Os Sete Amores De Michelle Borardi escrita por Dani Morais


Capítulo 11
Acho Que Vou Vomitar




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Na vida de uma menina -na minha, pelo menos- as coisas empolgantes, e ao mesmo tempo fofas, só acontecem uma vez.

Quando a aula acabou desci correndo para o local que ele tinha combinado para nos encontramos. Minhas pernas estavam bambas de tanto medo do que ele poderia vir a me falar. Sentei no primeiro banco que vi para respirar e ao mesmo tempo pensar em uma desculpa que explicasse o fato de eu estar ficando com um menino e fazendo dupla com outro.

Pensei em dizer que estava resfriada e não queria passar um vírus mortal para ele, mas ele perceberia que eu não tinha nada de doente assim que visse minhas bochechas coradas de tanta preocupação. Pensei, também, em dizer que o menino implorou para que eu fizesse dupla com ele, mas também não daria certo. E se ele perguntasse para o menino? Eu estaria perdida... sem mais.

Pensei até em dizer que estava com gases e não queria ficar perto dele para não passar vergonha e não matá-lo com o cheiro, mas não pegaria bem.

Minha cabeça girava e girava tentando buscar lá no fundo daquele - minúsculo- cérebro que eu ainda fazia questão de chamar de meu, alguma informação que pudesse me ajudar, mas aquela lâmpada em cima da minha cabeça não apareceu e nada me salvou. Estava tão perdida em meus pensamentos que não percebi quando ele sentou do meu lado, segurou em minhas mãos e falava comigo:

-“ Ta bom então! Você não quer mais falar comigo?”- Ele disse com uma cara impaciente.

-“O que? Eu estava viajando, me desculpe. Não prestei atenção ao que você disse.” - Sempre quis fazer isso! Haha.

-“Hum... e o que você estava pensando?”- Ele perguntou parecendo realmente interessado na resposta.

E agora o que eu falo? PALAVRAS ME AJUDEM! SAIAM DA MINHA BOCA, POR FAVOR!

-“Ah, eu estava aqui pensando se seria melhor eu pintar minhas unhas de verde ou se deixo vermelho mesmo, o que você acha?”- PRONTO! EU ACABEI DE COLOCAR A CEREJA FINAL NO BOLO DE MERDA QUE EU FIZ!

-“Hum...eu gosto de vermelho...mas na verdade eu não queria conversar com você sobre esmaltes...”- Ele disse me olhando com uma cara do tipo: você é idiota e eu não sei como me interessei por você.Fim.

-“E sobre o que você quer falar?”- Por favor, que ele queira falar sobre bolos! Que ele queira falar sobre bolos! Que ele quei..

-“ O que aconteceu hoje? Você nem veio falar comigo!”- WHAT?

-“Você também não veio falar comigo!”- jura? Não tinha nem percebido!

-“Bom, eu até ia, mas fiquei com vergonha, e depois achei que você tinha ficado brava comigo por eu não ter ido falar com você, que desisti”- eu brava? Que isso!

Fiquei quieta. Não sabia o que falar e, às vezes, o silencio é a melhor resposta.

-“ Eu fiquei com ciúmes quando vi você com aquele menino...”- Ele soltou minhas mãos e olhou para o chão- “...eu queria conversar mais com você, sabe? Sentar perto, ficar de mãos dadas, te dar presentes, te levar no shopping...”

-“Fernando eu...”- não consegui terminar a frase, mas meu cérebro inútil tava dando voltas dentro do meu crânio, eu estava até vendo o vômito de arco-íris que estava prestes a sair a minha boca.

- “Não precisa falar nada, só me promete que vai se aproximar mais de mim e que vai me falar sempre que algo que esteja te incomodando. Promete?”- MAS É CLARO QUE EU PROMETO MEU AMOR! VEM CÁ E ME DA UM BEIJINHO VAI, SEU LINDO!

-“Olha, eu preciso te contar outra coisa. Eu sou BVL, e não sei se estou preparado para perder!”-OPA, PERA AÍ! VOCÊ O QUE?

Não consegui dizer mais nada, todo aquele vômito de arco-íris estava se transformando em vômito de verdade, faltava pouco para eu liberar tudo aquilo.

Fiquei olhando para o chão imaginando todo aquele cimento cheio de vômito e eu saindo correndo de tanta vergonha. Graças a Deus, antes que eu abrisse a boca e deixasse escapar o que não eram palavras a Terra mandou um sinal divino: meu celular começou a tocar feito louco a música da minha banda preferida.

Atendi depressa morrendo de vergonha daquela música. Era o meu pai.

-“Alô?”

-“Caramba! To te esperando aqui fora já faz vinte minutos e você não sai! A fofoca ta boa aí, tá?”

-“Já to saindo, pai!”

-“Caramba, vê se anda logo com essas pernas!”

-“Ai, ta bom, ta bom!”

Desliguei o celular já com muita raiva, sabia que iria escutando o caminho inteiro novamente, que ele estava cansado, trabalhou o dia inteiro e quer ir pra casa descansar, que quando ele tinha a minha idade ele ia pra escola sozinho não tinha que ficar dependendo dos pais por que eles também trabalhavam, e eu não dava valor pro esforço que ele fazia...É, eu já tinha esse discurso na ponta da língua.

-“Fernando, meu pai chegou, eu tenho que ir agora!”- Eu nem olhei na cara dele.

-“ Tudo bem! Tchau!"- Ele me puxou- por que era mais baixo do que eu- e me beijou.

Tudo bem. Eu não sei como sobrevive um relacionamento sem beijo, mas como eu sou Michelle, minha vida tende a ter essas situações complicadas, ameaçadoras e sem noção, já estou acostumada.


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