Num segundo ele estava ali, e no outro ele desapareceu. Já lhe falei o quanto eu odeio quando ele faz isso?

Continuei parada por um tempo, olhando para nada em especial. Eu só sabia de duas coisas:

(1) A primeira vez que eu vi Petrus, ele tinha realmente aquele instinto protetor de irmão. Realmente se preocupava comigo. Mas dessa vez, ele parecia impassível. Como se estivesse ali só para me dar a ordem de deixar Erick e fim. Alguma coisa estava errada.

(2) A resposta não seria fácil conseguir. E talvez estivesse em algum detalhe que Petrus omitiu. E para isso eu precisaria da ajuda de Any.

Eu a olhei. Agora ela estava em pé me observando milimetricamente, como se eu fosse um Extraterrestre que poderia atacá-la a qualquer momento. Me permiti soltar um breve suspiro e dizer.

–Eu não mordo.

Minha voz ecoou no vazio da biblioteca abandonada. Fazendo –se fosse possível- ela parecer ainda mais assustadora.

–Ainda não sei bem o que você fez com Erick, então não estou certa se você morde ou não.

–Eu não mordo, eu te juro. E também não fiz nada de mais com Erick, talvez se você me deixasse explicar...

–Você acabou com a minha vida. Não vou me arriscar em nada que diz respeito a ti. – Ela falou enquanto se dirigia á escada.

Essa frase acabou comigo. Eu quis me encolher e chorar para sempre. Mas eu não podia desistir, Podia?

–Espere. –Gritei enquanto descia apressadamente a escada.

–O que você quer de mim? O que mais você pode tirar, e me arrasar completa e absolutamente? – Ela gritou enquanto corria em direção á saída.

–Eu só... Não quero estar sozinha. Sabe o que eu era antes de Erick me ver? Nada. Eu sempre estive sozinha. Nunca conversei nem tive um amigo. Eu só quero isso. – Falei enquanto lágrimas escorriam livres sobre o meu rosto.

Ela parou na porta. Ainda sem olhar para mim, encarando a rua. Onde agora o sol começava a surgir.

–Tem um lugar legal onde poderíamos conversar sem ninguém lhe olhar estranho por falar sozinha. Talvez você pudesse levar o seu caderno de desenho, a vista é muito bela. – Falei.

Ela assentiu levemente.

–Podemos nos encontrar amanhã? Tenho aula de violão daqui a 5 horas, e provavelmente minha mãe está preocupada. – Ela falou se virando para mim.

Seus olhos estavam vermelhos pelo choro e seus curtos cabelos negros estavam despenteados. Ela usava um short com tachas e uma blusa branca com palavras grandes e pretas escritas “Pense, ainda não é proibido”.

–Claro. Eu passo na sua casa mais tarde.

–E, hum, Não deixe minha mãe ver você, okay?

Eu assenti envergonhada.

–Me desculpe por isso. Eu não queria...

–Não importa. Não se pode voltar atrás. E tente ficar longe de Erick por um tempo.

Antes de obter uma resposta, Any saiu correndo pela rua até a sua casa.