Um Sopro De Felicidade escrita por Mihara


Capítulo 26
Capitulo 26 - Fartura abençoada


Notas iniciais do capítulo

Graças a deus, consegui terminar o capitulo, me desculpem, estou em um período meio agitado. Tive que buscar muita inspiração para continuar a historia.

Por favor, aproveitem o capitulo!



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Capitulo 26

Fartura abençoada

Yeilan andava pela ala sudoeste do castelo, mesmo atenta ao perigo ao seu redor, sua barriga não deixava de roncar. Podia ser uma das mulheres mais poderosas de toda a China, mas ainda era um ser humano quase comum que sentia muita fome. Quando foi a última vez que tinha comido alguma coisa? Ela riu, a última coisa que poderia pensar agora era em comida, a grande líder do clã passando fome em uma horas dessas, mas que besteira. Se a situação não fosse tão seria, iria pensar que estava dentro de uma história escrita por alguém que não tem nada o que fazer da vida.

Estava observando algumas estatuas que estavam meio quebradas, com um braço ou cabeça faltando, quando escutou uma frequência no comunicador.

_ Ei pessoal, acho que encontrei alguma coisa. – Era a voz do Fay.

_ Fay? O que você encontrou? – estava sem sinal – Fay? Está tudo bem? Está me escutando?

Sem resposta, Yeilan havia passado por algumas salas vazias, aparentemente, parecia um velho armazém, passava por tantos lugares mas nem presença da magia de Sakura ela sentia. Talvez algo estivesse bloqueando ou ocultando a magia da garota.

Encontrou um grande salão de jantar, antigamente devia ser um lugar muito bonito, mas agora não passava de um espaço vazio e sem vida, as portas de entrada estavam arrombadas, havia alguns destroços de uma antiga mesa de jantar e até algumas pratarias empoeiradas no chão, algumas estatuas também e grandes cortinas que enfeitavam o salão completamente rasgadas. Yeilan chegou perto das cortinas analisando o rasgo, era como se garras tivessem acariciado as cortinas até a ponta.

Observou que as paredes eram enfeitadas com gesso, pessoas entalhadas como se estivesse em um jantar, no entanto, não era possível ver os detalhes, muitas partes faltavam ou estavam rachadas. No centro do salão, de frente a velha mesa de jantar, que estava sem o apoio do pé, tinha um grande buraco na parede, o gesso tinha rachado e caído no chão. Estava uma grande bagunça aquele lugar e o ar estava pesado, fazendo Yeilan tossir com a poeira do ambiente.

Ela saiu do salão que se encontrava em outro hall de entrada que dava acesso as portas dos fundos do castelo, haviam alguns quadros pendurados e pinturas rasgadas, nada que pudesse informa-la sobre Sakura, não teve mais nenhuma notícia dos outros também. Estava sozinha, sem nada e ninguém.

Não que ela não estivesse acostumada, sempre esteve sozinha. Mesmo que tivesse Syaoran ao seu lado, ela ainda sentia um vazio no peito, solidão. Não era uma solidão qualquer, era um tipo de solidão que, por mais que alguém te abraçasse e dissesse palavras carinhosas, ainda existia um vazio no peito, vazio esse que ela não sentia em sua infância. Sabia exatamente o porquê, mas nunca admitiria, era como se tivesse faltando uma parte dela.

Yeilan sentiu um cheiro delicioso atrás de si, no mesmo momento sentiu o estômago se contrair e roncar bem alto, o cheiro vinha do caminho que tinha acabado de percorrer. Refez o caminho, até parar em frente ao salão de jantar novamente, sentiu perigo imediatamente dentro daquele lugar, pois as portas que antes estavam destruídas agora estavam intactas, como se nunca tivessem sido arrombadas, mesmo assim ainda entrou, talvez achasse alguma resposta.

