Never Let Me Go escrita por blossomed


Capítulo 11
How I Miss You




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“Então como você encontrou o corpo?”

“Eu fui pegar água para minha mãe e quando voltei... Encontree... Encoo... Enc...” Comecei a gaguejar desconfortável com as pessoas ao meu redor me observando, com o som da sala sendo limpa, com o som do corpo de minha mãe sendo limpo e removido, com a conversa no ambiente ao lado. Suspirei fundo.

“Está tudo bem?” A oficial que estava me investigando perguntou.

Não respondi, apenas balancei a cabeça. Eu não sabia se iria conseguir continuar falando. Era muito difícil para eu ainda falar do ocorrido. Inspirei e expirei fundo mais uma vez enquanto os grandes olhos negros da Oficial Johnson me encaravam. Ela era uma pacificadora. Tinha o cabelo curto, preto, liso e oleoso. Vestia uma espécie de macacão branco com coturnos pretos. Era bem alta.  Seu capacete estava em cima do balcão da cozinha e ela não carregava nenhuma arma, somente um bloquinho no qual fazia notações sobre o que eu dizia. Ou melhor, sobre o que eu tentava dizer já que quase nada além de respostas monossílabas saíam da minha boca.

Levantei-me da cadeira e me dirigi ao filtro para pegar um copo de água. Na porta da cozinha estavam dois outros pacificadores, perto da geladeira mais um e do lado da oficial outro. Sem contar com os que estavam na sala e os que estavam limpando e removendo... Tudo. Coletando evidências. Todos os pacificadores eram altos e fortes, com expressões frias e sérias. Um deles tinha uma grande cicatriz que cortava desde sua testa até a bochecha esquerda em uma linha reta. Todos possuíam capacetes, armas, escudos e usavam o mesmo macacão branco. Perguntei-me enquanto bebia a água em pequenos goles se o Presidente Marley sabia do acontecimento.

Escutei a voz do meu pai vindo da sala. Sua voz estava meio fina e baixa, fazendo suas palavras ficarem inaudíveis aos meus ouvidos. Ele assim como eu estava sendo interrogado, mas não nos queriam deixar juntos, pois alegavam que um iria proteger o outro. Olhei em volta. Todos os pacificadores presentes na cozinha me encaravam. Terminei de tomar a água rapidamente e coloquei o copo na pia.

“Podemos prosseguir?” A oficial perguntou. Balancei a cabeça e voltei para a cadeira que estava posicionada de frente a que ela estava sentada.

“Como você encontrou o corpo?” Inspirei e expirei fundo novamente e respondi.

“Eu fui pegar água para minha mãe e quando eu voltei ela estava toda contorcida no chão, com uma poça de sangue debaixo dela e uma lâmina em suas mãos.”

“O corpo estava cheio de ferimentos fora o corte final na região abdominal. Como você os-explica?” Suspirei e olhei para o chão. Uma lágrima escapou de meus olhos, mas rapidamente sequei-a. Todos ainda me olhavam com cautela e frieza.

“Ela estava se prostituindo. Um homem abusou sexualmente dela. Então ela chegou em casa toda ferida e suja.” Disse com a voz baixa e abafada. Acho que foi a frase mais difícil que eu já havia dito em toda a minha vida.

Lembrei-me de quando ela havia chegado em casa aquele dia mais cedo. De como ela havia chegado em casa. Do jeito que eu havia discutido com ela. De como ela utilizou todas as forças para me pedir desculpas. De como ela estava fraca e machucada. De como ela me olhava em silêncio enquanto eu gritava e chorava. Do jeito que ela se contorceu a cada toque meu. Abaixei a cabeça e deixei que algumas lágrimas presas caíssem. Apoiei os cotovelos em minha perna e coloquei as palmas das mãos nos olhos. Solucei algumas vezes antes de levantar a cabeça novamente.

 A oficial me observava com cautela, mas não aparentava nenhum sentimento, assim como os outros pacificadores presentes. Ela olhou para o bloquinho e escreveu algumas coisas enquanto eu ainda soluçava.

“Você sabe que homem era esse? Você já o viu?” Perguntou ainda olhando para o bloquinho lendo as anotações feitas.

Lembrei-me de quando estava indo para casa e vi minha mãe rindo e passando a cesta de uma mão para outra enquanto eu estava escondida atrás da árvore. O jeito que o homem olhou fixamente para onde eu estava como se pudesse ver atrás da mesma.

“Sim eu já o vi. Uma vez somente, de relance. Ele era alto e tinha cabelos loiros escuros, quase castanhos.” Fechei os olhos tentando me focar na imagem do homem, tentando ver se conseguia lembrar-me de alguma coisa. Qualquer coisa que ajudasse a pegá-lo. “Desculpe-me, eu só me lembro disso.”

“Você disse que o viu somente uma vez. Onde?”

“Eu saí da escola mais cedo hoje e no caminho para casa eu vi minha...”

“Você viu sua mãe?” Ela perguntou depois de um tempo com cuidado. Fechei os olhos e concordei com a cabeça. “Se lembra de onde é a casa?”

Pensei no caminho que fazia todos os dias para vir para casa com Carol. Com certeza teria de mudar esse caminho a partir de hoje. Não sei o porquê, mas assim que pensei no caminho que fazia aquele menino que conversei hoje me veio à cabeça. Ainda não conseguia lembrar o nome dele. Jackson? Josh? Balancei minha cabeça um pouco para livrar-me desses pensamentos.

