Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 9
VII — Egocentrismo.




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Duas semanas. Havia se passado duas semanas desde que os amigos haviam brigado. Era difícil pros amigos não olharem pra cara do outro, ambos eram muitos orgulhosos, quando seus amigos em comum iam falar com um, o outro ignorava-o pelo resto do dia. Oliver queria falar com Antony, queria se sentir bem ao perceber que ele estava sorrindo por sua causa e que ele pudera se confortar com o simples fato de ter aquela amizade. Enquanto Oliver se sentia vazio por ter pedido à amizade que mais lhe fazia bem, Antony evitava pensar nisso. Ele sabia muito bem que tudo que dissera a seu amigo era mentira, ele realmente estava sentindo sua falta, mas seu ego não permitiria um pedido de desculpas sair de sua boca.

Uma nova semana começava, a escola em que os garotos estudavam pararia os dias letivos durante uma semana inteira. Alice viajaria com os pais para verem os parentes que deixaram na cidade em que moravam. Matth estaria ocupado resolvendo seus problemas com a policia, já fora pego roubando uma calça da Colcci e ficaria a semana toda por conta disso. Oliver agora estava sozinho. Seus pais estavam de férias e tiraram a semana para viajar pra serra gaucha, mesmo que tivesse sido convidado Oliver não iria. Ele estava irritado o suficiente, uma viajem com seus pais pra sua cidade brasileira favorita só estragaria tudo e o faria odiar a cidade.

“Frio e distante. Parece que estou falando de onde moro, mas estou referindo a mim mesmo”, ele havia rabiscado a lápis na parede em que sua cama ficava encostada. Oliver se sentia sozinho. Não queria incomodar os amigos com mensagens de texto, então ele ficava reclamando da vida no twitter e escrevendo frases aleatórias em qualquer lugar que fosse possível de se escrever.

Aquela segunda feira havia amanhecido há algumas horas e ele só sabia encarar o teto de seu quarto enquanto se questionava se a briga com Antony realmente havia acontecido. Vários goles de café já haviam descido pela garganta do garoto, isso o ajudava a se con-vencer que aquilo não era tão ruim quanto parecia ser.


Alguns familiares do garoto moravam na mesma cidade. Ele tinha muitos primos pela tamanha quantidade de irmãos de seus pais, muitos ele não via há anos e outros ele nem lembrava que existiam. Ele tinha tomado coragem para ir à cozinha fazer algo pra comer, mas assim que levantou da cama o interfone tocou. Era Julian, um dos seus primos paternos que ele mantivera uma amizade imensa por anos, mas o tempo fez questão de separá-los. Oliver estava de pijama, mas não se lembrou disso. Quando foi receber seu primo que se deu conta do tamanho do short que ele estava usando. Ele respirava fundo e torcia pra que Julian não reparasse em seus trajes e em sua timidez ao receber um parente enquanto estava sozinho em casa.


— E aí — Oliver se escondia atrás do portão para os vizi-nhos não verem sua roupa e disfarçava o seu nervosismo mordendo a parte interna das bochechas enquanto seu primo entrava pelo portão.

— Cara, eu realmente estou ficando velho. Da ultima vez que te vi você era duas vezes menor do que hoje.

— E você não tinha barba. — Oliver riu pensando se fora idiotice dizer aquilo — Hã, entre. Vamos lá pra cima.


Algum instante havia passado desde que a visita chegara à casa do garoto. Ele carregava em suas costas uma mochila e estava com uma camisa estampada com o logo de uma das bandas favoritas de Oliver. Eles estavam se dando bem, vários assuntos em comum, gosto musical e ambos tinham a expressão vazia na cara que sumia a cada gole de café que tomavam.


Oliver havia esquecido um pouco de tudo aquilo que o infortunava. Ele e seu primo já estavam criando uma intimidade. O garoto estava com um pé atrás, mas sentia que podia confiar em Julian. Ele parecia ser diferente dos demais de sua família, que escutavam “a”, interpretavam “b” e fofocavam “c”.

Já era fim de tarde. O tédio estava possuindo os garotos enquanto se divertiam jogando vídeo game, mas aquilo já não estava os interagindo muito bem. Julian pausou o jogo e olhou seu celular que vibrava em seu bolso. Ele respondeu a mensagem que recebera e olhou quantas horas era.

— Puta merda Oliver. Já é quase 18h, preciso realmente ir. Tenho que achar uma pensão aqui na cidade, já que ficarei o resto da semana na cidade. — Ele colocou o console na estante enquanto calçava o tênis e procurava sua mochila com o olhar.