Por um instante, ela ficou sem ar, o salão estava novo em folha novamente, mas não era isso que chamava sua atenção, e sim a grande mesa farta de comida a sua frente. Comida de todos os tipos, com refeições completas e sobremesas exóticas. Era muita coincidência mesmo. Como Yeilan havia previsto, o salão era mesmo muito bonito, ela finalmente pode ver os entalhes nos gessos que não estavam mais quebrados, pessoas felizes, se empanturrando de comida, as cortinas não estavam mais rasgadas, sua cor avermelhada entrava em contraste com o tom de cor das paredes. No grande buraco no gesso que faltava antes, havia uma pessoa sentada, entalhada no gesso puro, aparentemente, era o anfitrião do jantar. Nas paredes laterais estavam as pessoas, olhando bem, era como se todos estivessem abaixo deste anfitrião. Ele apenas estava sentado, sua estrutura era esquelética, como se passasse fome e seu prato não havia nada. Era muito contrário com o resto, mas chamava bastante atenção.

Ao chegar perto da mesa, ela teve que lembrar de respirar, era obvio que era uma ilusão, ainda assim, o cheiro da comida era tão real. Yeilan sacodiu a cabeça, tinha que focar seus pensamentos. Quem tinha feito isso? Olhou para a porta de entrada, ela se fechara de novo. Chegou perto para conferir, como pensava, estava trancada. Tudo aquilo não era real, as comidas também não eram reais, era uma ilusão para mantê-la presa, obviamente a comida era o perigo eminente.

Pelo menos era isso o que queria acreditar.

Sua fome era tanta que ela chegou a ficar tonta. Era muito conveniente sua fome aumentar de repente, tinha alguma coisa de errado ali. Yeilan sempre sofreu muitas opressões, não era uma fominha qualquer que a mataria. Mesmo com esses pensamentos em mente, suas mãos apertavam sua barriga, como um reflexo incondicionado, e pegou-se imaginando como seria colocar toda aquela comida na boca.

Apesar do aperto, sua mente ainda podia pensar, os entalhes no gesso na parede não eram apenas enfeite, foram feitos para provocar a fome – quem não sentiria fome ao ver toda aquela gente feliz comendo que nem porcos? – as cortinas, o tom das paredes e até as estatuas, tudo estava ali para tentar a fome, era uma armadilha perigosa.

Ouviu a porta bater com força, ela correu para verificar, estava trancada. Com certeza era magia, mesmo que chutasse ou quebrasse a porta não iria adiantar, conhecia feitiços assim, eram feitos especialmente para enlouquecer a vítima.

O salão não tinha outra saída, era uma perfeita sala trancada, sentia-se um passarinho em uma gaiola – não, mais uma lebre que foi capturada pelo caçador – escorregou pela porta e sentou-se não chão. Teria que esperar, para ver o que acontece.

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Kurogane seguindo as instruções do caderno preto que achara anteriormente, percorrera os caminhos mais secretos do castelo. Lugares que estavam escritos detalhadamente, incluindo sua localização, suas armadilhas e maneiras de abri-la. Ele tinha que admitir, mesmo com o caderno, era difícil encontrar, estavam mesmo bem escondidas. Encontrou passagens por trás de quadros – muito apertadas pro gosto dele – estatuas com alavancas e paredes que giravam. Estava perdendo a paciência, percebeu que não adiantava conhecer as passagens secretas se não sabia onde estavam seus companheiros. Isto até sentir uma presença.

Na verdade, foram duas presenças, uma delas não conhecida, meio sombria, a outra ele conhecia muito bem e se espantou por estar tão fraca, quanto ele avançava pelos corredores, mais a presença negra ficava forte. Sentindo os dois ao mesmo tempo, a imagem de uma serpente comendo um rato lhe veio à mente. Aquele cara estava em perigo, mesmo sendo tão forte?

Ele chegou em uma janela ampla com vidraças quebradas, que permitia a luz da lua entrar, estava em um corredor cheio de quartos abandonados e destruídos, mas ao final era um caminho sem saída. Achou estranho, apesar de estar no fim do corredor e os quartos estarem vazios, aquele ponto era onde a presença estava mais forte. Kurogane analisou as bordas da janela e a parede a sua frente.

_Então é isso.

Ele sacou sua espada e com um único movimento de braço, cortou a madeira da parede a sua frente, no mesmo instante, a imagem tremeluziu e apareceu a porta de um quarto. Ilusões eram sempre tão obvias. Quando entrou ficou impressionado com a cena que estava assistindo, ficou na dúvida se era uma ilusão também.

