TERCEIRA PESSOA

"-Tenha piedade... Tenha piedade...
Um homem, vestindo roupas pobres, talvez um campônes choramingava e se contorcia no chão. Em cima de seu corpo, uma mulher alta, os cabelos negros e caheados nas pontas, olhos verdes e seios fartos o encarava, com uma faca na mão.
-Tolo. Não o polparei.- ela disse, uma risada chiando na garganta.- Fui mandada para assegurar- me de sua morte, e assim farei.
A mulher abaixou a faca, e o grito do homem cortou a noite. Era um grito de desespero, um grito de estourar os tímpanos... Era um grito de morte..."
Alicia Sullivan acordou suando frio.
A garota estava deitada em uma cama de palha, em uma casa feita de pedra cujo ela mesma havia roubado.
"Eu me lembro..." ela pensou, um sorriso se formando nos lábios. "Eu me lembro..." do bolso, Alicia tirou uma faca. A mesma faca que estava em seu sonho... A mesma faca que havia tirado tantas vidas.
Uma gargalhada começou a pinicar sua garganta. E Alicia riu. Riu para noite, lembrando- se de seus assassinatos, lembrando- se de suas vítimas, lembrando- se dos assassinatos que havia cometido em noites escuras, lembrando- se do sangue que havia marcado aquela faca... Lembrando- se de sua vida. Lembrando- se do que a havia condenado para a punição.
"Mas isso não é uma punição..." ela pensou, girando a faca entre os dedos. "Eu ainda tenho... Vida."
Alicia abaixou os olhos para seu novo corpo, analisando cada detalhe.
Agora, era baixa, a pele cor de caramelo, os olhos negros como a noite mais escura, seios pequenos e os cabelos... Coloridos: azul, rosa e roxo.
Ela fez uma careta.
-Agora você tem quinze anos, Alicia?- perguntou uma voz, vinda das sombras.- Você tinha mais de duzentos...
Uma gargalhada ecoou nas paredes de pedra.
-Quem está aí? Apareça!- gritou ela, empunhando a faca.
-Olha... A garotinha está se acovardando...- a voz chegava cada vez mais perto.- Você está com... Medo?- a última palavra foi sussurrada em seu ouvido.
Ela virou- se rápido, porém não o suficiente. Os dedos do invasor fecharam- se em seu pescoço, obrigando- a a ficar cara a cara com ele.
Alto, o homem tinha cabelos casanhos na altura dos ombros, olhos verdes e um sorriso debochado. Bonito? Ela não achava.
-Jack...- Murmurou Alicia.
O sorriso de Jack Collins se alargou.
- Ainda lembra- se de mim, Alicia?
- Ainda lembra- se de mim, Jack?- retrucou, um pouco nervosa.
Ele riu.
-Afinal, o que está fazendo aqui, Collins?- perguntou, cruzando os braços. Mesmo com os cabelos coloridos, sendo agredida e sequestrada, Alicia mantinha a pose.
-Não te interessa.
-Se não me interessasse, eu não te perguntaria.- ela retrucou, teimosa.
Jack revirou os olhos.
-Adivinhe, então.
-Deixe eu ver... Conde Drácula!- ela disse, sarcasticamente.
-Seu sarcasmo está melhorando, querida.
-Tudo bem, vamos ver se eu adivinho. Agora é sério, deixe- me adivinhar.- os olhos dela brilhavam.- Seu "patrão" é algum vampiro retardado que o prometeu encontrar seu pai se você cumprisse seu dever, certo? E agora, depois de tantos anos, você terá sua vingança, etcétera e tal.
Jack não riu.
-Eu poderia lhe matar com um só toque, Alicia.- ele disse. Jack abriu a boca, revelando caninos que cresceram subitamente.
-Não tire vantagem de poder me matar, Jack. Eu não sou retardada: sei muito nem que sua mordida poderia me fazer virar pó, e eu arderia no inferno.
Ele sorriu.
-Que bom que sabe.
Os dois mortos ficaram em silêncio por um minuto.
-Sabe, eu já estou morta, Jack.
-Eu também, Alicia.
-Não tenho medo da morte.- disse a garota.
O vampiro gargalhou.
-Eu nasci morto, minha querida. Não sei o que é vida. Por que isso seria algo para temer?
-Talvez, Jack, talvez você descubra que a morte é a pior dor que você já sentiu, seu corpo arde em brasas e sua mente gira... Você não sente, mas você sente. Você está morrendo, é a única coisa que você sabe.
-Prepare- se para sentir isso novamente, Alicia, prepare- se. Em breve, você sentirá esta for com o Diabo.- acrescentpu Jack, baixo, para que Alicia não ouvisse. Esse, seria seu destino.