Imperfeitos escrita por Felipe Perdigão


Capítulo 23
XXI — Desmentindo a Despedida.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/327868/chapter/23

O jovem bruxo que nascera versado com o dom dos ares despertara do desmaio.

Ainda desnorteado ele olhava ao redor na tentativa de se localizar. Assim que ele pusera os olhos na árvore que Alice havia se transformado, ele se lembrara de tudo que acabara de acontecer.

Ele caminhara até a amiga e sentara em uma das raízes.

O rapaz estava desnorteado.

Era muita informação para processar.

Com as mãos tremulas o rapaz pegou seu celular e olhara as horas. Demoraria muito pra amanhecer.

Sem saber o que fazer, o garoto se esforçou para mandar uma mensagem para os amigos.

“Me encontrem na Alice, ou na árvore da Alice, whatever. Vou em casa buscar algumas coisas. Seja lá o que estejam fazendo, estejam lá quando eu voltar. Precisamos conversar sobre o que aconteceu. XOXO”

E assim foi feito. O rapaz voltara com uma bolsa de pano marrom escrita de dourado “I MET GOD, SHE'S BLACK.”. Na bolsas havia três tipos diferente de bebidas, além de várias garrafinhas de água mineral.

Quando ele chegou, não havia ninguém além de Antony sentado sobre as raízes de Alice.

— E aí.

— Oi. — Respondeu Matt enquanto passou a bolsa para o amigo segurar. — pegue o que quiser.

O rapaz começou a procurar gravetos e juntá-los.

— O que está fazendo? — Questionou Antony.

— Vai demorar um pouco até o sol nascer e está bastante frio.

Antony concordou com um sorriso seco.

Uma terceira voz adentrou o ambiente.

— Isso não vai dar certo. — Debochou Oliver.

— Por que não? — Matt jogou os galhos no chão, indignado.

— Os galhos estão molhados.

— Ah. Está bom então senhor escoteiro.

— Qualquer pessoa lúcida sabe disso. — Oliver riu.

— E agora, vamos ficar aqui morrendo de frio?

— Quando se é um bruxo, você faz o que quer. — Oliver ergueu a mão direita em direção aos galhos.

— Que diabos você está fazendo? — Perguntou Antony.

— Sou um bruxo com influência da água. Vou usar meus poderes sobre a água para sugar a água.

Os dois amigos deram de ombros duvidando de que isso funcionasse.

Oliver respirou fundo e sussurrou um feitiço que vira em seu livro das sombras.

Regere Elementum Aqua

E então, várias partículas de água começaram a flutuar sob os gravetos.

Quando Oliver teve certeza que os gravetos estavam completamente secos, fizera um movimento ágil com as mãos para trás jogando toda aquela água na floresta.

— Agora é contigo Tony.

O rapaz entendeu o que Oliver quis dizer. Levantara, organizara os gravetos de uma forma que o fogo não se exaurisse e sem mover nem uma única vez os lábios fez com que todos aqueles gravetos se incendiassem.

Os três se acomodaram envolta do fogo e começaram a beber. Decidiram não começar a discutir sobre o ocorrido até Julian e Jane chegarem.

Os únicos sons audíveis no bosque naquele momento era o do riacho que cortava o bosque e dos galhos a serem queimados.

Não demorara muito, Julian e Jane chegaram abraçados dividindo uma garrafa de Whisky.

A expressão da garota mudara completamente quando avistara Antony. Ela se sentia culpada por ter sentenciado a vida do rapaz.

Quando estavam todos reunidos, ninguém quis tocar no assunto. Continuaram a beber em silêncio.

Horas depois, todos já estavam bêbados o suficiente. Jane que estava deitada no colo de Oliver mal conseguia manter os olhos abertos. Julian que tragava um cigarro tinha o pensamento longe, tentando encontrar uma solução para fugir de todos esses problemas e viajar pelo mundo sem rumo.

O silêncio fora interrompido por Antony que havia trazido água para Jane que estava no meio de um maldito porre.

— Cuidado pra não engasgar.

— Qual é? Ela só está bêbada, não é uma criança de 3 anos. — repudiou Oliver.

— Quando nós dois ficamos bêbados fazemos muitas besteiras, não é mesmo? — Disse Antony.

— A bebida só nos da coragem de fazer aquilo que gostaríamos de fazer enquanto são. — Interrompeu Julian.

— No nosso caso a bebida só nos afasta cada vez mais. — Antony cuspiu as palavras e saiu andando em direção de Matt que fora até o riacho encher as garrafinhas com água.

Oliver começara a chorar involuntariamente.

Havia três anos que ele nutria um sentimento inescrutável pelo seu ex-amigo e com todos motivos pra odiá-lo tudo que ele conseguia fazer era desejar que seus lábios continuassem a se encostar.

Julian que deixara de cutucar a fogueira com um graveto após presenciar aquela cena teve a confirmação do zelo que sentia pelo primo.

O rapaz que sempre estava imparcial em relação a seus sentimentos, não manteve a boca fechada.

— Para de chorar, a vida já autodestrutiva o suficiente para você se lamentar pro alguém como Antony.

— E o que você sabe sobre sentimentos sendo tão frio? — respondeu o primo tentando controlar a respiração.