Fay estava em uma cama grande, deitado como se estivesse dormindo. Seu corpo estava enrolado por ramos de espinhos, que pareciam apertar cada vez mais, fazendo com que seu sangue escorresse para a colcha da cama, ele também pode ver um brilho no escuro, eram agulhas longas e finas que estavam fincadas em seu corpo. Kurogane chegou perto para ver o estado do amigo, uma agulha estava perfurada em seu olho, escorria muito sangue.

Sentiu uma irritação muito grande, quem poderia ter feito uma coisa dessas? E também, como ele pode deixar-se cair numa armadilha dessas?

Colocou a mão sobre a espada para cortar os ramos de espinhos de Fay, mas viu a movimentação atrás de si, ele girou a espada e cortou as raízes de espinhos que o atacou. As paredes do quarto estavam cercadas de espinhos, eles cobriam cada recanto do quarto, ficava até difícil de andar. Os ramos de espinhos aproximavam-se dele, tentando lhe agarrar, moviam-se como se fossem enguias.

_Eu acho bom você mostrar logo sua cara – disse Kurogane – eu já estou muito irritado.

Agulhas voaram pelo quarto, ele defendeu algumas, mas uma pequena raiz enrolou-se em seu tornozelo, desequilibrando-o, e uma das agulhas atingiu sua panturrilha.

No mesmo instante, uma mulher de cabelos longos e escuros apareceu em sua frente. Ela trajava uma roupa de sacerdotisa, mas estava toda rasgada e ensanguentada. Kurogane vacilou por um instante.

_Filho!

Na mesma hora, uma onda de lembranças o invadiu. A morte de seu pai, o braço dele que havia sido arrancado, sua mãe sendo morta. A imagem dele mesmo em um estado demoníaco matando o monstro que assassinara seu clã. As piores lembranças de sua vida, que a muito tempo ele tentava apagar.

A imagem de sua mãe olhava pare ele com uma expressão triste, ele sabia o porquê daquela tristeza. Na noite em que seu pai saiu para lutar, ela ficou orando aos deuses, usando seu poder de sacerdotisa para proteger a todos do clã, mas ela falhou, seu marido morreu e seu filho ficou sozinho no mundo.

Um som estranho saiu de traz da imagem, o ar se cortou e uma fenda se abriu, como um portal para outro mundo. Uma espada atravessou o corpo de sua mãe e a imagem desapareceu.

Kurogane estava perplexo, o que foi aquilo? Uma miragem? Aquilo fazia parte da alucinação? O pensamento de que aquilo poderia ser uma memória passou por sua mente, mas ele não quis se torturar mais. Ele não sabia o que aconteceu com sua mãe ou como ela morreu, só a encontrou morta. Não queria que aquela visão oferecesse ideias tolas em sua cabeça. Ele balançou a cabeça e concentrou-se em achar o responsável.

_Você brinca desse jeito com os outros achando que eles são seus brinquedos? – grunhiu Kurogane. – Não me enche!

Outra imagem apareceu, dessa vez era seu pai, o corpo dele estava todo ensanguentado, e um braço estava faltando. Era seu pai, mas ao mesmo tempo, não era seu pai. Apenas uma criatura andava e gemia em direção a Kurogane. Por um instante ele ficou em choque, mas logo sacou a espada.

_Eu não vou cair nessa! – e assim, ele cortou a imagem ao meio.

Mesmo sento uma ilusão, era como se Kurogane realmente tivesse cortado alguma coisa, pois ele sentiu o impacto do golpe na espada. Logo a imagem desapareceu.

_Não! Como? – era uma voz feminina, ecoando pelo cômodo – Porque você...era uma memória sua, não era?

Como ele imaginou, aquelas ilusões não eram meras criações, eram suas piores memorias, seu medo se confirmou. Kurogane cortou todos os ramos amarrados de Fay e retirando as agulhas, menos a do olho, que parecia o ferimento mais sério.

_Eu já superei meu passado a muito tempo!

