Devasta-me (Hiatus) escrita por Mel Virgílio


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste! :D



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Quando acordo, a primeira coisa que noto é o lugar onde estou. Um quarto.    

Estou numa cama grande e com cobertores macios e quentes, um armário a minha frente. Olho para o teto e vejo luminárias bonitas e deslumbrantes.

Penso como alguém pode ter tudo isso enquanto vivemos todos numa sociedade pobre e temente.

Á minha direita tem uma janela, de lá posso ver o céu claro que indica que está de dia, no momento. As paredes são claras e quero ver se o chão é feito de madeira, assim como nos antigos programas de reforma das casas.

Olho para mim mesmo por um instante.

Minha blusa branca – antes branca agora coberta de suor, poeira e terra. – tem um rasgo na lateral, quase dois centímetros. Pergunto-me se fui eu que o fiz ou fizeram em mim. Olho pelo pequeno buraco, mas não vejo marca alguma, nem de arranhão, agulha nem nada.

Tudo bem, então.

Ergo minhas mãos que tremem de fraqueza, estão sujas e vejo dois ou três arranhões pelos meus braços. Penso que os homens que me trouxeram para cá nem se importaram de me colocar numa cama um pouco menos bonita para que eu não a sujasse toda - falando nisso, onde eles estão? Queria que alguém me mostrasse o lugar, deve ser magnífico. Eu preciso saber onde eu estou, depois, preciso sair daqui.

Continuo deitada por mais alguns minutos, olhando o quarto. O comprimido ainda exerce poderes sobre meu corpo, sinto meus ossos pesados como chumbo, não querendo deixar o confortável colchão.

Deve ser de penas. O colchão, quero dizer. Já ouvi falar em colchões com enchimento de penas, plumas e até mesmo pétalas de flores; deve ser tão extraordinário dormir em um colchão de pétalas de flores...

Enquanto continuo a imaginar ouço um clique e a porta se abre, faço força para ficar sentada, mas meu corpo está inerte pelo choque de o homem que entra estar portando uma arma enorme. Além de outra, pequena, pendurada no seu cinto. Há outros objetos consigo, mas não os identifico.

- Levante-se. – Ele diz, firme.

Faço toda a força possível e começo a me mover alguns centímetros para cima, mais um mais um e, enfim, mais uns cinco. Até que fico sentada, ereta. Giro as pernas para fora da cama e meus pés descalços tocam o chão gelado.

É de madeira.

Ponho-me de pé e sinto uma tontura, mas me apoio a parede á minha frente para que não caia. Já que o senhor-portador-de-armas está tão parado, olhando para a parede atrás da minha cama, quanto uma estátua esculpida em pedra.

Abro a boca e a fecho novamente. Molho os lábios com a minha língua seca e isso me lembra de que estou com muita muita muita muita sede.

- Ali é o banheiro – Aponta para uma porta á sua esquerda. Vira-se para o meu armário, abre a porta e vejo tecidos coloridos e belos e fascinantes antes dele fechá-lo. – Ponha uma roupa. Você tem uma hora. Viremos buscá-la.

Ele olha pra mim e ergue, quase imperceptivelmente, as sobrancelhas, esperando eu concordar.

Eu queria falar, mas preciso de água.

Balanço a cabeça positivamente e ele saí pela porta, fechando-a com um bip.

O banheiro tem água quente! Ah meu Deus!

Tem muito tempo que não sinto água quente escorrer pelo meu corpo, nem um sabonete massagear-me. Por que faz muito tempo desde que saí de casa, que tinha a água um pouco quente, pelo menos. Mas tudo já não era como antes.

Vejo o vidro do Box ficando embaçado com o vapor quente e isso me faz sentir em casa. Deslizo a mão pelo vidro fazendo desenhos circulares e linhas. Quero ficar aqui, onde tenho um banheiro com água quente, sabonete, um banheiro só pra mim. Uma cama enorme, lindas luminárias e chão de madeira! Não posso ficar aqui. Me raptaram.

Primeiro, vou descobrir por que me arrastaram até aqui.

Segundo, arranjarei um jeito de ir embora.

Lá fora era uma vida de luta pela sobrevivência. Arranjar comida, abrigo, jeitos de se aquecer e de fugir. Aqui estão dando a vida de graça para mim.

Pelo menos por enquanto.

