Os Sete Amores De Michelle Borardi escrita por Dani Morais
Pelo menos alguma coisa deu certo naquela semana. Desde quando Pedro entrou para minha sala eu não falei mais com ele -finalmente entendi por que minha mãe me dizia para rezar antes de dormir para afastar o mal.- Todos os dias fazia questão de ir cumprimentar Fernando e como os dois eram amigos, eu passava reto por ele. Não tinha como saber exatamente a expressão que ele fazia quando eu o ignorava, pois eu tinha evitado ao máximo olhar em seus olhos azuis que me deixavam louca.
Se o começo da semana tinha sido um sucesso, quinta-feira chegou para estragar tudo.
Cheguei à escola e subí direto para a sala de aula antes de todo mundo como de costume para amaldiçoar Pedro antes que ele entrasse para a aula. Assim que coloquei o primeiro pé para dentro da sala vi um pequeno boné azul no cantinho quase imperceptível.
-“Oi, Fernando! Por que toda vez eu te encontro aqui na sala sozinho?”- Ele olhava para a janela e não me respondeu.
-“Fernando, tá tudo bem?” – Nenhum sinal de vida.
Fiquei irritada e cheguei mais perto para olhá-lo nos olhos. Coloquei-me em pé na frente dele e puxei seu rosto para que ficasse em direção ao meu.
Assim que toquei seu queixo pude perceber um pulinho de susto que ele deu.
-“Oi Mi! Tudo bem?” – Ele respondeu em choque.
-“Comigo sim, mas com você parece que não!”- Sentei na carteira da frente- “Estou te chamando já faz um tempão e você não responde!” – cruzei os braços.
-“Ah, me desculpa, estou com fone de ouvido.”- Ele disse tirando a blusa e revelando seu Ipod.
-“Hum... mas não é só isso.”- Ele desviou o olhar para a enorme nuvem que passava por cima da escola.
-“Você não vai me falar o que é?”- Nem se mexeu.
-“Bom, se pra você falar alguma coisa eu vou ter que me jogar na lata de lixo como da última vez...”- Eu disse levantando e seguindo em direção ao lixo- “...estou indo agora!”
“Você é uma palhaça mesmo!”- Ele disse com um sorriso bobo no rosto.
“Então você vai me contar?”- Me sentei novamente.
“Quem sabe algum dia...”- o sorriso em seu rosto se tornou uma expressão confusa e nublada.
“Tudo bem eu desisto!”- BEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENG- Os sinal tocou anunciando a aula de história.
Tudo corria perfeitamente bem. Eu estava ignorando o Pedro, Pedro estava me ignorando, eu estava encarando Fernando e Fernando estava me encarando...
Até que professora vaca de história decidiu anunciar o novo trabalho trimestral. E ela não era vaca só por ser o trabalho mais complicado do mundo e nem por insistir em escolher os grupos, mas sim por me colocar no mesmo grupo com o Pedro e o Fernando ao mesmo tempo!
-“Professora, por favor! Você não acha que nós já temos maturidade suficiente para escolher nossos próprios grupos?” – Eu tentei...
-“Acho, por isso que eu mesma escolhi os grupos. Vocês devem ter a mesma maturidade para lidar com os colegas que eu escolhi!”.
-“VAAAAAAAAAAAAAACA!”- Eu só pensei, mas minha vontade era gritar na orelha dela e fazê-la engolir todo aquele giz da lousa com apagador e tudo.
Dei as costas para a vac...professora e segui para a minha carteira. Antes que conseguisse colocar minha bunda no acento senti uma mão -gigante- em minhas costas.
-“E aí delícia? Quando vamos fazer o trabalho?”- ARGH, aquele ar arrogante dele...
-“Ah, eu não sei, temos que ver com o Fernando...”- tentei fazê-lo vazar logo do meu pé e nunca mais falar comigo.
