim com alguém antes, ainda mais com um desconhecido. Seu rosto se aproximou do dela e ela fechou os olhos, seu coração começou a bater rápido e suas mãos suavam. De repente, sentiu uma dor no meio da testa.

Ela colocou a mão no lugar onde ele havia dado um peteleco. O garçom olhava irritado para ela.

—Sabia que não se pode andar com fones de ouvido essa hora da noite? Fica obvio que você tem um celular, você nem houve se passar um carro ou se alguém se aproximar de você, e se alguém te chamar? Isso é hora para uma moça como você ficar andando sozinha no meio da rua? Porque não foi de carona com seus amigos? Voce podia ter sido alvo de qualquer homem largado por aí em um bar. Tonta!

Sakura olhava espantada, por algum motivo, a repreensão dele fez ela se sentir como uma criança frágil e delicada.

—Mas... – Disse ela chorosa.

—Nada de mas, você não tem nem noção de perigo, qualquer um que chegar perto você vai achar quer é uma pessoa boa, o que acha que ele ia fazer com voce? Perguntar as horas?

—Mas..mas

—Nada de mas, não fique até tão tarde ser for voltar sozinha, burra, você vai pra casa agora mesmo. E guarda esses fones.

—Sim senhor – disse Sakura chorosa.

Lá estava uma mulher crescida sendo repreendida como uma criança por seu salvador, um desconhecido que trabalhava como garçom.

Viu que ele abaixou um pouco a visão e desviou o olhar, virando o resto para o outro lado. Sakura olhou para baixo e viu que a gola de sua blusa estava rasgada, mostrando um pouco de seu sutiã. Seu rosto ficou rubro e ela cobriu-se com os braços.

O rapaz tirou a jaqueta e entregou a ela, que aceitou de bom grado.

—Vamos, vou te acompanhar até em casa.

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Syaoran andava deprimido pela rua comercial, tinha ouvido parte da conversa de Sakura. Ela iria se casar. Aquilo não saia da cabeça dele, “Quando vai ser o casamento mesmo?” foi o que perguntaram a ela, seria em breve, dissera ela. Ele tinha conseguido, separou-se dela desejando-lhe felicidade, e ela estava feliz. Watanuki estava errado, a curiosidade matou o gato, e ele estava todo esfarrapado de cara no chão.

Andando pelas ruas vazias, surpreendeu-se ao ver Sakura de costas com outro rapaz, devia ser seu noivo, imaginou, e pensar que ele e Sakura já foram casados. O coração apertou e ele pensou em ir pela direção contraria. Uma coisa muito pequena o impediu, conhecia a garota muito bem, e por algum motivo ela estava encolhida. Uma briga?

Sentiu uma fúria terrível quando avistou o brilho da faca, teve que se controlar para não explodir como da última vez. Quando estava sobre influência da magia de Clow, nunca teve problemas de raiva, apenas cansaço estremo e nem se lembrava do ocorrido. Mas com sua própria magia, agora ele explodia fácil, as chamas dentro de si se acendiam como uma combustão espontânea, bastava uma fagulha. Mas não queria causar o mesmo erro duas vezes, então concentrou-se na voz de Sakura que pedia para ir embora.

Quando o ladrão caiu, Syaoran olhou para a garota, pasma de medo e com as mãos tremendo. Não precisou falar nada, ele apenas a abraçou e ela desabou em lagrimas. Teve que admitir, era bom sentir aqueles braços novamente, passar a mão em sua cabeça e lhe consolar. Tinha que se lembrar a todo momento que ela o esquecera, mas tamanha falta de responsabilidade ele não podia perdoar. Quando ela o soltou, deu-lhe um peteleco, lhe repreendendo. Parecia a mesma cena da época em que ela estava na China

Syaoran olhou para baixo e sentiu as bochechas arderem, virou o rosto rapidamente ao ver a blusa de Sakura rasgada. Retirou o casaco e entregou a ela.

—Vamos, te acompanho até em casa.

A caminhada foi silenciosa, Syaoran andava na frente com as mãos nos bolsos e Sakura a seu lado. Toda vez que alguém passava perto, ela colava nele. Por dentro, ria achando graça, ela não mudara muito, pelo jeito.

