Hannah POV’S ON

Eu e Ichiro conversávamos normalmente, estávamos andando por um corredor, até que as luzes dele simplesmente se apagaram.

–Ichiro...eu tenho medo do escuro! – disse a ele manhosamente. Ele me colocou contra uma parede e respondeu:

–Fique calma. Você não precisa ter medo, eu estou com você. – ele falou roucamente com sua boca próxima ao meu ouvido. –Haruka, eu posso tentar uma coisa?

–P...pode.

Ele se aproximou de mim, retirou uma mecha vermelha de meu rosto o apoiando em minha orelha. Passou sua mão delicadamente por minha bochecha, parando em meus lábios. Juntou seu corpo sobre o meu e me beijou.

Foi um beijo eufórico, divertido e com gosto de morango. Acho que foi por causa do pote de morangos com chocolate que comemos dentro de seu quarto. Era algo totalmente novo para mim, e estranhamente muito bom. O ar nos faltou e ele se afastou de mim, colando sua testa na minha e sorrindo.

–Senti gosto de chocolate... – ele dizia sorrindo. –E você?

–Morangos... – retribui o sorriso na mesma intensidade –E agora? O que você sente por mim? – perguntei sugestivamente, ele apenas me prendeu ainda mais sobre a parede e disse:

–Você é muito diferente de sua irmã, você é direta – ele riu –Bom, o que sinto...nesse momento, uma grande atração por você. Porem, na maior parte do tempo, você fica na minha cabeça e...Haruka, por você eu deixaria me matarem em street fighter.

–Não gosto de ficar dando indiretas. E... – parei por um momento -Ichiro...isso foi muito lindo! – o abracei fortemente –O que nós vamos fazer? – disse enquanto o envolvia.

–Não sei... – ele deu um sorriso maléfico, como se estivesse tramando algo. Estava tentando decifra-lo, mas ele começou a distribuir cócegas em mim. –Que tal isso?

–I...Ichiro! P...para! – eu ria descontroladamente –E...eu f...faço q...qualquer c...coisa! – ele parou no mesmo momento

–Qualquer coisa?

–É...é! – reuni a maior quantidade de ar possível.

–Hum...eu quero sentir novamente o gostinho do chocolate... – sua expressão estava engraçada, ele estava se fazendo de galanteador de propósito. Ri com seu tom de voz.

–Como você acha que minha nee-chan reagirá a isso?

–Não precisamos contar a ela necessariamente agora. – eu ri juntamente a ele e colei meus lábios aos dele. Até que ouço aquela voz que tanto conheço, dizer:

–Contar o quê? – ela minha nee-chan. Tenho quase certeza de que isso não vai acabar bem... –Ichiro! Que surpresa! Gostaria de fazer o favor de retirar suas mãos de Haruka? – ela mantinha um sorriso sarcástico.

–Oi Mitsuko! E...eu posso explicar... – Ichiro colocou um de seus braços para trás de sua cabeça

–Eu não quero ouvi-lo. Eu quero acabar com você primeiro. – ela estava indo para cima de Ichiro, mas Ryuuzaki a impediu.

–Mitsuko, qual é o problema? Ela já tem idade o suficiente para fazer isso. E...você não tem como a punir por uma coisa que você faz. – ele abriu um sorriso, vi minha nee-chan ficar mais vermelha que meus cabelos em segundos.

–R...Ryuuzaki! – ela exclamou

–Viu Haruka? Não te disse que tem coisa aí? – Ichiro falou, se divertindo. Não pude deixar de rir também do rosto de minha nee-chan.

–Nee-chan. Por favor, não brigue com ele. Eu também tenho culpa. – falei ainda contendo minhas risadas.

–Já que é assim... – ela suspirou, derrotada –Eu não vou atrapalha-los. Mas...Só tenho um pequeno aviso para você, Ichiro. – com passos largos, ela se aproximou dele e disse –Se você a fizer chorar...Dê adeus a sua vida.

