Devasta-me (Hiatus) escrita por Mel Virgílio


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Não demorei tanto assim dessa vez, não é? :D
É que estou ficando mais animada, acho que a história vai finalmente começar a se movimentar.
Aqui vai o capítulo.
(Quando verem o * no final de alguma frase, vão para as notas finais por que é algum OBS, ok? Depois de terminar de ler o capítulo, ou antes mesmo)



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Leiam as notas iniciais.

Abro meus olhos e, por uma fresta de luz, consigo enxergar uma prateleira enorme com vários objetos, quebrados e inteiros, roupas e pedaços de ferro amontoados.

Praticamente enxergo o resto do cômodo com tão pouca luz, por que ele é terrivelmente pequeno.

Quase me sinto claustrofóbica.

Percebo que estou numa cama. De madeira, com colchão.

Um frio percorre minha espinha só de pensar que posso estar novamente no Edifício, trancafiada num sótão, desta vez, por ter fugido.

Sento no colchão e vejo que a luz vem de uma janela. Aquele tipo de modelo de ferro, com grades decoradas, que existia na minha casa nas casas, antes.

Está emperrada, quando tento abri-la, por isso olho pela pequena abertura.

Não há cimento, tropas, ou nada que indique a rua do Edifício.

Além do mais, estou no térreo, e não embaixo da terra.

Do outro lado da janela, vejo mato morto e pedaços de madeira, das antigas árvores, e um pouco de entulho.

Percebo, também, que estou dolorida. Provavelmente minha descida não foi muito bem calculada.

Respiro fundo e, assim que meus pés tocam o chão, para me levantar, uma porta se abre e me encolho com a claridade que vem do outro lado.

– Ora, ora. Pensamos que não iria acordar tão cedo. – Diz a pessoa.

Me enrijeço, pois conheço essa voz.

E eu odeio o dono dela.

Levanto os olhos e encaro o homem apoiado na porta, me olhando.

Minha garganta está seca demais para que eu fale qualquer coisa. Mas ele sabe.

– Lembra de mim? Dave? – Ele ergue as sobrancelhas.

Claro que lembro, quero dizer a ele, continua igualzinho: feio, irritante e repugnante.*

Em vez disso, apoio as mãos na cama e pisco.

Dave revira os olhos.

Outra figura vem por trás dele.

E é aí que eu realmente me assusto.

Ele está mais velho, cabelos um pouco grisalhos, perdeu o porte físico, está com um pouco de barriga.

Rio só de pensar em falar isso para ele.

Carl permanece com o mesmo olhar de quando os deixei, autoritário e paternal.

Senti saudades dele.

Mas agora sei onde estou.

Minhas lembranças vem com tudo...


Foi um pouco depois de sair de casa. Estava procurando abrigo entre as casas abandonadas e acabei dormindo encostada numa antiga lata de lixo.

Quando acordei, duas sombras (que mais pra frente descobri ser Carl – um homem negro, de mais ou menos 40 anos - e uma senhora – cabelos castanhos desgastados, com olhos fundos) me olhavam.

Perguntaram o que eu fazia ali, e eu simplesmente disse que estava perdida. Perguntaram se eu tinha alguém, família.

Respondi que não.

Se entreolharam e decidiram me levar com eles.

Fomos conversando, o caminho todo.

Perguntaram meu nome, de onde eu era (pergunta que eu evitei), e também perguntei a eles, de onde eram.

Disseram que eu iria ver logo.

Passamos por ruas proibidas, bairros abandonados e locais esquecidos, a senhora ia à minha frente e Carl ao meu lado.

Entramos em uma casinha aos trancos e barrancos, descemos ao sótão e, quando fechamos a portinha por onde descemos, pensei que tudo fosse vir abaixo, pelo jeito que a casa tremeu.

– Não se preocupe, passamos por aqui sempre. – Carl me tranqüilizou – Nada vai sair do lugar.

Do sótão, partimos por um túnel.

O caminho por ele foi tão escuro que dei a mão para a senhora, e me encolhi ao seu lado.

– Você vai se acostumar a passar por aqui. – Disse ela – Vai passar todo esse caminho sem nem mesmo pensar para onde vai. Ah, e me chame de May.

No final do túnel, havia uma porta. E eu só consegui enxergá-la (segundos antes de dar de cara com ela) por que percebi a luz que surgia por baixo da mesma.

– Chegamos – Disse Carl.

Ele abriu a porta, e então eu vi.

Uma comunidade.

Umas duas quadras de esporte das escolas talvez... Mas não tinha como ter certeza. Havia casas – ou barracos, eram meio termos – envolvendo tudo, como uma proteção. No centro, era onde tudo acontecia.

Havia mulheres lavando roupas em bacias com água, alguns homens conversando e construindo coisas.

Também um grupo de crianças, num canto mais distante, sentadas, olhando para um garoto – mais velho – que lhes contava algo.

Algumas crianças começaram a olhar para mim e cochichar, o garoto se virou.

Olhos cinza. Foi a primeira coisa que notei em seu rosto. O cabelo preto fazia o contraste perfeito com a pele clara e a face calma. Acenou com a cabeça para Carl e voltou-se para as crianças.

