Continuei sentado, na exata mesma posição que estava ao corpo do Shine atingir o chão, sem vida.

                Me peguei pensando em casa, em minha mãe, nossa, ela ficaria desolada com isso... Meu coração falhou uma batida ao imaginá-la sozinha, no apartamento, chorando pela perda do único filho. Mais uma vez, queria poder enxergar nem que fosse uma pequena centelha de esperança.

                Mas não havia esperança, não tinha escapatória, estava fadado à morrer ali... Sozinho. Não, espera, sozinho não.

                -Ei, Urano. - falei. - O que vai acontecer com você agora?

                "Bem, eu não sou o próprio Urano, apenas um pedaço. Portanto, morrerei aqui. Quando a espada for destruída." disse Urano em minha mente.

                -Você vai morrer também? - perguntei - Caramba, desculpe lhe envolver nisso.

                "Não se desculpe. Morrer aqui seria muito melhor que passar mais um milênio de anos naquele lugar."  falou Urano.

                -He, talvez você tenha razão, afinal. - falei.

                Ergui a cabeça para o alto, não havia mais telhado, o que mostrava o brilho tênue de algumas poucas estrelas, o luar não parecia presente, mas, bem, não era necessário.

                Alguns últimos rostos passavam em minha mente, Annabeth, Grover, Thalia, Nico, Tyson... Nossa! Tyson! Me esqueci completamente dele! Como será que ele estava? O palácio de Poseidon fora atacado pelos Shines, mas não vi qualquer ser mitológico por aqui. Por que será?

                "Por que eles não eram imortais, e não veneravam nenhum deus, apenas o protegiam." falou uma voz em minha mente, mas esta não era a voz de Urano, era uma voz nova... Porém, conhecida.

                -V-Você é... Shine? - perguntei.

                "Sim. Parece que você era o corpo mais próximo que aceitava a morte, afinal." disse ele "Aliás, meu nome, bem, o nome que gosto de usar é Francis."

                -Francis? - conti uma gargalhada - O senhor da morte, Francis.

                Dessa vez não me aguentei, minha gargalhada ecoou pelo vácuo do local, mas era bom, rir enquanto podia.

                "Do que está rindo?" perguntou Francis "É um nome legal!"

                -Sim... Sim... Para um colegial, talvez. Não para o senhor da morte. - falei. - Bem, logo você deixará esse corpo de qualquer forma.

                "É. A dimensão já está em estado crítico, segundos até ela cair." falou Francis.

                Dito e feito, ouvi algo se romper, como se a própria atmosfera do local tivesse sido rasgada, me deitei ao chão e fechei os olhos.

                Este é meu fim. Adeus, pessoal. - pensei.

                Ao dizer essa última frase, senti um arrepio, me recordei de vozes, minha mãe, Annabeth, Grover, Thalia... Eles estavam chamando, clamando meu nome... Até a voz de Nico estava lá... Não, a voz dele estava sobressaltada, quase como se...

                -PERCY! LEVANTA SEU IDIOTA, TEMOS QUE DAR O FORA DAQUI! - disse Nico.

                Abri os olhos e me assustei ao ver o garoto à meu lado, atrás dele uma enorme parede de sombras se estendia até onde não podia ver. Imaginei que deviam estar sustentando os cacos da atmosfera, para que o vácuo não entrasse e me explodisse.

                -N-Nico... O que está fazendo aqui? - perguntei.

                -O que? Você ficou ainda mais idiota? - perguntou ele - Vim te salvar! É óbvio!

                -Não se esqueça de ninguém. - disse Hades, atrás de Nico.

                -H-Hades?

                -Poseidon me pulverizaria se não viesse pelo menos conferir que estava morto. - falou Hades. - Enfim, entre logo, não temos o dia todo.

                À esperança tomou conta do meu coração novamente, eu sobreviveria! Só tinha um problema...

                -... Eu não consigo me mexer. - falei, ao perceber que minhas pernas e braços não respondiam meus comandos.

                -Ah, vou ter que te carregar ainda? - perguntou Nico.

                -Bem... Desculpe - falei. - Conto com você.

                -Cale-se! Não vou te carregar! - respondeu Nico.

                Ele apontou sua mão para o ex-corpo do Shine, este se levantou à sua ordem, caminhou até mim e me ergueu em seus braços.

                -Esse corpo é forte, deve aguentar o tranco. - falou Nico.

                O homem caminhou até a parede de sombra, com meu coração radiante de esperança e minha mente totalmente ocupada pensando em meus amigos e família do outro lado, fechei os olhos e mergulhei novamente na escuridão da inconsciência.