Susana.

Escolhi a dedo cada peça de roupa e acessórios que usaria naquele dia. Era aniversário de um dos meus melhores amigos, meu e de meus irmãos.

Jake completa 19 anos hoje e para comemorar ele preparou uma festa no jardim da mansão dos pais. Ele passara a semana me consultando sobre a decoração, música e etc.

Terminei de me arrumar e desci para encontrar com meus irmãos na sala. Edmundo vestia um suéter preto e calças jeans, Pedro usava um terno escuro sobre a camisa azul de pescoço em “V” com uma calça escura como o terno. Lúcia esbanjava delicadeza e doçura dentro de um vestido branco e sapatos cor de rosa. Eu vestia um vestido rosado e sapatos dourados.

Nós saímos em direção ao carro carregando os presentes. Pedro dirigiu e mais ou menos 45 minutos depois nós chegamos a casa – mansão na verdade.

Adentramos a sala de estar que estava cheia de gente, adultos e idosos elegantes. Logo Jake surgiu do meio deles vindo em nossa direção com um sorriso ofuscante.

-Vocês vieram!

-Claro que sim, acha que perderíamos? - questionou Pedro dando-lhe um abraço.

-É que as horas estavam passando e você não chegavam, achei que não vinham mais. - comentou ele, abraçando Lúcia.

-Só um atraso – respondeu Pedro. - Alguém demorou uma eternidade e mais cinco dias para se arrumar. - ele me lançou um olhar sugestivo.

-Pelo menos sou fui eu que quase sai desbotado de tanto ficar no chuveiro. - rebati para Pedro, abraçando Jake que riu, mudando de assunto.

-Vocês estão lindas! - falou ele olhando para Lúcia e eu.

-Obrigada. - nós sorrimos.

-Venham, vamos lá para trás. - ele nos levou até o quintal onde nossos colegas de escola e outros jovens estavam em volta da piscina.

Na água da mesma flutuavam velas em suportes transparentes. Nas árvores enrolavam-se pisca-piscas assim como nos arbustos, ao fundo havia uma pista de dança e do outro lado mesas e cadeiras brancas de ferro adornadas com um vaso solitário no centro das mesas, contendo varetas fluorescentes de várias cores e do outro lado da piscina estava uma mesa grande com diversos tipos de comidas e doces, fazendo um “L” com um balcão onde ficava o barman.

-Pedro! - Eustáquio também estava ali e veio ao nosso encontro quando nos viu chegar.

-Eustáquio, quanto tempo. - disse Pedro, abraçando nosso primo. Em seguida ele falou e abraçou Edmundo.

-Muito tempo mesmo... - ele parou. - Você pintou o cabelo?

Nos desandamos a rir enquanto Pedro o encarava.

-Engraçadinho.

Eustáquio riu, dando um beijo em minha bochecha e na bochecha de Lúcia.

Jake nos levou para uma das mesas que estavam desocupadas, puxou uma cadeira, se sentou conosco e Eustáquio fez o mesmo.

-Está tudo lindo aqui, Jake! - disse Lúcia, encantada com a decoração. Jake abriu um sorriso radiante o que fez Edmundo rolar os olhos.

-Obrigado. - Jake o ignorou. - Deu muito trabalho planejar tudo isso, mas confesso que me criatividade se superou.

Minha boca se abriu num “O”, olhando abismada para Jake. Pedro pigarreou.

-Ah, com a ajuda da Susana, claro... - Jake acrescentou conseguindo desviar os olhos dos de Lúcia, a mesma corou desviando o olhar para suas mãos. Edmundo bufou. Ele não gostava nada daquilo, eu prendi o riso e Pedro quebrou o silêncio constrangedor.

-Susana, vou pegar uma bebida, você vem? - entendi o recado.

-Claro.

Nos pusemos de pé e seguimos até o balcão onde ficava o barman e as bebidas. Pedimos nossos drinques e aguardamos um pouco.