— Minha frieza é apenas uma tentativa estranha de preencher o vazio que rege minha vida. Isso não quer dizer que eu não entenda de sentimentos...

— Você só não quer lidar com eles. — O primo mais novo interrompeu.

— BINGO! — Julian riu enquanto dava mais um trago e estendia a mão com a garrafa de whisky pro primo.

— Tudo que eu queria era não ser tão inescrutável. — Oliver deu um gole — Por que eu desperdiço um tempo precioso com pessoas que não se importam se eu estou vivo ou morro?

— Vai se ferrar cara! — Julian jogou o que sobrou do cigarro na fogueira — Você é sol mesmo enquanto chove.

Oliver começou a chorar mais ainda.

Julian, verde de raiva por ver o primo chorar, se levantou e pôs-se de joelhos perante o primo.

O encarou.

Levou uma das suas mãos até os cachos de Oliver e sem demora o beijou.

Jane que estava encantada ao ver aquela cena sentou abraçando os joelhos.

Oliver se entregara ao beijo do primo. Passara os braços sobre os ombros de Julian e puxara o corpo do primo para junto ao teu. Com as pernas entrelaçadas na cintura de Julian, o rapaz havia se esquecido de toda tristeza do mundo.

Julian se esquecera da boca do primo começara a beijar o seu pescoço.

O chupão que o rapaz dava em Oliver fora interrompido quando de longe Matt caçou dos amigos.

— OPA! A FESTA COMEÇOU E ESQUECERAM DE ME AVISAR?!

— Não é uma sacanagem? Começaram a festejar e me deixaram aqui sozinha. — Jane riu enquanto soltava o cabelo.

— Uma puta falta de sacanagem. — Antony e Matt se olharam e caíram na gargalhada juntos de Jane.

— Não seja por isso. — Oliver estendeu a mão para a amiga.

Julian estendeu a outra.

A garota sem pensar duas vezes dera as mãos para os primos e fora puxada para um beijo. Um beijo triplo. Jane, aos delírios passava as unhas nas costas dos dois rapazes enquanto se entregava aos lábios dos mesmos.

— Só falta nós dois. — Matt se referiu a Antony enquanto se acomodava novamente em torno da fogueira.

— Não mesmo. — Disse Antony assustado.

Oliver se soltara do beijo para dar uma gargalhada ao escutar Antony se esquivar de Matt.

— EU AMO VOCÊS! — Oliver gritou e deu mais um gole na garrafa de whiskey do primo.

— Obrigado. — Julian disse dando de ombros.

— É melhor falarmos sobre o que aconteceu horas atrás. — Disse Matt preocupado.

— E sobre Alice. — Jane olhou aflita pra árvore.

— Eu acho que ela deveria beber um pouco, só pra relaxar — Julian pegou a garrafa de Whiskey das mãos do primo e a virou sob a raiz da árvore que Alice se transformara.

— SEU LOUCO — Matt berrou.

Todos encaravam Julian assustados.

— O que foi? — o rapaz riu — É uma puta falta de educação não compartilhar a birita com os amigos.

— Isso não tem graça. — Jane alertou o rapaz.

— Qual é? Foi mal. — O garoto deu um gole na garrafa e voltara pro lado do primo.

O silêncio tomou conta do bosque por alguns instantes.

— Puta merda! — Gritou Oliver.

— O que foi? — Antony questionou.

— Ontem uma Deusa, um espirito, ou o diabo que seja aquilo apareceu e me deu uma profecia.

— E o que você está destinado a fazer? — Perguntou Matt.

— Ah mano, sei lá, ela tava com um papo muito estranho.

— Como que tu me faz o favor de esquecer uma profecia? — Julian estava enfurecido — Além de importantes, são perigosas.

— Eu estava praticamente tendo um ataque de pânico e você queria que eu gravasse um poema?

— Sim!

— Olha, porque não nos dividimos? Metade de nós tenta achar uma solução pra Alice e a outra metade tenta achar um feitiço pra fazer Oliver se lembrar. — Sugeriu Matt.

E assim estava sendo feito.

Julian e Oliver pesquisavam no livro da Sombras de Oliver algum feitiço de memória enquanto Antony e Matt procuravam algum jeito de trazer Alice de volta.

O tempo continuava a passar e nenhum bruxo presente naquele bosque estava sendo capaz de encontrar uma solução.

Os dois responsáveis por reverter o feitiço de Alice já estavam ficando sem material para pesquisar.

— É. Pelo visto não é hoje que teremos nossa fadinha de volta. — Matt disse com voz de choro.

— Calma! Vamos achar um jeito. — Oliver se esforçava pra acreditar naquilo.

— Eu juro que quando chegarmos na escola vou arrebentar a cara de Tommy. — Disse Antony com os olhos pregados no livro das sombras.

— E você acha que ele terá coragem de aparecer lá depois de tudo que aconteceu hoje? — Questionou Oliver.

— Uma hora ele terá de dar as caras, e mesmo que Tommy não apareça, Unknown aparecerá. — Disse Julian.

Os 4 voltaram a atenção para os livros novamente.

Jane que estava impaciente por ficar ali em silêncio sem nada pra fazer tinha um milhão de coisas passando pela cabeça.

A garota tentava lembrar-se das coisas que via Julian e seus amigos fazendo na Casa Abandonada que frequentavam.

