Casamento Infernal escrita por Miss America


Capítulo 1
One


Notas iniciais do capítulo

Visão de Hades e minha também; terceira pessoa.
Welcome!



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Há muitos e muitos éons, em uma época em que não existia pizza e as pessoas faziam mais do que tirar foto com beicinho na frente do espelho, havia um deus solitário em seu reino negro, fétido e inebriado de morte. Nesse ambiente simpático, vivia Hades. E muito bem, obrigada.

Quer dizer, Hades talvez não fosse totalmente solitário, mas digamos que dividir companhia com espíritos e alguns pedaços de Cronos não era lá muito... hã, acolhedor.

Mesmo assim, nosso deus dos mortos vivia feliz. Qual é, ele tinha um reino. Tudo bem, tudo bem: talvez não fosse belo como o céu ou imponente como o mar, mas era aterrorizante e misterioso como só ele sabia ser. E não, ele não poupava palavras para elogiar a si mesmo. Seus tolos irmãos o irritaram com o trote da divisão dos reinos? Sim, sim. Muito, aliás. Mas ele aprendeu a viver dignamente, encontrando um prazer insubstituível em ser o maior pesadelo dos mortais – e de alguns deuses, também.

Um belo dia... Bom, na verdade Hades não sabia se era realmente um belo dia, afinal, no Mundo Inferior os dias nunca possuem raios de sol ou nuvens fofinhas, mas se poderia dizer que aquele era um belo dia só pelo motivo de todos os mortos estarem menos irritantes do que nos outros dias. De qualquer forma, especialmente naquele dia Hades recebeu uma intimação para comparecer ao Olimpo.

No belo envelope branco decorado com letras douradas vinha seu nome e a hora que deveria visitar o Monte grego. Hades suspirou e revirou os olhos. Agora teria que aturar as piadas sem graça de Poseidon e Hermes, além de sorrir falsamente para Zeus e Hera, o casal mais... ah, esqueça.

Atena com certeza lhe faria qualquer pergunta inteligente, mas Apolo aproveitaria para perguntar se “sente mais falta de mim ou do sol? Ah, esqueci, sou o próprio sol!”. Dioniso talvez derramasse vinho em seu manto negro pela milionésima vez.

Seria uma tarde muito agradável.

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E então, ao alcançar o topo do Monte Olimpo, ele viu a cidade majestosa e... argh, dourada de Zeus. Por que tudo tão dourado? Ah é, ele tinha uma esposa.

Hades atravessou os campos verdejantes em direção à sala dos tronos, preparando todo o seu psicológico e sua paciência de ser imortal para a baboseira que viria. Não acenou ou sorriu para as ninfas que estavam servindo alimentos nem para os sátiros com sua música olimpianamente chata. Passou como uma sombra, e o rastro de morte e suspense que pairavam no ar silenciavam o Olimpo por inteiro. Todos paravam para vê-lo chegar. Pelo menos, a musiquinha irritante parava também.

Enquanto subia os degraus flutuando em sua nuvem negra de mau-humor, percebeu que alguém o acompanhava aos risinhos. Hades parou por um segundo, e ao seu lado encontrou uma das mais belas roseiras que já tinha visto.

Ninfas idiotas”, resmungou para si mesmo.

Subiu mais alguns degraus, e não lembrava se na última vez em que havia vindo existiam tantos degraus assim. Após subir mais um lance de escadarias, preso em seus pensamentos e reclamações interiores, a risadinha se repetiu.

Dessa vez Hades parou e olhou soturnamente para os lados. Mais uma risadinha. Ele se virou e olhou atrás de si. Todas as ninfas pareciam muito absortas em suas tarefas, e a música dos sátiros retornara. Alguém bateu delicadamente em seu ombro, pelas costas. Hades virou-se para frente outra vez, irritado, esperando encontrar Hermes. Em vez disso, parou diante do belo rosto que viu. Um cheiro de flores e primavera fez seu nariz coçar.

— Olá! — sorriu Perséfone alegremente. — Chegou cedo!

Hades passou da expressão de surpresa para sua costumeira expressão de deus dos mortos.