Syaoran olhou para seu pescoço e respirou fundo, sem soltar o ar, surpreso. Sakura ainda usava aquele colar? Ele havia dado para ela antes de ir embora. Não tinha muitos motivos para sentir-se feliz, afinal, o colar era uma herança de Clow que pertencia a ela e não um presente, mas isso o animou.

—Muito bonito seu colar! – Comentou ele.

—Obrigada, é uma lembrança muito antiga.

—Lembrança?

—Sim – sorriu ela – quando o ganhei, sei que estava dormindo. E ele estava quente. Foi boa a sensação, mas não sei de quem foi, um presente talvez, mas é muito importante para mim – contou ela levando a mão até o pescoço.

Eles ficaram em silencio por alguns minutos.

—Você luta muito bem, fiquei chocada – Comentou – Era Kung Fu?

—Sim, aprendi a muito tempo, na China.

—Você então é da China?

—Sim, vivi minha vida toda lá, mas vim pro Japão porque...- Syaoran encarou os grandes olhos curiosos de Sakura e percebeu que começou a falar demais – precisava de um emprego.

—O Gato Preto é bem popular né, um nome peculiar esse. Todos os meus amigos disseram que frequentam o lugar a algum tempo, hoje foi minha primeira vez. – falava ela animadamente – Quem foi que deu esse nome tão diferente?

—Uma bruxa – riu ele.

Ele não estava mentindo, mas ela achou graça da piada. Sakura avisou que tinham chegado, ele olhou para cima e observou a casa. Então era ali que Sakura crescera. Ficou imaginando a vida da menina, como devia ter sido bom morar em uma família feliz, indo para a escola todos os dias naquela rua tão bonita de cerejeiras.

—É um belo lugar – sorriu ele – Combina com você.

Syaoran estava impressionado com a beleza da região, agora entendia porque Sakura era tão doce e gentil. Quando viu o rosto da menina corado pelo comentário, notou que acabara falando demais de novo. Tentou mudar de assunto rapidamente.

—Ue, as luzes da sua casa estão apagadas.

—É que o meu pai é professor de uma universidade, faz grandes palestras e estudos sobre arqueologia, ele deve passar a noite fora hoje de novo. E meu irmão se mudou, então...

—Não quer chamar uma amiga para dormir com você? Depois do que aconteceu, não vai ficar com medo?

—Não, tudo bem! Já estou bem.

Um silencio se estabeleceu entre os dois, olhavam para todos os lados menos para os olhos um do outro, envergonhados.

—Você não quer entrar e tomar um chá? – perguntou Sakura – É claro, apenas para que eu poça devolver a jaqueta.

—Não, está tudo bem! Eu vou indo.

—Então espere aqui, por favor. Eu volto logo.

Ela olhou apertando a gola da jaqueta que usava. Sentiu certa urgência em segura-lo ali, como se não fosse vê-lo mais. Por que desejava tanto que ele ficasse?

Sakura correu para dentro de casa para trocar a blusa rasgada e devolver a jaqueta de Syaoran. Ele pensou em perguntar do casamento, mas achou que seria inconveniente. Um estranho perguntando sobre sua vida pessoal deixaria qualquer um desconfortável, e não queria que soubesse que ele estava escutando a conversa no restaurante.

Sabia que se esperasse ela voltar, teria uma pequena esperança de entrar pra vida dela novamente. Mas de que adiantaria tanto esforço e sofrimento durante esses anos todos em que esteve longe? Sakura tinha uma nova vida agora, iria casar e ter filhos um dia. Não poderia atrapalhar isso. Não podia mexer com fogo se não quisesse se queimar.

Então, hesitante, virou as costas e foi embora, sem esperar Sakura voltar para devolver sua jaqueta.


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Notas finais do capítulo

Pois, é o Syaoran é muito bobão mesmo! Deixando a Sakura assim, como é que pode né! Darei uma liçao nele kkkkkk

Esse ainda não foi o ultimo, mas estamos perto do fim. Realmente, obrigado por acompanharem, essa historia é muito importante para mim, ela esta sendo escrita ha quase três anos. Virou quase um livro hahah.

Mais uma vez, muito obrigada por acompanharem e aguardem pelo próximo (por favor, não esqueçam das criticas, é serio!)



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