— Garotos?

— Sim? — Ouve um uníssono.

— Não há algum feitiço que vocês possam conjurar que fará o grimório abrir na página exata do que estão procurando não?

— PUTA QUE PARIU! — Gritou Oliver. — Como eu não pensei nisso antes?

— Em que? — Perguntou Mat.

— Eu já fiz isso antes, só preciso me lembrar das palavras.

— Quer dizer que você pratica magia sem o Coven? — Antony parecia surpreso.

— É óbvio, e todos aqui deveriam fazer o mesmo. Não é sempre que teremos um ao outro pra nos defendermos. — O rapaz deu de ombros. — Jane, você é tão inteligente que merece um beijo.

— Agora não! — Antony gritou.

Todos olharam sem entender para o rapaz.

— Deve haver alguma raiz, erva, poção, sei lá, deve haver alguma coisa que me faça lembrar a profecia.

— E enquanto a Alice? — Perguntou Jane.

— Eu não faço a mínima ideia. — Oliver coçou a garganta.

Oliver colocou todos os livros no chão e pediu para os amigos se afastarem, ele pediu em silêncio que aquilo desse certo e tentou se lembrar das palavras.

Indica mihi, quod volo. — Mentalizando o que desejava, o garoto disse com a voz ampla pra que o feitiço se intensificasse.

Uma corrente de ar surgiu sobre os livros e as páginas se movimentaram. Três deles se fecharam e se empilharam. O último livro das sombras, o do Matt, continuara por mais uns instantes a folear.

Os amigos se entreolharam e sabiam o que fazer.

Indica mihi, quod volo. — Os rapazes estenderam o braço esquerdo em direção ao livro com a mão aberta repetindo o feitiço.

O livro começou a flutuar.

— Deu certo? — Antony conseguia escutar seu coração palpitar.

— Espero do fundo do meu coração que sim.

Ninguém teve coragem pra se aproximar do livro.

Julian se aproximou do Livro e o tomou nas mãos.

Com o cenho franzido ele tentou interpretar a poção.

Depois de várias caretas o rapaz leu a última frase daquela página amarelada.

“Com a regência do Sol sua mente o Açafrão curará, mas Vênus o testará caso o chá de rosas decidir tomar.”

— Não. Não mesmo. — Julian disse ignorando o livro.

— Não o que? — Oliver perguntou.

— Se misturarmos Açafrão com Rosa, você recuperará lembranças recentes pelas propriedades curativas do Açafrão, a rosa apesar de também ter propriedades curativas, te fará ter alucinações se misturada ao Açafrão. Esse é o teste de Vênus.

— Está bom viu, como se ninguém aqui nunca tivesse experimentado algum tipo de droga. — Debochou Matt.

— É diferente! Estamos falando de Magia. — Afirmou o mais velho dos primos.

— Se eu não conseguir me lembrar dessa profecia posso acabar me dando mal do mesmo jeito. — Oliver deu de ombros.

— Confie no Julian, Azeitona. Se ele disse que é perigoso é porque realmente deve ser.

— Eu não vou correr o risco de perder mais pessoas com quem eu me importo. — Julian ameaçou a fechar o livro.

Oliver sentia o rosto quente por conta de tanta vergonha que estava sentindo.

— Eu vou fazer. — Oliver estava decido e pegou o livro das mãos do primo.

Julian já tinha expressado sua opinião, não se esforçaria para mudar a do primo.

Oliver começou a ler os ingredientes necessários para fazer aquela poção, mas não fazia a mínima ideia de onde encontraria aqueles ingredientes a aquela hora no meio de um bosque.

O rapaz colocou o livro junto dos outros e começou a andar em direção ao bosque.

— O que você está fazendo? — Jane perguntou.

— Preciso dar um jeito de achar os ingredientes da poção antes que...

— E o que vamos fazer em relação a Alice? — Matt se mantinha preocupado.

— Queria que um simples feitiço de cura fosse capaz de revestir isso. — Oliver tinha uma voz baixa demonstrando o despontamento.

— Acho que vocês deveriam tentar. — Sugeriu Jane. — Afinal, vocês estão em quatro, não seria um simples feitiço de cura. Seria um feitiço de cura conjurado por um círculo de bruxos.

— Ela está certa. — Julian deu de ombros.

— E qual feitiço vamos usar? — Pergutou Matt.

— Sana. — Sugeriu Antony.

— Ótima escolha. — Disse Julian.

E então os quatro rapazes tomaram uma posição em torno da árvore que Alice havia se transformado formando um círculo.

— Acho que se invocarmos nossos guardiões elementais teremos um suporte maior nesse feitiço. — Disse Matt.

— Não! — Julian disse arregalando os olhos.

— Qual é? Até com isso você vai implicar? — Perguntou Antony.

— Não é implicância, ok? É que...

— Que? — Debochou Antony.

— Meu guardião e eu não nos damos muito bem.

— Não estará o convidado para sua festa de aniversário, e sim, para ajudar em um feitiço. — Disse Oliver.

— Por mim tudo bem, mas se algo acontecer, não quero ninguém chorando na minha cabeça.

E assim, cada um dos quatro pegou seu instrumento mágico e jogou na fogueira. As chamas aumentaram e os galhos começaram a estalar cada vez mais.