Fay não demorou muito para acordar, ele ergueu seu corpo meio tonto e grogue, quando olhou para Kurogane ao seu lado empunhando sua espada, logo se deu conta da situação. Levou a mão até o olho ferido, mas que estrago tinham feito. Em um puxão ele arrancou a agulha, sentiu mais sangue escorrer do ferimento, levantou-se da cama com dificuldade e postou-se ao lado do guerreiro negro.

_Agora, eu realmente fiquei irritado!

Um sorriso muito discreto surgiu no rosto de Kurogane, nunca tinha visto aquela expressão de raiva e ódio em Fay. O mago era sempre muito extrovertido, usando sempre uma máscara atrás de seu sorriso, era a primeira vez que ele deixara a máscara cair. Não se preocupou em ajuda-lo e guardou sua espada de volta na bainha, ele daria conta de tudo.

_Você mexeu no que não devia – disse Fay – não vou te perdoar!

Ao redor de Fay, um grande círculo de encantamentos cresceu e começou a pegar fogo. Era magia da mesma origem da anterior, porém muito mais poderosa. As magias de Fay eram encantamentos poderosos, quanto mais ele usufruía de sua magia, mais forte ela ficava, ele só não sabia se isso era um dom ou uma maldição.

As raízes e ramos de espinhos começaram a pegar fogo, espalhando-se por todo o quarto, Fay deu um pequeno assovio, um som alto e agudo que apenas o inimigo poderia ouvir, em sua frente apareceu uma mulher com as mãos tapando o ouvido.

_Quem...quem é você?

_Eu? Apenas um feiticeiro! – ele sorriu por um instante, mas logo sua expressão afiou-se.

Ele caminhou em direção a mulher, ela afastou-se arrastando, mas estava cercada pelo fogo. Ergueu uma das mãos em direção a Fay e uma raiz em chama veio em sua direção. Com o mesmo gesto, bastou Fay erguer a mão para parar a raiz.

_Você não é a única que sabe essa magia.

A mulher estava surpresa, Fay logo a reconheceu. Sua pele, assim como os espinhos, tinha um tom meio esverdeado, de alguns lugares de seu corpo nasciam algumas folhas e rosas, como seu cabelo e suas vestes. Ela estava presa em uma maldição.

_Você é aquela mulher do retrato, a antiga moradora desse castelo – disse Fay – e aquele quarto ao lado é o seu, não é?

Ela consentiu com a cabeça.

_Eu morava aqui a muito tempo atrás, acho que faz séculos, e quando você vive tanto tempo assim, esquece das coisas mais importantes, esqueci até meu próprio nome. Eu não lembro muito da minha vida aqui neste lugar, apenas... – ela encolheu um pouco - a noite da invasão é a única que eu lembro. Este castelo foi tomado, eles mataram muita gente, o rei e a rainha, seus filhos e até os empregados. Aquele homem, ele me matou.

Fay permaneceu em silencio, maldiçoes eram coisas poderosas, quando impostas, era difícil sair de uma. Ele tinha a sua própria até hoje. Ficou com pena da mulher, condenada pela eternidade a ficar naquela forma.

Distraído em pensamentos, a mulher aproveitou a chance para avançar sobre Fay e o derrubou no chão, tentando fura-lo novamente. Fay não sabia só magia, era muito bom em artes marciais, ele empurrou a mulher com os pés e jogou-a por cima de seu corpo. Antes que ela atacasse novamente, Fay sobrou a palma de sua mão e no mesmo instante, a mulher caiu desmaiada no chão.

O quarto estava em chamas, era perigoso ficar ali, mas para não causar mais danos, com um único e longo sopro, Fay apagou o fogo.

_O que você fez com ela? – perguntou Kurogane.

_Isso? Apenas uma magia de defesa. Qualquer feitiço que é lançado sobre mim, eu posso devolve-lo, não cancela-lo. – ele olhou para ela – não podemos fazer nada por ela.

_Você não pode quebrar a maldição?

_Não, ela é muito forte, e eu tenho certeza que Fey Wang está metido nisso.

