No outro dia bem cedo, ele já estava de pé. Desceu para tomar um café rápido, pois estava com pressa.

Os integrantes da casa não estavam todos reunidos à mesa. Vinícius como sempre, dormia até tarde e a esposa já havia para os compromissos com sua loja.

–Bom dia!

–Nossa Vitor, você levantou bem cedo hoje.

–É que eu preciso sair. Se você quiser eu te deixo na escola no caminho.

–Eba! Eu quero sim. – a menina vibrou quase como se tivesse ganhado um presente.

Isso porque adorava a companhia do irmão. E não era para menos. Kimberli era a irmã mais nova de Vitor e a única pessoa com quem realmente tinha paciência. Ela por sua vez, retribuía o cuidado e o carinho com a mesma sinceridade. Adorava o irmão.

Depois de deixar a irmã na escola, Vitor seguiu para o ginásio para por em dia sua rotina de treinos.

Saindo, pensou em passar na casa de Paulo, mas desistiu. Achou melhor ir para algum lugar onde pudesse pensar na ideia que teve na noite anterior. Estava divido entre levar a frente, isso que sabia que era uma loucura, e deixar tudo como estava.

Deixar do jeito que estava? Seria um pouco difícil, não estava nem um pouco satisfeito com nada até agora.

...

Laura estava de atestado até então, mas a sobrinha sabia que não poderia continuar trabalhando nas condições em que sua saúde estava. Amanda decidiu que teria que arrumar um emprego o mais rápido possível para que pudesse ajudar a tia. Saiu cedo e não contou nada sobre seus planos.

Foi uma tentativa frustrada, pois não encontrou nada e o fato dela ser jovem e não ter experiência de trabalho diminuía ainda mais as suas chances. Foi para a faculdade bem desanimada naquela dia, mas decidida a tentar de novo.

À noite na faculdade.

–É impressão minha ou você tá mais calado do que de costume? – já fazia um tempo que havia reparado no silêncio do amigo. – Não me diga que você discutiu com a Dona Marta de novo?

– Pode deixar, você vai ficar sabendo. Até porque, se tem alguém para quem eu não consigo, por mais que eu tente, esconder alguma coisa, esse alguém é você amigo. – disse entrando na sala de aula.

–Isso por acaso foi uma crítica ou um elogio?

...

Quase não prestou atenção nas aulas. Quando a hora do intervalo finalmente chegou, saíram para o pátio.

–O que tá acontecendo, você passou a aulas toda inquieto.

–Eu vou te contar, mas presta bem atenção. – resolveu dizer, até porque precisava falar.

–Pode falar cara.

–Se lembra da garota que eu te falei, da carona... – tentou ser o mais rápido possível para que o amigo entendesse a gravidade do assunto.

–Ah não, não vai dizer que você está assim porque se encantou por essa garota... – Vitor apenas revirou os olhos de desanimo com o comentário do amigo. – Agora eu fiquei curioso pra saber quem é essa garota.

–É ela... – a resposta estava por coincidência passando por ali acompanhada de uma professora.

Paulo virou-se para olhar na direção que Vitor estava olhando e ficou surpreso quando viu a moça.

–Nossa... Cara, ela é linda!

Amanda não era do tipo vaidosa, mas possuía uma beleza exótica. Era morena, com uma pele bem bronzeada, tinha cabelos longos e encaracolados. Em contraste com o tom da pele, a morena tinha um par de olhos esverdeados, que só aumentava a sua exuberância , pois possuía um corpo com curvas bem definidas.

Conversou por uns instantes com a professora. Despediu-se e, sem perceber, rumou na direção dos rapazes que ainda a observavam.

Ainda estava distraída, organizando os papéis que trazia nas mãos, quando ouviu alguém chamar seu nome. Ergueu o rosto para ver quem era e se surpreendeu em ver que era o mesmo rapaz do outro dia.

–Vitor?!

–Não achei que fosse se lembrar do meu nome.

–Também não achei que fosse se lembrar do meu. – sorriu um tanto sem graça.

–Esse é meu amigo, Paulo.

–Melhor amigo! – ressaltou ele cumprimentando a moça que apenas sorriu.

–E a sua tia, como ela está?