O primeiro elemental a sair das chamas foi a Silfo de Matt. Agitada como sempre, a Silfo voou em direção do Ombro de seu mestre. Em seguida, com as asas completamente em chamas ele percorreu aquele ambiente iluminando o céu com seu corpo em chama.

Ambos pensaram que o Elemental de Julian e Oliver não estavam dispostos em ajudar, pois as chamas da fogueira voltaram a diminuir.

Oliver que estava impaciente, já ia sair de sua posição para ir até a fogueira checar seu cetro mágico quando sentiu um gotejar sobre sua cabeça.

— Que merda é essa?

Antes que alguém respondesse uma luz azul começou a emergir dos cabelos molhados do rapaz. A luz ia ficando cada vez mais forte até dar forma a Ondina do rapaz.

Aliviados, agora todos encaravam Julian. Seu guardião elemental ainda não havia dado as caras.

Antony já ia questionar sobre o que estava acontecendo quando foi surpreendido pela fogueira. Involuntariamente as chamas sumiram.

Das chamas desvanecidas surgiu um ser escamado em um tom rubro negro. Dono de um olhar imponente desafiava todo o grupo de amigos que o encarava de volta com espanto. Uma criatura exuberante com garras aparentemente afiadas disputando com os dentes quem era capaz de possuir maior eficiência. Sua longa calda balançava de um lado para o outro enquanto o dragão do tamanho de uma coruja esticava as asas para despreguiçar.

— Que porra é essa? — Perguntou Antony.

— Salazar, vem. — Ordenou Julian ignorando o rapaz.

O dragão tomou impulso e bateu as asas até chegar no ombro de seu mestre.

Jane e o resto do Coven olhava para Julian esperando uma explicação, mas o rapaz ignorou.

— Então, vamos tentar trazer a nossa fadinha de volta ou não? — Disse Oliver quebrando aquele clima ruim que tomara conta do ambiente.

— Pra ontem! — Respondeu Matt.

Os rapaz deram as mãos e seus elementais começaram flutuar sobre suas cabeças transmitindo energia para seus donos.

Os bruxos estavam sincronizados na mesma energia.

Ao oeste, Oliver ocupava a posição da água. Por esse feitiço se tratar de cura, o rapaz achou digno ele ser aquele quem desse início, na esperança que a água canalizasse toda energia negativa naquele contra feitiço e a levasse embora.

Sana et Mederi. — O garoto conjurou o feitiço.

Um circulo mágico de tom verde surgiu envolta dos garotos. Sobre as raízes de Alice um círculo menor de mesmo tom surgiu.

Sana et Mederi. — Disse Antony ao sul representando o fogo.

Um triangulo surgiu deixando a árvore no seu interior.

Sana et Mederi. — Antony repetiu ao Leste.

E um terceiro círculo esverdeado surgiu tendo em seu interior Alice, o triangulo e o outro círculo.

Sana et Mederi! — Julian colocou tanta força no feitiço ao conjura-lo que runas de cura apareceram no chão do círculo.

Aquele círculo feito de energia emergia uma luz que iluminava toda aquela parte da floresta.

Jane mostrava-se indiferente. Já estava acostumada com aqueles rituais. Não obstante a garota torcia para que sua única amiga pudesse retornar a vida.

Agora, todos os elementais possuíam a mesma forma: uma fumaça circular da cor do elemento que o representava.

Era notável a energia emergindo de seus corpos até aquela Árvore.

Sana et Mederi! — Os quatro bruxos gritaram ao mesmo tempo.

O Círculo mágico se desfez liberando uma energia com que empurrou os bruxos alguns passos atrás. Os elementais haviam comprido com seu papel e retornaram para o plano espiritual.

Oliver desmaiara.

Era audível o barulho do tronco se rachando.

Os amigos não sabiam se prestavam atenção em Oliver ou em Alice.

Antes que o tronco terminasse de rachar, Oliver retomou a lucidez e anunciou o feito.

— Eu me lembrei! — O garoto gritou.

— E EU VOLTEI! — Alice completou.

Toda aquela madeira e folhas viraram pó e foram levadas pelo vento desaparecendo logo a frente.

Alice trazia um enorme sorriso no rosto.

Os amigos se recompuseram e Alice abraçou cada um presente ali agradecendo o feito.

— O que havia acontecido com você? — Perguntou Jane.

— Isso era apenas um escudo. — Explicou.

— Escudo? — Perguntou Matt.

— Sim. — A garota muito paciente continuou — Eu tinha consciência de tudo que estava acontecendo, inclusive, muito obrigadinha por compartilharem a bebida. Bem, como eu não conseguia me comunicar eu usei meus poderes e assumi o controle do corpo de uma ave e voei do bosque até o litoral na tentativa de achar Unknow, mas fora inútil.

— Não quero ser chato, mas acho melhor Oliver nos contar sobre a profecia antes que ele esqueça novamente. — Antony interrompeu a amiga.

— Ah, claro. Fale Azeitona. — A amiga cedeu sem entender do que se tratava o assunto.

— “A nós foi confiado. O Dom na superfície não há som. Até o por do sol deves buscar, o que se encontra no coração do Jaguar. Somente assim pode reaver, o que está prestes a perder.” — O rapaz repetiu as palavras que a Deusa o dissera.

