Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 10
VIII — Tentar, ficar ou desistir.




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Aquela semana de folga havia acabado. Os pais de Oliver haviam chegado de viajem no fim da noite anterior e não deram sorte de encontrar com Julian. O garoto estava indo pra aula apenas com Matth. Antony estava pegando carona com o pai de Alice já que eles moravam perto. Toda hora o garoto se sentia constrangido por conta dos vexames que seu amigo fazia dentro do metrô.

Aquela manhã na escola estava sendo intrigante. Oliver encarava Kyoto com um sorriso que queria dizer “eu sei o que você aprontou semana passada” e ela o desdenhava franzindo a sobrancelhas “como se você nunca tivesse feito essas coisas”. Tommy estava entre os dois contando alguma mentira que ele inventara pra puxar assunto enquanto Matth falava de moda com as demais patricinhas da sala. Antony por sua vez estava com Jeffrey no canto da sala falando sobre garotas. Não era um assunto que Tony admirava, ele gostava de garotas, não há duvidas disso, mas falar delas é algo estranho pra ele, mas Jeffrey parece um garoto que acabara de entrar na puberdade e tem ereção com qualquer ser que tenha peitos e uma vagina.

A manhã já estava acabando. Muitos professores haviam faltado, pois foram convocados pelo governo pra fazer um curso para melhorar o método de ensino. O grupo de amigo estava sentado no meio da sala falando dos quão ansiosos eles estavam pra entrar na faculdade e o quanto teriam que se dedicar pra aturar a pressão de formar o ensino médio e ainda ser aceito em uma universidade. O assunto estava harmônico, até Kyoto expressar que queria ser fotografa.

— Mas fotografia não vai te dar muito dinheiro no começo Kyo. — Oliver franziu o cenho pensando em algo relacionado a fotografia — Por que não tenta publicidade, propaganda ou algo parecido?

— É verdade. O piso salarial é excelente.

— Ah, eu não sei. É muita coisa pra minha cabeça.

— Você ficará rica bem jovem e quando você, azeitona e eu formos morar juntos... — Antony se calou a olhar Oliver o encarando por chamá-lo com aquele apelido que apenas os íntimos.

Matth que estava deitado no colo de uma de suas amigas logo percebeu o clima que estava se criando ali e fez questão de mudar o assunto. Oliver estava doido pra sair dali, mas queria demonstrar que não se importava mais com a presença da pessoa que ele tinha um amor mal resolvido e uma amizade mal acabada.

A aula estava quase acabando. Todos estavam contando a hora praquela manhã de segunda feira acabar. O sinal bateu, todos já haviam saído da classe, de menos Matth que esperava Oliver juntar seus materiais que ficara sobre a mesa. Assim que saíram ambos escutaram o celular tocar.

“... É incrível quanto estrago pode ser feito quando só se tem boas intenções. Vou acabar com cada um de vocês, otários.” — Os amigos leram juntos em voz alta e em seguida procuravam alguém que estivesse mandando as mensagens. Antony estava há alguns passos à frente e fazia o mesmo.


Algumas horas haviam se passado desde aquela mensagem. Oliver resolvera ficar trancado no quarto e com o celular desligado o dia inteiro, mas não teve sucesso. A preocupação de receber uma má noticia por um de seus amigos o fazia checar o celular a cada cinco minutos. Ele não havia tido noticias o dia todo e isso aumentara toda aquela angustia, pois ele sabia muito bem que quando Unknown avisara de um novo ataque, ele realmente aconteceria.

O garoto estava no quarto trocando mensagens de texto com Alice. Ele não tinha coragem de falar sobre Unknown, então falavam de alguns assuntos distintos, como o namoro dela com Etan. Alice estava feliz e afirmara que nunca sentiu por outro garoto de sua antiga cidade o que ela estava sentindo pelo seu atual namorado. Oliver estava conseguindo se distrair. Com sua gata deitada em seus pés e uma xícara de café recém coado em uma das mãos, ele ficou sem palavras ao ler a mensagem recém chegada.

“Azeitona, acho que sou uma fada.”