–C...claro. – Ichiro falou em um tom de apreensão. Mas depois, relaxou –Eu nunca a farei chorar. Pode ter certeza.

–Acho bom. Haruka, está muito tarde...Ryuuzaki, ela pode ficar aqui? – ele apenas assentiu –E não quero nem sonhar em lhe ver dormindo com alguém. Estamos entendidas? – eu apenas acenei positivamente –Certo...Vamos Ryuuzaki. – ela saiu depressa, mas pude notar sua mão entrelaçada na dele.

–Ufa... – Ichiro suspirou pesadamente –Você tem uma guarda-costas assustadora. E ela fica muito pior quando se junta a ele – ele fez referencia a Ryuuzaki.

– Será que eles não vão se entender nunca?

–Nós bem que poderíamos dar uma forcinha, não é? – ele sugeriu

–Pode ser... – fui até ele e o abracei, pousando meu rosto em seu peitoral –Falando nisso...Como nós ficamos agora?

–Que tal isso...Até termos certeza do que sentimos, vamos ficar desse jeito. Te dou um mês de tolerância. Depois disso, quero sua resposta ressoando em meu ouvido. – ri com sua expressão fantasiosa

–Claro. Adorei a ideia. Mas...posso ir pegar uma coisa que ficou no seu quarto? – ele apenas assentiu. Dei um selinho demorado em seus lábios e disse –Seus morangos.

–Ei! Eles são meus! Volte aqui agora! - fugi dele. Ele foi atrás de mim com um lindo sorriso. Eu estava rindo mais do que nunca, era uma sensação tão boa. Estou louca para ver minha nee-chan assim como eu...Feliz.

Hannah POV’S OFF

Mitsuko POV’S ON

–Você não acha que foi um pouco…Inflexível com eles? – eu estava praticamente arrastando Ryuuzaki com meus passos largos e rápidos –Ainda por cima vai descontar a raiva em mim?

–Não vou. – disse ríspida –É que...eu cuidei dela por tanto tempo que, não consigo me acostumar com a ideia de vê-la assim. – meu tom estava voltando ao seu normal –Prometo que tentarei me acalmar.

–Mas, ela nos vê e não diz nada. – ele disse rindo. Dei um leve tapa em seu ombro –Desculpa...mas é tão bom te irritar! – as risadas dele estavam cada vez maiores.

–Acho melhor nós irmos comer logo. Amanhã será um dia muito importante. – entrei na copa, soltando sua mão. Fui até a geladeira e peguei um bolo de morango. –Vou pegar o de sempre. – retirei-o de lá e fui à procura de uma faca

–Certo. – ele se sentou de seu modo esquisito –Mitsuko, por que essa super proteção? – fiquei sem ação. Agradeci mentalmente por ter colocado o bolo em cima da mesa, pois em uma hora dessas ele iria acabar indo ao chão. Eu realmente exagerava às vezes, mas era para não vê-la como... Antes.

–Eu lhe prometo que um dia contarei. Isso envolve praticamente todo meu passado, e não posso me expor. – disse tentando manter o tom normal.

–Certo. Irei cobrar. – ele pegou um garfo que estava em sua frente e disse –Esse pedaço de bolo sai hoje? Temos que dormir cedo, lembra? – notei que fazia esforço para mudar de assunto e retirar o clima desconfortável, dei um leve sorriso.

–Se acalme. – fui até ele e coloquei um prato com uma grande fatia de bolo –Pronto. Aqui está. – parei por um momento e fitei as janelas. O céu estava escuro e coberto de nuvens. –Acho que hoje vai chover...

–Sério? – ele olhou para as janelas –Você por acaso tem medo de trovões? Não quer vir dormir comigo?

–R...Ryuuzaki! Como assim? – disse exaltada, ele apenas riu.

–O quê? Eu estava brincando, quem é o louco de querer dormir com você na mesma cama? Ele corre sérios riscos. – ele dizia se divertindo. O provoquei dizendo

–O louco aqui é você. Que dormiu ao meu lado com o rosto mais sereno do mundo. – suas risadas se cessaram e seu rosto adquiriu uma coloração avermelhada, depois de que me dei conta do que disse, foi a minha hora de ruborizar. –Q...quer dizer...Ah! Você entendeu errado.