–Ela está melhorando... Rapazes, vocês podem me dar licença? É que eu tenho algumas coisas pra resolver hoje ainda. Thau pra vocês!

Nenhum dos dois entendeu o porquê, mas estava na cara que ela estava dando uma desculpa porque queria sair dali.

–Espera, Amanda... – esperou que ela se virasse. - Antes, será que eu poderia falar com você um minuto?

Não entendeu, mas ficou curiosa para saber o que o rapaz teria para falar com ela, já que mal se conheciam.

–Tudo bem, o que foi?

–Vem comigo.

Guiou a moça até um dos jardins que havia no gramado, numa área não tão movimentada da faculdade.

–Então...

–Como realmente está a sua tia?

Ela ficou um pouco surpresa com o fato dele em repetir a mesma pergunta que já tinha feito.

–Ela está bem. Melhorando, eu já disse.

–Acontece que, eu ouvi você no telefone dizendo que a sua tia tem que passar por uma cirurgia e precisa de remédios para o tratamento...

–Você ouviu a minha conversa?... – ficou surpresa com a confissão.

–Eu não tive a intenção, foi por acaso.

–Tudo bem... É isso sim, ela precisa fazer uma cirurgia só que... – ficou sem jeito de falar sobre seus problemas com ele. – É, é tudo muito caro. – soltou num tom de desanimo. – Eu estou tentando conseguir um emprego, mas, ainda assim, eu não sei...

–Eu acho que eu posso te ajudar.

–C-como? Você pode me arrumar um emprego? – perguntou esperançosa.

–Eu sei que a gente se conhece a pouco tempo então, não me leve a mal mas não é isso.

–Então oque?

–Uma proposta.

–Proposta? – não estava entendendo o que ele queria dizer.

Guiou Amanda para que se sentassem afinal, oque tinha para dizer poderia chocá-la mais do que queria.

–Antes eu tenho que te explicar o motivo que me levou a chegar a esse ponto.

Ela estava atenta.

–Primeiro, - ele começou. – foi o fato de que eu quero ir embora do país. Segundo, seu problema com a sua tia, e terceiro, eu senti que posso confiar em você.

–Como assim? – estava ainda mais perdida.

–De acordo com os costumes da minha família, eu ainda não tenho direito ao dinheiro que corresponde a minha herança, está tudo bloqueado por um testamento.

–Mas...

–E é desse dinheiro que eu preciso pra ir embora.

–E o que eu tenho a ver com isso. – estava confusa.

–Eu não posso tocar nesse dinheiro enquanto não me casar. – ele deu alguns segundos para ela. – Acho que você não entendeu qual é a minha proposta.

–Você quer que eu...

–Se case comigo. - completou.

Amanda ficou tão chocada que emudeceu.

–Essa é a minha proposta. Eu te dou o dinheiro pra cirurgia da sua tia e você se casa comigo pra eu conseguir a minha herança.

Ainda estava muda, parecia não acreditar no que tinha acabado de ouvir. Já Vitor, estava apreensivo com o silêncio dela.

–Amanda... – quis se explicar melhor.

–Não! – interrompeu sem permitir que dissesse mais nada. – Que tipo de maluco insensível você é? Se aproveitando dos problemas dos outros...

–Amanda espera... – tentou falar, mas ela saiu sem nem olhar para trás. – Droga!

Paulo estava de longe observado os dois, e com a saída repentina da moça resolveu ir até o amigo saber o que tinha acontecido. E a julgar pela expressão no rosto da moça, não podia ser boa coisa.

–Tá tudo bem? – preguntou já sabendo a resposta.

–Claro que não.

–E aí, vai ou não me contar o que realmente tá acontecendo com você? – não estava entendendo o porquê da reação do amigo.

Resolveu contar tudo de uma vez.

...

De volta a sua sala, Amanda não conseguiu prestar atenção em mais nada. Realmente estava atordoada com tudo que tinha ouvido minutos atrás, não sabia no que pensar.

...

–Cara, você só pode ter pirado de vez. Eu vi o jeito que a Amanda saiu e ela parecia...

–Olha só, você não tá ajudando Paulo. – estava nervoso.

–Qual é, eu nem sei o que dizer...

–Então não fala nada. – Vitor estava com a cabeça a mil, não via a hora desse dia acabar.