Em seu quarto, dava os últimos retoques na maquiagem. Como sempre nada de mais. Apenas um delineado nos olhos, máscara nos cílios e o costumeiro batom rosado.

Parou procurando pelo celular, mas voltou sua atenção para vozes vindas do lado de fora do quarto.

–Claro, eu também acho! - riu ao final.

Aquela voz era familiar. Uma era de sua tia, porém a outro não conseguiu reconhecer. E antes que pudesse focar melhor naquele timbre agudo que estava do outro lado, bateram na porta, entrando em seguida.

–Oiê! - sorriu descaradamente.

–Carla? O que você... - reparou que moça estava cheia de bolsas.

–Espero que não se importe. - adentrou o pequeno cômodo. - Como dessa vez não daria pra gente fazer nossa "saída às compras", eu tive uma ideia. - soltou um largo sorriso.

Esperou pela resposta que logo veio.

–Eu vim pra gente poder se arrumar juntas. - jogou tudo o que trazia sobre a cama de Amanda. - Chamei a Emily mas ela não quis vir e co... Espera, - parou fitando a morena.

–O que foi? - deu um passo a trás com a aproximação repentina dela.

–Não me diga que você já está pronta? - arregalou os olhos ao mesmo tempo que estava frustrada por ter demorado tanto.

–A-A... - olhou para si. - Acho que sim. - disse incerta.

–Poxa. - sentou-se desanimada. - Mas, eu queria tanto que a gente se maquiasse juntas, arrumasse o cabelo uma da outra. Eu até trouxe algumas roupas minhas pro caso de você querer alguma emprestada. - o pontou para as malas.

Haviam mais ou menos umas duas malas pequenas e ainda duas de mão,sem falar numa necessarie preta e dourada. Ficou se perguntando o porque de tudo aquilo.

–Mas por que? Nós só vamos sair, não acho que precise de tan... - não queria desapontar a moça que estava cheia de boas intenções e foi até lá de boa vontade.

–Tá! Eu... Acho que eu exagerei, né?! -sorriu sem graça. - Deixa pra lá...

–Não Carla, não é isso, é que...

–Poxa, me desculpa. Eu só não estou acostumada com esse tipo de coisa. É... ter uma amiga.

As duas se olharam por um instante.

–Tenho de confessar que... Eu também não. - soltou um sorriso sem jeito.

–Talvez por isso eu tenha exagerado. - encolheu-se onde estava.

–Como assim? - sentou-se ao lado dela na cama.

–Eu não tenho nenhum irmão ou irmã, meus pais não ligam muito pra mim. Não estou reclamando, já me acostumei. - desdenhou. - Sempre fui vista como a patricinha do grupo e por isso, nunca tive lá muitas amigas. Sabe como? - sorriu por um instante. - Daquelas que saem juntas e fazem tudo uma com a outra e,... - virou-se para a moça. - Desculpa Amanda, me empolguei. - forçou um sorriso.

Amanda olhou tudo aquilo.

Se deu conta então de tudo o que a moça havia dito. Estava surpresa. Então era esse o motivo de Carla ter vindo até lá. Ficou com pena ao ver o semblante entristecido da moça que era tipicamente alegre e carismática.

–Tudo bem. Acho que entendo você Carla. - Eu também não tenho irmãos e... Bem, também não tive muitas amizades.

–Tá falando sério? Mas você é tão bacana.

–Obrigada, mas é, é um pouco complicado de explicar. - sorriu sem jeito.

–Er... Eu fiz uma bagunça aqui no seu quarto, não foi? - levantou-se. - Acho melhor juntar tudo logo e...

–Bom, não temos muito tempo, o Vitor e os outros ficaram de chegar daqui meia hora. - olhou para o relógio sobre a mesinha de cabeceira. - Acho que dá tempo da gente fazer alguma coisa?...

–Claro que dá! - pulou voltando a animação de sempre. - Eu até já sei o que fazer com você. - sorriu empolgada.

–A... Carla, não podemos esquecer que o Vitor vai chegar daqui a pouco então...

–Ele que espere. - afirmou dando de ombros. - Onde foi que eu coloquei o meu secador de cabelo? - abriu uma das malas. - Ah! Que bom, eu trouxe o curvador de cílios, não vivo sem ele. - afirmou.

Continuou a desfazer as malas e retirar inúmeros acessórios, metade dos quais Amanda nem sequer sabia que existia ou pra que serviam.

Tal agitação deixou Amanda um tanto zonza. Porém, feliz de ver a amiga como de costume. Sendo ela mesma.

...

Mais ou menos quarenta minutos depois, as duas ouviram a buzina do carro de Vitor de lado de fora.

