Eu estava deitado na areia da praia quando a Ana se sentou do meu lado. O rosto dela estava diferente. Parecia que queria me contar alguma coisa.

- Bruno, será que a gente pode conversar?

- Lógico Ana. Sobre o que você quer conversar?

- Sobre nós dois. – ela disse e olhou em direção ao mar.

- Bruno, pra que você me trouxe pra cá? Eu não entendi nada. Você do nada chegou dizendo que precisava de um tempo junto comigo, pra entender algumas coisas. O que houve?

- Ana.. eu.. – fiquei sem o que falar. – Sei lá, não tá sendo bom pra você, ficar aqui comigo? Nós dois sozinhos, sem ninguém por perto.

- Sem a Fatinha por perto você quer dizer, né? – ela disse e eu me levantei logo.

- Fatinha? De onde você tirou essa ideia, Ana?

- Bruno, a Ju me ligou perguntando se eu tava bem. E como tava o meu bebê. Eu fiquei sem entender bulhufas e ela me explicou que antes de você viajar, você deixou uma carta pra Fatinha, dizendo que estava vindo embora comigo, porque eu estava grávida, e mais um monte de coisa que você sabe.

Eu fiquei sem reação. Bateu uma dor forte no peito. De arrependimento. De ter feito isso com a Ana e imaginei como a Fatinha devia estar se sentindo com toda essa mentira que eu arrumei.

- Ana, eu não sei do que você tá falando. – eu disse tentando disfarçar minha frustração.

- Olha só, eu deveria estar morrendo de raiva agora. Deveria bater em você, só de pensar que você já pode ter ficado com ela. Mas não entendo o porquê escrever isso e mentir desse jeito Bruno. Ela tem todos os defeitos do mundo, mas ela pode estar gostando de você, já pensou nisso? Imagina só como ela deve estar depois de ter lido aquilo tudo.

- Sim Ana. Pensei. E foi por isso que eu quis vir pra cá e decidi mentir pra ela. Quem sabe assim ela não se esquece de mim e me deixa ficar com você em paz.

- Não Bruno. Você não vai ficar comigo em paz.

- Porque tá dizendo isso?

- Porque eu não vou ficar com você, sabendo que você pensa na Fatinha. Que quando você voltar vai acabar ficando com ela.

- Ana, para de falar assim. Parece até que você tá..

- Sim Bruno. Eu to terminando com você.

- Ana, mas por quê? – eu disse segurando os ombros dela.

- Você em algum momento perguntou se eu queria estar aqui? Se eu queria viajar? Sair de onde eu estava? Não. Pois agora é a minha vez de te falar. Eu preciso visitar uma pessoa que eu não vejo há muito tempo. Um amigo que mora em Brasília. Ele está muito doente. E vir pra cá não vai te fazer esquecer a Fatinha, sabe por quê? Por que eu não vou ficar tapando os buracos que a Fatinha deixou na sua cabeça.

- Então é isso, você quer mesmo terminar?

- Já terminei.

- Então tudo bem. Como você quiser.

- Tá vendo como você nem se importa mais?

- Eu não vou implorar pra você ficar, se você não quiser. Minha consciência está limpa. – eu disse meio confuso. Embora eu tivesse certeza, de que não estava.

Ana me deu um beijo na testa e foi arrumar as malas e eu fiquei deitado na areia lembrando tudo que havia feito desde que conheci a Fatinha.