— Cara, a casa ta vazia. Meus pais voltam apenas no outro domingo, se quiser pode ficar aqui. — Oliver deu de ombros, não seria incomodo algum pra ele e se seus pais descobrissem que seu primo estivesse ficado em uma pensão ao invés de sua casa, o matariam.

— Tem certeza? Vou economizar uma grana grande e poderei comprar alguns livros da faculdade com a economia.

— Fique à vontade.

Os garotos ficaram o resto do dia jogando vídeo game. Pediram uma pizza mista e se mataram de comer. Eles estavam bastante ligados. Oliver colocou um cd que ele havia gravado com músicas que aliviavam a vontade monótona de morrer que ele tinha quase todos os dias. Quando começou a tocar “asleep” ele vibrou.

—Porra, essa música justo agora?

— O que há de errado com ela? — Questionou o primo. — É uma das minhas favoritas.

— Hã? Ah, nada. É que...

— Ela te lembra alguém que não deveria lembrar e mesmo assim tem a capacidade de te confortar e fazer menos vazio.

— É.

O primo mudou de assunto. Ele estava nem um pouco a fim de escutar os problemas e Oliver muito menos dar conselhos.



Os dias estavam passando rápido. Já era metade da semana. Oliver ficava no quarto lendo a maioria do tempo enquanto seu primo ficava estudando para os exames que se aproximavam. Uma hora ou outro havia o ruído de algum dos dois indo atrás de café.



Oliver havia começado um livro novo. Ele havia ganhando de Antony, mas nunca havia tocado nele. Seu “ex amigo” havia escolhido muito bem o livro, ele estava amando a leitura. Ele ignorava o fato do livro ter sido dado por alguém que lhe fizera perder várias noites de sono, afinal, era um livro e ele os amava.

O menino estava intrigado com a leitura. Era um romance, mas nenhum daqueles romances clichês de séculos atrás. Esse livro confortava o garoto. Ele lia freneticamente até que foi interrompido ao sentir seu telefone vibrando em uma noite que começara calma. Era Kyoto, uma de suas melhores amigas. Os dois não se falavam muito, mas sabiam que poderiam contar um com o outro sempre que precisassem. Ela o convidara pra sair. Ela não estava a fim de ficar dentro de casa o recesso inteiro. O menino não pensou duas vezes antes de aceitar. Ele convidou o primo e em menos de quarenta minutos eles já estavam dentro do carro de Julian indo para o local que marcaram de se encontrar.

Sempre que Oliver e seus amigos saiam juntos, escolhiam um lugar escuro, não muito cheio, com comida boa e barata e que tocasse MPB. Todas às vezes eram assim, mas dessa vez Kyoto escolheu para aonde iriam. Between blood and peace, um bar escondido nos becos do centro da cidade que tocava desde o clássico Indie ao popular e discriminado Reggae. Era um lugar apertado, com luzes vermelhas e verdes por todo ambiente que clareavam bastante.

Os meninos tiveram um pouco de dificuldade pra achar a casa, quando conseguiram localizá-la, Kyoto e Tommy haviam chegado e estavam em uma mesa tomando alguma bebida e tendo crises de riso. Oliver caminhou em direção a eles seguida por seu primo e sentaram, mas logo Julian saiu de perto dos garotos. Ele havia avistado um amigo sentado no balcão e foi até ele.

Oliver estava sentindo a falta de Antony, essa era a primeira vez em muito tempo em que ele saia sem sua companhia. Apesar de tamanha culpa de ter sido tão ignorante, o orgulho não deixava que fosse atrás daquilo que estava faltando. Solidão. Isso era o que sentia por ter deixado o orgulho vencer aquela discussão infantil e sem sentido. Apesar de não ter causado tudo aquilo, ele achava que havia dito demais. O garoto já estava ficando depressivo e pensando em várias maneiras de abraçar a morte quando começou a tocar Jake Bugg ele levantou pegando seu copo com alguma bebida gelada que ele pedira ao chegar e puxou Kyoto e Tommy para aonde todos dançavam. Ele deu três goles e acabou com a bebida. Colocou o copo no balcão e começou a dançar com os amigos. Ele se sentia leve. Não lembrava mais de Natalia muito menos de Antony. O garoto seria capaz de voar se lhe fosse permitido. Ele estava determinado a não se preocupar com tudo aquilo que lhe vinha infernizando nos últimos dias. Ele ignorou a presença do seu primo e dançava como se não houvesse um amanhã, mas o primo e seu amigo também foram para pista de dança. Os dois pulavam e berravam a música em uma perfeita sinfonia. Kyoto também estava animada. Ela sempre estava de bom humor e apreciava as músicas que Oliver curtia. Ele já a mostrara a que estava tocando e ela tentava ensinar Tommy a dançar sem parecer uma cadela no cio. A música estava acabando. Eles voltariam pra mesa onde estavam pra beber mais um pouco, mas começou a tocar Janis Joplin. Não era uma música muito dançante, mas era algo que alegrava qualquer um. Tommy foi ao banheiro e antes que Kyoto ficasse sozinha o amigo de Julian aproximou. Um jovem maduro que tinha os dreads presos com lenço e usava uma camiseta com algum símbolo que falava de um estilo de vida liberal, pacifica e harmoniosa. Ele sussurrava em seu ouvido algumas coisas sobre o jeito que seu cabelo femininamente amarrado no alto da cabeça e seu olhar que aparentava serenidade.

