Devasta-me (Hiatus) escrita por Mel Virgílio


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que goste. (:



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Estou andando por um corredor escuro, abaixo da terra, não consigo enxergar nada além de um ponto brilhante tão distante de mim quanto um pouco de ar puro.

Não estou andando, estou correndo. Correndo daqueles que querem me pegar e me levar para um lugar melhor.

É o que eles dizem, melhor. Nem imagino o que melhor significa para eles. Talvez seja melhor do que a morte ou melhor do que o mundo de hoje. O mundo.

O mundo se modificou tanto desde a minha infância, que hoje nem o reconheço mais. Perdi a conta de quanto tempo não chovia depois de passados três anos. As nuvens, brancas de outrora, estão sujas, encardidas, cansadas do ar no qual tem de planar.

Os animais, não os vejo há tanto que as vezes não me recordo de suas aparências, cores ou barulhos.

Paro.

Ouço passos atrás de mim e me pergunto para onde devo ir. Posso seguir em frente, voltar atrás ou virar à direita. Hesito e vou para a direita.

Os passos ficam mais distantes, mas ainda são audíveis. Preciso achar uma saída daqui antes que me encontrem.

E se o lugar para onde querem me mandar for realmente bom? Não quero nem pensar em ir para aquele lugar. Não sei o que querem comigo; pode ser que queiram me matar, mas podem querer me dar uma vida melhor.

Estou ficando cansada; respiro apressadamente engolindo o que resta do ar de um subsolo.

Sigo em frente sigo em frente sigo em frente.

Ouço o barulho de algo se quebrando alguns metros atrás de mim e isso é o bastante para eu sair em disparada e correr o máximo que ainda posso. Tropeço, caindo de joelhos no chão irregular e pedregoso e acabo por rasgar uma parte da calça jeans velha que uso.

Os passos estão cada vez mais perto e penso se terei de fazer alguma coisa quando eles me pegarem, tipo lutar. Mas de quantas pessoas é formado o eles? Não darei conta, provavelmente.

Há alguém que vem atrás de mim, isso eu pude perceber desde há muito tempo, mas também há uma pessoa que vem até mim, de outra direção, ouço seus passos me deixando sem rumo.

Estou num longo corredor e novamente vejo raios solares indicando saída vários e vários metros á minha frente; mas, antes que eu pense em correr até lá, vejo uma silhueta negra nascer da luz no fim do túnel.

Conforme a silhueta vem em minha direção ela toma forma: uma cabeça com pouco cabelo, duas pernas cobertas por calças grossas, dois braços – num deles, há uma arma do tamanho do meu braço, suponho -, musculoso.

Paro na metade do caminho e começo a andar para trás de costas, com calma para que ele não pense em atirar ou pular em cima de mim. Ele aperta o passo, eu também o faço.

- Achamos! – Grita uma voz dura, forte. E ela está atrás de mim.

Viro-me a tempo de vê-lo chegando – outro homem igual ao da silhueta – e pegando algo no bolso; por um momento me esqueço de que há alguém atrás de mim também. Tento me virar, de modo que possa olhar os dois ao mesmo tempo, mas o Silhueta prende minhas mãos nas costas e enrijece meus ombros, de modo que não consigo me mexer. O segundo homem achou o que caçava no bolso e, com uma das mãos, segura o meu queixo – firme – para que eu não mexa a única parte do corpo que ainda consigo.

Estou cansada – ofegante e tonta -, por isso não tento desviar o rosto ou chutá-los. Só espero que não me matem. Ou, se forem me torturar ou algo assim, que me matem agora mesmo.

O homem que segura meu queixo põem a mão na minha boca - de primeiro, penso que ele quer que eu fique calada, mas não tenho voz para gritar; então percebo que joga algo para dentro da minha boca entreaberta.

- Engula, ande – Ele murmura. Não sei se devo engolir... O que é isso? Tento sentir o formato com a minha língua; tem a forma de um cilindro. Olho para o homem que segura meu queixo, seus olhos dizem para eu ir rápido, estão com raiva e com pressa.

Ele relaxa quando vê minha garganta fazendo o movimento para engolir. Sim, eu engoli.

Sinto-me diferente. Meu olhar perde o foco, minha cabeça inclina-se para baixo. Estou relaxada.

Sinto meu corpo pesar, meus músculos formigarem e minha respiração acalmar.

E, finalmente, estou na escuridão.


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Notas finais do capítulo

:3