Marius escreveu naquele Verão de 1832: "É o teu nome Éponine? Por favor, responde.” À autora acabou por chegar uma versão desgastada pelo tempo e por tantas outras coisas, cuja reprodução foi completamente modificada, apagada, acrescentada e reescrevida.

Éponine morre em 1832. Estando apagada do mundo, não está, no entanto, apagada da história, pois, de cada vez uma pessoa tem o imenso desprazer de ler uma obra como Os Miseráveis, a personagem renasce e reinventa – se. Adaptando – se às mais imparciais mentes e também às mais emotivas.

Éponine, a menina que nasceu e morreu em berço de espinhos. A menina cujo nome não era seu e de quem o destino se aproveitou para escrever as sangrentas linhas de uma bela história de morte.

Não se sentia mulher como as outras. Não se alimentando de leite e mel, preferia antes o eloquente fel da vida e o ardiloso caminho dos errantes.

Costumava bater na porta da morte tantas e tantas vezes na sua meninice. Morte, deixai-a entrar de uma vez, porque o seu espírito está farto dos dias e das noites e deseja ardentemente fundir – se com a criança que fora outrora, numa lancinante dança de óbito.

E ali estava ela, linda como nunca antes, ébria de cor, morta em toda a sua graciosidade.

“É o teu nome Éponine? Por favor, responde.” Ela clama o que é seu há tanto tempo.