“Fica um pouco difícil de me lembrar com as casas sendo todas iguais. Mas eu posso lhe mostrar o caminho, passo na rua todos os dias.” Ela concordou com a cabeça e voltou a anotar alguma coisa no caderno.

Ela fez mais algumas perguntas que foram... Um pouco difíceis de responder, mas dei o meu máximo para que pudesse pegar esse home e prendê-lo, esse era meu único desejo no momento. Depois do término do interrogatório meu pai foi chamado até a cozinha. Um pacificador veio junto com ele e informou que tudo estava limpo e as evidências retiradas.

Meu pai sentou longe de mim, ele não havia olhado para mim nenhuma vez desde que tinha entrado na cozinha e acho que ele não ia olhar por um bom tempo. A Oficial Johnson foi conversar com o outro pacificador que havia interrogado meu pai e um silêncio constrangedor se instalou no ambiente. Será que ele ainda tinha a ideia na cabeça de que eu havia matado mesmo minha mãe? Olhei para o relógio e percebi que já eram dez e meia da noite. Os Oficiais voltaram e se sentaram em nossa frente.

A Oficial Johnson começou a falar sobre a empresa de prostituição na qual minha mãe estava envolvida e disse que amanhã iria interrogar com a amiga dela que a tinha convencido a se cadastrar na empresa. O Oficial que se apresentou como Steiner concordou com a cabeça e eles disseram que não tinham certeza, mas as chances de suicídio eram grandes. Nessa hora meu pai se irritou e bateu a mão com força na mesa. Ele se levantou e começou a gritar e apontar para mim, dizendo que eu era culpada de tudo. Eu comecei a chorar e dizer que não era minha culpa, mas ele disse que eu fui a pessoa que havia levado ele e minha mãe à ruina.

Continuei chorando, os oficiais pediam para ele parar de gritar, mas ele se irritou ainda mais e levou sua mão ao meu rosto, o que provavelmente deixaria uma marca no dia seguinte. Coloquei minha mão em cima da bochecha esquerda, onde ele havia batido. Parei de chorar e fiquei olhando-o, perplexa. Ele não parou de gritar e foi preciso que os outros pacificadores o arrastassem para fora de casa. Segui-o com os olhos, ainda perplexa. Voltei-me para os Oficiais que me encaravam.

“Podem continuar, por favor.”

A Oficial Johnson começou a falar, mas gaguejou e o Oficial Steiner continuou falando por ela. Ele disse que o corpo seria analisado pelos legistas e o resultado seria mandado pelo correio, juntamente com o resultado do caso. Ele continuou dizendo que amanhã viriam à minha casa para ver se eu conseguia identificar a casa do homem. Durante todo esse tempo a Oficial Johnson ficou observando meu rosto, acho que estava perplexa também, e havia deixado isso transparecer. 

Depois que ele havia terminado de falar, ambos se levantaram e se despediram de mim. Foram acompanhados pelos outros pacificadores até a porta. Assim que eles saíram, ainda fiquei na cozinha, fitando o chão. Passei as mãos em meus cabelos e massageei minhas têmporas tentando assimilar tudo o que havia acontecido hoje. Meu pai entrou em casa. Ele me olhou enfurecido, mas subiu as escadas com passos pesados sem dizer nada. Bateu a porta do quarto.

Fiquei mais algum tempo lá na cozinha, arrumei as cadeiras que já rangiam e fui para meu quarto. Passei pela sala e observei o chão limpo e polido perto das poltronas. Uma lágrima caiu por minha face e subi as escadas rapidamente e com cuidado fechei a porta de meu quarto. Joguei-me na cama e tentei dormir, mas nada funcionava. Às duas horas da manhã decidi me levantar decidida sobre o que fazer. Liguei as luzes e abri a gaveta da pequena cômoda de madeira que ficava ao lado de minha cama. Peguei o estilete que guardava lá dentro. Tirei a gaveta da cômoda sem me importar com o barulho e observei a lateral da mesma. Estava entalhado do lado esquerdo.

23/12/3500

A data da morte de meu irmão. Uma lágrima caiu em meu rosto, mas eu a sequei rapidamente e embaixo dessa data comecei a entalhar com cuidado a data de hoje. Ao lado de ambas entalhei uma cruz. Terminei às duas e meia. Coloquei a gaveta de volta em seu lugar e guardei o estilete. Deitei-me em minha cama e fiquei observando o céu preto do outro lado da pequena janela. As estrelas não brilhavam tanto e a lua estava minguante, fora de minha vista. Oficialmente dezembro era o mês que eu mais odiava. E o Natal o feriado mais bobo que existe.

Pensei na memória que tive hoje mais cedo. Meu irmão brincando com seu peão, minha mãe com seu sorriso reluzente que me alegrava sempre.

“Como eu sinto a falta de vocês.” Sussurrei baixinho. 


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Notas finais do capítulo

Então como eu disse no capítulo anterior: Postagem dupla! yay
Esse capítulo com várias emoções *O*
Posto amanhã normalmente.
Espero que tenham gostado :)Obrigada por lerem e até amanhã!
Beijos
xxJuhxx
@juhh_goomes



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