–Fique aqui comigo, Susana, para sempre... Volte a reinar em Nárnia, mas agora ao meu lado... Como minha rainha.

–Caspian...! - julguei-me capaz de sentir meus olhos brilharem e o sorriso pressionarem as bochechas. Ele fitava-me ansioso, nervoso. Mas eu não conseguia responder, não conseguia colocar para fora.

–Então...? - ele mal se continha de ansiedade. Eu sorri, deliciando-me com tudo o que estava acontecendo.

–Sim. É claro que eu aceito! - saltei em seus braços, pendurando-me em seu pescoço ao tempo em que ele abraçou-me fortemente, girando-me e rindo.

Caspian

Algum tempo depois, despedi-me de Susana. Ela foi ao encontro dos irmãos, e eu fui fazer o que já devia ter feito. Pedi ao guarda para que achasse Lilliandil e a trouxesse até meu gabinete, quando ela chegou, encontrei sua expressão inchada de choro, os lábios franzidos de raiva e os olhos sedentos de ódio. Mas nada disso me afetou. Estava indiferente a ela, afinal, sempre estive.

–Arrume suas coisas, você partirá imediatamente para sua ilha. - falei direto.

–Não pode fazer isso comigo... - afirmou, assustadoramente calmas. Ergui os olhos.

–Sim, como rei eu posso. - retruquei.

–Eu não vou.

Ergui-me, impaciente.

–Você teve a loucura de desafiar à Rainha e desacatar uma ordem direta minha. Nem se pudesse iria querer você na corte. - falei firme.

–Eu voltarei. Você vai sentir minha falta.

–Você não entendeu. - endureci a voz. - Estou exilando você das terras sob meu domínio.

Jake.

Encarávamos Susana boquiabertos. Jamais pensei que as coisas andariam tão rápido levando em conta que ela estava dando um gelo em Caspian poucos dias antes. Ela sorria, mas começou a ficar nervosa.

–Não vão dizer nada...? - perguntou.

Lúcia foi a primeira a saltar – literalmente – do susto e abraçar a irmã, animada como sempre.

–Por Aslam! Parabéns, Su! - disse ela.

–É – concordou Eustáquio. - Já estava na hora. - ele sorriu, abraçando Susana.

–Então... - Edmundo baixou o olhar para o chão.

–Ah, vamos lá, Ed. - chamou Lúcia. - Você ganhou um cunhado, não perdeu uma irmã!

Por fim, Edmundo sorriu docemente, abraçando a irmã de forma apertada, dizendo, assim, tudo. E assim, fui eu, cumprimentá-la, feliz por sua felicidade. Por fim, todos olhamos para Pedro.

–Acho que eu ainda tenho que me acostumar com a ideia... - disse ele. - Mas... Estou feliz por vocês, Su, sei o quanto esperaram por isso. - sorriu e Susana o abraçou, envolvendo a cintura dele com seus braços.

–Caspian ainda quer falar com você. - disse ela, sorridente.

–Ok. - eles desfizeram o abraço e ele olhou em volta. - Cadê minha espada?

–Pedro! - ela riu, contagiando a nós e ao irmão. Pedro beijou sua testa e saiu.

Assim que Pedro sumiu de nossas vistas, Lúcia e Susana soltaram outro gritinho e saltaram para um novo abraço, Ed, Eustáquio e eu nos juntamos a elas num grande abraço em grupo.

Caspian

Ouvi uma batida na porta e pedi para que entrasse. Quando vi Pedro atravessar a porta arrependi-me disso. Eu queria falar com ele quando estivesse mais gente por perto, sabe, por precaução.

–Você queria falar comigo?

–Er... Sim – bem se eu morresse, a culpa seria de Susana. - Acho que Susana já lhe contou, não?

–É, ela não resistiu e nos contou. - falou ele, sério.

–Bem, eu... Mesmo tendo acelerado as coisas indo falar direto com ela, queria ter a sua bênção, afinal, você é seu irmão mais velho. - falei, comemorando por não ter gaguejado.

Pedro permaneceu um tempo em silêncio, fazendo eu sentir o fim se aproximando. Mas por fim, ele sorriu.

–Vocês tem minha bênção, Caspian, acho que sempre tiveram. Só tenho que me acostumar com a ideia. - ele pareceu ter um súbito pensamento lampejado em seus olhos, fazendo-o olhar-me em alerta. - Não pense que por que permiti o casamento você pode tomar liberdades! - advertiu, antes de sair. - Faz tempo que quero usar a Rhindon. - antes de fechar a porta, apontou com dois dedos para seus olhos e depois para os meus. Ele não estava brincando.

