Era o sexto mês do quarto ano de meu reinado. Parte da dor e da angústia que me sufocou durante o primeiro ano havia diminuído. Havia se tornado suportável. Não passara, jamais passaria, eu sabia disso, sabia muito bem. Eu ainda tinha esperanças, um ano atrás, esperança de que a qualquer momento Aslam saltaria a minha frente e diria que tudo não passava de um piada, então ele a traria de volta, ou talvez ela voltasse com Lucia e Edmundo.

Mas foi como um balde de água fria.

Eles voltaram, mas nenhum sinal dela. Foi aí que minha ficha começara a cair. Então Aslam diz que nem Edmundo nem Lucia voltariam. Não, não era uma brincadeira.

Com dor eu a vi partir.

E com dor eu a esperava voltar.

Minha mente estava quase aceitando o fato de que nunca mais a veria. Meu coração protestava, claro, mas o que eu poderia fazer? O melhor seria dar um jeito nisso. Eu tinha obrigações como rei, por mais que doesse, deveria cumpri-las e quanto antes melhor, para acabar de vez com minha esperança e sofrimento. Foi pensando assim que após a partida de Lucia e Edmundo, no caminho de volta à Narnia, parei na Ilha e Ramandu e pedi Lilliandil em casamento. Ela aceitou e então veio comigo para Narnia onde oficializamos nosso compromisso. Nesse tempo, aproveitei para conhece-la e confesso que até tentei me apaixonar por ela, mas não obtive sucesso por dois motivos.

Primeiro: Lilliandil é quase que insuportável. Tentei encontrar qualidades nela, mas cansei de tanto procurar. Com a convivência descobri que ela é totalmente diferente da moça doce que conheci na Ilha de Ramandu. Aquela era só um capa. Na realidade ela é prepotente, mimada, interesseira, chata e provavelmente só aceitou se casar comigo por que sou rei. Ela é muito atirada e vulgar, tentava me beijar a quase todo momento e ela lamentavelmente não quer só um selinho... Mas ela só revelou-se após o noivado. Antes era um doce, como na Ilha de onde a desencavei. Eu poderia acabar com esse compromisso fajuto, mas isso causaria um escândalo e só de pensar em procurar outra noiva eu ficava exausto, preguiçoso. E, na ausência de Susana, servia qualquer coisa...

Segundo: meu coração sempre pertenceria a Susana, de forma irrevogável e definitiva. Sem dúvida nada me faria mais feliz do que tê-la junto a mim, só minha, para sempre. Contudo acho que terei que me consolar ou esperar o tempo curar o vazio causado pela ausência dela.

E como se isso já não fosse suficiente, tenho recebido constantes ameaças da Calormania e um futura guerra parecia inevitável.

Essa questão entre reinos e a questão casamento, estavam brigando pau a pau para ver quem se tornava o problema de minha vida.

Às vezes eu acho que não consigo lidar com tanta pressão... Aslam, eu preciso de ajuda. Se pelo menos eu tivesse Susana ao meu lado, o otimismo de Lúcia, o bom senso de Edmundo ou os conselhos de Pedro, seria tudo tão mais fácil...

Eu tenho medo de fracassar, medo de está indo em direção a um abismo... Sinto-me sozinho, sinto medo do que está por vir...

Aslam, eu preciso mesmo de ajuda.

- É tão lindo! – a voz de Lilliandil me tirou de meus devaneios. – Eu sempre vi esse lugar do céu, mas a perspectiva daqui é bem melhor!

Nós estávamos nas ruinas de Cair Parável, silenciosa. A nossa frente o céu azul estendendo-se até o horizonte e lá em baixo a praia de areia branca onde as ondas azuis quebravam tranquilamente.

- Claro, claro... – sim, eu estava bem longe dali. Lilliandil bateu em meu braço. – Ai!

- Preste atenção quando eu estiver falando! – protestou. Rolei os olhos. Foi quando um som novo chamou nossa atenção. Eram risadas. E vinham da praia.

Ao olhar para lá, vi seis pessoas de roupas estranhas correndo divertidamente pela areia em direção a água onde brincaram jogando água uns nos outros. Reconheci os cabelos loiros de Pedro e Eustáquio, os castanhos-avermelhados de Lucia, os castanho-escuros de Edmundo e os negros dela.

Um sorriso largo se formou em meu rosto quando corri até os cavalos.

- Não acredito, são eles!