Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 22
XX — O Véu Começa a Se Desfazer.




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Quando a garota se deu conta do que havia acontecido minutos atrás, criou um grupo no WhatsApp e colocara Antony, Jane, Julian, Matt e Oliver e enviara uma solicitação para se encontrarem no bosque imediatamente.

Mesmo com seus pais passando por momentos difíceis na relação, Alice não podia deixar os amigos na mão.

Por mais que doesse ser utilizada como válvula de escape e ter toda raiva descontada em si, a menina tentava não pensar naquilo e demonstrava pro mundo que estava tudo bem.

Em casa, enquanto levava um tapa verbal da mãe, corria pro banheiro pra vomitar de raiva. Com os amigos, sorria a todo instante e sempre estava disposta a segurar o mundo daqueles com que se preocupava.

Com seu Keds azul, a garota dava passos largos enquanto tentava não perder o folego na longa caminhada até o Bosque no centro da cidade enquanto pensava em como provar pros amigos que fora capaz de despertar sua Wonder.

E então, ela ligara pra Oliver na esperança dele ainda não ter saído de casa.

“Azeitona, já saiu de casa?”

“Não, como minha casa é a mais perto de lá não quis correr e o Julian foi buscar a Jane na casa dela.”

“Pois quando for, leve a Pansy”

“Por que?”

“Apenas a leve”

“Tchau”

A garota que caminhava distraída notara algo diferente no cheiro daquela rua, mas percebera que ninguém mais que passava por ali notara. Ela olhou desconfiada para os lados até que avistou uma árvore começando a secar, dando sinais de que estava prestes a morrer.

Quando ela se deu conta do que estava acontecendo deu de ombros pro fato que precisava chegar ao bosque e atravessou a rua indo em direção da árvore.

Sem saber o que fazer, ela abraçara a árvore e começara a pensar nos vários tipos de árvores que havia no seu livro de biologia e começou a sentir uma sensação vindo de seus pés, como se estivesse descalça na lama.

O tronco e os galhos daquela velha árvore começaram a tomar cor novamente e a garota se enrubesceu ao notar o que estava acontecendo. Ela fizera aquele antigo pé de ipê florescer.

Ela olhou no relógio ás horas e viu que havia alguns minutos até o horário em que havia combinado de encontrar com os amigos, então sentará embaixo daquele pé de ipê e anotara o que acontecera no velho livro que pedira pra sua mãe procurar na antiga casa em que moravam perto das caixas em que estava empacotada as coisas de sua avó. Ela havia falado para mãe que era um romance que a avó sempre lia pra ela antes de dormir e a mãe acreditara. Para sua felicidade, o livro estava exatamente onde ela se recordava.

Ela resolvera não contar pros amigos que possuía este grimório, pois como Unknown estava vigiando sua vida e de seus amigos, ela achara que teria uma vantagem tendo os feitiços ofensivos e defensivos em sua memória pra caso fosse surpreendida por seu atual inimigo, Tommy.

Com os últimos ocorridos, ela não tinha tido muito tempo para ler aquele livro, mas ela havia decorado feitiços o suficiente para se defender até mesmo de um assalto.

Quando chegou ao bosque dera de cara com Antony. Ela nunca tinha visto o garoto com olheiras tão grandes. Ela logo percebera que isso era consequência da possível falta de sono que o garoto deveria estar tendo por saber que a qualquer momento poderia morrer. Naturalmente, ou de uma forma bem drástica.

Ela não quis demonstrar pena do garoto, ainda mais que muitas vezes sentia raiva dele pelo que ele diretamente e indiretamente fez ao seu melhor amigo, Oliver. Mas pela consideração que ela tivera pelo rapaz, o dera um abraço e logo seguiram a trilha até o local onde o coven sempre se reunia.

Estavam todos lá. Todos sentados em um grande círculo à sombra de uma árvore.

Inconscientemente, todos escolheram trajar alguma peça de roupa que tenha a cor do elemento pelo qual tem afinidade. Alice estava com uma jardineira jeans com uma camiseta verde com o número 13 escrito em prata. Antony vestia um moletom no estilo varsity vermelha com uma calça jeans de alguma grife qualquer. Jane, despojada como sempre estava com um vestido decotado de cintura marcada de cor cinza. Julian usava uma camisa xadrez vermelha e branca amarrada na cintura pra tirar um pouco do preto do sapato, bermuda e camiseta, Matt com uma camisa amarela florescente que dava pra avistá-lo do outro lado do bosque e Oliver com uma bermuda azul anil junto de uma camiseta cinza estampada com a frase “Miserable, Darling, as usual”.