Fay pegou a mulher nos braços e caminhou-se para outro cômodo, onde tivesse alguma cama velha, ele percebeu o truque de ilusão que tinha caído. No momento em que viu aquelas escadas no final do corredor anteriormente, na verdade estava entrando em um dos quartos, a partir daquele momento, ele estava preso no mundo ilusório.

_Ela mexia com as memorias das pessoas, examinava sua mente e fazia com que as piores lembranças aparecessem como fantasmas para atormentar – ele colocou ela sobre a cama – agora ela está presa no próprio mundo, mas não desejo nenhum mal a ela, ela não deve estar vendo coisas ruins.

Fay fraquejou por um momento, tinha perdido muito sangue, recebeu o auxílio de Kurogane para caminhar. Eles acharam melhor descençar um pouco, então sentaram se em um canto do cômodo.

_Me diz uma coisa, é possível alterar as memorias que ela mostrou?

A ilusão que viu de sua mãe sendo morta no quarto aquele momento atormentava Kurogane.

_É possível sim, mas acho que ela não o fez, pra isso, tinha que ser de uma forma muito indireta. Qualquer mudança obvia que o indivíduo percebesse, a ilusão se quebraria. – Fay riu – Somos pessoas de passados muito ruins, ela não precisaria alterar nada para deixar pior.

Fay falou como se estivesse falando com ele mesmo, mas aquilo também atingiu Kurogane.

Eu já superei meu passado a muito tempo!

É o que ele tinha dito, mas daria de tudo para esquecer os acontecimentos ocorridos naquele dia. Passou noites em claro tendo pesadelos por muito tempo, para superar e continuar em frente foi muita coragem da parte dele.

Para Fay era a mesma coisa, lembrar de seu antigo nome Yuui, era como enfiar uma fava em seu coração. Há muito tempo, ele pegou o nome o irmão Fay e apossou-se dele, era uma forma de sempre carrega-lo consigo, mas aquilo não pagava por seus pecados.

_Bom, vamos achar Sakura! – disse Fay.

_Pode parar – Kurogane forçou Fay a se sentar novamente – Vamos cuidar desses ferimentos primeiro.

_Ora, ora Kuropion está preocupado comigo, que felicidade.

_Cala a boca, ou vou furar seu outro olho.

_Que terrível!

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Sua cabeça estava girando, ela não poderia aguentar muito tempo, era uma tortura, sua própria mente a estava traindo, não poderia confiar nem mesmo em seus próprios pensamentos. Yeilan roía as unhas sem perceber, ela travava uma luta interna com seu corpo e mente.

Era como se algo sussurrasse em seu interior, está tudo bem comer, não é veneno, é apenas comida. Isso apenas piorava a situação. Não se importou quando seu corpo levantou-se e começou a rodear a mesa, observando todas as iguarias ali dispostas, e até mesmo cheirou um gigantesco peru assado. Estava começando a ficar louca, podia ouvir risadas ecoando pelo salão, e o som de talheres e pratos em um maravilhoso banquete, nem parecia que estava sozinha.

Yeilan espalmou suas bochechas para acordar e passou as mãos pelo rosto, recobrando a razão, lembrando-se da urgência de Sakura. Tentou esquecer todo o cheiro da comida a sua volta e concentrar –se em resolver o mistério de como escapar dali. Assim como um magico escapa de sua caixa acorrentada, ela teria que dar um jeito de escapar do salão com a mesma maestria.

Quando virou as costas e deu por si, o salão já não era mais um salão de jantar, a gigantesca mesa cheia de comida desaparecera, o castelo desaparecera, até mesmo aquele mundo. Ela estava de volta em sua antiga vida, onde um dia pode experimentar um pouco de felicidade.

Uma toalha estava estendida no chão, com cestas de piquenique e flores ao redor, Yeilan conhecia muito bem aquele pôr do sol, a grande cerejeira da colina, era a antiga fazenda em que vivia. Ela estava sentada sobre a toalha, usando um pequeno vestido leve florido, seus cabelos também estavam mais curtos.