Ele tocou meu ombro e olhei para os lados.

Pensava que aquilo fosse subterrâneo, por causa do túnel, mas o Sol brilhava esplendidamente naquele ponto, como se nunca tivesse ficado velho ou cansado. Não havia nuvens, e o céu era cinza azulado, como sempre. Mas não importava, existia um Sol ali, e eu estava feliz em vê-lo brilhar novamente.

Olhei maravilhada tudo aquilo. Pensei que só houvesse aquela população das ruas: solitárias, coitadas, vivendo por viver.

Aqui não, aqui há pessoas vivendo por um propósito. Que acreditam que, talvez, possa haver um futuro nesse mundo terrível de hoje.

– Teremos que te encaixar em algum lugar – Disse Carl.

Desgrudei, devagar, os olhos daquele sonho, e olhei para eles.

– Ela pode ficar comigo, por enquanto. Tenho uma cama sobrando. – Ofereceu May.

Perguntaram se eu aceitaria, pelo menos por hora.

Respondi de uma forma tão feliz que nunca havia imaginado ser capaz de me sentir assim novamente:

– Com certeza!


– Você está diferente – Fala Carl, com os braços cruzados, me tirando das lembranças – Mais alta, ahn... Cansada? – Limpou a garganta – Me dói dizer isso... Está mais madura.

Sorrio para ele.

Levanto e corro ao seu abraço.

– Senti saudades – Disse, com a voz quase inaudível de tão rouca.

– Nós também. – Me segurou pelos ombros – não deveria ter partido.

Pisquei rápido.

– Eu nã... – Começei, quando uma terceira pessoa chegou no quarto.

Dave deu espaço á ela e saiu, finalmente.

A mesma senhora que me ajudou a fugir do Edifício, está agora na minha frente. E, agora, eu sei de onde a reconheço...

– May... – Murmuro.

– Olá, querida – Ela sorriu, calorosa. – Talvez queira um pouco de água.

Me sento na cama, e estico as mãos para o copo na bandeja, que ela trouxe consigo.

Bebo tudo em um só gole e me sinto mais desperta.

Minha barriga ronca tão forte que dói. Quase me esqueço que ainda estou com fome.

– Bem na hora. O almoço está pronto. – Carl me oferece a mão. – Vamos.

Aceito e vou com eles, me reencontrar com minha segunda casa.


Há mais crianças.

Elas estão correndo e brincando como se nada estivesse acontecendo lá fora.

Algumas param para me olhar e depois voltam-se para os amigos.

Os adultos também me olham. A maioria lembra de mim, mas hesita em vir ao meu encontro.

Carl me guia com a mão em meu ombro.

É claro que eu me lembro de onde fica o refeitório, mas agradeço sua companhia.

May caminha ao meu lado contando como conseguiu entrar no Edifício.

– Todos estavam tão ocupados com outros fugitivos que saíram correndo e deixaram tudo aberto. Nem me viram.

– Soube sobre o que eles estavam tão preocupados? – Perguntei.

Passamos por detrás das casas, e chegamos ao refeitório.

Era um espaço grande, com mesas e bancos de madeira, o teto era uma lona velha e gasta.

– Eu ouvi rumores. – Sussurrou Carl – Uma garota e um guarda fugiram. Warner está uma fera.

– Há guardas por todos os cantos do setor – comenta May.

– Ela deve ser importante – murmuro.

Pouco antes de pisarmos dentro do local, o cheiro de comida já domina o espaço. Meu estômago responde na hora.

Tinha esquecido que aqui eles tem comida de verdade, como no Edifício.

– Ela deve ser especial. – Carl senta-se na mesa, e eu sento na sua frente. May diz que vai buscar algo para comermos e sai de perto. – Digo, deve ter um alto valor.

Ele se debruça sobre a mesa, chegando mais perto.

– Você conheceu alguém, quando estava lá? Alguém que pudesse ser essa aí?

Recapitulo minha estadia no Edifício:

Cama. Banho. Comida. Guardas...

Garota.

Juliette

– Hã, talvez. Ela era estranha.

– Como assim? – Questionou.

– Ela meio que quebrou uma parede de concreto, sabe. – Dei de ombros como se fosse algo normal de se ver. Uma menina que quebra concreto com as próprias mãos. Nada demais.

Ele não pareceu surpreso.

– Isso seria de grande valor para Warner – refletiu.

Seria – Respondo na minha mente.

Vejo May voltando com uma bandeja nas mãos, um garoto, ao seu lado, trás outra.

Fecho meu rosto. Paro meus pensamentos. Todo o resto some.

Por que não é qualquer garoto, é ele.

Drake.

Leiam as notas finais.


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Notas finais do capítulo

Agradeço se mandarem Reviews comentando sobre o que acharam :D
Espero que tenham gostado.
(Não se esqueçam de me enviar criatividade, haha)

OBS:
* "Claro que lembro, quero dizer a ele, continua igualzinho: feio, irritante e repugnante."
Acho que eu não vou falar muito sobre o Dave, no passado. Ele era um menino chato que ficava irritando a Sarah sempre, não é tão importante para que eu tenha que falar mais sobre ele na história, agora. Apenas lembrem-se dele, por que vai aparecer mais para frente.



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