Os Sete Amores De Michelle Borardi escrita por Dani Morais


Capítulo 16
Não É Culpa Minha




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A sensação de ter tudo resolvido é maravilhosa!

Fiquei o final de semana inteiro treinando na frente do espelho trinta tipos diferentes de expressões de indiferença. Apenas duas ficaram boas.

Segunda-feira de manhã, acordei cedo e fui tomar um banho para relaxar. Sequei os cabelos, fiz uma escova e passei uma maquiagem leve só para tirar as olheiras causadas por três noite sem dormir absolutamente NADA.

Sentei no sofá e fiquei revezando os canais entre desenho animado e notícias. Dez minutos depois eu já estava dormindo novamente.

-“Acorda menina! Já está na hora do almoço e você cochilando de boca aberta no sofá! Isso são horas de dormir? Tá vendo fica até tarde naquele Notebook vendo besteiras e agora não consegue nem manter os olhos abertos!”.

Ah, pai, quem me dera que eu não conseguisse dormir por causa do Notebook até tarde, quem me dera!

-“Ai, pai, já to acordada, só tava testando você! Queria ver se você ia mesmo acreditar que eu tava dormindo... E parece que acreditou né?” – Eu disse fazendo a cara mais irônica que consegui.

-“Você está me chamando de idiota?  -Ele fechou a cara- Eu sou seu pai! Vê se me respeita!”

-“Ah, vamos almoçar logo!” – disse interrompendo uma possível briga.

Todas as vezes que eu vou para a escola, meu pai vira em uma rua que é a minha última chance para checar se meu cabelo está arrumado, se não tem nada no meu dente, se peguei todo o material e outras coisas, depois dessa rua não tem mais jeito é escola direto. Mas naquela segunda-feira eu parecia aquelas criancinhas no primeiro dia de aula que não querem soltar a mãe de jeito nenhum. Minhas pernas tremiam, meu estômago dava voltas e voltas dentro da minha barriga e meu coração queria sair de dentro do meu peito a todo custo!

-“Ta tudo bem minha filha?”- meu pai disse colocando a mão na minha testa.

-“Tá sim, pai! Por quê?”- eu disse com a voz trêmula.

-“Não sei, você está tremendo que nem uma louca e suando feito um porco. Sem falar no seu coração que dá pra escutar daqui. E esse olho esquerdo piscando sem parar?”- Ele disse parando o carro na frente da escola.

-“Que nada pai! É que eu to ansiosa por que hoje vamos aprender o sistema respiratório na aula de Biologia. E o olho piscando é por que a Bia acabou de passar ali, você não viu?”- Dei a pior desculpa do mundo, mas ele caiu.

-“Tudo bem, então. Manda um oi para a Bia e boa aula pra você!”- Ele disse ligando o carro novamente.

“Tá bom. Até mais!”- eu saí correndo antes que desistisse de entrar naquela maldita escola. Passei pela catraca voando que nem deu tempo da inspetora me dar uma bronca.

Subí as escadas antes de todo mundo e entrei na minha sala. Sala 7.

Comecei a tirar meu material da mochila e espalhar em cima da carteira. Abaixei a cabeça e deitei por cima do caderno fechando os olhos levemente.

Eu não sei exatamente quando tempo se passou, mas comecei a ouvir passos de pessoas se aproximando e depois ouvi vozes masculinas:

-“Você tá indo pra que sala agora?”- Com quem será que ele ta falando?

-“Sala 7. Tem biologia hoje. Um saco!”- O QUE? SALA 7?

-“Vixe! Boa sorte! Falou, cara!- Ouvi um barulho como se fossem duas mãos batendo.

-“Falou!”

De repente os passos foram ficando cada vez mais altos e o menino se aproximava. Meu coração já...QUE CORAÇÃO? EU NÃO TINHA MAIS CORAÇÃO A ESSA ALTURA!

Levantei a cabeça da mesa e fiquei olhando para a porta e rezando ao mesmo tempo para que não fosse o Pedro.

Os passos ficavam cada vez mais forte até que pararam...Eu não ouvia mais nada.

Levantei da cadeira e fui como uma pena em direção à porta que de repente se abriu me fazendo esbarrar com um menino loiro.

-“AAH FERNANDO! É VOCÊ? QUE SUSTO! QUASE VOCÊ ME MATA! TÁ DOIDO?” – eu disse com a mão na testa tentando aliviar a dor da pancada.

 -"EU? VOCÊ QUE TÁ DOIDA! O QUE TÁ FAZENDO AQUI NA SALA SOZINHA A ESSA HORA? E O QUE VOCÊ ESTAVA ESPIONANDO LÁ FORA?”?”- Ele me pegou de surpresa!

-Eu não estava fazendo nada... Só ouvi vozes e fui ver quem era... E você por que veio para a sala tão cedo?”- Tentei despistar a conversa.

-“Estou atrasado com umas lições... Só queria terminar.”- Ele ficou mais desconcertado que eu.

-“Hum... eu vou te deixar eu paz para terminar então!”- Me virei de costas para ele e segui em direção a minha mesa.

-“Mi...”- parei exatamente com o pé levantado do chão e me virei novamente para ele esperando que ele continuasse -“...tem uma papel colado nas suas costas!” -Congelei!

Eu não esperava que ele dissesse isso. Talvez um “eu ainda te amo” ou então “volta pra mim que eu não aguento mais viver sem você”, mas não. Ergui meu braço e arranquei o papel. Estava escrito: “EU SÓ SEI DORMIR!”

Amassei com força e corri para o lixo. O que eu não esperava é que eu iria cair de cara no lixo por conta dos meus cadarços sempre desamarrados.

“Calma! Eu te ajudo!”- Ele disse estendendo sua mão para mim e puxando meu corpo contra o dele.

Quando me dei conta estava com meu nariz colado no dele e viajando em seus olhos. Eu não me lembrava daquele brilho nos olhos dele...

“HÃM! Peguei vocês dois no flagra!”- olhei para a porta e vi a professora entupida de cadernos nos braços olhando para nós com um sorriso malicioso.

“Que é isso professora! Eu só estava ajudando ela. Do jeito que é desastrada acabou de enfiar a cara no lixo. E ainda dizem quem ela só sabe dormir!”- Ele me olhou com um sorrisinho no resto e eu retribuí com um sorriso sem graça.

“Sei... Tudo bem, vocês já podem me ajudar com esses livros aqui!” – Larguei a mão do Fernando e me aproximei da professora. Contei os livros em suas mãos. Eram dezessete. Peguei sete e deixei o resto para Fernando.

O sinal bateu, voltei para a minha carteira e me perdi no meio da multidão de alunos que entravam pela porta.

Contei até quatro e pude vê-lo entrando pela porta da sala. Todo mala, com as bermudas quase nos joelhos e uma corrente no pescoço. Desviei o olhar como havia treinado na frente do espelho e encontrei o olhar de Fernando perdido no tempo com a esperança de cruzar com o meu.


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