–Er... Bem, acho que sim. Eles parecem estar ensaiando ou algo assim.

–Ah, sim, Susana comentou algo a respeito. Mas não sabia que eles passavam tanto tempo lá. - eu via Susana todo dia, além de quando ela me acompanhava em algumas reuniões ou idas à cidade, mas fora isso, geralmente encontrávamo-nos à sós ao entardecer, quando eu desocupava. Achei que o resto do tempo ela passava junto com os irmãos e Jacob, não só com ele. - Obrigado, Drinian.

Ele assentiu e eu segui para a sala de música. Desde longe eu podia ouvir o som do instrumento e, ao alcançar o lugar, encontrei a porta fechada. Por que precisam da porta fechada?! Não me preocupei em bater e abri. Jacob estava sozinho ao piano. Fiquei um pouco mais aliviado. Bati na porta já aberta. Ele parou e voltou-se para mim. Pareceu aliviado ao me ver.

–Olá, Caspian. - cumprimentou. Acenei com a cabeça.

–Susana está por aqui? - perguntei.

–Não, não, ela já foi. Disse que você marcou com ela daqui a pouco, ela foi se arrumar.

Sorri de leve, agradeci e saí.

Fui ao quarto de Susana e dessa vez bati na porta primeiro. Ela falou um “pode entrar” e, sem responder, entrei. Ela estava de pé, em frente ao enorme espelho escovando os cabelos, de costas para mim. Fechei a porta e me aproximei. Quando me viu pelo reflexo do espelho, abriu um largo sorriso, deixou o meu mais aberto, largou a escova e voltou-se para mim.

–Cas. - abracei-a forte, sentindo-me um tolo por desconfiar dela. Beijei-a. - Esperava ver você só mais tarde. - comentou, sem desfazer o abraço, olhando-me.

–Consegui um tempo a mais. - contei. - Vim logo procurá-la.

–Bem, estou pronta. O que temos para hoje?

Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido com a voz mais lenta e sexy que consegui. Senti Susana estremecer e logo tratei de ver seu rosto. Surpreso, corado. Eu ri e beijei sua testa. Susana bateu em meu ombro e saímos do quarto de braços dados. Saímos rumo aos jardins internos do palácio.

–Então... - comecei. Caminhávamos lado a lado, lentamente pelo maior dos jardins. - Como passou hoje? - puxei assunto. Susana me olhou meio risonha, como se não entendesse o motivo da pergunta.

–Ah... Como sempre. - deu de ombros.

–Bom, bom.

–Mas por que a pergunta?

Respirei fundo.

–Só acho que tenho ficado muito ocupado, que deveria passar mais tempo com você. - expliquei. Ela sorriu.

–Você tem obrigações e compromissos como Rei, Caspian, eu entendo, já passei por isso. - ela deu um sorriso torto. - Não vou bancar a solitária e chantageá-lo emocionalmente para que passe mais tempo comigo. - Nós rimos.

–Eu sei. - disse. - Mas ainda continuo com a sensação de deixá-la sozinha já que Eustáquio e Lúcia andam ocupados com os treinos e Pedro e Edmundo, quando não estão comigo em alguma reunião, estão planejando a viagem de navio que pretendem fazer.

–Sim, mas eu tenho andado muito ocupada com Jake.

–Com Jacob? - indaguei tentando não transparecer meu incomodo, mas acho que não consegui por que Susana parou.

–É. Eu lhe disse que ele quer se declarar à Lúcia e pediu minha ajuda.

–Ah... Sim, sim...

–Pois é... - voltamos a andar.

–Então você tem passado o dia todo, todos os dias, com ele?

–É... - ela sorriu. - Você não está com ciúmes do Jake, está?

–Eu? - ri – Claro que não. - dei de ombros, voltando a andar.

Jake

Espiei de longe, da janela da sala de música que dava certo para os jardins onde Lúcia treinava com Eustáquio. Ele era tão sem jeito. E ela, ah, Lúcia, era tão graciosa nos movimentos. Seu riso chegava suave aos meus ouvidos e eu admirava de longe a curva do seu sorriso. De repente, ela notou que eu a observava. Resisti ao impulso de correr e me esconder e acenei. Lúcia me lançou um belo e doce sorriso e acenou de volta. De fininho, saí da janela, morrendo de vergonha.

Nos dias seguintes, Susana e eu fizemos mais avanços quanto a música, mas o prazo estava terminando e eu não estava satisfeito com o resultado que estávamos obtendo até então.

Nove dias antes do baile de noivado, já tínhamos a letra pronta e faltavam os últimos toques na melodia. Tudo quase pronto até eu passear com Lúcia durante alguns minutos e descobrir que ela não gostava muito do estilo musical no qual nossa melodia se encaixava. Entrei em pânico e fiz Susana virar a noite comigo na sala de música para mudar tudo. Ela dormiu no sofá e eu sobre o piano. Caspian não gostou nem um pouco.

Faltando oito dias, minha inspiração veio e se foi num piscar de olhos. Quase cheguei às lágrimas, foi quando Susana me deu uma bronca dizendo para eu me acalmar se não ela revelaria tudo para Lúcia. A chantagem funcionou e eu voltei ao normal, conseguindo até certa inspiração.

Sete dias antes do baile, eu estava concentrado no meu trabalho junto com Susana, havia um silêncio profundo fora da sala fazendo com que levássemos um susto quando Pedro entrou de rompante.

–Acho melhor vocês virem logo. Temos visita. - disse ele, sério. Susana e eu trocamos um olhar. Não devia ser alguém muito querido.

Deixamos a sala de música e seguimos Pedro. Ele nos levou até a sala do trono, entramos pela lateral, mas desde fora já se podia ouvir o som de vidros quebrando e em seguida a voz firme e irritada de Caspian.

–COMO OUSA VIR À MEUS DOMÍNIOS E NOS AMEAÇAR, RAMANDÚ?!