Por incrível que pareça, apenas Alice havia reparado nessa semelhança.

Quando todos já haviam se cumprimentado Alice tentara tomar a palavra e expor o motivo daquela convocação.

— Bem, vocês devem estar se perguntando do porque eu convoquei vocês aqui. — A garota fora interrompida.

— Olha Alice, antes que tu comece a falar eu queria — A menina pausou e olhou pra Julian fazendo Oliver sentir seu rosto esquentar — Julian e eu queríamos esclarecer algumas coisas que aconteceram.

— Que coisas? — Questionou Matt.

— Qual é? Vai dizer que não se perguntou nenhuma vez se era coincidência de mais Oliver encontrar com uma garota várias vezes, depois descobre que essa garota e seu primo que misteriosamente surgiu na cidade são amigos de longa data e que ambos tem poderes sobrenaturais? — Debochou Julian.

— Não! Tenho muitos episódios de RuPaul's Drag Race pra assistir ao invés de ficar pensando nisso, né meu querido? — Retrucou Matt.

— Vocês dois, parem. — Ordenou Alice. — prossiga Jane.

— Bem, vamos ao início. — Jane se ajeitou em uma posição mais confortável — Tudo começou quando eu estava passando por uns problemas com meus pais, e por meus poderes estarem se revelando na época, eu não tinha controle algum sobre aquilo tudo. Quando meus pais se apunhalavam em brigas, ou até mesmo descontavam em mim, minha capacidade psíquica despertava e eu conseguia ouvir os pensamentos dos meus pais. Eram coisas horríveis. Tanto que me fez entrar em depressão.

— V-Você pode ler mentes? — Oliver que estava demasiadamente envergonhado gaguejou.

— Sim. E não. Eu não fico lendo a mente de vocês. Acreditem, não tem benefício nenhum isso.

— Assim eu espero. — Oliver secou as mãos tremulas e suadas na bermuda. — Bem, continue.

— Prosseguindo, foi nessa fase que comecei a frequentar uma casa abandonada da cidade onde Julian e eu morávamos. Era uma casa imensa, vários quartos. Eu me apossara de um no último andar. Quem frequentava essa casa o denominara como “o quarto das lésbicas”, e pra ser sincera eu dava a mínima pra isso. — A garota enrudeceu — Até gostava de assistir elas se pegando enquanto eu ficava naquele sofá imundo me embriagando com uma bebida qualquer.

— Que cheiro de couro. — Matt interrompeu fazendo todos rirem.

— Posso continuar? — Perguntou Julian.

A garota assentiu com a cabeça.

— O quarto que eu me meu coven se reunia era de frente para o quarto das lésbicas, porém tínhamos o luxo de uma porta. A única coisa que separava nosso quarto era um cômodo vazio com uma escada empoeirada ao meio. Em um desses dias enquanto eu esperava impacientemente o resto do meu Coven, me escorei no corrimão e tragava um cigarro quando vi Jane jogada no sofá aos prantos. Eu teria dado à mínima, mas algo me disse pra ir consolá-la. E foi isso que eu fiz. Conversávamos — Julian fora interrompido.

— Na verdade, ele me questionava enquanto eu respondia monossilabicamente. Como ele sempre faz.

— O lobo e o cordeiro. — Disse Oliver.

Todos olharam pra ele sem entender nada e deram de ombros.

— Bem, daí eu convenci ela a ir pro quarto e mostrei a ela o que eu podia fazer com o fogo na tentativa de animá-la e Artur que já havia chegado, fez alguns truques com a água. Mas fora em vão.

— Pera ai, o Artur, namorado da Kyoto? Ta dizendo que ele também é um de nós? — Questionou Antony incrédulo.

— É, pensei que já havíamos falado sobre isso. — Disse o rapaz mais velho daquele ciclo.

O tempo estava passando e Alice estava cada vez mais ansiosa.

— Quando o resto do Coven chegou, eu pedi para que eles não se incomodassem com a presença de Jane ali, pois nosso segredo estava salvo com ela. Depois que acabamos de praticar um feitiço em grupo, ela disse que precisava nos mostrar algo e assentimos. Ela disse que era capaz de ler nossas mentes, ou que pelo menos conseguia ler a de seus pais, mas que tentaria ler as nossas. Me ofereci como cobaia e sem acreditar na historia que ela havia nos dito, pensei em algo. Ela olhara pros meus olhos e em seguida franzira o cenho. Quando demos conta, todo o quarto estava sendo iluminando por uma luz roxa que emanava de uma ametista que havíamos utilizado em nosso treinamento. Era os poderes psíquicos dela tomando força com auxilio do mineral. E pro meu azar, ela conseguira ler meu pensamento.