Um garoto estava a sua frente, o filho do cozinheiro a quem tanto amara. Ele sorria para ela lindamente e seu coração se aquecia por dentro, ainda inquieto. Yeilan finalmente sorriu como antigamente, com a felicidade estampada em seus olhos. Eles encostaram a testa um no outro e fecharam os olhos, apreciando o momento, olharam-se cara a cara, os rostos tão próximos e as testas ainda coladas. Ele disse algo, mas Yeilan não ouviu sua voz. Ela ignorou apenas.

Ele pegou um dos morangos que estavam na cesta, um dos grandes e avermelhados, levou até sua boca, fechou os olhos novamente e mordeu um pedaço. Adocicado e macio, mas trazendo-a de repente de volta para a realidade.

Quando viu por si, estava de volta ao salão de jantar, em frente a grande mesa de comida, sua mão segurava algo, então ela viu um enorme morango vermelho mordido. Em choque, ela deixou a fruta cair no chão, estava preparada para sentir o veneno descer pela garganta, mas nada aconteceu.

Nada, tudo em silencio. A mesa não era uma armadilha? Olhou para todos os lados, esperando espinhos, flechas ou lanças, mas nada, talvez a armadilha fosse deixa-la presa pela eternidade. Antes que pudesse respirar angustiada, não tinha percebido uma grande rachadura na parede de gesso, bem em cima do anfitrião entalhado. Aquilo já estava ali antes?

Ela se aproximou para verificar, de perto, o entalhe era mais feio, parecia mais um esqueleto velho que morreu de fome, quem esculpiria uma coisa dessas? Yeilan aproximou mais o rosto para ver melhor, mas então, uma mão agarrou com força seu colarinho, ela se assustou e jogou-se para traz, rasgando a gola do blusão do quimono. O esqueleto entalhado na parede começou a se mover, como se estivesse se desgrudando do gesso, ele caiu no chão soltando gemidos altos. Yeilan teve certeza, aquilo não era uma escultura, era muito pior do que era no entalhe, sua pele seca e cheia de rugas pegou uma coloração amarela, ele não tinha olhos e seus dedos eram finos e incrivelmente longos. Um monstro.

Por um momento, estava meio desnorteado, mas quando Yeilan bateu em uma das pernas da mesa, no mesmo momento ele virou-se para ela, não a via, mas ouvia sua respiração acelerada. Ele rugiu e arrastando-se pelo chão, ela afastava-se para traz. Não ficaria com medo agora não é? Ele movia-se rápido, seria capaz de andar?

Yeilan levantou e atravessou o salão para o extremo oposto. A criatura podia ouvi-la correr, usou seus braços esqueléticos para se levantar e soltando sons de ossos estralando por todo o corpo, ele se ergueu aos poucos, caminhava cambaleando até Yeilan.

Parecia até cena de filme de terror, era como se pudesse escutar até mesmo uma musiquinha em sua mente que parecia acelerar. O que faria agora? Sabia que as portas estavam trancadas, eram mesmo a única saída?

O terrível esqueleto sem olhos abriu a boca para soltar um grito aterrorizante, em um impulso, mesmo que parecesse meio impossível, ele correu até Yeilan com os braços estendidos. Ela ficou sem o que pensar, como uma estátua, até encostar na parede, correu para a outra lateral do salão, a criatura trombou com a parede e caiu no chão novamente.

Ela não poderia ficar correndo pelos cantos do salão somente fugindo com medo. Tinha que pensar em alguma coisa. Porque estava com medo?

Yeilan fechou os olhos com força, concentração, ela repetia essas palavras em sua mente, mas quando abriu os olhos, seu coração palpitou inquieto, não era de medo, era outra sensação. Ela viu correndo em sua direção o filho do cozinheiro a quem tanto amava, quando ele a abraçou sentiu uma dor pontiaguda e profunda no ombro esquerdo. Seus olhos piscaram e lá estava de volta o cenário de terror, ela caída com o monstro em cima dela, arrancando um pedaço de seu ombro.

Deu um grito estridente e empurrou o corpo ossudo para longe com uma magia de impulso, lançando-o do outro lado do salão. Colocou a mão sobre o ombro tentando estancar a hemorragia, não ficaria ali para sempre como imaginara, morreria por perda de sangue. Cambaleando, ela caminhou apressada até a porta de entrada. Por que estava com medo?