Julian havia recebido uma ligação e foi para o banheiro pra poder ouvir. Oliver e Tommy haviam sentado. Oliver bebia outra dose enquanto escutava o amigo falar sobre assuntos monótonos igual a todas as outras vezes que ele ficava bêbado. Oliver parecia insensível perto do amigo, mas ele apenas era franco. Ele agia assim por pensar que um pouco de sinceridade faria com que o amigo amadurecesse. Nunca parecia ser suficiente.

Kyoto estava curtindo a batida do reggae que falava de amor dançando suavemente quase colada com Artur. Fora inevitável. Ele a deixava lisonjeada a todo instante, quando ele tentou beijar-la ela não conseguiu negar. Ela passava sua mão sobre sua nuca e a outra estava na bermuda enquanto ele segurava em sua cintura e sussurrava algumas coisas sobre o quanto aquilo era intenso por ele estar terminando a graduação em economia e ela ainda estar no ensino médio e ela afirmava que isso não tinha nada a ver.

Oliver estava desviando o olhar da pista de dança. Ele se concentrava em sua sexta bebida e tentava não ser muito rude com o amigo. Ele estava com ciúmes de Kyoto, mas nunca que demonstraria ou assumiria. Nem ele mesmo sabia que aquela sensação era ciúmes. Enquanto ele deliciava um dos goles finais Kyoto sumira da pista de dança. Ela e o garoto que conhecera a pouco estavam trancado no banheiro. Ele colocara na bancada da pia e a beijava como fosse a ultima mulher da Terra. E ela, que estava encantada retribuía sem nenhum pudor. A garota estava fora de si. Ela estava pronta pra algo mais intenso e quando percebeu a ereção do garoto a tocou.

— Vamos com calma, não sei se isso é certo — Ele parou de beijá-la e olhava em seus olhos rindo.

— Desculpa, mas pensei que você queria. — Ela olhou pra ereção do rapaz dando de ombros voltando o olhar pra sua boca.

— É, eu quero. Mas não é certo, você tem a mente aberta, tem as mesmas idéias que a minha, curte as mesmas cosias... — Ele suspirou — Mas é menor de idade.

— Sério? Idade é realmente um problema?

— Pra mim não Kyoto. Estou encantado com você, sério. Mais fala isso pra sociedade lá fora. Ou eu saio com fama de pegador e você de puta ou eu com fama de cafajeste pedófilo e você da moça inocente. — Com um rápido beijo ele a calou tentando fazer com-preendeu, mas ela insistiu.

— Meus pais sabem tudo sobre minha vida. Transar com um cara mais velho não foi a pior coisa que eu fiz e nós dois estamos certos dessa situação. — Antes que ela continuasse falando ele a agarrou.

Os beijos estavam cada vez mais intensos e ambos já estavam nus. Em pouco tempo Kyoto já estava com o sexo do garoto na boca e pela sua expressão ele estava adorando. O menino mais uma vez colocou Kyoto sobre a bancada e ela o segurou com as pernas em sua cintura. A ereção de Julian estava cada vez mais forte, ele havia esquecido que a menina era menor de idade. Os beijos deram uma pausa enquanto o garoto introduzia o preservativo. Assim que Julian penetrou em Kyoto ela perdeu controle de si, sentia sua respiração acelerada e a dor que sentia em questões de segundos virou um prazer intenso. Ambos estavam adorando aquela transa, eles sussurravam no ouvido um do outro o quanto aquilo estava prazeroso.

Eles ficaram no banheiro por muito tempo, pararam antes de terminar. Eles perceberam que havia alguém batendo na porta, e antes que acontecesse um escândalo ela se vestiu e se escondeu dentro de uma das cabines do banheiro e ele saiu com a respiração ainda acelerada alegando estar passando mal e que se trancou ali dentro por que não queria que ninguém visse e sentisse o cheiro. Assim que Kyoto percebeu que o banheiro estava vazio ela saiu disfarçadamente indo pra mesa encontrar com os amigos. Julian e Artur não estavam com eles. Já estava ficando tarde, a mãe de Tommy havia estabelecido uma hora pra voltarem e ele estava de carona com Kyoto, ambos precisariam ir logo.

