Vozes escrita por Dorrit Division


Capítulo 3
Boatos são boatos


Notas iniciais do capítulo

Oie galera!!! Voltei!!! Meus dias estão, aliás, são meio cheios de coisa, e aí só consigo postar de madruga. Isso que eu ainda estou de férias. De qualquer maneira, aqui está o segundo capítulo. As coisas para Mandy estão se intensificando.
Se divirtam e,
boa leitura.



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14 de setembro, 2008

Cooperfield, Australia.

Era o primeiro dia de aula. Acabávamos de organizar, mobiliar e até nos aconchegar na nossa nova casa. Parecia como uma nova vida. Novas experiências. Novas pessoas. Uma nova Mandy. Mas o mesmo pai, Andrew, que tinha trabalho demais para dar atenção à sua família. A mesma mãe, Elizabeth, que tinha problemas demais para cuidar dos próprios problemas ou mesmo de seu filho, que precisava de um pouco mais de carinho do que uma criança comum. E o mesmo Jimmy, mas com um toque de alegria a mais. Seus surtos de medo e seus gritos até se tornaram menos frequentes desde a nossa chegada naquela cidadezinha.

Aquela cidade era o tipo de cidade de seriado americano. Ou pior. Não fazia nem três meses direito e o caixa do mercado da esquina da avenida principal já sabia o meu nome e até o meu número de sapato, se ele quisesse. As pessoas não apenas falavam, como observavam cada movimento seu. Começaram a ter boatos que meu pai batia em mim e no meu irmão. O que não é verdade - se bem que uma vez ele me bateu, mas nem lembro mais o motivo -, e isso apenas se tornou real por terem visto ele vociferar algo ríspido para meu irmão quando estávamos na lanchonete. Jimmy começara a chorar porque não queria comer. É evidente que ele não se sente seguro com o pai. No final, eu acabei o acalmando cantando uma canção.

As pílulas estavam acabando, pois comecei a toma-las com mais frequência. Parecia que quanto mais eu tomava, mais intensas eram as vozes. Um dia, enquanto meu irmão assistia a um programa infantil, comecei a surtar, à toa, dizendo que o anarquismo era a melhor organização social que o mundo poderia ter. Logo, entrei numa discussão comigo mesma, rebatendo a questão e defendendo o capitalismo. E o pior era que eu não fazia ideia do que estava acontecendo, era involuntário. Tinha coisas que eu disse que não fazia ideia do que queriam dizer. Estava falando com sotaque australiano. Minha mente estava tão cheia de pensamentos que não me aguentei e gritei. Fiquei preocupada com Jimmy, mas no final, ele apenas riu, apontando o dedo para mim.

– Não aponte o dedo, Jimmy. Não é legal. - E ao dizer isso, tomei uma pílula. E mais outra nos seguidos cinco minutos. Até que as alucinações pararam. Mas uma repentina dor de cabeça me atingiu, que de vez em quando, aparecia, inesperadamente.

Uma nova Mandy. Talvez nem tão nova assim. É sério, Mandy, a quem você quer enganar? Você não vai mudar. Mas eu estava decidida. Estava determinada a mudar. A tomar alguma atitude e não ser mais aquela inglesa patética de quem todos zombavam na escola. Eu queria ser uma nova pessoa. Uma nova Mandy. Uma nova identidade. E eu estava disposta a fazer qualquer coisa para conseguir.

Por isso, eu estava trancada no banheiro havia horas. Eu precisava me apressar, não queria matar aula logo no primeiro dia.

– Querida, já são sete e vinte! Você vai se atrasar. O que está acontecendo aí dentro?

– Nada, mamãe. - Isso não soou como a nova Mandy soaria. Tentei de novo - Nada, PORRA!

– Eu ouvi direito? Você lembra do que aconteceu da última vez que você fez isso, Amanda?

Ah, sim. No mesmo segundo, lembrei. Meu pai tinha me batido. A primeira e única vez. Foi na véspera do casamento da minha prima idiota, Sally. Eu não queria ser sua dama de honra, e quando disse o motivo ("que eu estava pouco me ferrando pra ela"), meu pai me bateu. Na cara. Nunca mais falei um palavrão sequer. E no final das contas, sim, fui daminha de honra daquela vadia.

Joguei o pote de tinta vermelha no lixo do banheiro. Molhei meus cabelos castanhos novamente, com suas pontas tingidas em um vermelho vivo e com um corte repicado, fugindo do formato redondo de sempre, e guardei a tesoura. Esfumei os olhos com sombra preta e lápis e saí.

– O que você fez? - As sobrancelhas de minha mãe se unem, e ficam tão perto uma da outra que quase viram uma só.

– Novo visual. - Respondo e sigo para meu quarto, para pegar minha mochila.

– Você está me assustando. - Diz Jimmy, com voz chorosa. Ele está na porta do meu quarto, segurando um sutiã.

– Jimmy, querido. Sou eu, só que com tinta nos olhos. E quantas vezes eu vou ter que dizer que isso é invasão de propriedade? É como se eu fosse invadir seu castelo sem sua permissão.

Ele joga meu sutiã no chão e começa a chorar. Eu tento o abraçar, mas ele se livra de mim e vai para o seu "castelo", ou melhor, quarto. Isso quer dizer que eu estava certa e ele não tinha como revidar. Mas geralmente ele não chora. Acho que exagerei na maquiagem.

***

Cidade pequena, distância pequena. Fui para a escola de bicicleta, e Jimmy é levado para uma escola para crianças especiais. Ao chegar, "estaciono" minha bicicleta e já noto uma ótima recepção aos alunos. Uma enorme faixa, em frente a escola dá à todos as boas-vindas:

A ''BERNARD COOPERFIELD HIGH SCHOOL''

RECEBE A TODOS PARA UM BOM ANO

Talvez aquilo era um sinal, um bom sinal. De repente, começo a ter uma dor de cabeça. Me agacho e tapo meus ouvidos. Iniciando com um chiado de microfone, começo a ouvir os mais diversos pensamentos vindo do timbre mais agudo e chegando ao mais grave. Alguns gritam para mim, enquanto outros repetem as mesmas ideias e mais outros, poucos falam calmamente. Abro o frasco que está com o conteúdo escasso e pego um comprimido. Começo a perceber que passei a tomar quase cinco ou seis comprimidos por dia. Naquele pote, faltavam apenas mais três. Fecho os olhos e engulo o meu medicamento.

– Ei! Você tá bem? - Ouço. Dessa vez é uma voz real. Tem o sotaque mais ridículo e provavelmente o mais sexy que já ouvi. A musicalidade daquela voz chega em mim e simultaneamente, sinto uma mão pousar sobre o meu ombro. Levanto. E encaro um par dos olhos mais verdes e viciantes que já vi. Sinto um nó na minha garganta e levanto. - Bem-vinda a Cooperfield High.




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Notas finais do capítulo

São quatro da manhã. Mas valeu a pena, hahaha. E o que acharam? O ritmo da história está começando a pegar. O calor de cada momento. Os personagens vão se caracterizando cada vez mais. É isso aí. Continuem acompanhando, porque ninguém mais para essa menina!!!
Beijaooo galera,
e por favor,
vão dormir.
Dorrit Division.