Infiltradas escrita por Matheus


Capítulo 4
O Solstício




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Andamos até um local que ele achou adequado para acamparmos. Lá, finalmente, dormi. No dia seguinte, quando acordei, Lyko estava acendendo uma fogueira. Ao seu lado, tinha peixes espetados em gravetos.

 -Bom dia. –Disse ele.

 -Bom dia... –Respondi.

Era estranho. Ajudei-o nos preparativos. Comemos peixe com pão, enquanto comíamos, ele falou:

-Zilá, oque eu disse ontem... Desculpe. Eu também sou contra essa tradição de casamento arranjado e não acho que a minha família seja melhor que as outras.

“Mentira!” – Eu pensei.

-Entendo, tudo bem... Eu também fui grossa. O peixe tá ótimo. – Eu falei.

 -Sabe, eu não sou como pareço – Ele continuou- Você não gosta de mim, mas você não me conhece!

Ele realmente queria ter aquela conversa. “Okay” eu pensei.

-Então porque você anda por aí com toda essa pose de senhor do fogo?

-Foi assim que eu aprendi que devo ser. É um dos motivos pelos quais fugi. Pra minha família tudo se resume em honra e tradições que devem ser mantidas. Mas então, você tem algum plano de onde ir?

Foi ótimo ele mudar de assunto. Eu não poderia ser sincera com ele e se fosse explicar por que fugi, teria de interpretar a personagem Zilá. Eu estava mesmo errada sobre ele ou aquele papo era só para eu ficar com pena?

-Eu quero ir para a cidade da fonte do fogo já que é a mais próxima. E você?

-Eu... Estava indo para lá também... – Tive a impressão que ele estava mentindo.

Continuamos o caminho para a cidade da fonte do fogo. Lyko tinha uma bússola, oque ajudou muito. Na maior parte, caminhamos por campos e plantações. Ao entardecer, chegamos numa vila que estava toda iluminada com lanternas em forma de sóis penduradas em fios, com muitas barracas, música e uma multidão alegre. Lyko sorriu ao ver tudo aquilo.

-É o festival do sol! Eu tinha esquecido que é o solstício, meus pais me traziam todo ano.

Entramos na vila e andamos por entre uma multidão de pessoas alegres.  Já que estávamos com fome, ficamos ali.

-Lyko- Disse eu- sua família não vem aqui? E se eles nos acharem?

-Não... Não vem mais, meu pai brigou com o organizador e nunca mais quis vir – Respondeu ele em tom divertido- Quer um saco de flocos flamejantes do fogo?

Por mais ódio que eu tivesse da nação fogo, até que estava me divertindo. Talvez aquelas pessoas não fossem más. Compramos flocos flamejantes de fogo e nos aproximamos do palco, onde uma moça cantava ao ritmo de instrumentos de sopro, tocados por um animado grupo.

-Vou dar uma volta – Disse a ele no ouvido.

Ele levantou o polegar e disse algo que não pude ouvir por causa da música.

Passei pelas barracas que vendiam uma série de petiscos da nação fogo: Gomas de fogo, fritas, bolo de fogo e vários chás. No centro da vila havia uma lanterna gigante em forma de sol. Algumas rodas dançavam danças nativas.

 Eu andava próxima a parede de uma casa, distraída com tudo aquilo, quando de repente uma adaga cruza o ar e finca-se na parede prendendo a manga da minha veste. Logo em seguida, mais quatro adagas pregam minhas pernas e meu outro braço, me deixando imóvel. Assustada, procuro a origem, e vejo Mai com sua expressão comum de tédio, contrastando com toda aquela festa. Ela se aproxima de mim.

-Me diga garota, onde está Lyko? A família dele acha que você o sequestrou.

-Eu não sequestrei ninguém! Me solte! Ele está ali... LYKO!

Varias pessoas se distanciaram assustadas, e acompanhavam tudo de longe. Aparentemente, confusões eram um tanto que comuns. Lyko ouviu e correu até nós com uma expressão de susto e indignação.

-Mai, oque está fazendo? – Disse ele, arrancando as adagas e me soltando.

-Força do hábito... Ela era uma suposta sequestradora.

-Sequestradora? Que história é essa?

-É oque sua família acha de mim. - Disse eu, aborrecida.

-Mai, não é isso, eu fugi porque...

-Faça oque quiser, eu não me importo. Só estou aqui porque tua família implorou para eu vir atrás de ti.

-Mai, por favor – Continuou ele- Você vive no mesmo mundo que eu e sabe como é difícil, a pressão constante... Garanto que você já pensou em fugir também. Mas por favor, nos deixe ir...

-Eu sei que é difícil, mas a melhor escolha não é fugir, acredite, eu já tentei uma vez. - Após uma pausa, ela continuou- Está bem, direi que vocês não estiveram aqui. Mas vão rápido, eles podem aparecer. E não esqueça – Ela olhou pra mim- Você está sendo procurada.

Ao falar isso ela atirou a arma que tinha em mãos na parede ao seu lado. Vi que a faca estava cravada na testa de um retrato meu, de um cartaz de procurada.

Mai sumiu no meio da multidão e nós corremos para fora da vila. Longes o bastante, entre árvores e arbustos colocamos nossos sacos de dormir. Ainda podíamos ouvir, levemente, a música. Sentamos. Ao ver a cara dele eu disse:

-Não é sua culpa...

Ele deu um sorriso torto e me abraçou. Fogos de artifício foram disparados do vilarejo, seguido de gritos eufóricos do povo em festa. Lyko parecia esperar por eles e agora os assistia explodirem no ar, sorridente. Eu não olhava os fogos, eu olhava o rosto dele. Seus olhos brilhavam, não só pela luz dos fogos, mas também de alegria. Agora eu notava como ele tinha um sorriso bonito. Eu realmente estava errada sobre ele, hoje que eu o conheci realmente. Ele é atraído pelo meu olhar e também me olha. Aproximamo-nos, e nos beijamos.

Então eu virei o rosto. Tudo me veio à tona. O motivo de eu ter fugido, a guerra, o meu objetivo. Ele era da nação do fogo, para mim isso já era motivo o suficiente para não poder beija-lo. Isso não estava nos meus planos, não mesmo, pra começar ele nem deveria estar viajando comigo! Provavelmente em dois dias me encontraria com a minha mãe, na cidade da fonte do fogo, e decidiria para onde ir, ele estava fora disso, ou pelo menos deveria estar.

-Oque foi? – Perguntou ele.

-Não, nada, eu... Estou com um pouco de frio, acho que vou armar a barraca que eu trouxe. - Eu respondi, pegando a barraca e armando, antes de entrar eu falei: - Desculpe, tem lugar só pra um, boa noite!

Pude ficar sozinha com os meus pensamentos, me sentia culpada.


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