— E o que isso quer dizer? — Perguntou Antony.

— Agora você me apertou sem me abraçar porque eu faço a mínima ideia.

— Ta na cara que ele deve matar um jaguar e comer seu coração, né gente? — Alice se expressou inocentemente.

Todos caíram na gargalhada pelo modo que a garota disse.

Os amigos acenderam a fogueira novamente e começaram a beber bastante água para retomar a completa lucidez.

Inquietos eles tentavam decifrar aquela profecia.

— E se Jaguar se referir a um local? — Jane Sugeriu.

— Tipo uma boate? — Perguntou Matt.

— Faço a mínima ideia. Só sei que se não resolver isso estarei mais ou menos fodido. — O rapaz não conseguia tirar o último verso da profecia de sua mente.

— Alguém tem celular com bateria? — Perguntou Julian.

— O meu, mas estou sem crédito. — Disse Matt.

— Usa meu chip. — Ofereceu Oliver.

— Vou pesquisar na internet sobre lendas locais sobre Jaguar, ou algo assim. — Julian explicou o que pretendia fazer.

A pesquisa fora interrompida quando os amigos escutaram um barulho estranho vindo de longe.

— O que foi isso? — Alice pensara que Unknown tivesse voltado.

— Calma, deve ser algum bicho. — Matt tentou acalmar a amiga, mas na verdade, ele estava quão assustado a ela.

Julian voltou sua atenção para o celular novamente e começou a ler uma lenda de uma tribo indígena que vivia naquela região. Relatava a triste história de uma índia que se apaixonou por um guerreiro apelidado por Jaguar por conta de suas habilidades na guerra. Não obstante Jaguar era de uma tribo rival e o próprio pai da moça degolou o até então, invencível, Jaguar. Segundo a lenda, a índia aos prantos rogou aos deuses para que terminassem com aquela rincha entre as duas tribos e arrastou o corpo do amado até uma caverna no alto de um morro perto ao litoral. Jaguar, antes de ir a guerra se encontrou com sua amada e combinou de fugirem juntos e fundar uma nova tribo caso sobrevivesse. Como promessa de seu amor, Jaguar entregou a moça o dente de Onça-Pintada-Negra que carregava no peito como amuleto da sorte e disse a moça que aquilo a protegeria em sua falta. Na escuridão da caverna, deitada sobre o corpo do amante, a pobre índia suicidou com o presente dado pelo Jaguar. Amanaci, a deusa indígena da chuva observara aquele feito, e, por pena convidara os dois amantes para viverem eternamente juntos no mundo dos deuses.

Antes que Julian pudesse terminar de ler a lenda, os amigos foram surpreendidos pelo barulho novamente.

Alice, por reflexo apertou o antebraço de Oliver e possuíra o corpo da primeira ave que vira em sua frente.

A coruja voava graciosamente sobre o bosque na tentativa de identificar o que causara aquele barulho.

Ao perceber a iluminação de uma lanterna, a garota identificou a aproximação de um dos guardas do bosque. Quando estava prestes a fazer uma curva com o corpo da ave para pousar um lugar e voltar para seu corpo a garota avistou de longe uma formação rochosa em formato de um Jaguar.

De volta a seu corpo a menina avisara sobre o guarda. Os amigos apagaram a fogueira, pegaram seus pertences e saíram correndo na direção contrária do guarda e decidiram ir chegar a formação rochosa que Alice avistara.

Os amigos caminharam pela orla até chegar o final da praia, atravessaram a rua e subiram uma ladeira muito íngreme. Alice, desatenta escorregara umas sete vezes. Quando avistaram uma casa azul no final da rua que essa ladeira os levaram, avistaram de longe uma pequena trilha de cascalho que adentrava em uma mata nativa da Mata Atlântica.

Matt estava cansado e sem folego. Sugeriu que parassem, mas Julian disse que parar seria pior, pois teriam a sensação que a trilha nunca teria fim. Oliver então ordenou que o ritmo dos passos fosse diminuído para que houvesse um menor cansaço.

Depois de andar uns 30 minutos, o grupo encontrou uma bifurcação, e, pela sorte dos seis havia uma placa com duas informações. A primeira era: "recolha seu lixo!". A segunda possuía a indicação que se continuarem reto seguiriam para a trilha da Praia Perola Azul. Já se decidissem virar para a direita, continuariam na trilha para a Praia do Jaguar.

Antony, Matt e Julian que sempre viveram naquela cidade se perguntavam como nunca ouviram falar dessas duas praias antes.

Para não se perderem, tentavam manter os olhos na Pedra do Jaguar. Pelo que tudo indicava, era preciso chegar a praia do Jaguar e tomar outra trilha até a crista da formação rochosa.

Quando chegaram ao final da trilha, presenciaram o mais belo nascer do sol de suas vidas.

Os amigos perceberam que aquele lugar era praticamente selvagem, pois não é qualquer um que toparia enfrentar aquela trilha.

Nunca viram uma areia tão limpa. Estavam espantados como o homem interferia na natureza.

Logo após se recomporem e decidirem pegar a trilha até o Jaguar pra verificar se aquela rocha tinha alguma coisa a ver com a profecia.

Alguns metros foram caminhados e Jane caiu de joelhos no chão.

— Está tudo bem? — Julian perguntou.