–Mitsuko, Mitsuko... – ele estava com uma expressão de desaprovação

–O que foi?? – me fiz de desentendida

–Eu acho que você... – ele não pôde terminar sua frase, ou melhor, ameaça, pois um grito estridente e passos apressados trouxeram até nós Hannah com um pote de morangos e Ichiro tentando agarra-la.

–Ichiro! Eu já disse que os morangos são meus! – Hannah gritava.

–Haruka! Você já comeu todo o chocolate praticamente sozinha! Quer me dar pelo menos os morangos?

–Não, eles são meus também. – ela parou e veio em minha direção –Quem você acha que deve ficar com eles nee-chan? Eu ou ele?

–Eu acho que você anda muito desocupada e que ele precisa ir até a sala de controle e arrumar umas pastas do caso para ler. – disse em tom autoritário. –Porem, está muito tarde para isso então a única coisa que peço é que vão dormir!

–Mitsuko tem razão. Vocês dois andam muito desocupados, vão dormir. Amanhã Haruka vai para casa e Ichiro vai se concentrar no trabalho. E...os morangos ficam comigo. – L pegou o pote de morangos da mão de Hannah

–Já estou indo papai... – Hannah disse emburrada

–Eu vou levar minha irmãzinha lá para cima, viu mamãe? – Ichiro disse em um tom sarcástico. Eu enrubesci levemente junto a L.

–Mamãe...P-Papai? – L disse praticamente em choque. Os dois começaram a rir muito alto enquanto diziam:

–Falando nisso...Já está tarde mãe...Não quer que eu durma hoje no quarto do meu lindo irmãozinho para lhe deixar a sós com o papai? – fiquei como L, paralisados, ambos adquirindo uma coloração vermelha fogo. Fui tentando formular alguma frase, e a única coisa que saiu foi...

–O...quê? É claro que não! – eles trocaram um olhar malicioso, Hannah se virou e disse:

–Certo...irmão pode me levar até meu quarto?

–Claro irmãzinha. Mamãe disse que tenho que dormir no meu quarto hoje, não foi?

–Foi...meu pobre irmãozinho...terá de dormir só! - ela começou a ensaiar um falso choro.

–Mas...se bem me lembro, ela lhe disse “E não quero nem sonhar em lhe ver dormindo com alguém.” Não foi Haruka? – Hannah voltou ao seu normal e assentiu –Pois então, você terá que dormir sozinha hoje também. – ele deu um sorriso de canto.

–Você tem razão...vamos indo? – Hannah pegou na mão dele e os dois foram caminhando até o elevador. –Até mais papai, mamãe! – os dois falaram em uníssono.

–Que estranho... – comentei, saindo de meu transe.

–Com certeza. O que você acha que eles queriam dizer com todo aquele discurso sobre “Nós teremos que dormir sozinhos” – L me perguntou com um semblante confuso.

–Não sei... – pensei por um momento –Será que...eu não acredito!

–O que foi? – L me encarava cada vez mais confuso.

–Precisamos correr! – o puxei pelo braço –Onde é mesmo a escada de emergência? – estava a procura da porta de metal, onde se localizava a escada –Achei!

–Mas nós temos um elevador... – o puxei para dentro e comecei a subir as escadas com uma pressa absurda –Mitsuko, por que tudo isso? – o ignorei, continuei subindo até chegar ao meu andar, corri parando em frente a minha porta.

–Haruka! Haruka! – eu gritava seu nome enquanto batia na porta –Abra essa porta agora! – nada. Somente o silencio daquela agitada madrugada pairava sobre o ar.

–Mitsuko! Pode me responder? O que você acha que eles fizeram? – L perguntou irritado

–Eu não acho. Eu tenho certeza. – corri até as escadas novamente, dessa vez sem a presença de L, e fui ao andar de Ichiro. Bati em sua porta.

