Depois da aula um tanto monótona, que significou apenas como um momento para os vampiros se reunirem em uma sala mal iluminada, o grupo de jovens se dirigiu novamente para o Dormitório da Lua.

Já naquela sala um tanto aconchegante e ricamente mobiliada, o grupo de vampiros se acomodou entre os sofás, poltronas e almofadas, aproveitando o calor da lareira depois de um dia chuvoso de outono.

Ninguém falava nada. Esse silêncio doentio chegava a provocar loucura. Cada um, a seu modo aproveitava como podia o restante da noite que ainda perdurava sobre eles, saboreando nobres cálices de sangue.

Kaname estava perdido em meio a seus pensamentos. Não possuía nenhuma expressão concreta na sua face. Apenas estava concentrado demais em sua mente infinita.

Hikari permanecia contemplando o nada com aqueles olhos profundos e inexpressíveis. Ela parecia uma estatua de cera que desmoronaria a qualquer momento.

Hanabusa não conseguia desvencilhar o olhar da garota. Podia-se ver de longe que a loucura o corrompia. O desejo pelo sangue da novata era maior do que qualquer ordem dada por Kaname. Sua sede insaciável não mais podia ser controlada pela razão. Tinha olhos famintos e intenções de fera.

Quando a lareira já estava quase no fim, eles se recolheram. Cada um, de acordo com as regras deveria ir direto à seu quarto. Porém, não foi exatamente o que aconteceu.

Hikari estava em um quarto individual. Porém havia nele duas camas. Mas hoje apenas uma seria ocupada. A garota dormiria ali sozinha.

A luz estava apagada. A penumbra encobria o quarto. A única coisa que brilhava eram os olhos vermelhos da novata. Passos ecoaram próximo ao corredor. O assoalho estremeceu. Parou por um instante. Um “clack” na fechadura fez Hikari estremecer. A porta foi rangendo ao se abrir.

Hanabusa entrou no quarto. Hikari permaneceu imóvel sentada na cama. O vampiro foi se aproximando, ofegante. Quando já estava frente à frente com a garota, com a voz descontrolada disse:

- É difícil resistir. O perfume do seu sangue me enlouquece. Eu tenho total ciência de que estou descumprindo uma ordem de Kaname-sama. Mas eu não posso fazer nada. O meu desejo por teu sangue é maior.

Hikari ao ouvir tais palavras, paralisou-se novamente. Sabia exatamente o que iria acontecer dali para frente. Sabia as conseqüências de conviver com vampiros. Os Kurama eram aqueles que deviam oferecer seu sangue a quem precisasse. Um hábito cruel, porém milenar e costumeiro.

Ela não possuía forças para revidar qualquer aproximação de Hanabusa. Pode parecer insano, mas beber o sangue um do outro é costume entre os vampiros. Desrespeitá-lo é considerado uma falta grave de educação.

- Eu preciso dele. – continuava Hanabusa loucamente. – Preciso do sabor do teu sangue.

Nesse triste instante, o vampiro loiro segurou os braços de Hikari e os impulsionou no colchão. Ele está agora sobre a garota, completamente sem poder reagir.

Num forte impulso, o vampiro mordeu o pescoço da garota, sugando vorazmente seu sangue até se sentir completamente satisfeito.

De longe, Zero observava a cena pelos vidros da janela da sacada de Hikari. Ele viu o vampiro cravar suas afiadas presas na frágil carne do pescoço da garota. A raiva subiu-lhe pelo corpo. Porém conteve-se. Zero não podia fazer nada para impedir que este ritual vampírico acontecesse. Embora não gostasse de vampiros, não era de seu feitio se intrometer em assuntos que dizem respeito restritamente a essa espécie.

Zero desejou poder mudar esse destino. Estava indignado com a ação de Hanabusa. Não gostara nem um pouco de ver a bela garota a mercê daquelas presas afiadas.

“Seres cruéis que não merecem perdão” pensou ele finalmente quando já deveria estar de volta a seu dormitório.