— E em que você pensou? — Perguntou Antony.

— Não queira saber. — Julian e Antony disseram ao mesmo tempo fazendo todos soltarem um riso.

— Posso pedir pra vocês darem uma agilizada? Tem alguém na fila pra contar algo também.

Julian a respondeu com um sorriso e prosseguiu.

— Bem, agora que ela já sabia nosso segredo e a gente o dela, ela deixou o “quarto da lésbicas” e passou a frequentar nosso quarto. Ela estava ali em todas as reuniões. Até no dia em que nosso coven se dissipou. Estavamos fazendo aquele feitiço que envolvia espíritos e tudo mais. Foi quando um dos espíritos atacou um dos Gêmeos do nossos círculo. Ele o havia possuído e o fizera se jogar do último andar daquela casa. Foi tudo tão rápido, não tivemos como impedi-lo. Os outros espíritos haviam ido embora e — Julian pausou. Algo havia acontecido.

Matt aos prantos, não conseguiu segurar o choro. Oliver percebera o motivo daquilo sentou ao lado do amigo e o abraçou.

Julian não quis continuar falando então Jane retomou a palavra.

— Foi então que dei meu primeiro grito. Julian e Artur ficaram paralisados com a cena e não tiveram reação, então o outro gêmeo e eu corremos pelos vários vãos de escada abaixo para chegar ao corpo. No meio do caminho eu tive uma forte dor de cabeça e caí de joelhos, ele que estava completamente vermelho parou para me acudir e foi ai que dei meu primeiro grito. Para minha sorte, a casa estava vazia naquele dia, se tinha outra pessoa lá e escutou o grito eu não carrego comigo o peso de ter causado a morte dessa pessoa.

Matt levantou e cerrou o punho, ao meio de soluços causado pelo choro ele questionou Jane e Julian.

— Me diz que o nome desse gêmeo não era Marcos.

— Você o conhecia?! — Jane ficou pálida.

— ME DIZ QUE O NOME DELE NÃO ERA MARCOS.

— Era! — Berrou Julian — Que diabos isso tem a ver?

— Ele era meu namorado.

Matt estava perdendo o controle, o vento começara a se agitar naquele ambiente.

— Não ouviu o que aconteceu? Não foi culpa deles. — Disse Oliver.

— Como não? O bruxo com afinidade com o ar poderia ter amortecido a queda. — Matt estava cada vez mais chateado.

— Ele era o bruxo do ar! — Julian estava tentando ter paciência.

— E como vocês não disseram nada pra policia? Como tiveram coragem? — Antony se recordava que Matt dissera que Marcos não havia deixado nem um bilhete e a policia não descobrira o motivo daquele suicídio.

— Não podíamos nos expor. Já estávamos errado de invadir aquela propriedade particular.

— Que humanos de suas partes. — Balbuciou Antony, indignado.

— Fora o irmão dele que teve essa ideia, está bem? — Jane elevou a voz. — Não temos culpas.

O vento se agitara tanto que algumas árvores perderam os galhos. A gata de Oliver estava apavorada.

— Não. Eu não posso conviver como alguém tão desumano como vocês. Vocês falam de Unknown, mas são da mesma laia. — Matt saiu correndo e em poucos instantes havia desaparecido no bosque.

— Não precisava disso tudo, mas precisamos dar tempo a ele. Eu mais a que ninguém sei o que ele passou. A avó dos gêmeos até o acusou como culpado da morte do Marcos. — Oliver tentou aliviar a tenção entre eles.

— E você Alice, não tinha que nos contar algo? — Perguntou Antony.

— Bem, acho que já conversamos de mais. Vou mostrar de uma vez.

A menina enquanto procurava um lugar para estar segura, viu os galhos quebrados espalhados pela relva e então levantará os braços rispidamente e sussurara “Fes Matos Tribum, Melan Veras, Fes Matos Tribum, Melan Veras!”, assim que falara a última palavra os abaixaram fazendo galhos novos nascerem. Inconscientemente ela fez alguma das árvores florirem, novamente.

