A dona dos longos cabelos dourados abriu os olhos lentamente, tentando acostumá-los com a recente luz do sol que insistia em fazê-la abrir os olhos, os quais sentiam imensa irritação ao ver que estavam sendo forçados á ser abertos.

Com um pouco de luta, conseguiu abri-los por completo, não sem piscar algumas vezes e rodear o quarto com os mesmos á procura de somente uma coisa, a coisa que não havia deixado de pensar a noite toda; Natsu.

Coçou os olhos, e depois piscou mais algumas vezes, perguntando-se se aquilo faria algum efeito no embaço que estava presente em sua visão.

Vagarosamente, pôs os pés no chão, olhando para a cama desarrumada, lençóis enrolados e praticamente em nós.

Se ela não soubesse o que tinha realmente acontecido, acharia que tinha feito algo errado.

Bocejou enquanto abria a porta do quarto, descendo as escadas e chegando finalmente até a cozinha. Logo após, ponderou se era realmente bom que ela simplesmente descesse as escadas completamente desarrumada e ainda sonolenta, deixando que qualquer um a visse daquele jeito.

No exato momento em que voltaria para o quarto, pôde ver claramente o rosado com as roupas amarrotadas e muito perceptivelmente travando uma luta que parecia estar empatada com a gravata do uniforme.

O rosto tomou um tom avermelhado quando ela viu-o, mas não apenas pela noite anterior, mas porque realmente não queria que ele a visse assim.

— Bom dia, Luce — antes de acabar, soltou um grunhido tirando o dedo do nó muito enrolado que havia prendido seu próprio dedo. — É, minha mãe disse que você pode comer qualquer coisa... — continuou, ainda assim olhando para a gravata, ou ao menos tentando.

Ela tossiu algumas poucas vezes.

— Natsu, por que você está com essa roupa? — perguntou-o, ignorando todas as outras falas desferidas por ele.

— Você esqueceu? Hoje temos aula, a vida não acabou. — balbuciou.

Praticamente deu um pulo ao perceber que, sim, era verdade, e ela ainda estava com aquela roupa.

— Ah, onde estão minhas roupas? Vou correndo pra casa e... —foi interrompida por um xingamento alto de Natsu. — Por que simplesmente não pede ajuda pra sua mãe?!

— Porque ela não está aqui, saiu mais cedo. — respondeu-a.

Ergueu as sobrancelhas, perguntando-se se era mesmo correto que a mãe dele os deixasse sozinhos na casa dele, considerando que muito provavelmente, seu pai também havia ido trabalhar.

Ela suspirou, batendo de leve nas mãos de Natsu, com o rosto vermelho.

— Tsc. — disse, tentando não deixá-lo ver seu rosto envergonhado. Não muito tempo depois, a gravata estava enfim decente e arrumada. — Tente aprender á ser independente, caramba.  Por que você não tenta ser mais... Assim? — virou os olhos, com mais um suspiro.

O rosado enfiou a mão no cabelo, bagunçando-o, visivelmente sem graça, não respondendo a pergunta dela.

— Então, eu vou indo. — falou, simplesmente.

— Espera, e eu? — perguntou a loira, com a testa franzida com perceptível dúvida.

— Eu sinto em dizer isso, mas hoje você não vai, já que... Bem, vai ser muito assustador se eu for te entregar em casa e seu pai já estar lá. Ele é muito... Amedrontador. — reclamou, fazendo um bico mimado que logo, foi substituído por um sorriso largo de orelha á orelha — Vou indo, Luce.

Assim que ela escutou o barulho da porta se fechar, soltou um sorriso acompanhado de um suspiro.

Natsu não sabia bem como enganar as pessoas. Estava claro que ele não estava fazendo isso por apenas o pai dela, além de que ele não voltaria naquela semana.

De um jeito estranho, ele conseguiu fazê-la sentir-se como se estivesse em casa, com um... Marido? Não, não, estava delirando. Por mais que ele tivesse dito aquilo ontem...