Todas as vozes e sons de talheres pelo salão sessaram, mas lembranças ruins lhe vieram a mente, todos criticando sua posição, “Porque uma mulher assumiria um clã? Ela não é tão intimidadora assim”, onde estava sua felicidade? “Você não precisa de amor, apenas poder, e é o que realmente importa! ” Sua honra, “A reputação dos Lis agora está na sarjeta. ”

_As coisas não eram bem assim.

Sentiu uma raiva profunda, porque estava sentindo medo? Esqueceu-se de quem era? Uma Li, não apenas isso, mas a líder dos Li. Não dava ouvidos a ninguém, era assim que eles eram, onde tinha ido parar seu orgulho? Não era uma mulherzinha que corria a qualquer custo.

_Você não tem o direito de usar o rosto dele. – gritou com raiva.

Yeilan olhou para a grande mesa, todas as comidas ainda estavam ali, olhou bem ao redor, havia alguns pratos a servir e talheres. Ela pegou uma das facas e correu para a porta.

_Vem aqui bicho feio! – gritou ela.

A criatura levantou-se atordoada, mas assim que escutou a voz de Yeilan, voltou sua cabeça de onde vinha sua voz e urrou. Ele correu em sua direção e Yeilan também correu no mesmo sentido, ignorando seu ombro latejar. Quando o monstro abriu a boca para atacar, ela deixou que ele mordesse seu braço esquerdo, e com o direito, enterrou a faca de jantar em sua cabeça, tão fundo o quanto pode, sangue da cor negra espirrou em seu rosto.

Na mesma hora uma imagem piscou em sua cabeça. A imagem de seu homem amado no lugar do monstro, com a faca enterrada em sua cabeça, ignorou esse pensamento e concentrou-se em terminar o serviço. Arrancou a faca e deixou o corpo da criatura escorrer pelo chão, pode ver que ele ainda tinha contorções, aquilo com certeza ia levantar, então usando uma magia de fogo, fez o corpo arder em chamas.

Enquanto sua pele ardia e chamuscava rapidamente, ela podia ouvir os gritos de horror e desespero, o fogo ganhou um tom meio esverdeado. Uma maldição.

Maldiçoes sempre eram complicadas, provavelmente, era uma alma azarada que foi amaldiçoada, destinada a sentir fome pela eternidade, sempre devorando aqueles que comiam da fartura abençoada que ele não podia comer.

_Yeilan, está me ouvindo? Era a voz de Kurogane pelo rádio. – Como você está?

_Estou bem! E vocês?

_Com probleminhas, Fay está ferido, será que poderíamos tentar nos encontrar, acho que esse ferimento precisa urgente de atenção.

_Entendo bem o que quero dizer! – disse Yeilan colocando a mão sobre o ombro para estancar a hemorragia que não parava de sangrar, agora seu braço também estava em uma situação bem feia – podemos nos encontrar usando o sinal do rádio do aparelho.

_Muito bem então!

Quando a ligação foi cortada Yeilan olhou para aquela mesa cheia de comidas, não eram veneno então não tinha problema, ela pensou. Pegou uma das maças verdes que estavam sobre a mesa. Caminhou em direção a saída e deu uma mordida, sentiu um gosto horrível na boca. Olhou para a maça em sua mão que agora estava podre, depois voltou-se para o salão, ele tinha voltado ao estado original de decadência.

_Eu já estou cheia dessas ilusões idiotas! – disse ela limpando a boca – Aposentadoria não parece tão ruim agora.


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Notas finais do capítulo

Estava fazendo uma pequena revisão quando notei - Me desculpem mesmo, mesmo mesmo mesmo, não havia notado que a quase dois capítulos que o Syaoran não aparece e a Sakura então.... e eu demorei tanto para postar, espero que este capitulo não seja muito chato para o pessoal. Acho que ficou meio que na cara qual foi uma de minhas inspirações para produzir o capitulo (risos).

Por favor esperem o próximo capitulo, muito obrigada pela paciência.



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