— Cheguei na hora que preciso chegar — ele devolveu.

Perséfone era irritante, Hades pensou. Deméter não sabia educar uma filha! E a menina parecia ter uma verdadeira fascinação por ele. Não que isso fosse estranho, já que Hades era incrível mesmo.

Difícil ser irresistível.

Perséfone pareceu ignorar a frase grosseira.

— Como vão as coisas no Mundo Inferior? — ela bateu palminhas, e botões de margaridas se abriram na colina ao lado deles.

Hades a analisou com certo sarcasmo.

— Por quê? Quer ir para lá? Posso garantir que o Tártaro é um passeio divertido – sorriu. – Não vai mais querer voltar.

A deusa fez uma careta como se brincasse com uma criança, e apertou o nariz adunco de Hades.

— Irritadinho da mamãe, cadê o irritadinho... Aaah! — ela gritou e puxou o dedo de volta, quando Hades rosnou involuntariamente. — Menino feio! — colocou as mãos na cintura.

Hades fitou Perséfone e calculou mil maneiras de torturá-la e fazê-la implorar por misericórdia, e estava até gostando da ideia de esganar seu pescoço ali mesmo, mas uma voz firme e autoritária cortou seus pensamentos divertidos.

— Irmão! — gritou Zeus calorosamente. Quem o via assim, achava que ele era legal. — Por que não subiu ainda?

Hades apontou para o lado onde estava Perséfone e ia citá-la na conversa, mas, antes que pudesse, ouviu um plop! e um jasmim havia tomado o lugar dela. O deus suspirou profundamente.

— Já estava chegando — respondeu entre os dentes.

Zeus riu e bateu em suas costas de forma amigável, mas quase o derrubou de cima do Olimpo com tamanha delicadeza. Ambos subiram juntos à sala dos tronos.

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O vinho no manto por parte de Dioniso. A piadinha de Apolo. A conversa inteligente – porém chata – de Atena. As brincadeiras estúpidas de Poseidon e Hermes. A burrice de Afrodite. As babaquices de Hera e Deméter. O tédio contagiante de Ártemis. O egocentrismo de Zeus. A feiura de Hefesto. A ignorância de Ares. Sim, a reunião foi um sucesso. Sim, Prometeu seria punido. Ótimo.

Ao fim, Hades não via a hora de retornar ao seu reino antes que pudesse topar com Perséfone novamente. Ignorou todas as conversas em que os deuses tentavam incluí-lo e passou direto pela armadilha de Hefesto. Ao alcançar sua carruagem de fumaça, suspirou de alegria.

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Ah... seu trono. Não era macio, mas também não devia ser. Ele pertencia a Hades, o deus temível, o deus cruel, o deus sombrio, o deus... mas que diabos é esse cheiro?!

Hades levantou-se furioso. Conhecia-o muito bem.

Chamou por suas servas, as Fúrias. Ordenou uma busca geral por todo o Mundo Inferior. Não dormiria enquanto não a encontrasse. Do que ela o culparia? Di Immortales, ele viveria literalmente um inferno.

Quando as Fúrias saíram à caça da insolente, Hades suspirou e tentou acalmar os nervos. Pensou que era imortal e que toda essa raiva não lhe faria bem por todos esses anos. Talvez devesse mesmo escutar Poseidon e relaxar mais. Hades esfregou as têmporas e alisou seu manto feito de almas. Foi aí que sua visão foi tampada bruscamente.

— Quer saber, menino feio? — a voz fina de Perséfone penetrou os tímpanos de nosso deus sombrio, enquanto ela mantinha as mãos na frente de seus olhos. — Decidi aceitar seu convite. Vai me apresentar o Mundo Inferior?


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Notas finais do capítulo

1. Sim, fiz Hades inspirada no Hades Disney, porque acho ele o melhor Hades de todos;
2. Sei que ficou uma droga,mas comédia não é meu forte - só sei dar risada, não sei fazer rir;
3. Não, não cobro reviews, mas acho eles bem legais, sabe? uahuahauhauah brinks
4. Segunda parte: amanhã!