Argh, ainda era muito complicado! E ela não conseguia entender por que muitas vezes Natsu a tratava apenas como se fosse uma irmã, e de repente, chegasse dizendo que gosta...

Não. Ele não havia dito que gostava dela. Ele havia dito que iria esperá-la, mas, pra quê?

Ele tinha tentado beijá-la! Como assim?!

— Que droga! — gritou para si mesma, coçando a cabeça enquanto mordia o lábio inferior. Por que diabos essas coisas do tipo românticas sempre tinham que dar em lag no cérebro? — Uff... E hoje eu vou faltar aula. Qual o meu problema... Ou melhor, qual o nosso problema? Natsu é um besta mesmo. — falou consigo mesma, de um jeito que a fez pensar que ela era uma retardada, e o fato de concordar depois, só a fez ter quase certeza disso. — Mas, essas coisas são realmente complicadas demais...

A garota apoiou os braços no parapeito da janela, olhando para o céu ─ azul e límpido. Balançou a cabeça negativamente, voltando a olhar para o céu com o rosto vermelho.

Que merda aconteceria de agora em diante?

Um mês depois.

A loira suspirou enquanto encostava a cabeça na parede, ainda sentada, olhando para a bagunça que os alunos faziam, e a repreensão que ganhavam da presidente ruiva logo depois, a qual usava um apagador como sua arma letal ameaçadora.

─ Tsc. ─ pronunciou, simplesmente, dando de ombros.

Já havia passado um mês que tudo aquilo com Natsu havia ocorrido. E nesse tempo, o que havia acontecido?

Existiam três opções viáveis para ela:

a. Natsu havia cansado-se dela e não tinha mais acontecido nenhum progresso.

b. Natsu a pediu em namoro para viverem felizes.

c. Natsu estava prestes á fazê-la o pedido, e ela não conseguir conter a felicidade.

Ela gostaria muito de acreditar que era a letra b, e ainda assim, não rejeitava nada a opção c, mas como sempre, a letra a deveria estar certa.

Bem que nunca gostou de assinalar a letra c em provas de múltipla escolha.

Realmente, ela perguntava-se se algo havia acontecido. Certo, ele disse que iria esperá-la, mas não agir durante todo esse tempo... Era realmente algo que ela não gostava.

Levantou-se de sua mesa, certificada de que iria conversar com Natsu para esclarecer algumas coisas. Claro, caso seu nervosismo não aparecesse naquele instante.

─ Já volto, Erza. ─ disse, enquanto era respondida com um aceno de cabeça vindo da ruiva, que fez questão de voltar á golpear aqueles que bagunçavam a sala com o apagador.

A garota andou pelos corredores, vendo alguns grupinhos olhando-a e apontando, seguidos de risinhos mal-intencionados. Ela suspirou e quase mandou o dedo do meio para eles, mas, afinal, não era isso que fazia normalmente.

Estava quase desistindo de achá-lo ─ ou isso era o que pensava ─ quando viu Natsu virando o corredor, sumindo logo depois.

Ela surpreendeu-se e apressou os passos, mas assim que chegou, uma surpresa maior a aguardava.

─ Na- ─ o sorriso que tinha estampado nos lábios sumiu aos poucos quando ela viu a cena que realmente não queria ter sequer cogitado em sua mente.

Sim, era Natsu. Mas não apenas Natsu.

Era Natsu, beijando outra garota.

Que ela rapidamente pôde identificar, sua ídola, sua "companheira".

Lisanna.

Os olhos perderam o brilho e ela não pensou em chamá-lo e interromper aquela cena tão "bonita".

Apenas recuou e voltou de contra-mão no caminho que antes havia seguido á procura de Natsu.

Sim, era sempre assim, e sempre seria.

Ela sempre teria que recuar e parar de seguir em frente, justamente quando sentia-se que estava quase chegando em seu objetivo.

Por um momento, pôde ouvir um barulho quase que como de correntes se balançando.

Ah, claro. Pois afinal, seu coração deveria muito provavelmente estar se prendendo e enferrujando de uma vez só.

De novo.