Desligo o chuveiro, abro a porta de correr e puxo a toalha pendurada na parede. Ela é rosa clara, macia. Enxugo-me nela, ponho minhas roupas de baixo – que por sorte troquei antes de fugir do meu esconderijo – e enrolo a toalha em mim. Abro a porta e vejo a beleza do ar frio do quarto se conectando ao ar quente que saí do banheiro; eles se debatem, e então, então juntos. É um só ar novamente.

Dou alguns passos e encaro o prato de comida em cima da cama.

Comida.

Comida!

Não ouvi ninguém entrando nem saindo.

O prato simplesmente apareceu.

Cheio de alimentos comestíveis e prontos para consumo.

Não percebo que estou faminta até dar um, dois passos em direção a cama e o cheiro e o calor que emanam do prato me atacar. Consigo sentir o cheiro á cinco metros de distância.

Meu estômago protesta contra a comida longe dos meus lábios e eu me sento na cama, colocando o prato no colo.

Um montinho de grãos brancos.

Um pedaço de carne escurecida.

Talheres.

Não resisto mais, simplesmente começo a comer e desfrutar e me maravilhar com o gosto daquilo.

Vivi de restos por tanto tempo que isso mais me parece um banquete.

Quando vou dar, o que me parece a terceira garfada, o prato se mostra vazio.

Decepção.

Recomponho-me, deixando o prato de lado, não tão satisfeito como gostaria.

Caminho até o armário.

Abro-o e diversos tecidos pairam a minha frente. De todos os tamanhos, todos os jeitos, todas as cores. Acho que nunca tive tantas opções de roupas para escolher.

Puxo peça seguida de peça. Há vestidos curtos e compridos. Calças de tecidos diferentes. Blusas de manga comprida e sem manga alguma.

Estou perdida com tantas roupas.

Embora não deva, admito que tudo é maravilhoso muito bonito.

O homem que estava no quarto me deu uma hora, mas não faço idéia de quanto tempo se passou. Então tenho de me apressar para escolher uma roupa.

Pego uma calça jeans de lavagem escura e uma blusa de manga curta que provavelmente irá servir.

Vou até o banheiro e penduro as peças de roupa em um gancho de ferro grudado na parede. Desenrolo-me da toalha e pego a calça.

Desabotôo os dois botões, abro o zíper e ponho primeiro a perna direita, depois a perna esquerda dentro dele. Puxo-a, arrumo-a e me mexo para que ela se emoldure ás minhas pernas, até que, finalmente, me sinto confortável. Encontro o botão com meus dedos e os coloco em suas casas.

Tiro a blusa do gancho e a passo pela minha cabeça, coloco um braço depois o outro nos seus lugares e estico o tecido.

Viro de frente para o espelho.

Tenho que admitir que, fora a blusa estar um pouco comprida, o resto serviu muito bem. Logo estou novamente no armário, agachada para procurar um calçado.

Com certeza não vou usar salto, já que não tenho a mínima experiência com isso. Estou acostumada a andar, correr, pular, dormir e tudo mais com tênis durante todos os dias.

Pego uma sapatilha completamente preta e a calço.

E estou completamente surpresa por que ela serve.

Penteio meus cabelos molhados com os dedos e me sento na cama, esperando alguém entrar.

Viro a cabeça na direção da porta quando ouço um bip cortar o silêncio e meu corpo fica rígido.

Um homem – não o mesmo que vi quando acordei – escancara a porta.

Invisivelmente me olha de cima a baixo Ele me manda segui-lo e começa a andar em frente depois que passo pela porta.

Seguimos por um corredor pequeno e ele para e se vira para a esquerda e coloca um cartão numa abertura.

Uma porta se abre.

Ele me manda entrar e vem logo depois de mim.

Aperta um botão e a porta se fecha.

Estamos dentro de quatro paredes de vidro. O teto e o chão também.

Se não fosse o meu reflexo no chão, pensaria que meus pés estavam pairando no ar.

Sinto que estamos nos locomovendo e tudo ao meu redor começa a ir pelos ares.

Dou um passo para trás tentando encontrar apoio em algo sólido. Mal me movo e uma das paredes de vidro gelada bate contra minhas costas.

O espaço é muito pequeno.

Olho para o homem e ele está tão calmo quanto se estivesse parado no meio do corredor, e não num elevador de vidro que poderia se quebrar a qualquer momento.

Começo a me sentir claustrofóbica, e, por um milagre, o elevador para.

A porta se abre e eu saio junto com o homem, sem hesitar.

O sigo por um longo corredor.

Ele abre a última porta do corredor com o cartão e, como todas as outras vezes, me manda entrar.


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Notas finais do capítulo

E aí?



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