-“Não seja por isso...”- ele estendeu a mão- "... Nando chega junto!”- Voltou a olhar para mim com um sorriso malicioso no rosto. Retribuí com um sorriso irônico.
Olhei para Fernando vindo em nossa direção com a menor empolgação possível que um ser humano possa ter.
-“Que é, Pedro?”- Ele tirou os olhos de mim e passou a fitar o amigo.
-“O trabalho vai ser na sua casa, beleza?” – Olhei para ele indignada com a falta de tapa na cara que ele tava.
-“Fernando se você não puder...”- Eu tentei aliviar um pouco a situação, mas fui interrompida.
-“Por mim tudo bem.”- Ele disse sem olhar para mim.
Olhei para o chão sem escolhas.
-“Beleza! Então amanhã as oito na sua casa!”- Pedro se virou e caminhou em direção à porta da sala enquanto eu o imaginava caindo, comendo lixo, eu jogando uma cadeira nas costas dele, eu o enforcando, eu passando o pé nele, entre outras coisas.
Depois de todos esses acontecimentos me responde: COMO EU FUI TÃO ÓTARIA DE GOSTAR DE UMA CARA PATÉTICO COMO O PEDRO? SÓ SENDO MICHELLE MESMO!
...
Já eram quinze pra oito e meu pai estava fazendo a reflexão diária dele no chuveiro e, olha, ele deve ter feito muita merda aquele dia por que ficou, pelo menos, uma hora e meia naquele banho.
-“Pai, nós já deveríamos estar saindo de casa essa hora! Você já pensou em tomar um banho um pouco mais rápido?”
-“AAAH! EU TRABAHO O DIA INTEIRO! O TEMPO QUE EU TENHO PARA DESCANSAR VOCÊ AINDA FICA ME APRESSANDO! ME POUPE GAROTA! AINDA ESTOU ACHANDO MUITO ESTRANHO ESSA HISTÓRIA DE SÓTER MENINOS NO SEU GRUPO!”
-“NÃO É CULPA MINHA SE AQUELA VACA DA PROFESSORA ESCOLHEU OS GRUPOS!”
-“OLHA ESSA BOCA, MENINA! EU TE DEI MAIS EDUCAÇÃO QUE ISSO!”
-AI, TÁ BOM PAI, SÓ SAI LOGO DESSE BANHO E ME LEVA NA CASA DO FERNANDO!
...
-“Oi gente! Desculpa o atraso! É que meu pai resolveu tomar o banho do mês hoje...”- Cheguei no quarto do Fernando e espalhei minhas coisas pela cama dele.
-“Caramba, gracinha! Até que enfim você chegou! Já estava achando que você não vinha...”
Olhei para o Pedro e dei um sorriso falso. Fernando bateu a mão no caderno que segurava como se não aprovasse o modo que Pedro me tratava.
-“Vamos terminar o trabalho logo!”- Fernando disse apressado.
-“Tá bom galera. Mi, o que você acha de deixarmos o Fernando descansar um pouco e irmos fazer o trabalho no outro quarto?”- Pedro riu do que ele mesmo falou.
Fernando levantou irritado da cadeira e saiu do quarto como vento.
-“Você é sem noção mesmo, né Pedro?”- Eu falei indo procurar Fernando.
-“Mas o que eu fiz de errado?”- Pude ouvi-lo enquanto saía do quarto.
Andei por todo o apartamento até encontrar Fernando na cozinha.
-“Você tá bem? Por que saiu daquele jeito do quarto?”- Eu me aproximava.
-“Olha eu não gosto nada desse jeito que ele fala com você!”- Isso eu já percebi né.
-“Você quer me contar o que ficou me devendo lá na sala?”- Eu disse ansiosa pela resposta.
-“É complicado!”- Ele olhou para o chão.
-“EU SOU COMPLICADA! Acho que posso entender!”- Eu disse segurando sua mão.
Ele a soltou e disse:
-“Tudo bem, eu falo...”
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