Agora ela estava preparada. Achara uma árvore e se escorou nela. Pediu pra Oliver colocar Pansy no chão e todos ali não sabiam se olhavam pra gata ou pra jovem bruxa.

— O que você está fazendo? — Interrogou Julian.

— Vou achar a cabana que Unknown usa como esconderijo.

— Que cabana?

— Enquanto procuro, Antony e Oliver te explicaram. Eles lembram muito bem do dia que descobrimos essa cabana.

Os dois rapazes evitaram fazer contato visual pra não morrerem de vergonha.

A menina encheu o pulmão de ar e antes que pudera dizer mais alguma coisa seus olhos ficaram totalmente brancos e Pansy dera um miado agudo esticando a cauda.

A gata começara a correr pelo bosque e Antony quisera ir atrás, mas Oliver advertiu que era melhor tomarem conta do corpo da Alice.

Neste meio tempo, Matt havia se acalmado um pouco com a ajuda de sua Silfo e voltara de junto de seus amigos. Ele se desculpou na esperança que eles intendessem a situação.

Enquanto os rapazes contavam sobre o esconderijo de Unknown, Pansy, ou melhor, Alice que havia tomado total consciência sobre o corpo da gata do amigo corria pelo bosque na esperança de que sua busca não fosse um sucesso.

Quando estava sem folego e sem esperanças, Alice esbarrara na perna de uma pessoa. E logo a frente vira a cabana. Ela conhecia muito bem o cheiro daquela pessoa, ela se esforçara muito lembrar de quem era, mas antes de ter êxito uma segunda pessoa apareceu e a tocou dali. Ela escalou em uma árvore, olhara pro caminho que percorrera até ali e voltara para seu corpo.

Enchendo o ar novamente Alice despertara tossindo várias vezes enquanto sentia sua respiração regularizar.

— Eu encontrei — A menina berrou.

— Encontrou o que? — Oliver estava apavorado — E o que foi isso? E cadê minha gata?

— É complicado.

— Tu ta metida com magia negra, morena? — Matt perguntou espantado.

— Sua gata está ótima, ta bem? Da pra vocês me seguirem? — Alice se recompôs e começara a correr.

“Pelo menos eu espero que ela esteja bem”, pensou a menina tentando se lembrar do caminho.

Quando a menina avistou a cabana, apontara sem saber o que dizer para os amigos. As duas pessoas aparentemente haviam entrado e para o alivio de Alice, Pansy estava são e salva.

Matt incrédulo aproveitou que sua silfo estava invocada e começara a voar. Começou a plainar perto do telhado planejando um ataque. Ele estava prestes a atacar quando escutou Jane gritar “não!”.

— Você tem certeza que é um bruxo? — Disse uma pessoa encapuzada na varanda da cabana. — Não vê esse círculo de sal negro envolta da cabana? Magia não pode ultrapassá-lo.

Oliver reconhecera aquela voz e saíra de meio às árvores entrando em campo de visão de Tommy.

Tommy, por baixo do véu negro sobre o rosto mudara sua expressão de deboche para ofendido. Como se a presença de Oliver fosse uma afronta.

— Como ousam tentar me atacar no meu próprio esconderijo?

— Vamos acabar com isso de uma vez! — Berrara Matt pousando ao lado de Matt.

— Com muito prazer. — Tommy respondeu.

Oliver e Matt se prepararam pra usar um feitiço de contra-ataque que aprenderam em seu grimório.

— Ex Spiritum Intaculum, In Terrum Incendium, Fes Matos Salvis Adisdum! — Tommy conjurou uma enorme chama e atiçou em direção dos dois rapazes.

Antes que a chama os atingisse, Antony saiu de trás da árvore que se escondera e conjurara um contra-feitiço na intenção de proteger seus amigos.

— Shuta incendia! — O rapaz disse com convicção e instantaneamente todo aquele fogo desapareceu.

— Tentem se proteger o máximo que puder, uma hora vocês vão se cansar e eu continuarei ileso aqui de dentro.

Se ouviu uma quinta voz, não pudera ser menos rude e sarcástica.

— Isso é o que você pensa. Toda magia tem seu preço. Vamos fazer você pagar o seu. — Julian havia perdido sua camisa xadrez enquanto corria atrás da Alice, o visual completamente negro dava mais seriedade e charme ao rapaz.

— Qualquer coisa que vocês tentarem será inútil. Esse sal negro é indestrutível.