Terminaram de juntar as coisas de Carla, colocando tudo nas malas novamente.

Saíram em seguida.

...

Do lado de fora...

Paulo saltou do carro do amigo para acompanhar a namorada que estava com seu carro. Logo as duas saíram para encontra-los.

–Desta vez foram vocês quem demoraram hein?! - disse Carla se aproximando.

–Ué, que isso? - Paulo reparou bem na namorada e a roupa que ela trajava. - Esqueceu que tem um namorado foi?

Carla usava uma camisete de musseline na cor azul royal, uma saia tubinho de paete preta e uma ankle boot da mesma cor. O cabelo escorrido como sempre e maquiagem preta prata destacando os olhos castanhos.

–Pode parar né. - pendurou-se no pescoço dele. - Você nem combina com esse estilo ciumento, sabia? - sorriu. - Isso é mais a cara do Vinícius. - comentou de propósito.

–Não tem graça. - sorriu de volta.

–Eu tô ouvindo hein?! - comentou de dentro do carro do irmão.

A casal entrou no carro dela, enquanto Amanda foi no carro do namorado. Onde estavam mais Emily e Vinícius.

–Nossa Amanda, você ficou linda com o cabelo assim! - a loira exclamou ao ver a morena com o cabelo completamente liso.

–Obrigada Emily! A Carla quem teve a ideia de escová-lo. - sorriu.

Amanda usava um vestido marrom avermelhado de manga longa, curto e todo largo, porém tendo a cintura marcada por um cinto num tom de cobre. Nos pés, um par de peep toe preto.

Emily estava usando uma calça saruel jeans, uma blusa branca de gola alta e um coletinho grafite. Com um sapato de salto preto. Fez um rabo de cavalo alto no cabelo e definiu as ondas naturais do cabelo com um babyliss.

Ambos os rapazes usavam calças jeans sport fino e camisas de manga longa, dobradas até o antebraço. A de Paulo era na cor bege, a de Vinícius era num verde pinheiro e a de Vitor, grafite.

...

O pessoal chegou a um barzinho, onde ficaram de conversa por horas.

–Ah é mesmo gente, agora me lembrei. – a loira chamou a atenção para si.

–O que foi? - o marido a preguntou.

–É que eu estava pensando que a gente podia ir pra casa de praia no final de semana. O que vocês acham?

–Pra casa de praia? - Vitor a questionou.

–Boa ideia minha linda! Faz um tempo que a gente não vai pra lá.

–Pois é. Pensei que podíamos chamar a Carla e o Paulo, e irmos os seis. - olhou para o casal ao lado.

Amanda apenas observava a empolgação da moça, mas não parecia muito interessada no assunto.

–Eu já gostei da ideia. - Carla se pronunciou.

–Então Amanda, Vitor, vamos? - forçou a resposta, já que os dois não se manifestaram.

–E pra quando? - Vitor perguntou.

–Vamos nesse próximo fim de semana. Que tal?

–Por mim, tudo bem. – aceitou Amanda.

–Então está marcado! – Emily vibrou animada.

...

Logo os rapazes se agruparam na beira de uma mesa de sinuca que havia no lugar, deixando as moças sentadas à mesa enquanto conversavam e bebiam.

–Vou aproveitar pra retocar meu batom. - a loira retirou o acessório de dentro bolsa que trazia com sigo.

–Meninas, - levantou-se. - Eu vou aproveitar pra ficar mais um tempinho com meu namorado, porque tenho que voltar amanhã mesmo. - fez bico.

–Ah, por que?

–Muito trabalho na faculdade, compromissos. - ajeitou o cabelo. - Só vim mesmo porque não consigo ficar tanto tempo sem ver ele. - sorriu sapeca e saiu.

As duas continuaram na mesa.

–Nossa! - Amanda admirou. - Eles parecem ser o casal perfeito, né?!

–Você e o Vitor também. - sorriu. - Sei que tem pouco tempo que vocês estão juntos mas parece que vocês se dão super bem.

–A..., é. Sim, nós nos damos bem sim. - afirmou incerta.

–A Carla diz que pra aguentar o Vitor a garota tem que ter paciência. Não achou que seja pra tanto. - arregalou os olhos sorridente e arrancando um sorriso tímido de Amanda. - O Vitor é um cara legal, tem esse jeito sério dele, mas quando quer ele é até mais carinhoso do que o Vinícius.

–A Kimberli que o diga. - Vinícius chegou ouvindo a conversa das duas.

–Já parou de jogar? - perguntou enquanto ele se sentava com elas.

–É, pensei em te convidar pra dançar comig...