— Acho que sim, só esse cheiro estranho que me deu uma tontura. — Explicou a garota.

— Que cheiro estranho? — Antony questionou.

— Não estão sentindo?

— Não — Os amigos disseram ao mesmo tempo.

— Deve ser minha sinusite então. — A garota se recompôs. — Vamos continuar.

Os seis já haviam passado da metade da trilha. Por conta da altitude, o ambiente tinha sido tomado por uma neblina.

Jane, inesperadamente parou de andar fazendo Alice esbarrar em seu ombro.

— Aconteceu algo? — Perguntou a jovem bruxa.

— Acho melhor corremos. — Disse Jane impetuosamente.

— O que está acontecendo? — Julian questionou.

— O cheiro que senti quando começamos a trilha e voltamos a sentir agora... — A moça pausou tentando achar forças para dar credibilidade a suas palavras. — É cheiro de morte.

Ninguém sabia o que dizer.

Os amigos mal conseguiam ver uns aos outros e a trilha por onde estavam caminhando.

Quando Antony criou coragem para perguntar a Jane sobre o cheiro, ele fora interrompido por um barulho estranho, como se alguém que acabara de ser afogar tentasse encher novamente os pulmões de ar.

— O que foi isso? —Alice berrou desejando que Ethan estivesse ali para protegê-la.

— Não quero descobrir. — Julian afirmou.

— Matt, você sabe o que fazer. — Oliver tocou no ombro do amigo.

Matt, sem pensar duas vezes invocara os espíritos dos ventos e uma enorme corrente de ar surgiu levando para longe toda aquela neblina.

Seus olhos estavam completamente branco.

Oliver temeu que aquilo o estava fazendo mal.

Quando toda neblina sumiu e os amigos puderam ver aonde estavam, o silêncio foi quebrado por Matt.

— Queria que a magia também fosse capaz de mandar para longe meus problemas.

Os amigos estavam tão aflitos que o único que riu foi Antony.

— É melhor continuarmos. — Sugeriu Alice.

Não obstante, antes que começassem a andar os amigos foram surpreendidos pelo mesmo barulho.

— É. E É MELHOR A GENTE FAZER ISSO AGORA. — Julian aos berros tomou Jane pela mão e começou a correr sendo seguido pelos demais.

A banshee e os bruxos foram capazes de chegar até a parte mais plana daquela formação rochosa a salvo.

Oliver percebera a existência de uma caverna. Sem avisar os demais, adentrara na mesma.

Logo no início da caverna o garoto já percebeu o chão úmido. Ele estava contente por estar cercado de água, apesar de a única iluminação ser a lanterna do celular.

O rapaz estava adentrando cada vez mais na caverna em uma descida íngreme.

Quando chegou a uma parte plana, encontrou um lago de água cristalina e ficara hipnotizado com tamanha beleza. Por um momento esquecera qual era o real motivo de estar ali.

Já sem tempo e com a respiração dificultada por estar tão longe da entrada da caverna, o rapaz decidira continuar procurando pelo o que a Deusa havia dito.

Ao contornar o lago, o rapaz avistara uma amazonita com um formato de concha tão perfeito que nenhum geólogo afirmaria que aquele mineral havia se formado naturalmente.

Oliver se ajoelhou perante a água e enfiou o braço no lago na tentativa de alcançá-la, mas fora em vão. Como uma forma alternativa, ele utilizou de seus poderes sobre a água para ela trazer o mineral até a superfície. Também fora em vão. Havia algum tipo de encantamento sobre aquele lago.

O moço que estava cada vez mais irritado não viu outra opção a não ser adentrar naquele lago cristalino em forma de lago.

Quando estava prestes a pular, Oliver escutou a voz de seu primo.

— Não faça isso!

Mas fora em vão. O rapaz já tinha dado comando a seu corpo e ele comandará.

Assim que Oliver tomara e suas mãos a amazonita, o lago começara a congelar.

Ele foi até a superfície tentar quebrar o gelo, mas seus poderes não funcionavam ali.

Então, voltara para o fundo, pois sabia que era onde demoraria mais tempo para congelar.

Quando se lembrou que seus poderes estavam inibidos, o rapaz se desesperou, pois não conseguia respirar ali por muito tempo.

Já prestes a perder a esperança de sair dali, Oliver vira toda superfície se iluminar em um tom alaranjado exuberante. Julian estava tentando derreter o gelo com seus poderes.

Oliver quando entendeu o que estava acontecendo, fora até a superfície checar se funcionaria. Para sua sorte, funcionou.

O mais velho dos dois ajudou o mais novo a sair do lago.

— ACHEI O QUE A DEUSA QUERIA. — Disse Oliver tremendo de frio e adrenalina.

— Guarde isso bem. Temos bastante problemas lá em cima. — Sem mais explicações Julian começou a correr em direção da saída da caverna.

Oliver, quando chegou a saída da caverna não conseguia acreditar no que via.

Dez guerreiros-esqueletos, trajando apenas uma tanga de couro — o que a priori fez Oliver se perguntar qual a utilidade daquilo já que não havia nada para esconder sendo que não havia mais nada além de ossos — armados com uma lança feita com carvalho e dente de onça-pintada atacavam os bruxos.