— Eu já disse, tudo no universo tem uma solução. Por mais que complicada que seja, ela existe.

— É o que veremos. — Tommy conjurou outro feitiço pirocinético. — Incendio!

Dessa vez não dera tempo de conjurar um contrafeitiço.

Enquanto se esquivavam Julian deu uma ordem.

— Jane, fuja! Coven, repita tudo o que eu disser!

Jane tomara Pansy das mãos de Alice e começara a correr o mais rápido que podia. Alice se juntara aos demais amigos.

O bruxo mais experiente, Julian, dissera o feitiço uma vez e ficou esperançoso de que seus amigos haviam entendido todas as palavras.

Antes que Tommy pudesse invocar outro feitiço o coven de Oliver começara a conjurar o velho feitiço reversão de uma barreira magica de grande poder.

— Meramis En Nevalta, Confrenum Signos. Omas Quisa Dentum Exalis, Meramis En Nevalta, Confrenum Signos! Omas Quisa Dentum Exalis! — Em uníssono os cinco bruxos começaram a repetir aquele feitiço cada vez mais alto.

— Isso não vai adiantar. — Debochou Tommy tentando disfarçar o nervosismo.

— Já está adiantando! — A segunda pessoa saiu da cabana.

Oliver analisava o corpo da pessoa tentando ter uma pista de quem poderia ser, mas fora inútil.

Tommy que estava sem reação, foi abandado. Seu aliado levantou o punho direito e assim que o cerrou ficara invisível e saíra correndo.

— COVARDE! — Gritou Tommy cada vez mais desesperado.

O efeito mágico do sal negro começou a desaparecer. O campo energético que banira feitiços começara a se desfazer, era possível ver aquele escudo se desfragmentando. Antes translucido, ele assumira o tom roxo avermelhado.

O escudo estava cada vez mais fraco.

Os 5 jovens bruxos deram as mãos e continuaram conjurando aquele feitiço firmemente. O Nariz de Alice, Antony e Julian começaram a sangrar. Gravetos espalhados pelo chão do parque se incendiaram e uma enorme onda energética se desfizera deixando um forte cheiro de sal e cinzas no ar.

— Está feio. — Afirmou Julian.

Antes que tivessem outra reação, o rapaz cuja o rosto era cheio de espinhas invocara mais feitiços aproveitando de sua pirocinesse.

O primeiro viera em direção a Oliver. Ele empurrara Julian e Matt que estavam ao seu lado e se jogara no chão. As chamas foram em direção a floresta provocando um incêndio.

A segunda, que fora enviada para cima, descia em uma curva em direção a Antony. Ele lembrava da noite em que descobrira ser um bruxo e invocou chamas em sua mão. Quando a esfera de fogo se aproximou ele a arrebateu em direção a cabana. Tommy usara um contrafeitiço

A terceira e última fora em direção a Alice. Apavorada, a menina tentou se lembrar de um dos feitiços de seu livro das sombras, mas se confundira.

— Arcendos a. Repellit omnes. Minus ad dominum. Arbus! — Gritou a menina quando fora atingida pela esfera incandescente.

Antony o mais rápido que pode conjurou o contrafeitiço removedor de chamas do corpo da amiga.

Quando as chamas se apagaram, todos tiveram uma surpresa. Alice havia sido transformada em uma árvore.

Oliver chamava a amiga aos berros na esperança de que sua essência estivesse dentro daquele tronco.

Enquanto estavam distraídos com Alice, Tommy pusera fogo na cabana e saíra correndo a calada. Quando perceberam, era tarde de mais.

— Precisamos apagar essas chamas. — Antony se referiu a Julian.

— É fogo de mais, não daremos conta com contra feitiços.

Oliver escutou atento e sua mente a mil o fizera pensar em algo.

— Deixa isso comigo e Matt. Antony, preciso que você tente encontrar Tommy. Precisamos muito achá-lo, mas dúvido que ele irá aparecer na escola tão cedo.

— Tudo bem — Assentiu o rapaz.

— E você Julian, vá atrás da Jane. — Oliver fungou. — Por favor.

— Tudo vai ficar bem. — Julian tentou ser otimista. — E se não ficar, a gente bebe algumas doses que isso passa.

Oliver ignorou o primo e enxugou as lágrimas.

O rapaz se concentrou no barulho do riacho que passava a poucos metros dali e tivera certeza do que fazer.