–Eu quero! - levantou animada. - Vem também Amanda, chama o Vitor. - saiu de mãos dadas com o marido.

–Eu já vou. - continuou sentada onde estava.

Correu os olhos pelo lugar. Carla havia conseguido arrastar o namorado para a pequena pista de dança. Emily e Vinícius logo se juntaram aos poucos casais que também dançavam ali.

Escorou-se na mesa e continuou a fitar os casais dançando ao som da música lenta. Sentiu o cabelo, que estava liso, escorregar por seu rosto e passou a mão na tentativa de leva-lo para a posição inicial ou uma que fosse mais confortável. Sem sucesso.

Ainda estava distraída com o cabelo, quando ouviu Vitor chegar e sentar-se à mesa.

–Quer que eu pegue mais um copo pra você? - observou que o dela estava vazio.

–Não. - passou a mão no cabelo na intenção de ajeitá-lo. - Eu tô bem. - tentou mais uma vez.

–É? Não parece. - teve que falar, porque já a havia reparado que Amanda não parava de se ajeitar desde que saíram de casa.

–É que eu não tô acostumada com o meu cabelo assim liso. - levou o cabelo todo para trás. - Mas como a Carla insistiu pra escová-lo. - tirou um elástico que estava em volta de seu pulso, amarrando a cabeleira.

–A Carla é assim mesmo, não pede licença. - bebericou no copo que tinha trazido com sigo.

–Não, tá tudo bem. - ainda tentava se ajeitar. - Eu só não sei se... - parou ao ver o rapaz levar a mão um sua direção.

–Eu acho que o seu cabelo natural fica melhor. Além de te dar menos trabalho. - retirou o elástico, soltando o cabelo dela delicadamente. - Mas assim também está bonito. - entregou o elástico a ela.

Mesmo sabendo que tudo aquilo fazia parte da farsa entre eles, Amanda não pode evitar de se sentir acanhada com o que o rapaz disse.

As palavras de Emily começaram a fazer sentido. Só não entendia o porque do rapaz ser tão fechado na maior parte do tempo, já que no fundo parecia ser gentil. Pelo menos às vezes.

–Espero não estar atrapalhando. - Carla chegou sentou-se à mesa com eles, sendo seguida pelo namorado.

–Já param? - Vitor comentou ao ver o casal chegar.

–É, o Paulo não gosta de dançar, - fechou a cara. - E nem de ver a namorada feliz. - cruzou os braços.

–Não fala assim, você está sendo injusta, sabia?! - beijou a testa da namorada.

–Nem adianta tentar fazer chantagem. - apenas sorriu, se rendendo a cara de pidão do namorado. - Vem Amanda, - levantou-se. - Você ficou aqui sentada a noite toda.

–Ah Carla, eu tô afim de...

–Que isso, vem, vamos dançar um pouco. - insistiu.

–É que e... - parou ao sentir sua cintura ser envolvida pelo braço musculoso de Vitor.

–É que a gente quer ficar um tempo sozinho. - completou Vitor puxando a moça para mais perto. - E sim, vocês estão atrapalhando.

Amanda corou na hora com as palavras do rapaz. Paulo notou e riu para si com a cena.

–Então levanta daí e leva a sua namorada pra dançar. - cruzou os braços diante deles.

–Acho que você não entendeu Carla. A gente não quer dançar.

–Tá, tá. Já entendi seu chato. - sorriu para o amigo. - Vem Paulo, vamos deixar o casal a sós então. - saíram de mãos dadas.

Amanda estava paralisada, pois mesmo depois de Carla e Paulo terem saído, ele não tirou as mão de sua cintura. Mais um centímetro, e seria possível sentar no colo do rapaz.

–Olha só... - começou ele. - Que tal a gente ir pra casa?

–E-eu... - gaguejou encolhendo-se, pois ele tinha praticamente sussurrado ao seu ouvido. - Sim, isso mesmo. - respondeu rápido.

Vitor franziu as sobrancelhas devido a falta de sentido na resposta da moça.

–Tudo bem. - tirou as mãos dela dando espaço. - Se você quer ir, vamos avisar ao pessoal.

Amanda respirou aliviada e se recompôs.

–Amanda, antes eu queria te perguntar um coisa.

–Pode falar.

–Tem certeza que está tudo bem ir pra casa de praia?

–Sim, por que não?

–Nada. Só pareceu que talvez você tivesse aceito pela pressão da situação.

–Não, por mim tudo bem. - respondeu apenas.

Ambos não deram muita importância. Ela só queria ir pra casa e dormir um pouco. Já ele estava aliviado pela mãe ter poupado a moça de suas arrogâncias.