Devasta-me (Hiatus) escrita por Mel Virgílio


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Bom, este capítulo - como alguns outros, talvez - está no livro, só muda por quem é narrado.
Espero que goste :)



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Não estou sozinha.

Há pelo menos uns dez homens parados, armas em mãos, prontos para atirar. Olhar fixo no nada.

Guardas.

Soldados.

Estão tão parados que penso se podem ser estátuas, mas percebo que seus peitos sobem e descem conforme respiram e ouço um clique.

Estremeço.

O homem que veio comigo aponta para frente com a cabeça e eu vou, até estar o mais longe possível dos soldados. Encosto-me em uma parede.

Abaixo a cabeça e percorro a sala com o olhar.

O chão, o teto e as paredes são cinza.

Na parede atrás de mim há uma porta – pela qual eu entrei. Na parede á minha frente há um retângulo de vidro que ocupa metade da parede; do outro lado do vidro é possível enxergar outra sala – também cinza. Está completamente vazia.

Suspiro.

Respiro.

Ouço um barulho e ergo a cabeça.

Uma garota entra na sala do outro lado do vidro empurrada por um homem.

Ela está vestida somente com um top e shorts curtos.

Nem imagino o que vão fazer com ela.

Juliette. Ouço o nome ressoar no local, mas não olho em volta para saber quem o disse. Se é que alguém disse, posso estar imaginando coisas.

Ouço outro barulho, desta vez mais perto.

O homem que a empurrou para a sala agora está no mesmo cômodo que eu. Todos os soldados fazem uma leve reverência com a cabeça e o chamam de Senhor.

Ele parece não percebê-los.

Ele me vê.

O homem caminha até mim com um sorriso discreto e o guarda/soldado ao meu lado da um passo para trás.

- Vejo que temos mais uma aqui. – Diz. Seu sorriso aumenta levemente. – Espero que goste do que vai ver. – Olha para a garota do outro lado, eu não sigo seu olhar, e olha para mim novamente e eu só consigo imaginar se também vão me por do outro lado e esperar que eu faça algo.

- Sou Warner – diz o homem – comando tudo por aqui. – Acabo por não ficar surpresa com isso, mas sinto um arrepio quando seu sorriso se desfaz e ele se inclina na minha direção. Sussurra: - Espero que não tenhamos problemas com você.

Seus olhos são frios e eu quero me afastar mas não posso.

Warner dá um passo para trás e seu olhar divertido volta. Se posiciona no centro da sala e se vira para a garota.

Assente com a cabeça.

Olho através do vidro.

Pregos saem das paredes e somem e aparecem novamente. A garota olha para todos os lados, os olhos um pouco arregalados, mas não mostrando medo.

- Você está pronta? – Pergunta uma voz – Warner, reconheço - não para mim. Percebo que as palavras bradam do outro lado do vidro e a pergunta é para a garota.

Juliette ressoa em minha cabeça e automaticamente olho para a garota. E, em algum lugar dentro de mim, tenho quase certeza de que este é o seu nome.

Ela grita algo de volta que eu não ouço, mas Warner com certeza ouviu.

- Tínhamos um acordo, lembra? – Ele pergunta, mas não espera a resposta – Desativei suas câmeras. Agora é sua vez de cumprir sua parte no acordo.

Sinto-me tão perdida e não sei o que estou fazendo aqui, tendo que ouvir uma conversa na qual ninguém se dirige á mim.

- Está bem – diz Warner – Estou enviando outro em meu lugar.

Olho para os rostos de todos os guardas/soldados parados para saber se algum deles pode me dizer o que está acontecendo. Mas todos os olhares estão mortos.

Do outro lado do vidro, uma porta se abre. De lá sai um bebê de fraldas e ele está vendado.

Ele chora e soluça e está com medo.

Os pregos nas paredes voltam a chamar minha atenção já que o bebê está muito perto deles.

Ele anda desgovernadamente pela sala pontiaguda.

Sinto um instinto tão forte tão forte que poderia quebrar o vidro com minhas próprias mãos para salvá-lo.

Contenho-me.

Minhas mãos se fecham em punhos.

Torço para que Juliette se livre do seu estado de choque e o salve.

Ela fica com um olhar medonho e decidido.

Olho para Warner e ele tem o esboço de um sorriso no rosto, quase de satisfação.