Ele invocara sua ondina e pensara em uma tormenta. Obviamente, ele não teria poder o suficiente pra invocar uma naquele momento, mas com a ajuda de Matt ele poderia chegar perto. E assim foi feito.

Os dois garotos pegaram a pedra mais afiada que encontraram e rasgaram a palma da mão. Quando o sangue começara a jorrar eles deram a mão e começaram atrair nuvens carregadas de água vaporizada.

Antes que o incêndio na floresta pudesse alarmar os guardas ambientais do bosque, nuvens negras e relâmpagos tomaram o sol daquela manhã. O tempo mudara drasticamente.

— TEMPESTAS — Os dois garotos disseram como se conhecessem aquela palavra.

Esse feitiço fizera a Ondina e a Silfo se unirem fazendo um espectro humanoide vestida com um vestido feito de nuvens, de pele azul e cabelos brancos surgisse. Esse ser, a personificação da Deusa das Tempestades invocara um círculo mágico no céu fazendo que uma forte tempestade tivesse início.

Matt não resistira, caíra desmaiado na relva assim que a personificação da deusa desaparecera.

Oliver olhou para o corpo do amigo e para o tronco que não resistira ao choro.

O garoto entrou sozinho na floresta. Conhecia cada árvore como se fossem as linhas em suas mãos. Oliver estava sozinho e confuso, queria chorar de desespero, mas não podia. Não enquanto as intempéries em que se encontrava não fossem resolvidas.

Sua melhor amiga fora transformada em árvore quando recebera uma ofensiva mortal e tentara se defender. Por quanto tempo ela ficaria assim? Por dias? Semanas? Talvez anos?

Apressando os passos, o garoto tropeçou em um emaranhado de raízes. Por um segundo ficou ali no chão, se encolheu e permitiu que as lagrimas escorressem de seus olhos mais uma vez. O rapaz procurava uma forma urgente de salvar seus amigos, e principalmente, de uma solução para a maldição da banshee que podia acabar com a vida de Antony a qualquer instante.

À medida que as lagrimas do garoto caiam na terra escura, a atmosfera da floresta mudava, o silencio tomara conta do lugar a temperatura caíra drasticamente, e a chuva cessara. O tecido místico que separa o mundo físico do mundo espiritual se rompera e sua ondina apareceu sem ser convocada, tudo indicava ser algo potencialmente perigoso. Quando ele se deu conta, estava no centro de um círculo de flores das mais diversas cores e formas, e sentada em um trono aparecera para o garoto uma mulher. Ela tinha a pele esverdeada, cabelos morrons com tons louros e seus olhos eram de um intenso azul. A bela moça trajava um vestido de folhas e em sua cabeça uma coroa de flores e frutas deixavam aquele ser humanoide com um ar de pureza.

A priori, ele pensara que era uma projeção astral de Alice, pois aquela mulher tinha uma fisionomia totalmente parecida com a da amiga. Não obstante falando telepaticamente, a deusa esclareceu a situação.

— Não sou Alice, a despeito de nossa semelhança se deve ao fato dela ser minha filha. Sou Flora, a Senhora dos Bosques e Florestas.

A deusa abriu um sorriso para o jovem bruxo que estava espantado.

— Filho das Águas, ouvi vosso chamado e aqui estou para interceder por vós.

O garoto estava atônito. Ele não havia realizado ritual algum de invocação, muito menos clamado por socorro, não fisicamente. Ele moveu os lábios para falar, mas foi interrompido pela deusa.

— Lagrimas extremamente salgadas, um pedido de socorro de vosso coração.

Era a mais pura verdade. Ele estava ali para salvar Alice e Anthony em tentativas desesperadas.

— Sim senhora, disse o garoto fazendo uma reverência.

— Levante-se filho, um caminho árduo lhe espera, se passardes por três tarefas, verás a solução prospera, mas se falhardes... Perderá o dono do seu coração.

E então, Sem dizer mais nada, a deusa desapareceu sem deixar nada a mais e nada a menos a que a mente do rapaz mais confusa e uma nova muda de flor de narciso aonde seu corpo espiritual se encontrara.

Ele se aproximou da flor que desprendia uma luz dourada e ao tocar nela sentiu os pés sair do chão e em sua mente três vozes em uníssono cantaram:

A nós foi confiado.

O Dom na superfície não há som.

Até o por do sol deves buscar,

O que se encontra no coração do Jaguar.

Somente assim pode reaver,

O que está prestes a perder.”

Oliver caiu com um baque abafado e embrenhara-se na escuridão da Floresta.


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