Ele se fez de desentendido, mas no fundo sabia o que aquilo podia dizer. A menina explicou porque daquele tamanho “absurdo” e ele teve certeza do que aquilo se tratava e inventou uma desculpa pra poderem se encontrar e assim, ele contaria tudo.

A menina só poderia sair de casa depois de algumas horas, precisava ajudar sua mãe a arrumar a casa. O garoto impaciente foi para o sótão de sua casa mexer nas caixas que ficavam jogadas enchendo de poeira e tomando espaço. Ele não achava muita coisa sem serem fotografias velhas, brinquedos surrados do qual o egoísmo não permitira deixá-los serem doados para caridade e alguns livros de páginas amareladas e capas sem vida. O garoto sabia que aqueles livros estavam ali, uma vez achara e sua mãe o vira folheando algum deles e o proibira de ler afirmando serem livros proibidos a ele, mas dessa vez enquanto coçava o nariz que escorria por tamanha quantidade de poeira ele achou um livro grosso com pequeno detalhe no centro da capa com uma pedra verde. Ele achou aquilo tudo intrigante e antes que alguém chegasse em casa ele o escondeu na blusa e o levou pro quarto. Já estava ficando tarde e ele precisava fazer as tarefas de escola antes de ir encontrar com sua amiga.

O sono estava possuindo Oliver, ele havia acabado de terminar as lições quando recebeu a mensagem da amiga avisando que poderiam se encontrar no antigo deck em alguns minutos, sem muita demora ele pegou seu par de patins e foi o mais rápido que pode pro local marcado. Já era noite, quanto mais ele aproximavam do deck as ondas aumentavam de tamanho e agressividade. A menina não havia chegado e isso deixou o garoto com o rabo entre as pernas. Podia muito bem ser uma armadilha de Unknown pra pega-lo quando estivesse sozinho.

Alguns minutos depois Alice chegou com a respiração rápida pelo tanto que correu se argumentando pelo atraso, ele deu de ombros, afinal, ele estava satisfeito por não ter acontecido nada.

Oliver estava receoso, ele já havia passado pela mesma situação de antes quando contara o mesmo para Antony. Sem pensar muito ele abriu a boca e começou a falar o que lhe veio na cabeça.

— Matth, — ele suspirou — Antony e eu... — Ele pausou lembrando que tinha que fazer ela jurar que não contaria nada. O que não seria difícil. — Antes, jure por sua vida e por seu namoro que não contará o que ouvirá pra ninguém.

— Eu juro. — Ela olhou para os lados e depois acenou com a cabeça afirmando.

— Matth, Antony e eu descobrimos que temos um tipo de dom e pelo o que você me disse pela mensagem, acho que é uma de nós.

— Então vocês também são fadas?

— Alice, nós não somos fadas.

— Mas a gente pode fazer botões floresceram, plantas crescerem e animais nos obedecer. Como não somos fadas? — A voz da menina suava toda vez que afirmava ser uma fada.

— Nós três não podemos fazer isso. — Ele pausou pensando em algo.

— Mas como não?

— Bem, o Matth tem ligação com ar. É incrível, sério. O Tony...

— “Tony”? Desde quando voltou a chamá-lo de Tony?

— Abusada. O Antony pode comandar o fogo e eu a água. — Ele pegou na mão da amiga e a puxou até a ponta do deck. — Veja isso.

O garoto estendeu as mãos perante o mar e se concentrou. Ele pensara em alguma coisa pra dizer e tomar domínio da água. Ele deu um breve suspiro e sussurrou: “Poderosa água que me lava, que e destrói barreiras e me da força. Invoco-lhe, água, que de bom grado tu possa me guiar”. O mar se acalmou e o cheiro do oceano estava mais intenso. Um véu de água se desprendeu do oceano e desafiando a física subiu em direção as mãos do garoto e o qual mostrou controle fazendo aquele fio se tornar uma concentração redonda de água que flutuava entre suas mãos.

— Você é uma fada da água. Que meigo! — Os olhos de Alice brilhavam enquanto Oliver virava os olhos e escondia a vontade de rir.