-Acha que vai dar certo? - perguntou meu irmão depois de um breve silêncio. Não precisei perguntar para saber do que se tratava.

-Talvez.

-Edmundo parece que não está gostando disso.

-E ele não está mesmo. Se essa questão não se resolver logo é bem provável que a amizade entre ele e Jake acabe.

-Isso seria horrível... - concordou Pedro. - Mas espera aí, não deveria ser eu a bancar o irmão-mais-velhos-super-protetor?

Eu ri.

-Você não agiria assim, não com Jake, você confia nele. - falei quando o barman trouxe nossas bebidas e foi servir outras pessoas.

-Deve ser por isso. - ele tomou um gole de sua cerveja. - Só não entendo por que Edmundo age assim, ele e Jake são amigos há muito tempo...

-São – respondi. - Mas ele ainda vê Lúcia como uma criancinha indefesa.

-E ela não é mais, não é mesmo?

-Não.

-Tive medo que dissesse isso.

Senti pena de Pedro, isso devia ser difícil para ele admitir isso.

-Com o tempo você se acostuma. - encorajei, bebendo.

-Ainda não me acostumei com o monte de caras que dão em cima de você. - resmungou.

-Que exagero, Pedro! Não tem um monte de caras dando em cima de mim...

-Não tem por que você não sabe que tem e por que eu espantei eles antes de chegarem oficialmente a você. - me lançou um olhar divertido. Rolei os olhos e Pedro riu. - Pensando bem, você tem pretendente sim.

-E quem seria? - desafiei.

-Ah, você sabe quem é... Começa com “Cas” e termina com “Pian”.

Meu coração vacilou. Havia tempos que eu estava evitando pensar em Caspian e estava conseguindo, mas então Pedro trouxe toda minha melancolia de volta, fazendo-me lutar para não demonstrá-la. Respirei fundo antes de falar.

-Não sei se Caspian ainda se identifica com a posição de pretendente... - falei baixo, encarando minha bebida.

-Tenha esperança, Su! - aconselhou ele.

-Eu tenho esperança, Pedro, mas não posso ignorar as possibilidades... - suspirei. - Se, por acaso, Aslam nos desse uma outra chance de voltar a Narnia, pode ter se passado tempo demais outra vez, Caspian pode estar casado e talvez, na pior das hipóteses, nem esteja mais vivo...

-Só haviam se passado três anos quando Lúcia e Edmundo para lá... - continuou.

-E um ano desde que eles chegaram, já pode ter se passado milênios lá...

Um silêncio predominou entre nós até que uma música começou a tocar e casais invadiram a pista de dança. Observamos Jake tirar Lúcia para dançar e Edmundo se remexer na cadeira, inquieto.

-Acho que devíamos contar a Jake sobre Narnia. - falou Pedro, quebrando o silêncio.

-Como é? Ele vai nos achar loucos! - alertei.

-Está brincando?! Jake é louco por aventuras ou você se esqueceu? Aposto como ele vai adorar partilhar desse segredo.

-Se você acha... - dei de ombros, foi quando parei abruptamente, ao sentir um cheiro um tanto quanto familiar. Alarmada, segurei o braço de Pedro.

-O que foi? - questionou ele.

-Este cheiro... - falei ao mesmo tempo em que ele percebeu. Olhei para Lúcia, ela havia para de dançar e Jake também, percebendo o perfume; vi Edmundo se pôr de pé, ele também havia sentido assim como Eustáquio. - É cheiro de magia...

Naquele momento, tudo a a nossa volta sumiu. Ficou tudo branco e ao nosso redor surgiu uma praia extremamente familiar e para minha surpresa, Jake também estava ali, olhando tudo com ar encantado. Nós seis trocamos um olhar e começamos a correr pela areia em direção a água tirando os sapatos e trocando gostosas risadas enquanto molhávamos uns aos outros.

Eu mal podia acreditar que estávamos de volta.