–Ichiro! Ichiro! Eu não estou acreditando que fez isso! – gritava enquanto tentava arrombar a porta.

–Qual é o problema mamãe? – ele disse do outro lado da porta –Você mesma não disse que teríamos de dormir sozinhos?

–Mas, você sabe muito bem que não foi nesse sentido! – disse ainda forçando a porta

–Mamãe...você não esclareceu antes. – ouvi ele segurar as risadas - Agora terá de dormir com o papai...

–Nem morta! E...chega de mamãe e papai! – disse enfurecida. Ele não se aguentou e começou a rir. Nesse estado, acabaríamos acordando todos. –Certo...eu vou ficar com o “papai”. – ele parou de rir no mesmo instante e disse:

–É sério? – seu tom parecia confuso –Fácil assim?

–Eu tenho escolha? Se não o fizer, passarei o resto da madrugada aqui brigando até todo mundo da investigação aparecer aqui com nossos gritos.

–E...então tá. – senti insegurança em sua voz –Vá lá dormir com o papai.

–Hunf, boa noite Ichiro. – caminhei calmamente e parei no meu andar, onde L estava com um dos pés apoiados na parede e olhando para um ponto cego. –Ryuuzaki, acho que lhe devo explicações.

–Sim, você me deve. Por que saiu correndo daquele jeito? – ele parecia com um pouco de raiva por não ter explicado a ele. Respirei fundo e disse:

–Ichiro e Haruka armaram para nós dois. Ele se trancou no próprio quarto e Haruka no meu para nos fazer ir para o seu quarto...juntos.

–Foi um plano tão fácil, porem sem falhas, eles conseguiram... – L pensava alto. –O jeito agora é irmos dormir. Amanhã podemos pensar em uma vingança.

–Ryuuzaki, você é vingativo?

–Ah, desculpe-me, eu quis dizer punição. – ri dele que ficou me encarando –Você vem, ou vai dormir na copa? – fui indo vagarosamente em sua direção, até que ouço um forte trovão.

–Ah! – disse apresando o passo e entrando no elevador.

–Acho que isso significa que você vem. Já choveu antes, por que está com medo?

–Eu não tenho medo de chuva. São os malditos trovões...

–Viu como sou um gênio? Estava certo até sobre isso.

–E eu ainda terei que escutar isso...Já não é demais ter que ficar no seu quarto? Falando nisso...a cama é minha. – apertei o botão do andar dele

–O quê? É claro que não! O quarto é meu! – ele protestou

–Vamos ver se o plano deles funciona duas vezes... – esperei a porta do elevador se abrir e corri em rumo ao seu quarto. –O primeiro que chegar fica com a cama!

–Mas o quê? Isso não vale! – ele correu em minha direção, aprecei o passo ainda mais, entrei no quarto e me joguei em cima da cama.

–Venci! Acho que correr sempre é o melhor plano. – disse me aconchegando em suas cobertas.

–Ichiro está com seus dias contados... – ele resmungou olhando para mim –Afasta um pouco, eu quero deitar também.

–Não! Você perdeu a aposta!

–Você não me avisou e começou primeiro para começo de conversa. – ele estava prestes a começar mais um de seus discursos sobre como eu estava errada, o sono já estava tomando conta do meu corpo, então resolvi ceder. Puxei um cobertor só para ele e me aconcheguei do lado esquerdo da cama.

–Pode ser assim? Estou muito cansada, amanhã será um dia longo...

–Pode. Cuidado para não me matar durante a noite, pode ser que sua personalidade mortífera volte a atacar. – ele riu baixinho enquanto eu o olhava com desaprovação –Boa noite Mit.

–Boa noite Ryuu. – apaguei a luz do abajur e fechei os olhos. Respirei fundo e pude sentir a fragrância que seu travesseiro emanava, era exatamente igual aos seus cabelos. Um cheiro viciante e acolhedor. Cai em sono profundo em somente alguns minutos, o resto daquela madrugada foi tranquila, não me importei com os trovões lá fora, me sentia segura ali.