Oliver, que parecia ter pleno controle do que estava fazendo caminhou até o centro do deck e Alice o seguiu. Ele olhou pros lados confirmando que as luzes da velha ponte de madeira estavam apagadas dificultando a visão de algum curioso. Assim que percebeu que seria difícil ver o que ele estava prestes a se fazer ele levantou as mãos fazendo as ondas voltaram a se agitar e estavam cada vez maiores. Em questões de segundos ele fez com que aquela bola de água se desfragmentasse virando milhares de partículas que os cercavam. Era uma cena linda. As luzes vindas de longe refletiam nas pequenas partículas fazendo-as brilharem harmonicamente.

A menina que estava encantada girava em torno de si observando cada bolinha, toda vez que ela tentara tocar um, Oliver franzia o cenho se concentrando exatamente nela fazendo com que ela mudasse rapidamente de lugar impedindo a amiga de tocá-las.

O menino continuará explicando a ela tudo que sabia sobre aquele dom, convencera a sim mesmo que ela era o quarto elemento que faltava em seu coven; Terra.

***


Matth tinha o costume de ir pra reserva natural de sua cidade se aventurar sob as árvores e fumar um pouco de erva. Ele precisava daquele momento só dele, afinal, em casa ele não tinha privacidade alguma. Dessa vez ele não estava conseguindo relaxar como das demais vezes, o garoto estava com medo de Unknown o pegasse sozinho naquele lugar deserto.

Ele estava sentado debaixo de sua árvore favorita onde ele tinha escrito junto a Paul seus nomes em seu troco. Várias coisas estavam pesando sua mente quando ele ouviu alguns passos sobre as folhas secas no chão. Ele se levantou apreensivo olhando pra todos os lados e não conseguia ver nada, uma neblina havia surgido de repente.

“Eu tinha que morrer justo aqui?” sussurrava o menino tentando parar de tremer e ter um surto de adrenalina pra poder conseguir sair correndo.

O menino voltara a escutar os passos. Estavam cada vez mais perto e mudaram de direção. Matth se virava rapidamente e vira alguém com um sobretudo marrom que estava acabando de tirar as luvas. Ele não conseguia ver o rosto da pessoa, estava escuro e a neblina estava cada vez mais alta. Assustado o garoto se questionou querendo saber quem era.

— Quem é você? — Seus lábios tremiam de pavor.

Ele não teve uma resposta. Ele olhou pro seu celular e rapidamente abriu a agenda procurando o numero de Oliver.

— Você é Unknown? Por que está fazendo isso. — Ele estava dando pequenos passos pra trás preparando pra correr.

O celular do menino havia caído e antes que ele abaixasse pra pegar, ele viu as mãos da pessoa em chamas.

— Antony? É você Tony? Se for pode parar, não tem graça.

As chamas quase dobraram de tamanho quando a pessoa a deixara de cerrar os punhos e erguer alguns centímetros a mão direcionando para Matth. O garoto não conseguira pensar em outra coisa e então tirou do bolso sua Athame invocando sua silfo e em seguida conjurou seu elemento aos berros.

“Que teu aconchego me de forças e que sua transparência me de domínio para batalhar” As folhas das árvores se agitaram, a neblina estava sendo espantada pra longe enquanto o garoto se sentia cada vez mais leve e pronto enfrentar aquele ser que lhe ameaçava com fogo. O silfo voava circularmente entre seu corpo na altura dos ombros fazendo com que o elemento que fora ali invocado se estabilizasse. Cansado daquelas ameaças, Matth estava com a respiração bastante acelerada e não tremia mais. Ele queria terminar com aquilo logo.

— Covarde. Precisa se esconder atrás de toda essa escuridão pra me atingir? — Matth silenciou ao ver com que as chamas queimavam com uma freqüência mais agitada.

Mais uma vez ele não teve resposta. Aquela pessoa começara a dar passos largos desviando de algumas pedras subindo o pequeno morro que distanciavam os dois. Assim que chegou a uma distancia bem curta, abriu as pernas para tomar equilíbrio e conjurou uma pequena quantidade de fogo e a jogou em direção ao garoto. Assim que ele percebera que aquela bola em chamas estava quase o acertando, rapidamente ele puxou todo ar em sua volta para sua frente formando um escudo transparente, feito por ar e bastante seguro. O garoto gemeu enquanto concentrava em manter aquela estrutura que estava afastando aos poucos o fogo pro lado. Aquilo havia funcionado e ele estava confiante que poderia atingir o inimigo.