Matt estava utilizando de um chicote de ar para se defender dos ataques de três deles que o encurralaram contra um afloramento. Antony tentava incendiar dois deles, mas estava sendo em vão. Os esqueletos entravam em combustão e assim que as chamas sumiam, eles voltavam a atacar. Alice por sua vez estava fazendo chicotes bastante resistentes surgirem do chão para cercar os cinco que a cercaram junto de Jane. Era a única que estava obtivendo sucesso, pois os esqueletos estavam ocupados de mais tentando se livrarem daquelas plantas.

Julian fora correndo em direção de Antony e conjurara um feitiço.

Um imenso buraco de fogo surgira sobre os pés de um dos guerreiros.

Antony, por perceber que aquele feitiço tinha funcionado tentara reproduzir o mesmo.

Ifritah! — Gritou Antony na tentativa de conjurar o mesmo feitiço.

Julian olhara assustado para o rapaz.

— Que diabos você está fazendo? — Perguntou Julian.

Antes que Antony pudesse responder seus trajes começaram a ser carbonizadas e viraram cinzas. Chamas revestiram o corpo do rapaz tampando seu sexo. Seus olhos tomaram um único tom, o de sangue. Uma imensa nuvem negra surgiu sobre os bruxos do fogo. De segundo em segundo chamas emergiam desta novem negra fazendo seu tom mudar para um laranja intenso.

Em instantes, a nuvem se explodiu fazendo um portal de fogo surgiu no céu. Antony e Julian olhavam assustados para dentro do portal e não conseguiam ver nada além de chamas.

Antony irradiava tanta energia que estava a chamuscar os peles dos amigos.

O rapaz pensara que chegara a hora da sua morte.

Oliver estava prestes a Invocar uma onda com a água presente no chão da caverna para apagar as chamas presentes no corpo do amigo quando de dentro do portal surge uma enorme criatura alada constituída de fogo.

Entre o enorme cabelo de chamas, dois chifres dourados apontavam, assim como suas orelhas pontiagudas. No centro da testa, havia uma rubi cravada. Seus olhos azuis como o mar encantaria cada um naquele ambiente senão estivessem completamente apavorados. Trajando apenas alguns pedaços de uma seda azul que tampava nada mais a que seu sexo e seus seios e um cinto ritualístico com pequenos cristais, aquele espírito do fogo havia surgido para receber as ordens de Antony.

— Mande-os de volta para o inferno! — O rapaz disse involuntariamente.

No mesmo instante aquele ser graniu mostrando suas unhas extremamente afiadas. Ela cuspiu fogo em todos os guerreiros-esqueletos e terminara o serviço utilizando das unhas para fazer os esqueletos se reduzirem ao pó.

Aquele ser arrastou todos os vestígios, inclusive as lanças, para dentro do portal.

Com a certeza de que não teria mais nada pra fazer alí, o ser adentrou novamente o portal e sumiu.

As chamas começaram a sumir aos poucos do corpo de Antony.

Quando Oliver percebeu o que estava acontecendo, saiu de onde permanecera imóvel nos últimos minutos e correra em direção ao amigo. Quando as chamas realmente sumiram, Oliver abraçou o rapaz para que seu sexo não ficasse exposto. Antony, estava tão fraco que mal conseguia ficar em pé.

Oliver o abraçava cada vez mais forte. Aquela incerteza estava o matando. Será que realmente havia chegado a hora de seu amado partir?

Amanaci, a mesma deusa que observara a historia da jovem índia e Jaguar fizera chover sobre os dois. O rapaz pensara que aquilo tinha a ver com seus poderes com a água e a chuva representava a tempestade que estava dentro de seu peito. Por tanto, todos foram surpreendidos por um relâmpago que fez a Deusa aparecer ao lado dos dois.

Desnorteados, os amigos encaravam aquela divindade quase esquecida pelo seu povo. Quando a Deusa começara a falar, sentiram-se leve. Completamente relaxados.

— Existo há tanto tempo que já presenciei inúmeras histórias de amor, e o mais impressionante é que não consigo me esquecer de nenhuma. Quero que saibam que o amor se assemelha a chuva. Se recuas, pode ressecar corações, assim como planícies, não obstante temos a certeza que um dia ela vem. Não importa como, seja pra molhar devagar e lhe dar tempo para se proteger em qualquer boteco de esquina, ou pode te provar que ás vezes se molhar também faz bem. — Disse a deusa com um sorriso acolhedor.

Alice não se aguentava em tantas lágrimas.

Oliver ainda com o melhor amigo nos braços, questionou a Deusa.

— Desceu dos céus para falar de amor? Amor não irá nos salvar. Única coisa que amor faz é nos dilacerar. — O rapaz estava tão confuso que lágrimas não eram capazes de surgir em seus olhos.

— Você se surpreenderia em ver quão longe as pessoas vão por conta do amor. — A Deusa disse paciente. — Estou extremamente felizes por vocês terem vencido a maldição deste lugar. Aqueles esqueletos são antigos guerreiros indígenas que juraram vingar a morte de Jaguar.

— Então é real a historia? — Perguntou Matt.

A deusa assentiu com um soriso.

— Vocês não têm muito tempo, as horas continuam a passar. — A Deusa alertou. — Vim no lugar de Flor para passar a segunda parte da profecia, pois estão longe de mais de qualquer bosque e ela não tem forças suficientes para chegar até aqui.