Engoli em seco.

Jake

–Isso não é maravilhoso, Jake? - Lúcia bailava ao meu lado, enquanto caminhávamos pelo jardim interno do palácio. Eu seguia com as mãos para trás, caminhando ao lado dela desde que nos separamos de Susana.

–Seu sorriso? - perguntei. Ela me olhou com um sorriso torto.

–Falo de Susana e Caspian. - ela ergueu as sobrancelhas.

–Eu fico com seu sorriso. - disse. Ela riu, batendo de leve em meu ombro.

–Estou feliz por eles. - falou quando voltamos a caminhar, olhando para frente.

–Eu também. Pedro disse que a Su sofreu muito por ter sido separada dele.

–Realmente. Eu percebi que ela sentia algo por ele quando a vi beijá-lo antes de partirmos de Nárnia da última vez, mas, conversando com Pedro e Ed, acabei achando que não seria algo tão forte assim o que ela sentia por ele, mas nós estávamos redondamente enganados.

–E o mesmo aconteceu com Caspian. - falei. - Mas não me conformo. Se ele a amava como pôde ficar noivo de outra? E mesmo assim, ele não tinha o direito de esconder isso da Susana.

–Não, não tinha. Mas ele não sabia que ela retornaria. Para ele, e para nós também, jamais retornaríamos à Nárnia, Aslam disse isso.

–Aslam... - sorri. - Não vejo a hora de conhecê-lo.

–Você vai amar conhecê-lo, garanto! - os olhos dela brilharam. - Dele transparece tanta paz, tanta sabedoria, eu... Eu amo a companhia dele...

–Olha que assim eu fico com ciúmes... - murmurei sem nem me dar conta, até assustei-me quando ouvi-me dizendo. Para piorar, ela parou e me olhou.

–O que quer dizer? - pergunto, com as sobrancelhas graciosamente unidas. Senti um nó na garganta.

–Bom, er... Bem... Não é nada. - tentei desconversar e seguir, mas ela segurou meu braço, fazendo-me voltar.

–Não, o que você quer dizer? - perguntou.

–Nada. - dei de ombros, torcendo para ela não notar meu nervosismo.

–Jake... - cantarolou.

–O que? Já disse! - falei.

–Você não me engana. - lançou-me aquele olhar quarenta e três que ficava perfeito naqueles olhos azuis, junto com um sorriso torto e uma suave arqueada nas sobrancelhas. Me derreti todo.

–Você está me deixando confuso. - falei, sincero.

–Eu faço isso com frequência? - perguntou, divertida.

–Não! - protestei imediatamente, sem querer dar bandeira, mas já dando. - Claro que não. - falei mais calmo, tentando passar indiferença. - Que ideia...

–Não é isso o que você demonstra... - disse ela.

–Não? - questionei, tentando manter meu disfarce de quem não está interessado. - O que eu demonstro?

–Ah... - ela deu de ombros. - Às vezes parece que você... Me evita, de certa forma. Fica nervoso, ou algo parecido.

Dei um riso nervoso.

–É impressão sua. Por que eu a evitaria?

–Não sei, é o que estou tentando descobrir. - sentou num dos bancos de ferro que havia ali no jardim e eu sentei ao seu lado.

–E eu posso saber por que o interesse em descobrir? - perguntei, novamente tentando fazer de conta que nada daquilo era muito relevante para mim, quando, na verdade, por dentro, eu estava quase não me contendo de felicidade.

–Na verdade, eu não tinha percebido até Susana me dizer uma coisa... - disse. Meu coração gelou. Lutei para disfarçar.

–O... - pigarreei. - O que ela disse?

–Ela perguntou se eu não notei nada de diferente em você quando você está comigo. - disse. Quase engasguei com o ar. Ri. Ou melhor, tentei.

–E o que você disse?

–Bem... Disse que sim. - ela olhou para as próprias mãos e eu tive vontade de sair correndo dali. Susana me paga.

–Sério?

–Sério.

–Posso saber o que você notou? - tentei ser descontraído.

Lúcia respirou fundo.

–Você fica mais nervoso perto de mim – começou, mas eu preparei-me para contestar, porém Lúcia me interrompeu. - Não, não negue, Jake.

–Er... Está ventando, né? Acho melhor a gente entrar. -falei.

–Sequer está batendo uma brisa, Jake. - ela me encarou.

–Ah... É mesmo. - fiz-me de desentendido.

Lúcia rolou os olhos, sem saber se se fazia de brava ou se ria.

–Então, é verdade? - perguntou, sem floreios.

–O que? - fiz-me de desentendido.

–Eu... - ela corou. - Deixo você nervoso?