“minha vez, vadia.” o garoto sussurrou enquanto colocava os braços pra trás abrindo a mão pra concentrar todo ar que lhe fosse permitido. Em cada uma das mãos ele girava uma quantidade de ar. Jogando seu tronco pra trás e rapidamente empurrando as mãos harmonicamente pra frente ele conjurou uma corrente de ar que fora em direção a pessoa que ele enfrentava. O ar estava agitado, Matth estava perdendo o controle quando atingiu aquele alguém o empurrando alguns metros pra trás. Antes que ele/a levantasse, Matth aproveitou a oportunidade e ligou pra Oliver. “Floresta. Árvore. Agora.” Ele não teve tempo de dizer mais nada e logo guardou o celular em seu bolso. O inimigo havia levantado e retribuído o ataque. Agora não fora apenas uma chama a ser lançada e dessa vez estavam mais pesadas e intensas. A única coisa que Matth conseguira fazer pra defender é ter transformado a silfo em Athame novamente e com correntes de ar protegendo a arma e sua mão a rebateram para o alto para não terem o risco de cair na floresta causando um incêndio. Antes que ele recebesse outro ataque ele se aproximou da pessoa que ele combatia e tacou a Athame usando o ar pra impulsionar e atingir em cheio, mas a pessoa usara o fogo pra se defender e a arma voltara a ser um ser Elemental que temia o calor e fora voando rapidamente em direção ao seu mestre que tentava recuperar a força. Ele nunca tinha usado tamanho poder de uma vez só.

***


Oliver corria o mais rápido que podia, sua amiga o seguia sem entender muita coisa e ainda raciocinava as coisas que ele a contara. Eles já haviam chegado a floresta, mas o garoto não lembrava aonde ficava a árvore que o amigo havia lhe levado apenas uma vez.

— Aonde estamos indo Oli? — A menina perguntou tentando recuperar todo fôlego que ela havia gastado pra correr até ali.

— Matth.

— O que tem ele?

— Estamos indo até ele.

A garota se calou e continuou seguindo o amigo. Eles estavam cada vez mais dentro da floresta quando ela ouviu algo e o avisou.

— Oliver. Acho que é por aqui. — Ela mudou a direção. O garoto parou de andar, olhou pra todos os lados procurando algum vestígio do amigo e como não achou, seguiu a amiga.

A menina estava certa. No fim daquele morro se via fogo. Matth estava planando no ar e perto do riacho se via uma sombra correndo. Oliver correu o mais rápido que pode, tentou seguir a pessoa mas era tarde de mais. Matth caiu no chão e o ar em toda volta se acalmou. Sua respiração aumentava assim como o fogo que estava se espalhando pela floresta.

Oliver, apavorado não soube o que fazer. Correu em direção do rio que passava no meio daquela reserva florestal para buscar um pouco de água pra apagar o incêndio que se iniciara, mas ele escorregou e caiu dentro do rio. Algo estranho aconteceu, um feixe de luz ocorreu em toda água e Oliver foi levantado por uma forte fonte de água que o jogou perto das chamas. Com um movimento brusco com os ombros, e assim uma boa quantidade de água veio em sua direção e logo ele as dominou jogando sobre as chamas.

Alice estava acalmando o novo amigo quando Oliver terminou. Estava saindo muita fumaça, logo apareceria um guarda florestal pensando ter algo pegando fogo por conta da fumaça. Oliver montou o amigo em suas costas e com ajuda de Alice eles foram pra casa.

Oliver havia deixado a menina em casa e levou o amigo pra dormir em sua casa. Ele não havia falado nada desde que fora encontrado na floresta. O garoto estava sonolento, o amigo já havia o colocado na cama. O trauma estava passando e ele conseguiu abrir a boca.

— Oliver, eu sei quem é Unknown! — Mas para o azar do menino, seu amigo havia pegado no sono.




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