Eles haviam procurado Julian e o amigo pra se despedir, mas não acharam então resolveram ir embora. Oliver os acompanhou até a saída e encontrou com os garotos do lado de fora. Eles fumavam e riam bastante. Eles se encontraram e Artur e Kyoto estavam se despedindo com a língua, deixando os outros três garotos com o cenho franzido de constrangimento.

— Realmente devemos nos encontrar novamente. — Ele deu mais um beijo em Kyoto e foi em direção a Oliver e Tommy, ele sorriu acenando com a cabeça enquanto apertava a mão dos garotos e depois deu um abraço em Julian. — Quando forem repetir isso Julian, não se esqueça de me chamar. Diverti-me bastante.

— Imagino. — Oliver disse encarando a amiga.

Julian e Tommy apenas sorriam enquanto acabavam de se despedir — Julian havia comentado com Oliver que estava com vontade de socar sua cara por tamanha lerdeza, mas que não perderia tempo com um ser tão ingênuo. Oliver confessara que pensava em fazer o mesmo todos os dias na escola —, Oliver abraçou Kyoto sussurrando “safada” em seu ouvido enquanto a abraçava e depois pegou na mão de Tommy. Julian por sua vez deu um beijo em Kyoto e acenou com as sobrancelhas para Tommy tentando tirar o desprezo de sua feição.

Oliver ainda estava sobre efeito das bebidas que tomara e rezava pro seu dom não se manifestar. Isso acontecia todas as vezes que ele estava com um descontrole emocional. O frio havia tomado conta da madrugada e o radio do carro de seu primo estava desligado. Inquieto com aquele sossego ele perguntou ao primo a primeira coisa que lhe veio na cabeça.

— Julian, o Artur não é um canalha comedor de adolescentes e filho da puta, é? — Ele coçou o queixo pensando se usou palavras muitas impróprias.

— Por que a pergunta? — O rapaz que estava dirigindo com serenidade pela orla da praia deu de ombros.

— Porque ele comeu minha melhor amiga.

— Relaxa moleque. Ele tem a cabeça no lugar e não é de agir com imprudência, achei até estranho ele envolver com alguém que não tem 18.

— Que ótimo. Não quero ver amiga nenhuma reclamando na minha cabeça por estar se sentindo idiota.

Julian fez alguma piada sobre o ciúme besta do primo e eles deram uma risada e antes que o silencio tomasse conta do carro novamente ele ligou o radio. Antes que desse conta, já estava entrando na garagem da casa de seus tios.


Era uma manhã de sábado vazia e nula. Oliver rabiscara “Viver já foi uma tarefa mais fácil” em seu pulso e fora pra praia pensar um pouco. Ele ainda se sentia confuso e não conseguia co-preender o verdadeiro motivo de ter brigado com Antony, mais o orgulho era maior e não o permitia ir pedir desculpas. O garoto estava sentado em uma cadeira de madeira se escondendo do sol em um enorme guarda sol verde. Ele estava perdido, mas não queria ir pra lugar nenhum, talvez dormir, mas só o suficiente para duas vidas inteiras ou por um tempo longo o bastante para pular para uma parte da vida em que todas as coisas começariam a dar certo.


O garoto já havia pensando o bastante enquanto olhava as ondas se quebrarem. Ele estava se preparando pra voltar pra casa e se trancar no quarto quando avistara de longe seu ex amigo, Antony. Ele estava acompanhado por Jeffrey e uma das outras amigas da qual Oliver não suportava.

Ele não sentia nada, mas algo estranho dentro dele o infernizava. Algo que nem sabia o que era, mais o orgulho era forte de mais pra assumir: O ciúme.

Os dois haviam passado por muitas coisas juntos. Compartilhavam felicidade, tinham confiança um com outro, guardavam todo tipo de segredo, eram ótimos amigos e tinham sonhos que queriam realizar juntos. Era difícil aceitar isso tudo.

Oliver se deprimiu. Ele conseguiu ir embora sem que Antony o percebesse. Ele estava distraído demais rindo com seus amigos. Única coisa que o garoto conseguia fazer é xingar todo tipo de palavrão no twitter enquanto reclamava da vida para a amiga Alice.

O garoto passou o resto dos dias que não teria aula em casa. A quantidade dos calmantes da mãe do menino havia diminuído em uma proporção bem grande. Ele só sabia os tomar e assim que acordava tomava mais uma dose.


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