Ela se move, desviando de alguns pregos e finalmente o pega.

Eu deveria estar aliviada - pra falar a verdade, eu fiquei nos primeiros segundos – mas a criança começou a gritar.

Arranha a garota, a chuta, tenta se soltar a qualquer custo.

Ainda não entendo nada.

- O que está acontecendo? – Pergunto e fico surpresa ao perceber que é a primeira vez que falo.

Ninguém olha para mim. Esqueceram que estou ali.

Volto a olhar para o bebê e seus gritos de agonia só se aprofundaram.

Minhas mãos estão tremendo e estou praticamente me destruindo por dentro por não poder fazer nada para ajudá-lo.

A garota está a ponto de chorar de raiva e tristeza.

A criança para.

Faz-se silêncio nas duas salas.

A tensão de seu pequeno corpo some e eu fico paralisada.

- Absolutamente incrível – Warner murmura.

Tenho vontade de voar em seu pescoço.

De acertá-lo de todas as maneiras possíveis para que ele sofra.

Meu corpo fica rígido e eu trinco os dentes concentrada em respirar.

Acalme-se digo para mim mesma.

Olho para o outro lado do vidro.

Ela o esta segurando pela fralda, evitando ao máximo tocar nele.

Ele se move.

Eu seguro a respiração.

Os olhos dela brilham.

Ele começa a gritar novamente.

Debate-se e tenta soltar-se dela. Grita e esperneia na esperança de que ela o ponha no chão.

Olho para as paredes e os pregos finalmente sumiram. Juliette olha em volta e para o bebê. Seu braço, o que o segura, está tremendo pelo esforço e ela não vai mais aguentar.

Assim que a criança é colocada no chão, começa a correr, até esbarrar nas pernas da garota – e cair, se encolher e continuar chorando.

Fico vendo-o se contorcer no chão sem conseguir desviar o olhar. Esperava estar chorando, mas não estou.

Estou apenas incrédula com o que acabei de ver. Me parecia tão impossível que alguém, algum dia, teria a insanidade de fazer uma coisas dessas, que não me parece real.

Ouço barulho de estilhaços pesados e então a garota está dentro da sala. Há um buraco na parede.

Suas mãos estão em torno do pescoço de Warner.

Ela o empurra contra a parede.

Penso se deveria agradecer á ela por fazer isso. Mas só então percebo que todos os guardas/soldados estão com as armas apontadas para ela.

Meus olhos estão arregalados e estou preparando meus ouvidos para os disparos.

Encosto-me mais na parede.

- Não ousem atirar nela – Warner diz.

Fico agradecida por isso. Solto a respiração.

- Devia matá-lo – Ela murmura. Sua voz está cheia de ódio e frustração.

Olho do rosto de Warner para o da garota e vice e versa.

- Você... Você acabou... Você acabou de quebrar o concreto usando apenas as mãos. - Warner consegue dizer.

Ela pisca.

Eu me viro para a parede pela qual ela passou e encaro.

Ela literalmente quebrou o concreto com as duas mãos.

Ouço cliques de armas e algumas frases são ditas, mas não presto atenção.

O que é ela?

-

O guarda/soldado me leva de volta para o quarto e eu escuto quando ele fecha a porta.

Vou cambaleante até o banheiro, encosto a porta e apoio as mãos na pia.

Ainda estou tentando assimilar o que eu vi na sala cinza.

Abro a torneira e lavo as mãos, os braços e o rosto e tiro os sapatos, deixando-os do lado da pia.

Olho para a cama e penso que finalmente vou ter um lugar decente para dormir. Minha última cama foi basicamente o chão.

Deito-me – de calça e blusa mesmo – e sinto a maciez do lençol com as minhas mãos.

Sinto que posso cair no sono tão mais rápido do que dormindo no cimento, dolorida e com roupas sujas.

Minha mente está tão contraditória que mal consigo terminar um pensamento lógico sequer. Preciso ir embora, mas lá fora é muito ruim. Pode ser que me torturem como a garota, mas aqui tenho abrigo, comida e higiene.

Poderia tentar ir embora agora, mas estou muito curiosa para saber o porquê de me trazerem para cá. Como eu chamei a atenção deles?

E, no meio de tantas perguntas, eu durmo.


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Notas finais do capítulo

:D



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