— Tenho medo do que teremos de fazer agora. — Alice estava tremula só de imaginar.

O céu começou a se fechar. Inúmeras nuvens negras começaram a surgir. A Deusa deu uma rápida olhada desconfiada para o céu e recifrou a profecia.

“No reino perdido,

Deves procurar,

O imenso azul que só a raça irmã

Poderás vós dar.”

Os amigos se entreolharam e antes que pudessem dar falta, a Deusa havia desaparecido, assim como a chuva entre os amigos.

— Cidade Perdida, Raça Irmã... Essa Deusa só pode estar metida com Droga. — Disse Matt.

Os amigos tentaram não rir, mas fora inevitável.

— Basta termos calma e não agir com desespero. Vamos conseguir decifrar essa profecia. — Julian afirmou.

— É melhor voltarmos pra cidade, descansarmos e amanhã depois da aula falámos sobre isso. — Oliver sugeriu.

— Estamos cansados de mais para tomar qualquer atitude agora. — Disse Alice.

— E como vamos voltar com o Antony desnudo? — Perguntou Jane.

— Ah, o Oliver vai tampando com a mão para ninguém ver. Tenho certeza que ele não se incomodará com isso. — Matt riu.

Oliver revirou os olhos.

— Já sei. — Alice bateu palmas com empolgação. — Posso fazer uma roupa com folhas pra ele.

— UAU. — Matt disse.

— É isso ou ele volta pelado. — Oliver franziu o cenho. — Que seja.

A garota estendeu as mãos e uma alça feita de folhas de bananeiras e uma blusa de folhas de coqueiro surgiu sobre a pele de Antony.

Oliver que estava preocupado com o rapaz que ainda estava desmaiado fechou os olhos e colocou a mão direita sobre o rosto do amigo e invocara um feitiço de cura. Obtivera um bom resultado, Antony recuperou a consciência e já conseguia ficar de pé sozinho.

— Que diabos aconteceu? — Antony perguntou aos prantos. — E que roupas são essas?

— Você não vai acreditar! — Alice riu.

— Te explicamos no caminho. — Julian disse e começou a seguir a trilha de volta para a cidade.

Ansioso com as provas que teria naquela manhã, Oliver tentava decifrar se tremia de frio pelo orvalho da manhã que entrava pela janela aberta que seu pai mantinha as mãos com o cigarro para o lado de fora ou de todo aquele nervosismo com os exames.

Oliver observava o caminho que o pai fazia. O rapaz estava tão acostumado a ir de metrô que se esquecera de como a arquitetura da cidade era tão diferente em cada bairro.

Em alguns metros de distância, Oliver notou um corpo masculino espojado no chão próximo a um ponto de ônibus. O garoto ficou indignado.

— Como é que esses moradores de ruas conseguem ficar expostos ao clima com temperaturas tão baixas? — Perguntou ao pai.

— Meu filho, frio é o menor dos problemas dessas pessoas. Você sabe o que é sentir fome durante dias? O que é ir dormir com medo de ter o corpo incendiado? Viver sobre constantes ameaças? Receber olhares tortos durante todo o dias... E o pior, não ter um propósito na vida?

Angustiado com as palavras do pai, o rapaz mantinha os olhos no corpo imóvel enquanto o automóvel se aproximava.

Oliver não podia acreditar no que estava vendo.

— Pai! Pare o carro! — Ordenou o rapaz.

O homem, assustado, encostou o carro.

Sem pensar duas vezes Oliver tirou seu sinto e saiu correndo em direção do amigo. Antony estava desmaiado.

Ajoelhado, o rapaz pegou o amigo no colo e começou a chorar aflito.

— PAI, PRECISAMOS LEVAR ELE PRO HOSPITAL — Pediu o garoto aos prantos.

— O que aconteceu? — O senhor saiu do carro enquanto discava o número da emergência. — Quem é?

— É o... A-Antony — A voz do filho falhou.

O pai do rapaz agoniado por ver o filho chorar voltou ao carro para pegar uma garrafinha com água para dar o garoto.

Oliver acariciara o rosto do amigo.

Com o coração palpitando Oliver tentava imaginar o que havia acontecido.

Os pensamentos do rapaz estavam a mil.

— Não existe alguém mais babaca a que eu. — O rapaz disse tentando evitar o choro — Por mais que eu fume todos os cigarros dessa cidade tão problemática, e, por mais que eu beba em todos os bares do mundo, você sempre vai estar em mim... E o que me dói é que eu nunca vou estar em você.

O senhor saiu novamente do carro e berrou para que o filho escutasse.

— Não consigo falar com a emergência, o coloque no carro que o levaremos para o hospital.

Sem pensar duas vezes o rapaz tomou o amigo pelos ombros. Inevitavelmente Oliver percebeu uma cicatriz recente no braço do amigo. Um "-U" cortado por uma lâmina.

O rapaz, agora tinha certeza do que havia acontecido. Conferiu se não havia ninguém olhando e colocou a mão sobre a cicatriz do amigo e conjurou o feitiço "Sana". Uma luz emergiu da mão de Oliver e a cicatriz desapareceu.

— Unknown terá o que merece. — Oliver disse para si mesmo enquanto tentava arrastar o amigo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Imperfeitos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.